A criança faz um desenho de si mesma todo mes

A criança faz um desenho de si mesma todo mes
A criança faz um desenho de si mesma todo mes

O desenho na Educa��o Infantil. Linguagem
e express�o da subjetividade

El dibujo en la Educaci�n Inicial. Lenguaje y expresi�n de la subjetividad

A criança faz um desenho de si mesma todo mes

 

*Graduada em Pedagogia - LP (UPF)

Especialista em Educa��o Infantil: Curr�culo e Inf�ncia (UPF)

**Graduada em Educa��o F�sica (ULBRA)

Mestre em Envelhecimento Humano (UPF)

Karine Possa*

Alessandra Cardoso Vargas**

(Brasil)

 

Resumo

          O presente artigo aborda aspectos relacionados ao desenho na Educa��o Infantil como forma de linguagem e express�o da subjetividade da crian�a, passando por processos de matura��o ao longo do desenvolvimento das produ��es gr�ficas. A forma como a crian�a � desafiada e estimulada a se expressar nos primeiros anos � fundamental para o seu desenvolvimento f�sico, cognitivo e emocional. Portanto, a representa��o gr�fica na forma de desenhos desafia e estimula a imagina��o e a intelig�ncia da crian�a que pode ocorrer com os mais diferentes materiais dispon�veis, possibilitando aprendizagens diversificadas.

          Unitermos:

Educa��o Infantil. Subjetividade. Linguagem.

   

A criança faz um desenho de si mesma todo mes
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - A�o 19 - N� 193 - Junio de 2014. http://www.efdeportes.com/

A criança faz um desenho de si mesma todo mes

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Introdu��o

    Como sabemos, para as crian�as que est�o no est�gio da Educa��o Infantil, muitas vezes o desenho pode servir como uma linguagem da express�o dos sentimentos, os quais ela ainda n�o consegue expor por meio da fala, ou mesmo pela linguagem escrita.

    Neste sentido, reportamos que o ambiente escolar, no geral, � para a crian�a um espa�o de muitas novidades, descobertas, aprendizagens e conhecimentos novos. O desenho como forma de express�o subjetiva, e o grafismo faz parte do crescimento f�sico e, principalmente, do desenvolvimento cognitivo e emocional da crian�a.

    De acordo com Perondi (2001), os desenhos podem ser inspirados por circunst�ncias n�o previs�veis, por�m, frequentemente eles se relacionam por acontecimentos pr�ximos ou por circunst�ncias similares �s experi�ncias j� vividas. Refor�ando o autor acima, muitas crian�as desenham no dia-a-dia o que lhes chama a aten��o por apresentar aspectos relevantes na sua viv�ncia familiar, escolar ou social.

    Portanto, o estudo objetivou-se analisar os aspectos relacionados ao desenho na Educa��o Infantil como forma de linguagem e express�o da subjetividade da crian�a, passando por processos de matura��o ao longo do desenvolvimento das produ��es gr�ficas.

Import�ncia do desenho para o desenvolvimento psicof�sico de uma crian�a

    O desenho faz parte do desenvolvimento de qualquer ser humano, independentemente de sua idade e, portanto, n�o deixa de ser mais ou menos importante no desenvolvimento psicof�sico de uma crian�a. Toda crian�a passa por um longo processo de evolu��o em todos os aspectos, mas para isso necessita passar por uma diversidade de est�mulos.

    Os desafios e as propostas inteligentes s�o fundamentais no desenvolvimento adequado e saud�vel das crian�as dentro da sua cultura. Segundo o PCN (2000), a arte de cada cultura revela o modo de perceber, sentir e articular significado e valores que governam os diferentes tipos de revela��o entre os indiv�duos na sociedade. A arte solicita a vis�o, a escuta e os demais sentidos como portas de entrada para uma compreens�o mais significativa das quest�es sociais.

    O desenho � uma dessas formas incitadoras para a constru��o de olhares est�ticos e art�sticos da crian�a social. Al�m disso, o desenho ainda permite � crian�a desenvolver o senso de observa��o, os m�nimos detalhes, a diversidade de cores, formas, texturas, e, tamb�m, entrar em contato com grande variedade de materiais, muitas vezes utilizados para realiza��o de atividades art�sticas, seja no ambiente da escola, ou fora dela.

