Quais as mudanças ocorridas na Rússia durante a transição da economia planificada para capitalista?

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Um fato espetacular marcou o fim do século XX: o colapso e a desintegração da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e uma radical transição ao capitalismo. No início do novo século, a Rússia passou por uma nova mudança, com um projeto nacional de reconstrução econômica e poder político. Tal traje- tória vem fazendo da Rússia um protagonista no cenário internacional.

O presente texto está elaborado em quatro seções, além desta breve introdução (a seção 2, A economia política da transição ao capitalismo; a seção 3, Putin e a reconstrução do Estado russo; a seção 4, O desenvolvimentismo em meio à abundância de recursos naturais; e a seção 5, as Considerações finais) e busca resumir os movimentos principais desta dupla transição. A despeito de seu escopo eminentemente histórico, exploram-se neste trabalho as conexões entre desenvolvimento econômico, Estado e poder político, objeto essencial da ciência política e da economia política clássica e que, tardiamente, vem se afirmando com mais presença na literatura contemporânea sobre as trajetórias comparadas de desenvolvimento econômico.

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Se hoje percebemos a globalização pelo papel assumido pela internet, pela complexalização e ampliação das transações comerciais e financeiras ou pela velocidade com que as informações chegam até nós, é importante ressaltar que isso tudo é, de certo modo, consequência de vários fatores históricos – dentre eles, o fim da Guerra Fria. Sendo assim, compreender minimamente as mudanças ocorridas na URSS ao final dos anos 1980, com o advento da Perestroika e da Glasnost, é fundamental não apenas para a compreensão do que desencadeou o fim do bloco socialista, mas também para o entendimento de como se daria mais tarde a configuração de uma nova ordem mundial.

 Em 1989 chegava ao fim a chamada Guerra Fria, período no qual o mundo esteve dividido em dois blocos: de um lado, o bloco capitalista representado pelos EUA; e, do outro, o bloco socialista representado pela URSS, liderado pela Rússia. Terminada a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), em 1946 começaria um período marcado por uma forte disputa pelo domínio ideológico entre tais blocos, bem como pela chamada corrida espacial e tecnológica. O final dessa história já se sabe, pois o modelo capitalista saiu vitorioso após as reformas econômicas e políticas promovidas pela União Soviética quando esta já agonizava, sem condições de manter o projeto socialista e o seu modelo de Estado de bem-estar social. Mas o começo do fim estaria no processo de mudanças internas na URSS, que começou na metade da década de 1980, com Mikhail Gorbachev enquanto secretário-geral do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética, que mais tarde promoveria a implantação da Perestroika e da Glasnost.

Conforme aponta Octavio Ianni em seu livro A Sociedade Global (1995), a Perestroika, palavra que pode ser traduzida por reconstrução, “pôs em prática mudanças profundas na estrutura do sistema econômico soviético, com a substituição dos mecanismos de economia centralmente planificada pelos mecanismos de economia de mercado”. (IANNI, p. 12). Tratou-se de uma reestruturação econômica e reorientação dos gastos públicos, diminuindo-se, por exemplo, os investimentos na área da defesa. Considerando-se o estabelecimento de uma “corrida espacial” entre EUA e URSS materializada na disputa pelo domínio das tecnologias de defesa (produção de bombas nucleares) e para exploração do espaço (a exemplo da criação de satélites e foguetes), a URSS, encabeçada pela Rússia, comprometia sua economia interna e, dessa forma, o funcionamento de seu modelo de Estado de bem-estar social. Mikhail Gorbachev, sendo citado por Octavio Ianni, afirmaria que: “A perestroika é uma necessidade urgente que surgiu da profundidade dos processos de desenvolvimento em nossa sociedade socialista. Esta encontra-se pronta para ser mudada e há muito tempo que anseia por mudanças. Qualquer demora para implantar a perestroika poderia levar, num futuro próximo, a uma situação interna exacerbada que, em termos claros, constituiria um terreno fértil para uma grave crise social, econômica e política [...]”. (ibidem, p. 12). Obviamente, é preciso ressaltar que a Perestroika enquanto reforma não objetivava, necessariamente, a rendição ao bloco capitalista, mas sim a tentativa de recuperação soviética.

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Mas as reformas, como se sabe, não se pautaram apenas do ponto de vista econômico, mas também político, promovendo-se (também no bojo dessas mudanças) a chamada Glasnost, palavra que em russo está ligada à ideia de transparência. A alusão à ideia de transparência estaria no sentido do abrandamento do poder e da presença de um estado forte, cerceador de liberdades. Logo, paralelamente às mudanças promovidas pela Perestroika, estaria a tentativa de uma maior abertura para uma liberdade de expressão da sociedade (que até então não poderia reclamar quanto ao governo), ao mesmo tempo em que surgia um esforço para uma maior transparência das ações do governo, o que refletiria na política positivamente. Assim, como aponta Ianni (1995), a Glasnost teria inaugurado a democratização, e dessa forma a quebra do monopólio da vida política nacional pelo Partido Comunista e o abandono do esquema Estado-partido-sindicato, promovendo uma maior transparência nas relações políticas. Dessa forma, desarticulavam-se as bases da União Soviética e, ao final dos anos 80, assistia-se a queda do muro de Berlim, símbolo da divisão do mundo, o que significaria a vitória da ideologia capitalista. Tem-se, desde então, a configuração de uma nova ordem mundial, iniciada pela reorganização das relações internacionais.

Assim, tais reformas promovidas pelo governo soviético representaram o desmonte do chamado socialismo real, caracterizado em linhas gerais por um sistema de partido único, com um governo centralizador com forte controle não apenas na política, mas na economia e na cultura. Atualmente, a China seria um país com um modelo político-administrativo muito próximo daquilo que foi a URSS, mas diferencia-se, fundamentalmente, pela forma como aderiu ao capitalismo enquanto modo de produção da vida, tornando-se uma das sociedades mais complexas aos olhos de analistas de todo o mundo.

Referências:

IANNI, Octavio. A Sociedade Global. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1995


Paulo Silvino Ribeiro
Colaborador Brasil Escola
Bacharel em Ciências Sociais pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas
Mestre em Sociologia pela UNESP - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho"
Doutorando em Sociologia pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas

Quais as mudanças ocorridas na Rússia durante a transição da economia planificada para o capitalismo?

Resposta: A privatização das antigas empresas estatais; a introdução da concorrência e da competição; a busca do lucro como meta política e econômica; a liberação de preços; a abertura ao capital estrangeiro; a ênfase na modernização da economia em detrimento do desenvolvimento social.

Quais mudanças podemos destacar na economia russa?

A principal característica da economia russa é a profunda interdependência e integração com os demais países integrantes da CEI (Comunidade dos Estados Independentes), que é formada pela maioria das antigas repúblicas soviéticas.

Como se deu a transição para a economia de mercado na Rússia?

Transição para uma economia de mercado (1991-98) Após o colapso da União Soviética, a Rússia passou por uma transformação radical, passando de uma economia centralmente planejada para uma economia de mercado globalmente integrada.

Quais foram as consequências da Planificação econômica para a URSS a partir dos anos 1970?

A extinta União Soviética usou o sistema de economia planificada por mais de 70 anos e foi pioneira nesse planejamento. Com o controle do líder comunista Stalin, a URSS conseguiu progredir em determinadas áreas já estabelecidas pelo Estado: as indústrias de grande porte e produção de aço.