Diferenças e preconceito na escola alternativas teóricas e práticas download

Você economiza: R$ 34,06 (43%)

[{"displayPrice":"R$ 44,74","priceAmount":44.74,"currencySymbol":"R$","integerValue":"44","decimalSeparator":",","fractionalValue":"74","symbolPosition":"left","hasSpace":true,"showFractionalPartIfEmpty":true,"offerListingId":"yjM0paTb0UoYd7ppYj9nHVT4WbxutNtIwEhNVcdd0mEaAZ3fHk5ewv0bC20fOH2fJJw4fVU3WwV4XBB1mctNqh29MdXzE0ReMgVvaL8Umjp1nY3TdP75gQHgzKKQY9rJJfG0lVYNIMaQLKjiwdjiW1gJ64%2FDx%2Fe7","locale":"pt-BR","buyingOptionType":"NEW"}]

R$ R$ 44,74 () Inclui opções selecionadas. Inclui parcela mensal inicial e opções selecionadas. Detalhes

Detalhamento do pagamento inicial

Custo do frete, data de entrega e total do pedido (incluindo impostos) mostrados na finalização da compra.

Sua compra é segura

Trabalhamos constantemente para proteger a sua segurança e privacidade. Nosso sistema de segurança de pagamento criptografa suas informações durante a compra. Não compartilhamos os detalhes do seu cartão de crédito com vendedores parceiros e não vendemos suas informações. Saiba mais