    Outro fator importante � fazer com que as crian�as explorem a variedade de materiais, que esteja ao seu alcance e entorno, incluindo materiais da natureza, simples, por�m que prop�em resultados exuberantes, como os materiais industrializados. Tamb�m as crian�as podem ser desafiadas em diferentes ambientes (familiar, escolar, social).

    Segundo Porcher (1982), aqui como nos outros campos o objetivo n�o deve ser a forma��o de desenhistas profissionais e de especialistas, trata-se de dar a cada um os meios de expressar-se e, atrav�s disso, de dot�-lo dos instrumentos sensoriais e mentais necess�rios para as suas rela��es com o mundo. Por isso, a necessidade de um profissional qualificado na �rea das artes.

Desenho: linguagem que possibilita novas aprendizagens

    As crian�as, desde pequenas iniciam o processo de produ��o gr�fica. S�o riscos simples que come�am a despertar o interesse da crian�a quando esta passa a identificar as diferentes formas produzidas com materiais pl�sticos como papel, canetas, l�pis de cera ou tinta, entretanto, muitas vezes produz grafismos a partir de materiais inusitados como alimentos, pedrinhas, brinquedos quebrados e objetos de cozinha, enquanto brinca.

    Tamb�m ao brincar � que as crian�as d�o in�cio ao desenho do seu pr�prio entorno. No geral, esse processo ocorre de forma prazerosa, proporcionando aprendizagens em cada tra�o elaborado. Sendo assim, desenhar � uma necessidade, tanto pelo aspecto da comunica��o como pelo prazer que esta atividade proporciona.

    Para Moreira (2008), toda a crian�a desenha tendo um instrumento que deixa uma marca: a varinha na areia, a pedra na terra, o caco de tijolo no cimento, o carv�o nos muros e nas cal�adas, o l�pis, o pincel com tinta no papel, a crian�a brincando vai deixando a sua marca, criando jogos, contando hist�rias. Desenhando, cria em torno de si um espa�o de jogo, silencioso e concentrado ou ruidoso seguido de coment�rios e can��es, mas sempre um espa�o de cria��o.

    O desenho desperta a crian�a para a aprendizagem, a descoberta, o prazer, o novo, o diferente. Segundo os estudos da autora citada abaixo, n�o � poss�vel uma educa��o intelectual, formal ou informal, de elite ou popular, sem arte, pois para ela, � imposs�vel o desenvolvimento integral da intelig�ncia sem o desenvolvimento do pensamento divergente, do pensamento visual e do conhecimento presentacional (BARBOSA, 1991).

    O desenho, como linguagem art�stica, proporciona � crian�a oportunidades que possibilitam com que ela expresse aqui e agora seus sentimentos a respeito de algo. E em alguns casos, at� mesmo mostrar suas ang�stias e seus medos.

O desenho como forma de express�o pessoal enquanto ainda n�o h� o dom�nio da linguagem escrita e oral

    Pode-se dizer que o desenho � uma das maneiras mais eficientes de comunica��o. Desde os nossos ancestrais essa t�cnica j� era utilizada com efic�cia, fosse para se comunicar com seus pares, ou expressar e registrar fatos ocorridos ou ainda exercer alguma influ�ncia sobre os inimigos. Muitos s�o os estudos apontando que, antes mesmo do surgimento da escrita e da oralidade, o esbo�o gr�fico j� era desenvolvido como uma importante forma de comunica��o.

    De acordo com o autor abaixo, a arte � entendida como um terreno permissivo ante um curr�culo repleto de n�meros e de palavras. � a arte que encoraja a crian�a a colocar sua vis�o pessoal e sua assinatura em seus trabalhos. As escolas s�o dominadas por tarefas curriculares voltadas ao professor e que, frequentemente, oferecem apenas uma solu��o para os problemas, uma resposta certa para as perguntas. A arte n�o pode tornar-se algo sem vida, mec�nico, como tem ocorrido com o que ensinamos em todos os n�veis da educa��o (EISNER, 1999).

