Por que os portugueses recorreram ao tráfico de escravos africanos?

05/04/2017

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Por que os portugueses recorreram ao tráfico de escravos africanos?
“Índios soldados da província de Curitiba escoltando prisioneiros nativos”, tela de Jean-Baptiste Debret

O litoral brasileiro era repleto de tribos indígenas quando os portugueses chegaram ao Brasil no começo do século XVI. Como o objetivo dos colonos era a obtenção de lucro e exploração na nova terra, a opção pela escravidão indígena foi quase que imediata.

O primeiro contato com os índios brasileiros foi o escambo. Os portugueses ofereciam objetos como espelhos, cordas, apitos e facas em troca de trabalho.

Com o estabelecimento dos engenhos de açúcar no nordeste do Brasil, os colonos precisavam de grande quantidade de mão de obra. Muitos senhores de engenho recorreram à escravização de índios. Eles organizavam expedições que invadiam as tribos de forma violenta, inclusive com armas de fogo, para sequestrarem os indígenas jovens e fortes para levarem-nos até o engenho. Muitos estupros de índias ocorreram também.

O auge da escravidão indígena no Brasil foi no período inicial da colonização, entre os anos de 1540 e 1580.

A falta e o alto custo dos escravos africanos fizeram com que os colonos optassem pelos índios primeiro. O uso dos nativos como escravos teve forte oposição dos jesuítas, que entraram em conflito com os colonos da região. Foi somente em 1682, com a criação da Companhia Geral de Comércio do Estado do Maranhão, que a mão de obra indígena começou a deixar de ser usada, sendo substituída pelos escravos africanos.

Havia até um mercado de negócios com escravos indígenas. Comerciantes organizavam expedições de captura indígena para lucrar com a venda destes escravos aos senhores de engenho.

Os portugueses aproveitaram também a rivalidade entre as tribos e faziam alianças: em troca de apoio militar, recebiam índios adversários capturados como recompensa das tribos aliadas.

Mas a escravidão indígena não deu muito certo, sendo substituída pela africana por vários motivos. Um deles é que, mesmo recebendo castigos físicos, alguns índios se recusavam a trabalhar como escravos. O contato com os colonos trouxe várias doenças para os brasileiros, que adoeceram e morreram. Jesuítas também fizeram uma forte campanha na época contra a escravidão indígena. Mas o lucro com o tráfico de escravos africanos foi o grande motivo da diminuição da escravidão indígena.

A escravidão indígena só foi proibida no Brasil em 1757, em um decreto do Marquês de Pombal.

Mas a escravidão indígena continua no país. Um exemplo disso é que em 2012 uma força-tarefa do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), do Ministério Público do Trabalho (MPT) e da Funai resgatou 41 indígenas kaingang em condições análogas à de escravo, em Bom Jesus (RS). Eles eram submetidos a condições degradantes no cultivo de maçãs. Entre eles estavam 11 adolescentes de 14 a 16 anos. Os alojamentos estavam em péssimas condições; havia apenas dois banheiros para os 41 trabalhadores; e as famílias, inclusive crianças, se apertavam em um espaço mínimo. Além disso, a fiação elétrica estava solta, o frio entrava pelas frestas, a água era armazenada em garrafas pet e havia comida estragada por todo o lugar.

Uma das características mais importantes das modernas civilizações europeias, formadas a partir do século XV, como Portugal e Espanha, foi a participação no sistema econômico mercantilista, que dava as diretrizes para o funcionamento da exploração das riquezas naturais descobertas no continente americano, da produção monocultura dos grandes latifúndios, também montados no “novo mundo”, e da mão de obra usada nessas explorações. No que se refere a esse último item, a escravidão de africanos sustentou esse sistema. Para compreendermos a importância que o trabalho escravo teve no contexto da Idade Moderna e em parte da Idade Contemporânea, é necessário sabermos como funcionava o tráfico negreiro transatlântico.

A mão de obra escrava negra utilizada no continente americano estava intimamente associada ao tráfico negreiro intercontinental, no qual a “mercadoria humana” era em grande parte negociada nos portos africanos e enviada para os portos americanos nos porões de navios que cruzavam o oceano Atlântico em condições deploráveis. O tráfico era estimulado não apenas por conta da necessidade da mão de obra, mas também porque o próprio mercado escravagista, em si mesmo, era muito lucrativo.

