Qual escola teve maior predominância na influência da contabilidade?

1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO SÓCIO-ECONÔMICO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE A ESCOLA EUROPÉIA E NORTE- AMERICANA E A INFLUÊNCIA DESTAS ESCOLAS NO BRASIL LISELE VIERO RICKEN FLORIANÓPOLIS-SC 2003

2 Lisele Viero Ricken PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE A ESCOLA EUROPÉIA E NORTE- AMERICANA E A INFLUÊNCIA DESTAS ESCOLAS NO BRASIL Monografia submetida ao Departamento de Ciências Contábeis, do Centro Sócio-Econômico, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Ciências Contábeis. Orientador: Prof Joisse Antônio Lorandi, M. Sc. Florianópolis 2003

3 Lisele Viero Ricken Principais diferenças entre a Escola Européia e Norte-americana e a influência destas escolas no Brasil Esta monografia foi apresentada como trabalho de conclusão do Curso de Ciências Contábeis da Universidade Federal de Santa Catarina, obtendo a nota média..., atribuída pela banca constituída pelos professores abaixo mencionados. Compuseram a banca: Profª Joisse Antonio Lorandi, M. Sc. orientador Departamento de Ciências Contábeis, UFSC Nota atribuída:... Profº Luiz Felipe Ferreira, M. Sc. Departamento de Ciências Contábeis, UFSC Nota atribuída:... Profº Wladimir Arthur Fey, M. Sc. Departamento de Ciências Contábeis, UFSC Nota atribuída:... Florianópolis, 20 de novembro de Profº Luiz Felipe Ferreira, M.Sc. Coordenador de Monografia do CCN

4 Aos meus pais, Valério Ricken e Gardilen Nádia Viero Ricken, que sempre me incentivaram aos estudos; aos meus irmãos, Paula, Samuel e Daiane, que indiretamente me apoiaram e ao meu esposo Anderson e minha filha Ana Carolina, que estiveram presentes me apoiando e incentivando com paciência, carinho e amor.

5 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, que desde o início desta jornada e por toda vida, sempre esteve comigo. Aos meus pais, que iluminaram meus caminhos com afeto e exemplo de dedicação, encorajando-me a seguir em frente, mesmo nas situações mais difíceis. Obrigado pelo amor e pelos ensinos de vida dedicados a minha formação. Ao meu marido, pela paciência e carinho dedicados a mim em todos os anos de convivência, principalmente nesses anos de estudos. A minha filha, a qual muitas vezes privei de minha presença e atenção, obrigada pelos muitos momentos de felicidade que me traz. Aos pais do meu marido, pela paciência e por toda ajuda que deram nestes anos de estudo. Ao meu professor e orientador Joisse, pelas horas dedicadas a mim com carinho e paciência. Aos meus colegas de trabalho, da Sensato Contabilidade Ltda, que compartilharam as alegrias e adversidades, obrigada pela compreensão e apoio. A todos os meus amigos, pelos momentos que dividimos com alegria e carinho. A professora Luiza Maria, pelas horas dedicadas à correção gramatical desse trabalho. Agradeço a todos que, direta e indiretamente, participaram e me incentivaram para a elaboração e conclusão desse trabalho.