    Muitas vezes nas escolas � esquecido que nossos ancestrais podiam nem mesmo saber o significado real do desenho e a import�ncia que o mesmo representava como forma de registro, mas j� o utilizavam como um poderoso meio de express�o. Entretanto, Derdick (1989), relata que o desenho assumiu para o homem das cavernas, seja no desenvolvimento para a constru��o de maquin�rios no in�cio da era industrial, seja na sua aplica��o mais elaborada para o desenho industrial e a arquitetura, seja na fun��o de comunica��o que o desenho exerce na ilustra��o, na hist�ria em quadrinhos, o desenho reclama a sua autonomia e sua capacidade de abrang�ncia como um meio de comunica��o, express�o e conhecimento.

    Pode-se dizer que o grafismo � uma linguagem capaz de possibilitar a representa��o da realidade e do imagin�rio de uma pessoa. Ou ainda, o esbo�o gr�fico pode desenvolver a criatividade, proporcionar autoconfian�a, ampliar a bagagem cultural e facilitar o processo de sociabilidade.

    Desse modo, a produ��o gr�fica de uma crian�a pode ser a �nica maneira que ela encontra para se comunicar, ou seja, pode ser o momento dela deixar o seu inconsciente falar e atrav�s dele poder desvendar aspectos da sua personalidade, da sua vida social e familiar. Segundo Morgenstern (1977) nos momentos dif�ceis da sua vida, a crian�a evade-se num mundo imagin�rio onde nada a impede de realizar os seus desejos. As manifesta��es vis�veis desta fuga s�o os jogos, os contos e os desenhos. Assim, considera-se que o grafismo �, na maioria das vezes, um esbo�o livre onde crian�as podem expressar o que est�o sentindo naquele momento.

O que se pode �ler� no desenho da crian�a, que muitas vezes pode ser um sinal de alerta para educadores?

    O desenho, por fazer parte do desenvolvimento f�sico, cognitivo e emocional do ser humano pode apresentar em qualquer esbo�o, tanto os aspectos positivos, quanto as dificuldades enfrentadas naquele momento. Na perspectiva de Moreira (2008), o que � preciso considerar diante de uma crian�a que desenha � aquilo que ela pretende fazer: contar-nos uma hist�ria e nada menos que uma hist�ria, mas devemos tamb�m reconhecer, nesta inten��o, os m�ltiplos caminhos de que ela se serve para exprimir aos outros a marcha de seus desejos, de seus conflitos e receios.

    Por isso, o profissional precisa ter olhos cuidadosos para perceber detalhes que a crian�a busca representar de um determinado momento, porque o modo como s�o feitas certas interpreta��es podem ser equivocadas, j� que nem sempre o que � �entendido� pode ser o que os pequenos buscaram representar.Nicolau (1995), completa que os desenhos, as pinturas e as realiza��es expressivas das crian�as n�o apenas representam seus conceitos, percep��es e sentimentos em rela��o ao meio, como tamb�m possibilitam ao adulto sens�vel e consciente uma melhor compreens�o da crian�a.

    Em muitos casos � com o educador que a crian�a de educa��o infantil passa a maior parte do seu tempo. Para Horn (2004), o olhar de um educador atento � sens�vel a todos os elementos. Por isso, h� necessidade de um profissional da educa��o qualificado e eficaz dentro de uma sala de aula, ou seja, que tenha conhecimento sobre o assunto. Pois, � a forma��o e tamb�m sua capacidade de ser am�vel, flex�vel, generoso e compreensivo que faz a grande diferen�a de um profissional que atua como educador de crian�as.

    Entretanto, quando a crian�a est� inserida num meio em que lhe � permitida ter acesso aos instrumentos de experimentos gr�ficos, n�o � s� o educador e a escola que precisam fazer seu papel, mas tamb�m os pais precisam ter a responsabilidade de observar a constru��o do processo de ensino-aprendizagem que faz parte do desenvolvimento de seu filho, tanto ao apresentar aspectos positivos, quanto ao apresentar aspectos que demonstrem dificuldade. Por meio do desenho podem-se identificar poss�veis problemas, relacionados �s defici�ncias, ou at�, situa��es que a crian�a vem sofrendo em casa, ou em outros lugares que frequenta.

    Nesse contexto de cuidados e aten��es feitas em parceria entre a escola e a fam�lia � que o desenvolvimento da crian�a germina, uma vez que escola e fam�lia produzem processos concomitantes e necess�rios para um bom desempenho do m�todo de ensino-aprendizagem de uma crian�a. Seguindo os estudos de Lowenfeld (1977) atrav�s da compreens�o da forma como o jovem desenha, e dos m�todos que usa para retratar seu meio, podemos penetrar em seu comportamento e desenvolver a aprecia��o dos v�rios complexos modos como ele cresce e se desenvolve. Considerando o que j� foi apontado, pode-se analisar que desenhar, seja com que material for, faz parte do desenvolvimento f�sico, cognitivo e emocional das crian�as.