Comprar este item como presente

Documento: pdf (15 páginas) 316.3 KB

Publicado em: 2022-01-04

Diferenças e preconceito na escola alternativas teóricas e práticas download
1
DIFERENÇAS E PRECONCEITOS NA ESCOLA: Alternativas teóricas e Práticas. Julio Groppa
Aquino (org.) São Paulo Summus Editorial, 1998.
Sobre crocodilos e avestruzes: falando de diferenças físicas, preconceitos e sua
superação
Lígia Assumpção Amaral
O termo vida designa um fato biológico e uma vida
propriamente humana: a vida dramática do homem.”
George Politzer
Ao ser convidada pelo organizador desta coletânea a escrever um capítulo sobre "diferenças físicas", e
considerando as abordagens paralelas, no mesmo livro, de temas como as diferenças relacionadas a
aspectos socioculturais, cognitivos, étnico-raciais, religiosos etc., deparei com um impasse:
A partir de que ângulo redigir meu texto, uma vez que a amplitude da idéia de "diferença física"
parece-me de grande monta? Ou seja: ser obeso caracteriza uma diferença física? Ser magricela? Ser
muito alto? Ser muito baixo? Ser negro? Usar óculos? Ser surdo? Ser cego? Ser paraplégico?
A resposta genérica é, sem dúvida, um "sim", embora haja, no meu entender, algumas especificidades
que distanciam bastante os primeiros dos últimos. Mas porquê? Às indagações complementares,
decorrentes da primeira, dedicarei grande parte do presente capítulo. Todavia, antes disso, penso ser
necessário compartilhar outra questão que a tangencia. Vamos a ela.
As dificuldades encontradas por essas crianças (aqui enfatizadas pela própria característica da
coletânea) em seu convívio escolar têm algum denominador comum? Essa é a segunda grande
indagação a ser levantada.
Se pensássemos nos costumeiros apelidos que circulam nos lábios infantis: "rolha de poço", "azeitona
no palito", "pau-de-sebo", "nanico", "criolo doido", "quatro olho", "surdinho", "ladinho", "cegueta",
"mula manca".......estaríamos muito perto da resposta: a presença de preconceitos e a decorrente
discriminação vivida, ainda com mais intensidade, pelos significativamente diferentes, impedindo-os,
muitas vezes, de vivenciarem não só seus direitos de cidadãos, mas de vivenciar plenamente sua
própria infância.
Após estes primeiros parágrafos, imagino que o leitor já estará com outras perguntas na ponta da
língua: mas o que é diferença física, afinal? O que vem a ser "significativamente diferente;"? Aí
insere-se diferença/ deficiência? Como se configuram a criação e a manutenção de preconceitos'? No
que a discriminação impede o exercício da cidadania?
Tentarei, à minha maneira (claro), juntar essas indagações todas num hipotético cadinho e dele irei
retirando possíveis respostas ou até mesmo simples articulações - quando as respostas lineares se
fizerem inalcançáveis!
 Psicóloga, mestre em Psicologia Social pela puc-sp, Doutora cm Psicologia Social e especialista em deficiência pelo IP-
USP. É também Docente do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. e autora. dentre outros livros. de
Conhecendo a deficiência (Em companhia de Hércules) (Robe. 1995
2
Mas, antes de mais nada, dois esclarecimentos que se complementam: por um lado tenho um certo
conhecimento, teórico-conceitual, da questão da deficiência pois a ela venho me dedicando
profissionalmente há quase vinte anos, estudando, pesquisando, escrevendo, dando palestras e
assessorias; por outro tenho também esse conhecimento num âmbito "prático", por viver a condição de
deficiência, pessoalmente, há cinqüenta e poucos anos, uma vez que tenho seqüela da pólio que contraí
recém-caminhante, aos quinze meses de idade.
Esclareço esse último ponto para que o leitor saiba de que lugar estou falando (duplo!), e para que
compreenda alguns eventuais arroubos de quem pode até ser acusada de "advogar em causa própria".
De qualquer forma, deixo à sua generosidade a possibilidade de desculpar-me se tais arroubos vierem
efetivamente a acontecer no decorrer do presente texto!
Diferença significativa/Diferença física/Deficiência
Para falarmos de diferença, precisamos falar de semelhança, de homogeneidade, de normalidade, de
correspondência a um dado modelo. Mas quais conceitos utilizamos para "decretar" que um objeto, um
fenômeno, alguém ou algum grupo é diferente'! E quando considerarmos "significativamente
diferente". Quais ,os parâmetros?
Quando falamos simplesmente de "diferenças", talvez estejamos apenas referindo-nos a características
ou opções que, embora sinalizando dessemelhanças, não criam climas extremamente conflitivos (com
exceção de situações bem peculiares): cor dos cabelos; preferência pelo azul, em detrimento do
amarelo; São Paulo e não Corinthians, ou vice-versa; gostar de jiló ... e assim por diante.
Bem mais complexos são o contexto e as relações humanas que se estabelecem a partir de uma dada
característica que sinaliza para o "significativamente diferente". Aí sim inscreve-se o grande tema que
nos interessa.
Tenho defendido a idéia de que são três os grandes parâmetros utilizados para definir n diferença
significativa. ou o desvio. ou a anormalidade9