6 RESUMO Desde o início de sua história, a Contabilidade evoluiu constantemente. Inicialmente tudo era registrado de modo precário, mas logo com o surgimento da escrita e dos números, os registros passaram a tornar-se um pouco mais desenvolvidos. Contudo, ainda assim, a qualidade dos registros contábeis era bastante primária, pois enfatizava mais a técnica de registro dos dados. Somente aos poucos, é que a Contabilidade passou a se tornar um instrumento de gestão para ajudar o homem na administração de suas propriedades. Aproximadamente no século XIII e XIV, começaram a surgir as partidas dobradas e no final do século XV, com o surgimento do livro do Frei Luca Pacioli elas se difundiram por quase toda Europa. Algum tempo depois disso, começaram a aparecer várias escolas na Contabilidade, como a escola Contista, Lombarda, Personalista e Controlista. Elas foram as primeiras a surgirem pela Europa e não eram tão desenvolvidas quanto as que surgiriam posteriormente. A partir do final do século XIX, outras escolas apareceram na Europa (Escola Neocontista, Reditualista, Aziendalista e Patrimonialista) e essas já se encontravam num patamar mais evoluído do que as anteriores. Também surgia nesta época, nos Estados Unidos, a escola norte-americana que tinha idéias diferentes das escolas européias. Enquanto as escolas européias estudavam praticamente só a teoria da Contabilidade, sem se interessar pela parte pragmática da disciplina, a escola norte-americana enfocava muito mais a prática contábil, procurando atender as necessidades dos seus usuários através de uma Contabilidade útil para a gestão e cada vez mais uniforme, facilitada e informatizada. O Brasil sofreu influência dessas duas escolas. Inicialmente, como na maioria dos outros países, quem dominava a Contabilidade nacional eram as escolas européias. Contudo, aos poucos, com o surgimento das multinacionais, de algumas leis semelhantes às americanas e com o uso de livros de autores americanos, sendo utilizados nas principais universidades que tinham o curso de Contábeis, a escola norte-americana foi passando a ter maior influência no âmbito nacional e, até hoje, esta é a escola com idéias predominantes na Contabilidade brasileira. Palavras-chave: escola européia, escola norte-americana, desenvolvimento, influência, nacional.

7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ASSUNTO TEMA PROBLEMATIZAÇÃO OBJETIVOS GERAL ESPECÍFICOS JUSTIFICATIVA METODOLOGIA DELIMITAÇÕES DA PESQUISA ORGANIZAÇÃO DO ASSUNTO PRINCIPAIS ASPECTOS DA HISTÓRIA DA CONTABILIDADE MUNDIAL PERÍODO INTUITIVO PRIMITIVO PERÍODO RACIONAL-MNEMÔNICO PERÍODO LÓGICO-RACIONAL VIDA DE PACIOLI PERÍODO DA LITERATURA IDADE DA ESTAGNAÇÃO OU PERÍODO PRÉ-CIENTÍFICO CONTISMO ESCOLA ADMINISTRATIVA OU LOMBARDA ESCOLA PERSONALISTA... 31

8 1.10 ESCOLA VENEZIANA OU CONTROLISTA PRINCIPAIS DIFERENÇAS E CARACTERÍSTICAS DA ESCOLA EUROPÉIA E NORTE-AMERICANA NA CONTABILIDADE ESCOLAS EUROPÉIAS Moderna Escola Francesa ou Escola Neocontista Escola Alemã ou Reditualista Moderna Escola Italiana ou Aziendalismo Escola Patrimonialista ou Patrimonialismo ESCOLA NORTE-AMERICANA OU ANGLO-SAXÃ As Associações Profissionais Principais Personagens RESUMO DAS DIFERENÇAS DAS DUAS CORRENTES HISTÓRIA DA CONTABILIDADE NO BRASIL E OS PENSADORES DA ÁREA PRINCIPAIS ASPECTOS DA HISTÓRIA DA CONTABILIDADE NACIONAL PERSONAGENS DA HISTÓRIA DA CONTABILIDADE BRASILEIRA CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES REFERÊNCIAS... 78

9 8 INTRODUÇÃO 1 APRESENTAÇÃO DO ASSUNTO Sempre foi uma antiga ambição do homem, procurar entender os acontecimentos que ocorrem dentro de si ou ao seu redor, procurando assim de alguma forma interagir com este ambiente trazendo benefícios para si próprio e também para os outros. Aos poucos essa curiosidade de saber mais das coisas ao seu redor se impôs como um desafio para o seu entendimento. Porém, somente depois de muito tempo na história é que o ser humano passou a formar o conhecimento cientifico, que comprova se as coisas são realmente verdadeiras estabelecendo relações entre fatos, para o entendimento dos fenômenos naturais. A História da Contabilidade, portanto, também encontrou suas bases em idades muito remotas. Contudo sua ruptura com o passado, mudando de um período de estagnação para um processo evolutivo das Ciências Contábeis, só ocorreram há pouco tempo. A partir disso surge cada vez mais forte a idéia de posse e propriedade, e o homem passa a se preocupar em conservar e aumentar o patrimônio, sendo assim passa a traçar desafios para si mesmo e querendo ver sua riqueza aumentar, procura novas formas mais aperfeiçoadas para avaliá-lo. Segundo Iudícibus (1997), com este pensamento, o homem vai aperfeiçoando o instrumento de avaliação do seu patrimônio, que é a Contabilidade. Ela chega para por ordem