Em que contexto � adequado fazer a interpreta��o do desenho infantil

    Muitos pesquisadores apontam o desenho como algo importante ao longo da exist�ncia dos seres humanos. Foi poss�vel compreender que, assim como a crian�a passa por um processo de desenvolvimento e amdurecimento cognitivo, afetivo, social e emocional, o grafismo tamb�m passa por um processo de crescimento e aperfei�oamento. Assim, por meio do desenho, � poss�vel identificar os est�gios de desenvolvimento em que a crian�a se encontra. Segundo Lowenfeld (1970) em sua cl�ssica obra: o desenvolvimento da Capacidade Criadora,estabelece quatro fases evolutivas para o desenho infantil:

    A primeira � a fase das garatujas de dois a quatro anos, que se divide em tr�s etapas: Garatuja desordenada, ordenada e nomeada. Na fase da garatuja desordenada, a crian�a n�o tem consci�ncia da rela��o tra�o-gesto, muitas vezes, nem olha para o que faz. Seu maior prazer � explorar o material, riscando em tudo o que v� pela frente. Utiliza o l�pis de qualquer forma e com as duas m�os. Os movimentos s�o de vaiv�m, vertical ou horizontal e, em muitos casos, o corpo acompanha o movimento.

    Na fase da garatuja ordenada, a crian�a descobre que h� uma rela��o do seu gesto com os tra�os que faz no papel. Assim, passa a olhar o que faz, controlando o tamanho, a forma e a localiza��o do desenho no papel. Descobre que pode mudar de cores. Come�a a fechar suas figuras em forma de c�rculos ou espiral. Perto dos tr�s anos, come�a a segurar o l�pis como o adulto e � capaz de copiar de forma intencional um c�rculo, mas n�o um quadrado.

    Na etapa da garatuja nomeada, a crian�a representa o objeto concreto por meio de uma imagem gr�fica. Distribui melhor os tra�os no papel. Anuncia o que vai fazer, descreve o que fez, relaciona o desenho com o que v� ou viu, sendo que o significado do seu desenho s� � intelig�vel para ela mesma. Come�a a dar forma � figura do ser humano.

    A segunda fase, pr�-esquem�tica de quatro a sete anos, ou seja, os movimentos circulares e longitudinais da etapa anterior evoluem para formas reconhec�veis, passando de um conjunto indefinido de linhas para uma configura��o representativa definida. A crian�a desenha o que sabe do objeto e n�o uma representa��o visual absoluta. Os seus desenhos apresentam formas mais elaboradas. Por volta dos seis anos pode chegar at� a desenhar uma figura humana bem formada.

    A terceira fase � a esquem�tica de sete a nove anos. Nesse momento a representa��o gr�fica � muito mais tardia que a l�dica verbal, porque somente quando a brincadeira simb�lica e a linguagem j� est�o bem formadas � que a crian�a come�a a organizar seus desenhos. A representa��o das figuras humanas evolui em complexibilidade e organiza��o. Ainda, nessa fase ela j� possui um linha de base e, portanto, � capaz de fazer uma linha de terra e colocar o que � da terra na terra como as �rvores e as casas, e o que � do c�u no c�u como as nuvens e o sol.

    A quarta fase � a do realismo, que ocorre dos nove ao 12 anos, ou seja, � o momento em que a crian�a descobre que ela faz parte de uma sociedade. Desenvolve maior conscientiza��o e interesse pelos detalhes, podendo at� desenhar uma m�o diferente da outra. Tamb�m desenvolve maior consci�ncia visual e, portanto, n�o produz mais exageros, nem faz omiss�es para expressar suas pr�prias emo��es. Por�m, torna-se cr�tica dos seus desenhos e tamb�m dos desenhos dos colegas e, muitas vezes, por j� possuir o dom�nio da escrita e boa argumenta��o verbal, abandona o desenho como forma de express�o subjetiva.

