Qual a relação entre economia verde e desenvolvimento sustentável?

Por Gustavo Barbosa* e  Marília Carvalho de Melo**

Uma avaliação histórica da evolução do tema meio ambiente e a relação com a sociedade permite o entendimento do momento atual, no qual, meio ambiente se configura como valor de mercado. As décadas de 1960 e 1970 representaram o início do movimento ambientalista, marcado pelo antagonismo entre o desenvolvimento econômico e a proteção ambiental. Marco representativo desse período foi a publicação da pesquisa do Massachusetts Institute of Technology (MIT) com o título “Os limites do crescimento”. Na década de 1980, por meio do relatório de Brundtland, “Nosso futuro comum”, inicia a disseminação do conceito de desenvolvimento sustentável. Desenvolvimento Sustentável representa uma transição entre a dicotomia desenvolvimento e meio ambiente para a busca de um equilíbrio entre requisitos de desenvolvimento econômico, ambiental e social. Mais recente, o termo ESG (Environment, Social e Governance) emerge, oriundo especialmente do mercado financeiro e assumido pelo mundo corporativo, como a base dos valores essenciais de mercado para agregar valor e minimizar riscos.

A nova perspectiva da agenda ambiental pode ser analisada em diversas vertentes. A primeira advém da avaliação do risco das questões ambientais para a economia global. A publicação anual do World Economic Fórum, The Global Risks Report[1], apresenta temáticas ambientais, tais como, eventos hidrológicos extremos e dano ambiental antrópico como riscos de curto prazo. Além da perda da biodiversidade, crise dos recursos naturais, falha da ação climática, como riscos de longo prazo. Outra vertente é a valoração do recurso natural, como suporte ao desenvolvimento econômico. O conceito de capital natural[2], por exemplo, é uma forma de pensar a natureza como um estoque que proporciona um fluxo de benefícios para as pessoas e para a economia. Consiste em bens de capital natural – tais como água, florestas e ar puro – que juntos proporcionam aos seres humanos os meios para vidas saudáveis e permitem a atividade econômica. Os bens e serviços que o capital natural fornecem, sob a forma de alimentos e fibras, água, proteção contra riscos e absorção da poluição, são chamados serviços do ecossistema. Por meio de fatores de produção, redução do risco, atenuação do impacto e apoio à vida em geral, os serviços ecossistêmicos sustentam toda a atividade econômica. Na mesma linha, o relatório da WWF, Global Futures[3], estabelece dois cenários futuros de desenvolvimento e seus impactos no Produto Interno Bruto (PIB), considerando o provimento de serviços ecossistêmicos que dão suporte ao desenvolvimento econômico. Os cenários são designados “BUSINESS AS USUAL” e “GLOBAL CONSERVATION” que, respectivamente, podem gerar uma alteração em percentual no PIB anual de – 0,67% ou +0,02%. Consolidando a mesma perspectiva, o relatório Quality Unknown: the invisible water crises[4] do World Bank Group apresenta que um nível de poluição por matéria orgânica nos rios, causado por ausência de tratamento de esgoto, por exemplo, pode reduzir a um terço a expectativa de crescimento do PIB.

Esses conceitos dão sustentação a defesa da transição para uma economia verde.  Embora apenas recentemente a economia verde tenha ganhado significativa repercussão internacional, impulsionada por uma necessidade de retomada pós pandemia da COVID e por cenários de mudança do clima que exigem medidas urgentes de uma transição no modelo de desenvolvimento, políticas e práticas de economia verde vêm sendo discutidas e avaliadas por diferentes segmentos da sociedade. Vale destacar que a declaração do Rio 1992 incluí princípios que promovem a internalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos. A Agenda 21, no Capítulo 8, “INTEGRAÇÃO ENTRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO NA TOMADA DE DECISÕES” estabelece áreas de programa como utilização eficaz de instrumentos econômicos e de incentivos do mercado e outros, e estabelecimento de sistemas de contabilidade ambiental e econômica integrada. Entretanto, apenas nos últimos anos o mercado incorporou a economia verde como um conceito necessário à sustentação de um novo modelo desenvolvimento econômico.