10 9 e sistematizar as anotações meramente físicas que antes existiam, sem uma avaliação monetária que pudesse comparar uma situação anterior com a atual, para assim de certa forma medir a riqueza do patrimônio e o quanto aumentou neste período avaliado. Da mesma forma que o homem age e orienta suas ações no sentido de obter meios de satisfazer suas necessidades, as entidades desenvolvem todas as ações necessárias para atingir seus objetivos. No entanto é necessário que estas ações sejam coordenadas e orientadas da melhor forma possível. Assim, ao surgirem as primeiras empresas, apareceu a necessidade de um controle, que só poderia ser feito através de registros, podendo assim prestar contas do que estava sendo administrado. Quanto mais o homem possuía, mais se preocupava em como fazer render seu patrimônio. Através do decorrer da história, com o desenvolvimento econômico, percebe-se que a Contabilidade passou a tornar-se cada vez mais importante para a sociedade. O surgimento do capitalismo deu um impulso definitivo a esta importante disciplina, potencializando seu uso e aumentando sua eficácia. E com a modificação e o aperfeiçoamento das idéias e do conhecimento, esta veio a tornar-se uma ciência, pois passou a ter um conjunto de conhecimentos ordenados relacionados a um determinado objeto. Passou a ser portanto uma ciência social, pois é a ação do homem que constrói e transforma seu objeto que é o patrimônio. O que toda história tem mostrado é que a contabilidade passou a tornar-se importante, à medida que ocorreu maior desenvolvimento econômico, ou seja, o nível de desenvolvimento das teorias e práticas contábeis está diretamente ligado ao nível de desenvolvimento comercial e social das sociedades.

11 10 De acordo com Iudícibus (1997), é fácil entender porque a contabilidade teve seu florescer, como disciplina completa nas cidades Européias, e principalmente Italianas, pois estas cidades estavam cheias de atividades mercantil, econômica e cultural, principalmente entre o século XIII e início do século XVII. Inicia-se assim um grande período de domínio que se chamou Escola Européia de Contabilidade. Um conjunto de fatores desfavoráveis foi acentuando-se a partir de 1920, com a ascensão econômica e cultural dos norte-americanos, levando assim ao final do domínio da Escola Européia. Com o surgimento das grandes empresas, principalmente no início do século XX; juntamente com o desenvolvimento do mercado de capitais e o ritmo de desenvolvimento que os Estados Unidos passou a caminhar; criou-se um campo fértil para o avanço das teorias e práticas contábeis, iniciando-se assim, um novo domínio da Escola Norte-Americana de Contabilidade. 2 TEMA Esta monografia tem como tema um estudo comparativo da evolução entre a Escola Européia e a Escola Norte-Americana na Contabilidade. 3 PROBLEMATIZAÇÃO Quais as diferenças entre essas duas principais correntes, a Escola Européia e a Escola Norte-Americana e quais os principais fatores que influenciaram na evolução contábil no Brasil?