    Fica evidente que o desenho passa por um processo de evolu��o, necess�rio para que a crian�a consiga, nesse tempo, adquirir maior amadurecimento e confian�a em suas a��es e representa��es.Tudo acontece de forma consecutiva e possibilita o crescimento da sua produ��o gr�fica.

    No entanto, como ressalta Ferreira (2001), que a interpreta��o do desenho da crian�a depende do olhar do int�rprete. Afirma a autora que o desenho da crian�a � o lugar do prov�vel, do indeterminado, das significa��es. Da� emerge a import�ncia de se considerar o primeiro desses int�rpretes a pr�pria crian�a, ou seja, nada melhor do que a mesma para falar sobre a sua produ��o para que se possa ter uma melhor compreens�o do seu significado.

    Assim, como � importante ouvir a crian�a sobre a sua produ��o, tamb�m se deve considerar a forma como a mesma desenha os tipos de riscos, as cores usadas para desenhar, a for�a que ela expressa ao produzir, a repeti��o intensiva por aquele tipo de produ��o, entre outros aspectos. Tamb�m pesquisando o papel do desenho na constru��o de conhecimento, Pillar (1996) afirma que ao desenhar, a crian�a est� inter-relacionando seu conhecimento objetivo e seu conhecimento imaginativo. E, simultaneamente, est� aprimorando esse sistema de representa��o gr�fica.

    A interpreta��o do desenho ocorre de forma consecutiva, a partir de v�rias an�lises e observa��es. Pois, o ato de desenhar envolve a atividade criadora; � atrav�s de atividades criadoras que a crian�a desenvolve sua pr�pria liberdade e iniciativa.

Estere�tipo do desenho

    Muitas vezes, o desenho n�o � visto como atividade importante na escola, o que acaba desvalorizando e limitando o seu espa�o como atividade fundamental para o desenvolvimento cognitivo e tamb�m emocional da crian�a.

    Aqui, mais precisamente na educa��o infantil, espa�o onde o desenho deve estar presente a todo instante, muitas crian�as, por n�o terem a linguagem oral e escrita ainda como forma de express�o, utilizam o desenho para representar o que est�o sentindo. Por isso, a import�ncia do mesmo para o desenvolvimento das crian�as em todos seus aspectos.

    A forma como � desenvolvida a arte na educa��o infantil deveria ser muito bem repensada e valorizada por todos os governantes, sejam eles Federal, Estadual, Municipal ou, ainda, das Escolas Particulares. Muitas institui��es ainda trabalham com um ensino tradicional da arte, disponibilizando c�pias de imagens xerocadas para as crian�as pintarem, ou incentivando retratos estereotipados.

    Portanto, a forma como � criado o estere�tipo de qualquer objeto, imagem, ser humano, animal que seja, em uma crian�a faz a grande diferen�a no seu desenvolvimento de assimila��o dos modelos e pap�is sociais. Como j� foi apontando, n�o necessariamente para fazer um desenho, tem que ser da mesma forma como aprendeu, ou seja, seguir um modelo �nico.

    No entanto, apresentar fotografias e imagens desenhadas e pintadas por outras crian�as e tamb�m por adultos n�o deixa tamb�m de ser importante no desenvolvimento da crian�a. Elas precisam criar conceitos, compreender e assimilar esses conceitos sobre as imagens para ter ideia do que aquilo significa, porque enquanto, muito pequenas, ainda n�o tem no��o de que a imagem de um caderno � um objeto, denominado caderno, ela precisa aprender isso.

    Mas o que vem dificultando � a forma como as institui��es de educa��o infantil e tamb�m as institui��es posteriores vem desenvolvendo esse processo de ensino-aprendizagem. Deve-se ter em mente que o ensino da arte � muito mais do que produzir apenas trabalhos art�sticos como afirmam os PCN (2000) aprender arte envolve, basicamente, fazer trabalhos art�sticos, apreciar e refletir sobre eles. Envolve tamb�m conhecer, apreciar e refletir sobre as formas da natureza e sobre as produ��es art�stica e individuais e coletivas de distintas culturas e �pocas.

    Desenhos estereotipados � um entrave no desenvolvimento da criatividade de crian�as de educa��o infantil. Inibem a possibilidade de express�o subjetiva; tiram, muitas vezes, a �nica oportunidade que a crian�a tem de expressar o que sente e percebe de si e do seu entorno. E estes desenhos existem aos milhares na internet, ou seja, uma situa��o cada vez mais dif�cil de �fugir�. Se n�o � a escola quem oferece estas imagens estereotipadas, � a fam�lia que nem percebe que isso � desaconselh�vel.