E é sobre eles que agora me debruço. Ou seja. penso que
a diferença significativa, , o desvio, a anomalia , a anormalidade. e, em conseqüência. o ser/estar
diferente ou desviante, ou anômalo, ou anormal, pressupõem a eleição de critérios. sejam eles
estatísticos (moda e média). de caráter estrutural/funcional (integridade de forma/funcionamento), ou
de cunho psicossocial. como o do "tipo ideal". Vejamos cada um deles.
O critério estatístico tem duas vertentes. Uma delas é a "média" (variável matematicamente alcançada
pelo cociente da soma de 11 valores por fi) que nos dá, por exemplo, a altura média do homem
brasileiro como sendo x e, assim, todos aqueles que se afastarem significativamente dela os muito
acima ou abaixo - são diferentes, são desviantes, são anormais. A outra vertente é a "moda" (variável
que corresponde a um máximo de freqüência numa curva de distribuição) que nos dá, por exemplo, a
maior freqüência de mulheres sendo professoras de I º grau, e assim, homens que exercem essa forma
de magistério seriam diferentes, desviantes, anormais.
O caráter abstrato da média é bem caracterizado por uma anedota contada por um amigo meu: coloca-
se a cabeça ele uma pessoa no forno e seus pés no congelador - a temperatura média estará ótima, mas
a pessoa, morta. Em relação à moda, permito-me apenas lembrar que esse valor não é naturalmente
dado, mas que corresponde a fatores historicamente constituídos. De qualquer forma, embora passíveis
de utilização até legítima, esses parâmetros estatísticos não dão conta de especificidades das diferenças
significativas.
9
Para maior aprofundamento. convido o leitor a consultar outros textos de minha autoria em que estas idéias foram mais
desenvolvidas e fundamentadas. os quais podem ser encontrados na bibliografia referente a este capítulo, especialmente os
de 1995. 1994 e 1992.
3
O critério estrutural/funcional (assim denominado por mim certamente à falta de melhores termos)
refere-se ao que venho chamando de "vocação" dos componentes da natureza - onde estamos incluídos
como seres humanos - e das coisas/objetos por nós construídos. Ou seja, estou sublinhando que tanto a
integridade da forma quanto a competência da funcionalidade são critérios que podem definir
modalidades de diferença significativa. Obviamente é necessário destacar que não é possível haver :
naturalidade ou universalidade de todas as características estruturais ou _ funcionais de pessoa ou
objetos.
Todavia, é inegável que a espécie humana tem na "vocação" de sua forma/função a existência de
determinadas características, como, por exemplo, peculiaridades de metabolismo que se correlacionam
a órgãos específicos (também em número predeterminado), uma estrutura própria (cabeça, corpo e
membros - íntegros e localizados de uma única forma), olhos que vêem, ouvidos que ouvem, membros
que se movimentam e praticam ações como pegar, andar, sentar etc. -tudo isso, em princípio, sem o
auxílio de equipamentos ou recursos específicos e especiais.10
Qualquer alteração de maior monta nessa "vocação" caracteriza a pessoa que vive essa condição como
significativamente diferente, desviante, anormal e com deficiência. De qualquer forma, entendo que
essa modalidade de categorização de desvio é a menos impregnada de crenças, valores, opiniões ...
Mas sublinho o menos pois isso pode ocorrer - e ocorre mediante especificidades de caráter
econômico, religioso, científico, político ... , como veremos a seguir.
O terceiro critério - que aliás lenho percebido, muitas vezes, apropriando-se perversamente dos dois
anteriores - corresponde à comparação entre uma determinada pessoa ou um determinado grupo e o
"tipo ideal" construído e sedimentado pelo grupo dominante.
Todos sabemos (embora nem todos o confessemos) que em nosso contexto social esse tipo ideal- que.
na verdade, faz o papel de um espelho virtual e generoso de nós mesmos - corresponde, no mínimo, a
um ser: jovem, do gênero masculino, branco, cristão, heterossexual, física e mentalmente perfeito, belo
e produtivo. A aproximação ou semelhança com essa idealização em sua totalidade ou particularidades
é perseguida, consciente ou inconscientemente, por todos nós, uma vez que o afastamento dela
caracteriza a diferença significativa, o desvio, a anormalidade. E o fato é que muitos e muitos de nós,
embora não correspondendo a esse protótipo ideologicamente construído, o utilizamos em nosso
cotidiano para a categorização/validação do outro.
Enfatizo, portanto, que é o reconhecimento da existência e perpetuação desse terceiro parâmetro (claro
está que sem deixarmos de problematizar os demais pois podem ser a ele acoplados, com vistas a
legitimação de preconceitos e estigma) que deve estar presente, com ênfase, em nossas discussões
sobre diferença significativa, divergência, desvio, anormalidade e deficiência.
Penso que se abstrairmos ou mesmo "desconstruirmos" a conotação pejorativa das palavras:
significativamente diferente, divergente, desviante, anormal, deficiente, e pensarmos nos parâmetros
que as produzem, poderemos nos debruçar sobre elas pura melhor contextualizar os critérios