12 11 4 OBJETIVOS 4.1 GERAL Considerando as duas principais escolas de Contabilidade do mundo ocidental, Européia e Norte-Americana, verificar qual a influência delas na evolução contábil brasileira e quais os principais fatores que impactaram a Contabilidade Nacional. 4.2 ESPECÍFICOS a) Descrever os aspectos principais da história mundial da Contabilidade. b) Relacionar as diferenças e características da escola Européia e Norte Americana na Contabilidade. c) Abordar a história da Contabilidade no Brasil e expor os principais fatores externos que impactaram a história nacional, considerando a prática contábil e os pensadores da área. 5 JUSTIFICATIVA É um pressuposto da história que o homem é capaz de tirar proveito da experiência de seus antecessores e que o progresso na história baseia-se na transmissão de bens, que podem ser materiais ou intelectuais. O estudo da história acrescenta novas dimensões à própria vida, aumentando em muito as perspectivas e alargando as experiências. Permite-se penetrar, indiretamente, no

13 12 passado, projetar a visão a milhares de anos anteriores, ampliando-a para entender muitos dos progressos da humanidade. O estudo da história da Contabilidade é muito mais que uma curiosidade, pelo contrário, se estiver em boas mãos a sua utilização extrapola os limites de uma simples interpretação de fatos antigos e pode passar a ser um ótimo instrumento para o entendimento da sociologia e do desenvolvimento de culturas e civilizações de um povo. A investigação histórica dos fatos contábeis tem sido, ao longo do tempo, objeto de inúmeros estudos acadêmicos no mundo inteiro, principalmente na Itália, Espanha, Alemanha e França. Até mesmo nos Estados Unidos, país cuja cultura contábil é fortemente voltada para o pragmatismo, foi constatado, conforme Garner (1973), um crescimento no interesse dos alunos de pós-graduação por pesquisas neste campo. ( COSENZA, 2002, p. 08). Apesar da forte tendência que os norte-americanos têm ao pragmatismo, inclusive na Contabilidade, eles não desdenham os estudos da história da Contabilidade. Uma prova do interesse deles pela história contábil são os freqüentes congressos ministrados sobre este tema. Apesar de se ter uma grande riqueza histórica contábil na América-Latina, não se observa um movimento semelhante ao dos outros países no sentido do interesse pela história. A literatura de história da Contabilidade, hoje em desenvolvimento em muitas partes do mundo, é, contudo, menos enfatizada no Brasil. Aqui as literaturas estão repletas de discussões a respeito de fatos e conceitos práticos, muito embora existam conteúdos e fontes importantes para serem explorados nessa área. Não se pode perder de vista, contudo, que a história da Contabilidade ainda está dando seus primeiros passos, principalmente no Brasil, onde os estudos sobre esse tema podem ser considerados insuficientes. Poucos são os trabalhos ou textos nacionais mais aprofundados, a outra grande maioria limita-se a descrever ou apenas citar documentos, sem a preocupação de realizar a necessária análise e interpretação da situação em que foram gerados.

14 13 A necessidade desse conhecimento, portanto é importante, pois só através dele é possível entender o contexto em que se encontra esta disciplina e conseguir da melhor forma, preparar-se para o futuro. Para conhecer quais as principais fundamentações práticas e teóricas que estão embasando os procedimentos contábeis atuais, o estudo da história contábil é imprescindível. Como no Brasil, o estudo sobre a história da Contabilidade tem sido pouco pesquisado e divulgado, esta monografia é uma modesta iniciativa com intuito principal de despertar e difundir o interesse desse assunto no círculo contábil. Ao realizá-lo, pretende-se trazer alguma contribuição à educação contábil, visto que não pode haver desconhecimento histórico onde se constrói o saber. 6 METODOLOGIA O presente estudo é uma pesquisa de natureza bibliográfica e de caráter exploratório. Bibliográfico, porque foi feito a partir de pesquisas em livros e revistas; e exploratório, porque tem o objetivo de difundir mais o assunto pesquisado, tornando-o mais familiar. Segundo Gil (1993, p.48), a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. De acordo com Gil ( 1993, p. 45), Pesquisa Exploratória: visa proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses. Nesta pesquisa será realizada a coleta de dados, que se dará através de um levantamento bibliográfico de livros e artigos de revistas de Contabilidade, recorrendo-se para tanto à biblioteca da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), do CRC (Conselho Regional de Contabilidade) e outras existentes na região de Florianópolis, para assim fazer a