An�lise e interpreta��o de desenhos

    Durante a elabora��o do presente artigo, houve a necessidade de trazer o objeto de estudo, ou seja, o desenho infantil, visto que, nem sempre, o estudo bibliogr�fico � suficiente para que possamos compreender e sanar d�vidas. A atividade foi realizada com 20 alunos da Educa��o Infantil de uma Escola Municipal do munic�pio de Marau/RS, com idade entre cinco a seis anos. O encontro foi realizado no turno da manh�, na pr�pria institui��o e os desenhos foram escolhidos de forma aleat�ria, uma vez que as crian�as possuem qualidades parecidas nas produ��es.

    A interven��o com os alunos aconteceu em uma quinta feira do m�s de setembro durante o per�odo de aula, no momento em que as crian�as estavam no p�tio participando de brincadeiras com a professora titular. As crian�as foram convidadas a desenhar como estavam se sentindo naquele momento, ap�s uma breve conversa. Foram feitos registros escritos das falas das crian�as autoras dos desenhos enquanto as mesmas desenhavam.

    Ap�s, foram selecionados quatro desenhos de forma aleat�ria para fazer a an�lise. Reportando Cellard (2008), a an�lise documental favorece a observa��o do processo de matura��o ou de evolu��o de indiv�duos, grupos, conceitos, conhecimentos, comportamentos, mentalidades, pr�ticas, entre outros.

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    Desenho feito pela crian�a Margarida.Relatou estar feliz nesse momento e por isso desenhou flores, o sol, um arco-�ris, a professora e ela mesma. Margarida tem seis anos e apresenta uma mistura de caracter�sticas da fase pr�-esquem�tica e do esquema, demonstrando que est� numa fase de evolu��o e transi��o de um est�gio para outro. Apresenta em sua produ��o uma base com pequenas eleva��es, destacando um terreno com inclina��es. A imagina��o infantil est� presente na produ��o gr�fica do sol com olhos e boca. Portanto, percebe-se que realiza a produ��o do desenho de acordo com o que sabe do objeto. Confirmando,Lowenfeld (1970) diz que a crian�a desenha o que sabe do objeto e n�o uma representa��o visual absoluta.

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    Desenho feito pelo Cravo. Relatou estar meio triste, ent�o produziu ele surfando num mar com os amigos. Cravo tem cinco anos e 10 meses est� na fase pr�-esquem�tica e nota-se que os sentimentos de como ele est� se sentindo est�o expressos na produ��o, por meio dos riscos desordenados e de algumas figuras sem colorir. Tamb�m aparece a representatividade de como � pegar ondas no mar, as eleva��es das ondas e o equil�brio necess�rio para ficar em p� numa prancha. Afirma Lowenfeld (1970) que os objetos aparecerem acima, abaixo, ou ao lado uns dos outros, da forma como os compreende e que os coment�rios das crian�as tendem a ser desconexos e esparsos, porque est�o mais ligados � sua significa��o emocional do que � disposi��o ordenada dos acontecimentos.

Considera��es finais

    Por meio dos estudos obtidos durante o curso e da realiza��o do presente artigo, buscou-se analisar e compreender a import�ncia do desenho no desenvolvimento de uma crian�a, como forma de express�o enquanto o dom�nio da linguagem oral e escrita ainda n�o predomina. As formas de interpreta��o do mesmo, dos estere�tipos utilizados para a realiza��o das produ��es gr�ficas e de outras formas desenhadas pela crian�a que muitas vezes podem servir como um sinal de alerta para os educadores.

    O grafismo � parte integrante do desenvolvimento de um ser humano, principalmente de crian�as que, na maioria das vezes, utilizam o desenho como forma de express�o dos seus sentimentos. Nessa perspectiva evidencia-se que a interpreta��o do desenho da crian�a depende do olhar do int�rprete.

    O estudo contemplou que a interpreta��o do desenho ocorre de forma consecutiva, a partir de v�rias an�lises e observa��es. Sendo essas, necess�rias para um bom desempenho do profissional, pois o ato de desenhar envolve a atividade criadora, e � atrav�s destas atividades que a crian�a desenvolve sua pr�pria liberdade e iniciativa, podendo expressar-se como indiv�duo.