empregados para sua eleição como designativas de algo ou alguém. Ou seja, penso que devemos
reconhecer que normalidade e anormalidade existem (e por isso abstenho-me de usar aspas), mas o que
efetivamente interessa na experiência do cotidiano é problematizar os parâmetros que definem tanto
uma como outra. Penso também que a partir da exploração e do questionamento desses parâmetros
pode-se pensar a anormalidade de forma inovadora: não mais e somente como patologia -seja
individual ou social - mas como expressão da diversidade da natureza e da condição humana, seja
qual for o critério utilizado.
10
Paralelamcntc a outras características. Comuns: tipo de cabelo, cor de pele ou de olhos etc ,. que estão sujeitas à
variahilidade decorrente da herança genética ou ligada à espécie mas a características dos ascendentes.
4
Para ir um pouco mais a fundo na reflexão sobre isso, tenho recorrido a algumas colocações do
antropólogo Gilberto Velho (1989) que nos fala, com muita propriedade, de um fenômeno bastante
usual: a patologização do desvio - moeda corrente em nossa cultura.
O autor afirma, ainda, que essa patologização pode, mediante circunstâncias/contingências peculiares,
voltar-se ora para o social, ora para o individual, parecendo-nos a primeira mais progressista e
moderna. Alerta-nos, então, para o fato de que a dificuldade (mal-entendido, diria eu) está exatamente
na patologização, sendo essa a grande armadilha que aprisiona aqueles que se colocam (ou são
colocados?) no desvio, quer por suas características, quer por seus comportamentos.
Goffman (1982) é outro autor que me vem ajudando a afunilar ainda mais o raciocínio, pois introduz
conceitualmente a noção de estigma (marca, sinal) - estigma esse imputado àquelas pessoas que se
afastam da idealização corrente em determinado contexto. Para ele são três as "aberrações"
desencadeantes de estigma: do corpo, de opções comportamentais e de inserção "tribal".
Esses atributos e/ou características definem, nas relações que o autor denomina de //listas, o tipo de
interação a ser vivenciado entre os estigmatizadores e os estigmatizados ou estigmatizáveis.
Isso posto, pode-se afirmar que muitas e muitas vezes a noção de desvio centralizou (ou construiu?),
em companhia do estigma, as pré-conceituações/definições de diferenças significativas, dentre estas a
deficiência (vista como fenômeno global) e, numa dialética de causa conseqüência-causa, as atitudes
diante dela.
Falando dessas atitudes (presentes nas e constituidoras das mentalidades), alguns autores nos falam de
uma progressão: do extermínio ou marginalização ao assistencialismo de cunho paternalista, e deste
ao ') investimento nas potencialidades e ao reconhecimento da cidadania.
O momento culminante dessa "progressão" seria a atualidade. Mas, embora presente no discurso
oficial há algum tempo, essa visão "generosa" do trato com a deficiência encontra ainda muitos
entraves (conscientes ou inconscientes, admitidos ou inconfessos), por parte de muitos dos
protagonistas individuais ou institucionais envolvidos nesse "drama"11
E que entraves são esses'! Sinteticamente pode-se dizer que, por um lado, são os próprios mitos que
cercam a questão da deficiência (criados e perpetuados socialmente) e, por outro, as barreiras
atitudinais (emanadas prioritariamente do âmbito intrapsíquico) - embora a separação entre ambos seja
quase imperceptível. 12
I. 13
2. ,. que estão sujeitas à variahilidade decorrente da herança genética ou
ligada à espécie mas a características dos dentes.
Falando de castelos e de crocodilos
Quanto aos mitos, penso que o profundo abismo que separa o mito da realidade pode ser simbolizado
como os fossos repletos de crocodilos dos castelos medievais. Brincando com a idéia, tenho nomeado
esses hipotéticos crocodilos de preconceitos, estereótipos e estigma.
Ainda brincando com a idéia, tenho visualizado uma ponte movediça que possibilita o trânsito entre a
cidade e o castelo, permitindo, ao mesmo tempo, escapar dos ferozes animais e conhecê-los a uma
distância segura. Essa ponte movediça é toda oportunidade de encontro ("ao vivo e em cores" ou por
11
Palavra de onde (e perseguindo idéias desenvolvidas por Politzer. 1975. em sua ohra Crtica dos fundamentos da
psicologia), abstraí a conotação romântica. tentando referir-me. simplesmente. a um conjunto de atos que envolvem um
enredo e a interação dinâmica entre os participantes: a vida propriamente humana.
13
5
intermédio de um livro!) de pessoas que vivem a questão ou interessam-se pelo tema; é todo progresso
no mundo teórico-científico; é toda vitória no contexto da prática; é todo momento de impasse que
leva a reflexões.
Assim sendo, o primeiro ponto a assinalar no que se refere aos mal fadados crocodilos, os mitos, é que
estes acabam por configurar um leque bastante grande de opções para a leitura tendenciosa da
diferença física significativa/deficiência. Dentre esses mitos cito alguns, que tenho chamado de:
"generalização indevida", "correlação linear", "ideologia da força de vontade", "culpabilização da