Segundo a ONU, uma economia verde é definida como uma economia de baixo carbono, eficiente em termos de recursos e socialmente inclusiva, consolidando assim os conceitos de desenvolvimento sustentável e ESG, na qual a efetividade da gestão ambiental representa a eficiência na gestão empresarial, com o máximo aproveitamento dos recursos e minimização, assim, de emissões e resíduos no processo de produção. Ainda segundo a ONU, em uma economia verde o crescimento de emprego e de renda é impulsionado pelos investimentos públicos e privados em atividades econômicas, infraestrutura e ativos que permitem a redução das emissões de carbono e poluição, maior eficiência energética e de recursos, com prevenção da perda da biodiversidade e de serviços ecossistêmicos.

Nesse contexto, os requisitos ambientais têm se tornado valor para o mercado, pois é por meio destes que a economia se sustentará em uma tendência de crescimento contínuo gerando emprego, renda, equilíbrio ecológico e inclusão social.

Sob a perspectiva econômica, várias são as iniciativas para que a agenda de sustentabilidade se firme como valor econômico. Como já exposto, a “agenda ESG” tem se firmado no mundo corporativo como Ativo, seja como mitigação de riscos, seja como atração de investidores e consumidores.

Atualmente investidores como Fundos de Pensão, Gestores de investimentos, bancos e até pequenos investidores estão buscando, em suas análises de risco para alocação de recursos, identificar empresas que passaram a praticar ações vinculadas ao conceito ESG.

Inicialmente vista como uma agenda “ideológica”, as empresas que possuem ações vinculadas ao conceito ESG já enxergam a valoração de seu Ativo com práticas sustentáveis nas dimensões de Governança, Ambiente e Social. Pragmatismo econômico!

Por outro lado, é preciso que outros agentes econômicos abracem essa ideia de forma mais profunda e orgânica. Ações pontuais têm surgido por parte de alguns agentes públicos. Podemos citar o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES como um indutor de políticas sustentáveis.

Elas podem ser traduzidas através de direcionamento de recursos próprios e captação junto às empresas para aplicação em preservação e recuperação dos biomas da Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica, e como financiadoras de projetos de energias renováveis.

Trazendo para o ambiente de entes subnacionais, o Estado de Minas Gerais vem se apresentando como grande player na captação de investimentos em energia renovável, limpa e barata nos últimos anos. Isso se dá através de uma política exitosa de incentivos fiscais para geração de energias renováveis, com a visão de diversificação da matriz energética.

O exemplo da energia fotovoltaica em Minas ilustra isso. O Estado recebeu investimentos superiores a R$ 10,0 bilhões nesse segmento, gerando cerca de 60 mil empregos diretos e indiretos segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica – ABSOLAR.

A agenda de sustentabilidade veio para ficar e isso é muito bom.  Sem dúvida podemos dizer que estamos diante de um pacto de gerações onde a geração atual busca viabilizar as gerações futuras através da preservação e recuperação do “Capital Natural”.


[1] The Global Risks Report, World Economic Forum, 2021.
[2] Integrating Natural Capital in Risk Assessments: A step-by-step guide for banks, Natural Capital Finance Alliance and PricewaterhouseCoopers (Geneva, Oxford and London), 2018.
[3] Global futures assessing the global economic impacts of environmental change to support policy-making, WWF, 2020.
[4] Quality Unknown: the invisible water crises, World Bank Group, 2019.

*Gustavo Barbosa é secretário Estadual de Fazenda de Minas Gerais

**Marília Carvalho de Melo é secretária Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

Qual é a relação entre economia e desenvolvimento sustentável?

Enquanto isso, o desenvolvimento sustentável visa atender às necessidades das populações, sem comprometer as futuras gerações, para um crescimento equilibrado e estável. Além disso, o crescimento econômico depende fundamentalmente das produções, mas o desenvolvimento sustentável requer a participação da população.

Qual a diferença entre economia verde e desenvolvimento sustentável?

Essa diferença ocorre porque uma economia verde é representada por um mercado de produção e de comercialização de produtos e de serviços sustentáveis, enquanto um desenvolvimento sustentável pretende obter a integração e a busca pelo desenvolvimento econômica e pelo desenvolvimento social no período presente sem ...

O que é economia sustentável e economia verde?

É um tipo de desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro, e que dá à geração atual a possibilidade de se desenvolver sem agredir o meio ambiente, dando às gerações futuras a chance de existir e viver bem de acordo com as suas necessidades.

Qual a importância de uma economia verde?

Qual a importância da Economia Verde? A Economia Verde tem o importante papel de servir de vetor para que os governos, em todas as suas esferas, priorizem ganhos sociais e ambientais, seja com investimento ou com legislação.