Nesta segunda semana dedicada a um mês com dicas de nutrição na infância, a nutricionista Julie Calixto Lobo , fala do impacto da alimentação na saúde das crianças a curto, médio e longo prazo.
Bem, como falei anteriormente, existe a chamada lacuna dos primeiros mil dias, este período crítico da gestação até os 2 primeiros anos de vida é importante para o pleno crescimento e desenvolvimento da criança e para a sua saúde, atual e futura. As oportunidades e decisões tomadas a respeito do cuidado à saúde e da alimentação neste momento repercutirão por toda vida.
As preferências dietéticas (gostos e desgostos) e hábitos alimentares estabelecidos desde o início refletem em grande parte as práticas de alimentação dos pais, e irão repercutir mais tarde na infância e idade adulta. Portanto, sendo saudável ou não, as preferências alimentares são estabelecidas nestes primeiros anos de vida e dependem de o que, quando e como a criança é alimentada.
Então a curto prazo e médio prazos, a variedade e a forma com que os alimentos são oferecidos influenciam a formação do paladar e a relação da criança com a alimentação, ela tem menos chances de desenvolver alergias alimentares, deficiências nutricionais, sobrepeso e obesidade durante a infância, adolescência e juventude.
Além disso, O desenvolvimento cognitivo na infância é um processo contínuo e intenso, e para que as crianças cresçam e se desenvolvam em todo seu potencial, com concentração, aprendizagem e disposição a contento, uma alimentação adequada e saudável é crucial.
Já longo prazo, muitos trabalhos demonstram que a criança que come alimentos saudáveis e adequados quando pequena tem mais chances de se tornar uma pessoa adulta consciente e autônoma para fazer boas escolhas alimentares. Então, a maneira pela qual a criança aprendeu a comer, a qualidade e variedade da sua alimentação é crucial que repercutirão na vida adulta e terão impacto direto no desenvolvimento de doenças crônicas como obesidade, diabetes, etc.
O Brasil possui dois cenários intrigantes envolvendo o desenvolvimento infantil. De um lado, a desnutrição, agravada em meio à pandemia. De outro, a obesidade infantil, que segue em ritmo crescente. Trata-se de um contexto preocupante, ainda mais se forem considerados dados do Ministério da Saúde, segundo o qual em 2017 e 2018 nada menos que 4,6% dos domicílios tinham pessoas passando fome.
De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), no Brasil, quase 11% das crianças são consideradas obesas. A média nos países-membros da OCDE é de 9,9%. Já o número de crianças pré-obesas no país chega a 17,2%, o que equivale a um crescimento de 0,3% na última década.
Doenças crônicas como diabetes e hipertensão são comorbidades ligadas à obesidade. Já a desnutrição pode acarretar problemas neuropsicomotores e cognitivos, além de ameaçar o amadurecimento do sistema imunológico da criança – o que compromete as fases do desenvolvimento infantil.
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Como orientar a nutrição para o crescimento saudável
Um estudo publicado na The Lancet em novembro de 2020 observou a estatura e o índice de massa corporal de crianças e adolescentes de diferentes países. O resultado sinaliza que “as trajetórias de altura e IMC ao longo da idade e do tempo de crianças e adolescentes em idade escolar são altamente variáveis entre os países, o que indica qualidade nutricional heterogênea e vantagens e riscos para a saúde ao longo da vida”.
Garotas de 19 anos em Bangladesh e na Guatemala – nações com as meninas mais baixas do mundo – têm a mesma altura de uma menina de 11 anos na Holanda. Além disso, garotos do Nepal com 19 anos têm altura semelhante a holandeses de 13 anos.
“Quando não conseguimos oferecer os nutrientes necessários, não é possível potencializar o crescimento da criança. Ou seja, ela desenvolve uma carência e, mesmo que a genética seja de uma pessoa de estatura alta, sem os nutrientes adequados isso não será possível”, comenta a nutricionista Monica Lopes, presidente da Associação Alagoana de Nutrição, filiada à Associação Brasileira de Nutrição (Asbran).
Não à toa, Lopes recomenda máxima atenção a cada fase do desenvolvimento infantil. São elas:
>> Amamentação
Até os seis meses de idade, é recomendado o aleitamento materno exclusivo. Além de nutrir o bebê, a amamentação também fornece anticorpos que auxiliam no amadurecimento do sistema imunológico.
Outro problema comum no Brasil é a anemia ferropriva, que impacta no débito cognitivo. Em muitos casos, a doença é passada de mãe para filho na gestação. Por isso, o Ministério da Saúde mantém o Programa Brasileiro de Suplementação com Ferro.
A partir dessa estratégia do Sistema Único de Saúde (SUS), crianças de 6 a 18 meses, gestantes a partir da 20ª semana e mulheres até o terceiro mês pós-parto têm direito a suplementação de ferro, distribuída gratuitamente. Além disso, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda “suplementação profilática com dose de 1mg de ferro elementar/kg ao dia dos três aos 24 meses de idade, independentemente do regime de aleitamento”.
>> Introdução alimentar
Dos seis meses aos dois anos, é importante que os pais ofereçam, além do leite materno, a maior variedade possível de alimentos frescos, in natura e fibras. Até esse período, a criança passa por mudanças muito rápidas de peso e tamanho e começa a engatinhar, caminhar e brincar. Todas essas mudanças exigem alimentação balanceada para atender ao gasto de energia. Qualquer disfunção nesse período pode acarretar problemas no desenvolvimento escolar.
>> Fase pré-escolar (2 a 7 anos)
É nesse período que a criança desenvolve os hábitos alimentares de acordo com a rotina da família. É natural nessa fase a criança rejeitar novos alimentos. O Guia Alimentar para crianças menores de dois anos orienta que é necessário que a criança prove o alimento de oito a dez vezes – em diferentes momentos e diversos tipos de preparação, até desenvolver o paladar.
>> Fase escolar (7 a 10 anos)
O crescimento e as demandas nutricionais são ainda maiores nessa fase. Aqui, a criança já está adaptada à disponibilidade e costumes dietéticos da família. Por isso, é importante que o médico auxilie na orientação de uma alimentação balanceada, com oferta dos mais diversos grupos de alimentos – como carnes, hortaliças e cereais.
>> Adolescência
No Brasil, o período é compreendido entre os 12 e os 18 anos. Já a Organização Mundial da Saúde considera-o dos 10 aos 20 anos. De qualquer modo, é uma etapa de mudanças importantes, inclusive físicas – com o crescimento de estatura, maturação sexual e mudanças na estrutura corporal.
Aqui, a nutrição deve estar associada com o nível de atividade do adolescente, que vai de sedentário a atividade intensa. O ideal é balancear os macro e os micro nutrientes entre seis refeições diárias com oferta de grupos variados de alimentos.
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