vítima", "contágio osmótico" ...
Aqui estarei explorando, mesmo que rapidamente, três deles que estão, penso, mais diretamente
ligados à temática abordada.
Generalização indevida" refere-se à transformação da totalidade da pessoa com deficiência na própria
condição de deficiência, na ineficiência global. O indivíduo não é alguém com uma dada condição, é
aquela condição específica e nada mais do que ela: é a encarnação da ineficiência total. Os
depoimentos nesse sentido são numerosos e talvez o mais conhecido deles tenha sido dado pelo
escritor francês Chevigny (1946) que, ao ficar cego, viu-se repentinamente tratado também como
deficiente auditivo e mental. Relata, para ilustrar essa afirmação, que em dada situação foi convidado a
tomar chá em casa de uma conhecida e esta, ao servir, perguntou ao seu acompanhante: "O chá dele é
com ou sem açúcar?" Eis a presença do mito.
Por outro ângulo, há o uso freqüente da lógica da "correlação linear", a lógica do "se ... então": se esta
atividade é boa para esta pessoa com deficiência então é boa para todas as pessoas nessas condições.
Ou: se não há uma pessoa com deficiência desenvolvendo tal atividade, então esta não é uma atividade
compatível. Ou: se audição é um sentido privilegiado no cego (claro que aqui há mais um preconceito),
então os cegos são excelentes músicos. Ou: se este paraplégico é cruel, então todos os paraplégicos são
cruéis. Ou: ...
Quanto ao "contágio osmótico ", refere-se ao medo (pavor mesmo) da "contaminação" pelo convívio.
o velho ditado "diga-me com quem andas e te direi quem és" talvez seja um de seus cúmplices
involuntários.
E as barreiras atitudinais? Penso que estas, em última instância, sendo "barreiras", nada mais são do
que anteparos interpostos nas relações entre duas pessoas, onde uma tem uma predisposição
desfavorável em relação à outra, por ser esta significativamente diferente, em especial quanto às
condições preconizadas como ideais.
Estou referindo-me ao preconceito que, como a própria construção da palavra indica, é um conceito
que formamos aprioristicamente, anterior portanto à nossa experiência. Dois são seus componentes
básicos: uma atitude (predisposições psíquicas favoráveis ou desfavoráveis em relação a algo ou
alguém - no caso aqui discutido, desfavorável por excelência) e o desconhecimento concreto e
vivencial desse algo ou alguém, assim como de nossas próprias reações diante deles.
A atitude que subjaz ao preconceito baseia-se, por sua vez, em conteúdos emocionais: atração, amor,
admiração, medo, raiva, repulsa ... Os preconceitos, assim constituídos, são como filtros de nossa
percepção, colorindo o olhar, modulando o ouvir, modelando o tocar ... - fazendo com que não
percebamos a totalidade do que se encontra à nossa frente. Configuram uma predisposição perceptual.
Ou dito de outra forma: fruto de informações tendenciosas prévias ou . do desconhecimento (seja
oriundo de desinformação factual, seja oriundo de emoções/sentimcntos não elaborados) abrigamos cm
nós atitudes diante .de um determinado alvo de atenção: algo, alguém ou algum fenômeno, Essas
6
atitudes, em princípio, darão o "tom" de nossas ações e reações no convívio com esse alvo de atenção.
Esse "tom" será, nas circunstâncias a que este texto se refere, colorido pois pelo preconceito. No caso
dos relacionamentos humanos, a concretização desse preconceito dar-se-á pela relação vivida com um
estereótipo e não com a pessoa.
O estereótipo (no contexto aqui abordado) é a concretização/personificação do preconceito. Cria-se um
"tipo" fixo e imutável que caracterizará o objeto em questão - seja ele uma pessoa, um grupo ou um
fenômeno. Esse estereótipo será o alvo das ações subseqüentes e, ao mesmo tempo, o biombo que
estará interposto entre o agente da ação e a pessoa real à sua frente.
Nosso universo vivencial está superlotado de estereótipos. Se "puxarmos" pela memória
encontraremos vários deles presentes em nosso cotidiano: negros, judeus, homossexuais, prostitutas,
loucos ... Alguns programas de televisão, inclusive, sobrevivem graças à exploração (tantas vezes até
grosseira) desses estereótipos - tornando-os cada vez mais familiares ao público e, por uma distorção
perceptiva acumulada, até "naturais".
No que se refere à deficiência, encontramos também estereótipos particularizados em relação aos tipos
de deficiência14
, como o deficiente físico ser "o revoltado" ou "o gênio intelectual"; o cego ser "o
cordato" ou "o sensível" ou "o gênio musical"; o surdo ser "o isolado" ou "o impaciente"; a pessoa com
Síndrome de Down ser "a meiguice personificada".
Além desses estereótipos particularizados, penso que existem três outros mais generalistas (chamemos
assim) que são, da mesma forma, empregados por muitos de nós na vida cotidiana, pelos meios de
comunicação de massa, pela literatura, pelo teatro ... Refiro-me a um deplorável trio, composto pelos
estereótipos de herói, vítima e vilão.
Ao primeiro cabe sem...

mostrar mais »Preconceitoescola

Comentários para: [AMARAL] Diferenças e preconceito na escola