O Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a COVID-19 definiu as comorbidades com maior risco de desenvolver formas graves da doença e que, portanto, devem ser priorizadas para a vacinação. As comorbidades contempladas no grupo prioritário estão descritas no quadro 1 [1,2,3].
Quadro 1. Descrição das comorbidades incluídas como prioritárias para vacinação contra a COVID-19.
Diabetes mellitus | Qualquer indivíduo com diabetes. | |
Pneumopatias crônicas graves | Indivíduos com pneumopatias graves incluindo doença pulmonar obstrutiva crônica, fibrose cística, fibroses pulmonares, pneumoconioses, displasia broncopulmonar e asma grave (uso recorrente de corticoides sistêmicos ou internação prévia por crise asmática ou uso de doses altas de corticoide inalatório e de um segundo medicamento de controle no ano anterior). | |
Hipertensão Arterial Resistente (HAR) | Quando a pressão arterial (PA) permanece acima das metas recomendadas com o uso de três ou mais anti-hipertensivos de diferentes classes, em doses máximas preconizadas e toleradas, administradas com frequência e dosagem apropriadas e comprovada adesão ou PA controlada em uso de quatro ou mais fármacos anti-hipertensivos. | |
Hipertensão arterial estágio 3 | PA sistólica ≥180 mmHg e/ou diastólica ≥110 mmHg independente da presença de lesão em órgão-alvo (LOA). | |
Hipertensão arterial estágios 1 e 2 com LOA | PA sistólica entre 140 e 179 mmHg e/ou diastólica entre 90 e 109 mmHg na presença de lesão em órgão-alvo (LOA). | |
Doença neurológicas crônicas | Doença cerebrovascular (acidente vascular cerebral isquêmico ou hemorrágico; ataque isquêmico transitório; demência vascular); doenças neurológicas crônicas que impactem na função respiratória, indivíduos com paralisia cerebral, esclerose múltipla, e condições similares; doenças hereditárias e degenerativas do sistema nervoso ou muscular; deficiência neurológica grave. | |
Doença renal crônica | Doença renal crônica estágio 3 ou mais (taxa de filtração glomerular < 60 ml/min/1,73 m2) e/ou síndrome nefrótica¹. | |
Imunossuprimidos | Indivíduos transplantados de órgão sólido ou de medula óssea; pessoas vivendo com HIV²; doenças inflamatórias imunomediadas em atividade e em uso de dose de prednisona ou equivalente > 10 mg/dia; demais indivíduos em uso de imunossupressores ou com imunodeficiências primárias; pacientes oncológicos que realizaram tratamento quimioterápico ou radioterápico nos últimos 6 meses; neoplasias hematológicas. | |
Hemoglobinopatias graves | Doença falciforme e talassemia maior. | |
Obesidade mórbida | Índice de massa corpórea (IMC) ≥ 40. | |
Síndrome de Down | Trissomia do cromossomo 21. | |
Cirrose hepática | Cirrose hepática Child-Pugh A, B ou C | |
D C | Insuficiência cardíaca (IC) | IC com fração de ejeção reduzida, intermediária ou preservada em estágios B, C ou D, independente de classe funcional da New York Heart Association |
Cor-pulmonale e hipertensão pulmonar | Cor-pulmonale crônico, hipertensão pulmonar primária ou secundária. | |
Cardiopatia hipertensiva | Cardiopatia hipertensiva (hipertrofia ventricular esquerda ou dilatação, sobrecarga atrial e ventricular, disfunção diastólica e/ou sistólica, lesões em outros órgãos-alvo). | |
Síndromes coronarianas | Síndromes coronarianas crônicas (angina pectoris estável, cardiopatia isquêmica, pós-infarto agudo do miocárdio, outras). | |
Valvopatias | Lesões valvares com repercussão hemodinâmica ou sintomática ou com comprometimento miocárdico (estenose ou insuficiência aórtica; estenose ou insuficiência mitral; estenose ou insuficiência pulmonar; estenose ou insuficiência tricúspide, e outras). | |
Miocardiopatias e Pericardiopatias | Miocardiopatias de quaisquer etiologias ou fenótipos; pericardite crônica; cardiopatia reumática. | |
Doenças da Aorta, dos grandes vasos e fístulas arteriovenosas | Aneurismas, dissecções, hematomas da aorta e demais grandes vasos. | |
Arritmias cardíacas | Arritmias cardíacas com importância clínica e/ou cardiopatia associada (fibrilação, flutter atriais e outras). | |
Cardiopatias congênita no adulto | Cardiopatias congênitas com repercussão hemodinâmica; crises hipoxêmicas; insuficiência cardíaca; arritmias; e comprometimento miocárdico. | |
Próteses valvares e dispositivos cardíacos implantados | Portadores de próteses valvares biológicas ou mecânicas, dispositivos cardíacos implantados (marca-passos, cardiodesfibriladores, ressincronizadores, assistência circulatória de média e longa permanência). |
Fonte: Ministério da Saúde (2021)[1].
¹Síndrome nefrótica: manifestação de doença renal estabelecida que cursa com edema periférico, hipoalbuminemia, hiperlipidemia e proteinúria significativa (proteinuria > 3-3.5 g/24 horas ou relação proteinúria-creatinúria > 3,000-3,500 mg/g (300-350 mg/mmol) em amostra [4,5].
² Conforme a Nota Técnica 282/2021, inclui todos os indivíduos vivendo com
HIV entre 18 – 59 anos de idade, independentemente da contagem de linfócitos T CD4+, que não foram imunizados previamente contra a COVID-19 [6].