    A pesquisa possibilitou compreender o quanto o desenho liberta a imagina��o, a inova��o e a produ��o espont�nea, podendo despertar a criatividade na crian�a. E ser criativo � conseguir associar ideias, produzindo uma diversidade de respostas a tudo aquilo que � estimulado. Al�m disso, o est�mulo � essencial para o desenvolvimento de qualquer pessoa, principalmente de um ser t�o pequeno, que ter� muitas etapas para superar e progredir.

    Para finalizar, h� de se dizer que o desenho, como linguagem art�stica, proporciona para a crian�a oportunidades que possibilitam com que ela expresse no aqui e agora seus sentimentos a respeito de algo, podendo inclusive, em alguns casos, mostrar suas ang�stias, ou at� mesmo os seus medos. Considera-se, ent�o, que o grafismo � extremamente importante no desenvolvimento de uma crian�a, uma vez que contribui para in�meras aprendizagens e experi�ncias que auxiliam no seu crescimento f�sico e emocional.

Refer�ncias bibliogr�ficas

  • BARBOSA, A.M. A imagem no ensino da arte: anos oitenta e novos tempos. S�o Paulo: Perspectiva; Porto Alegre: Funda��o IOCHPE, 1991.

  • CELLARD, A. A an�lise documental. In: POUPART, J. et al. A pesquisa qualitativa: enfoques epistemol�gicos e metodol�gicos. Petr�polis, Vozes, 2008.

  • DERDYK, E. Formas de pensar o desenho: desenvolvimento do grafismo infantil. S�o Paulo: Scipione, 1989.

  • EISNER, E. Estrutura e M�gica no Ensino da Arte. In: Barbosa, A. M. (org.). Arte Educa��o: Leitura no subsolo. S�o Paulo: Cortez, 1997.

  • FERREIRA, S. Imagina��o e linguagem no desenho da crian�a. Campinas: Papirus, 2001.

  • HORN, M. G. S. Sabores, cores, sons, aromas: a organiza��o dos espa�os na educa��o infantil. Porto Alegre: Artmed, 2004.

  • LOWENFELD, V. Desenvolvimento da capacidade criadora. S�o Paulo, Mestre Jou, 1970.

  • LOWENFELD, V. A crian�a e sua arte. 2 ed. S�o Paulo: Mestre Jou, 1977.

  • MOREIRA, A. A. A. O espa�o do desenho: a educa��o do educador. 12. Ed. S�o Paulo: Loyola, 2008.

  • NICOLAU, M. L. M. A educa��o art�stica da crian�a. 4� Ed. S�o Paulo: �tica, 1995.

  • PERONDI, D. Processo de alfabetiza��o e desenvolvimento do grafismo infantil. Caxias do Sul: EDUCS, 2001.

  • PILLAR, A. D. P. Desenho e constru��o de conhecimento na crian�a. Porto Alegre: Artes M�dicas, 1996.

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Quando devo me preocupar com os desenhos do meu filho?

“Crianças com problemas sérios, como rejeição da família ou ausência de um dos pais, acabam desenhando a família (tio, avô, cão), menos figuras importantes (os pais) e ela mesma”, diz Andreia. Se seu filho já tiver 10 anos, por exemplo, e desenhar pessoas com palitinhos, sem roupa ou partes do corpo, pode não ser bom.

Quais são os tipos de garatujas?

Garatuja, dividida em três etapas: Garatuja desordenada: traços inconscientes e prazerosos. Garatuja ordenada: descoberta da relação entre traço e gesto. Explora o desenho quanto ao tamanho dos traços, às cores e começa a controlar os traçados e fechar as figuras.

Quais são as três fases do desenvolvimento do desenho da criança?

De acordo com Nicolau (2008), para estimular, guiar e compreender a criação e a expressão infantil é necessário, antes de mais nada, conhecer e compreender a criança. O autor aborda as etapas do desenvolvimento do desenho da criança em três fases: garatujas, pré-esquemática e esquemática.

O que é a fase da garatuja?

Garatuja é o nome que se dá aos primeiros rabiscos e desenhos da criança, que seguem pela primeira infância (até os 7 anos), inicialmente sobrepostos em muitas camadas.