No caso específico dos negros vindos para o Brasil, há que se destacar as preferências do Império Português por certas procedências, como Angola, Guiné e Costa da Mina, como diz o historiador Boris Fausto, em seu livro “Historia do Brasil”:

A região de proveniência dependeu da organização do tráfico, das condições locais na África e, em menor grau, das preferências dos senhores brasileiros. No século XVI, a Guiné (Bissau e Cacheu) e a Cosa da Mina, ou seja, quatro portos ao longo do litoral do Daomé, forneceram o maior número de escravos. Do século XVII em diante, as regiões mais ao sul da costa africana – Congo e Angola – tornaram-se os centros exportadores mais importantes, a partir dos portos de Luanda, Benguela e Cabina. Os angolanos foram trazidos em maior número no século XVIII, correspondendo, ao que parece, a 70% da massa de escravos trazidos para o Brasil naquele século. [1]

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Em sua resenha do livro Atlas of the transatlantic slave trade, de David Eltis e David Richardson, o pesquisador Carlos Silva Jr. examina as descrições dos principais portos que recebiam os escravos nas Américas, como pode ser lido abaixo:

Seis em cada dez nativos alcançaram as Américas através de seus sete principais portos. Rio de Janeiro e Salvador aparecem nas primeiras posições dessa funesta lista, seguidos do Recife, Kingston (Jamaica), Bridgetown (Barbados), Havana e Saint Domingue. Mais ainda: três quartos dos cativos chegaram através de apenas vinte portos. Há ainda o tráfico intra-americano, conhecido entre nós como “terceira perna do tráfico”. Um em cada quatro africanos que sobreviveram à travessia do Atlântico teve de enfrentar uma jornada adicional até seu derradeiro destino. Apesar do Rio de Janeiro superar Salvador como principal porto negreiro das Américas, essa primazia só aconteceu no século XIX. Até 1790, Salvador superava o Rio de Janeiro nas chegadas de africanos […], mas um grande número dos escravos que aí desembarcavam, principalmente no século XVIII, seguia para Minas Gerais via Rio de Janeiro. [2]

É importante ressaltar que o Império Português e as demais potências marítimas da época compravam os escravos dos poderosos reinos africanos, que já praticavam a escravização de seus conterrâneos há séculos. Os escravos vendidos eram, em parte, prisioneiros de guerra de outros africanos. Além disso, dentro do comércio de tráfico internacional de escravos negros, também estava o Império Otomano, que dominava todo o norte africano.

NOTAS

[1] FAUSTO, Boris. História do Brasil. Universidade de São Paulo: São Paulo, 2013. p. 47.

[2] SILVA JR, Carlos. “Mapeando o tráfico transatlântico de escravos”. Afro-Ásia [online]. 2012, n.45 [2016-02-29], p. 182.

Por que os portugueses viam a África para buscar escravizados?

A "missão evangelizadora" também era uma justificativa para escravizar os africanos "infiéis". Além disso, o negro era considerado um ser inferior, uma coisa, não uma pessoa, e por isso não tinha nenhum direito. Dessa forma, gradativamente os negros substituíram os nativos indígenas no trabalho escravo na colônia.

Qual o objetivo do tráfico de escravos para os portugueses?

Tráfico negreiro é o nome que se dá ao sequestro de negros africanos, durante o período colonial, na condição de escravos, para as Américas e outras colônias europeias. Ao trazer africanos para o Brasil, no século 16, o objetivo dos portugueses era suprir o problema da mão-de-obra.

Por que se tornou fácil para os portugueses conseguir a mão de obra escrava na África?

Além disso havia o fato de que, enquanto os portugueses utilizaram a mão-de-obra indígena, puderam acumular os recursos necessários para comprar os africanos. Essa aquisição era considerada investimento bastante lucrativo, pois os escravos negros tinham um excelente rendimento no trabalho.

Por que os portugueses trouxeram os negros para o Brasil?

Os portugueses passaram a cultivar a cana-de-açúcar e para isso explorou a mão de obra escrava. Os africanos foram trazidos para o Brasil para realizar trabalho forçado, sem pagamento, mediante relação de subsistência e sob ameaças e violência.