Destaca-se ainda que na abrangência das pessoas com comorbidades e das pessoas com deficiência permanente encontram-se contempladas doenças raras que implicam em maior risco para os desfechos desfavoráveis da COVID-19, como exemplo citam-se doenças que causam imunossupressão como Síndrome de Cushing, lúpus eritematoso sistêmico, Doença de Crohn, imunodeficiência primária com predominância de defeitos de anticorpos; doenças que causam comprometimento pulmonar crônico como a fibrose cística; doenças que causam deficiências intelectuais e/ou motoras e cognitivas como a Síndrome Cornélia de Lange, a doença de Huntington; e outras doenças raras como anemia falciforme e talassemia maior [1].
Diferentes bases de dados foram integradas ao SI-PNI e ao aplicativo ConecteSUS para identificar automaticamente os cidadãos que fazem parte dos grupos prioritários da Campanha, com a realização de um pré-cadastro. A ausência na base de dados do público-alvo não deve ser impedimento para recebimento da vacina, desde que o indivíduo comprove integrar algum grupo prioritário, por meio de exames, receitas, relatório médico, prescrição médica e/ou cadastro já existente nas unidades de saúde. Nesses casos, o profissional de saúde poderá habilitar o cidadão no SI-PNI para receber a vacina [1,3].
Gestantes, puérperas e lactantes, com ou sem comorbidade, independente da idade dos lactentes também são considerados grupos prioritários [2]. Além disso, crianças e adolescentes entre 12 e 17 anos com deficiência permanente, com comorbidades ou que estejam privados de liberdade também foram incluídos no calendário de vacinação [4,5]. O quadro 2 define os imunizantes indicados nas populações específicas.
As comorbidades incluídas, bem como as orientações referentes à comprovação das condições prioritárias, são as mesmas já descritas no Plano Nacional de Operacionalização (PNO).
Quadro 2. Populações e imunizantes indicados.
Adultos com 18 anos ou mais. | Qualquer imunizante aprovado no país. |
Adolescentes de 12 a 17 anos, inclusive gestantes e puérperas nesta faixa etária [11]. | Comirnaty (Pfizer/BioNTech/Wyeth). |
Gestantes e puérperas acima de 18 anos (até 45 dias pós-parto) [2]. | Comirnaty (Pfizer/BioNTech/Wyeth) ou CoronaVac® (Sinovac/Butantan). |
Lactantes. | Qualquer imunizante aprovado no país. |
2. Devido à ocorrência de um caso de EAPV grave, com Síndrome da Trombose e Trombocitopenia, em gestante após administração da vacina da AstraZeneca, foi interrompida a vacinação de gestantes e puérperas com qualquer vacina de vetor viral (Janssen e AstraZeneca), associadas a esta síndrome.
Fonte: TelessaúdeRS, adaptado de Ministério da Saúde [2].
Referências:
- Ministério da Saúde (Brasil). Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à COVID-19. Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a COVID-19. 10a. ed. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 14 Ago 2021 [citado em 7 Out 2021]. 118 f. Disponível em: //www.gov.br/saude/pt-br/coronavirus/publicacoes-tecnicas/guias-e-planos/plano-nacional-de-vacinacao-covid-19/view.
- Ministério da Saúde (Brasil). Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis. Coordenação-Geral do Programa Nacional de Imunizações. Segundo Informe Técnico: Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 23 Jan 2021 [citado em 7 Out 2021]. Disponível em: //www.gov.br/saude/pt-br/media/pdf/2021/janeiro/23/segundo-informe-tecnico-22-de-janeiro-de-2021.pdf.
- Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Secretaria Estadual da Saúde. Centro Estadual de Vigilância em Saúde. Plano Estadual de Vacinação contra COVID-19 do Rio Grande do Sul: embasamento, operalização e avaliação. Porto Alegre, 7 Jul 2021 [citado em 6 Out 2021]. Versão 9.0. 79 f. Disponível em: //coronavirus.rs.gov.br/upload/arquivos/202104/08153225-plano-estadual-de-vacinacao-contra-covid19-do-rs-atualizado-em-06-04-2021.pdf.
- Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Brasil). Anvisa autoriza vacina da Pfizer para crianças com mais de 12 anos. Brasília, DF; 11 Jun 2021 [citado em 7 Out 2021]. Disponível em: //www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-anvisa/2021/anvisa-autoriza-vacina-da-pfizer-para-criancas-com-mais-de-12-anos.
- Ministério da Saúde (Brasil). Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à COVID-19. Nota Informativa nº 1/2021-SECOVID/GAB/SECOVID/MS. Assunto: vacinação em adolescentes Brasília, DF; 15 Set 2021 [citado em 7 Out 2021]. Disponível em: //sei.saude.gov.br/sei/controlador_externo.php?acao=documento_conferir&codigo_verificador=0022770797&codigo_crc=BEFBD157&hash_download=34849307c0375646c10748c889463c08c6008ae8183ab1341d6861e8d7008e128ee9929027cc22b6793a23747f78ef57ff73b329544417ce4f04731b5b3b5dfd&visualizacao=1&id_orgao_acesso_externo=0.
Como citar este documento:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia. TelessaúdeRS (TelessaúdeRS-UFRGS). Quais as comorbidades são consideradas prioritárias para a vacinação contra a COVID-19? Porto Alegre: TelessaúdeRS-UFRGS; 7 Out 2021 [citado em “dia, mês abreviado e ano”. Disponível em: //www.ufrgs.br/telessauders/posts_coronavirus/quais-as-comorbidades-sao-consideradas-prioritarias-para-a-vacinacao-contra-a-covid-19/.