Em 20 de novembro comemora-se no Brasil o Dia da Consciência Negra. Mas você sabe o motivo de escolha dessa data?
Foi nesse dia, no ano de 1695, que morreu Zumbi dos Palmares. Este foi a liderança mais conhecida do chamado Quilombo dos Palmares, que se localizava na Serra da Barriga, atual estado de Alagoas. A fama e o símbolo de resistência e força contra a escravidão mostrada pelos palmarinos fizeram com que a data da morte de Zumbi fosse escolhida pelo movimento negro brasileiro para representar o Dia da Consciência Negra. A data foi estabelecida pela Lei 12.519/2011.
Outro motivo para a escolha dessa data foi o fato de que no Brasil o fim da escravidão é comemorado em 13 de maio. Nesse dia, no ano de 1888, a princesa Isabel assinou a Lei Áurea que abolia a escravidão no Brasil. Porém, comemorar o fim da escravidão em uma data em que uma pessoa branca e pertencente à família real portuguesa, a principal responsável pela escravidão no Brasil, assinou uma lei pondo fim ao cativeiro faz parecer que a abolição foi feita pelos próprios escravistas. Faz com que a abolição fosse apresentada como um favor dos brancos aos negros.
A escolha do dia 20 de novembro serviu, dessa forma, para manter viva a lembrança de que o fim da escravidão foi conseguido pelos próprios escravos, que em nenhum momento durante o período colonial e imperial deixaram de lutar contra a escravidão.
Consciência negra é uma daquelas datas estabelecidas para preservar a memória de luta por ideais, ainda que banhadas por sangue e sedimentada por mortes.
Após comandar por 15 anos o Quilombo dos Palmares, Zumbi foi morto em 20 de novembro de 1695, num território que hoje pertence a Alagoas. Ele liderava o maior reduto de resistência à escravidão do período colonial, que chegou a ter o tamanho de Portugal e contar com 30 mil escravizados fugitivos de fazendas, senzalas e prisões.
Ao ser morto, Zumbi dos Palmares teve a cabeça cortada, salgada e exposta em praça pública. As autoridades portuguesas queriam desmentir a lenda de que ele era imortal. Naquele ano, Pedro II de Portugal premiou com 50 mil réis o capitão responsável pelo assassinato.
Desde 2011, a data da morte do líder quilombola passou a ser celebrada como o Dia da Consciência Negra. A data foi cravada no calendário nacional neste dia específico após a luta de muita gente, de ativistas a intelectuais, que queriam fazer o Brasil refletir sobre como trata a população negra e buscavam estabelecer os próprios marcos temporais e referências.
O que é consciência negra?
A ideia de "consciência negra" está relacionada com a valorização das culturas de matriz africana e da autoestima de populações negras, ambas impactadas de diversas formas pelos processos de racismo.
Dessa forma, essa permissão se conecta ao "orgulho negro", movimento de legitimação da estética negra e de reconhecimento de culturas com origem no continente africano que foram sufocadas pelo processo de colonização europeia e pelo deslocamento forçado promovido pela escravidão.
Além disso, o termo sugere a conscientização para questões raciais, em oposição à ideia de superioridade da identidade branca.
Consciência negra: quando surgiu?
Há referências à ideia de uma consciência negra na obra de pensadores, como o psiquiatra, filósofo político e militante martiniquês Frantz Fanon (1925-1961), nascido em Martinica; e o sociólogo, historiador e ativista norte-americano W.E.B. Du Bois (1868-1963).
Como movimento, o conceito ganhou corpo com a luta por independência nos países do continente africano. Na década de 1970, no auge do apartheid, o sistema de segregação racial que vigorou na África do Sul por quase cinco décadas, surge no país sul-africano o Black Consciousness Movement (Movimento Consciência Negra, em tradução livre), com liderança de Steve Biko, ativista negro preso, torturado e assassinado aos 30 anos.
O grupo de Biko organizou greves e ações que buscavam expor e fragilizar a política racista na África do Sul. O movimento também defendia a autoestima da população negra com a premissa do "black is beautiful" ("o negro é lindo").
No mesmo período, o (MNU Movimento Negro Unificado) nasce no Brasil com o objetivo de agir conjuntamente no enfrentamento a violações de direitos da população afrodescendente, como a ação policial violenta e desproporcional.
Ali, o MNU também começa a discutir a criação de uma data para simbolizar a resistência ao racismo no país e para se opor ao 13 de maio, data que marca a assinatura da Lei Áurea, que extinguiu a escravidão no país. Ativistas consideram a abolição incompleta, já que a população negra liberta não recebeu assistência ou apoio governamental para o acesso a terras, educação ou trabalho.
O Brasil instituiu o Dia da Consciência Negra em seu calendário oficial há dez anos. Celebrada em 20 de novembro, a data busca refletir sobre os efeitos do racismo e elevar a autoestima da população negra.
Consciência negra é feriado?
A data foi instituída pela Lei 12.519, de 2011, para chamar a atenção da sociedade para o racismo estrutural e propõe a reflexão das suas consequências para a população negra — como a desigualdade salarial e o acesso à educação. Além disso, busca o reconhecimento da influência e da presença da cultura de origem africana no país.
O feriado, no entanto, é facultativo e fica a critério dos estados e municípios. Apenas cinco estados adotam a data como feriado local: Alagoas, Amazonas, Amapá, Mato Grosso e Rio de Janeiro.
Por que 20 de novembro é Dia da Consciência Negra?
A data foi escolhida para celebrar a memória de Zumbi dos Palmares, que morreu no dia 20 de novembro de 1695.
Zumbi foi o mais importante líder dos quilombos de Palmares, a maior e mais importante experiência de comunidade formada por pessoas escravizadas que fugiram. A população de Palmares foi estimada em mais de 30 mil pessoas.
Fontes: Daniel Teixeira, advogado e diretor do Ceert (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades); Iêda Leal de Souza, educadora e coordenadora nacional do MNU (Movimento Negro Unificado).