15 14 análise dos assuntos diretamente ligados a este tema para o desenvolvimento do trabalho monográfico. Para a elaboração de uma monografia faz-se necessário um conjunto de conteúdos que instrumentalizam o aluno em suas diversas fases de iniciação científica. A elaboração desta pesquisa na graduação, constitui o momento em que o aluno, em dualidade com o seu orientador e de posse dos instrumentos da metodologia, demonstre seu desenvolvimento intelectual, bem como a incorporação dos procedimentos e conhecimentos amplos e específicos do processo de sua formação, voltados para o entendimento de pesquisa e de ciência. (LAFFIN, 1998, p. 04). Segundo Inácio Filho (1994, p. 39), para escolha de um tema ou assunto deve-se levar em conta a sua originalidade, importância e viabilidade. E o mesmo poderá surgir em diversas situações. Neste trabalho foram levados em conta principalmente os fatores da originalidade e importância, pelo fato da história da Contabilidade ser um tema tão necessário, mas ao mesmo tempo pouco citado. A monografia é, segundo Salomon (1999, P. 254), tratamento escrito de um tema específico que resulte de pesquisa científica com o escopo de apresentar uma contribuição relevante ou original e pessoal à ciência. Esta monografia surgiu também do interesse em descrever os aspectos principais da história da Contabilidade, com intuito de demonstrar a importância de sua história para o futuro da profissão Contábil. 7 DELIMITAÇÕES DA PESQUISA Não é objetivo desta monografia esgotar o assunto sobre a história da Contabilidade, afinal este é um assunto muito amplo. Neste trabalho, pretende-se fazer inferências e relações entre as principais escolas européias e a norte-americana e demonstrar as suas influências na Contabilidade brasileira, portanto ficarão ainda lacunas abertas para futuras pesquisas.

16 15 A história da contabilidade se divide em vários períodos, que foram assim classificados para melhor entendimento da mesma. Existem diferentes tipos de divisões, mas neste trabalho, abordar-se-á a dos autores Lopes de Sá e Paulo Schmidt, principalmente no primeiro capítulo que fala da história geral e nos outros capítulos também serão utilizados outros autores, como Hendriksen e Breda, Iudícibus, Valle e Aloe, Marion, etc. Uma outra limitação tem relação com o fato do presente trabalho estar estruturado apenas por uma pesquisa bibliográfica, pois não foram feitas pesquisas de campo no mesmo. Assim, o que é apresentado é fruto de leitura e análise do material pesquisado. Por essa razão, as informações extraídas desta pesquisa podem conter também interpretações da pesquisadora e da linha de pensamento dos autores adotados. Apesar disso, relata-se de elevada importância esse estudo, colocando-se como ênfase essas limitações. 8 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO A fim de facilitar o entendimento e o estudo, esta monografia encontra-se dividida em capítulos, organizados do seguinte modo: Faz parte da introdução o assunto e o tema, onde são feitas as considerações iniciais sobre esta pesquisa. Consta, também, desta etapa, a identificação da problemática central, os objetivos geral e específicos a serem alcançados e a justificativa da importância do tema. A introdução também conterá a metodologia que orientará este trabalho, as limitações da pesquisa e a organização do presente estudo. O primeiro capítulo será composto dos principais aspectos da história da Contabilidade mundial, destacando-se os períodos mais importantes desta história, a vida de Pacioli e algumas escolas que surgiram antes do final do século XIX.

17 16 O segundo capítulo conterá as principais diferenças entre a escola européia e a norteamericana na Contabilidade, sendo que primeiro se fará uma exposição sobre as escolas e depois será mostrada a diferença entre as duas. O terceiro e último capítulo será composto de duas partes: a primeira mostrará os principais aspectos da Contabilidade no Brasil e qual a influência destas escolas no cenário nacional, e a segunda irá conter quais foram os principais personagens desta história. Por fim, será feita a conclusão do trabalho e recomendações para futuras pesquisas.

18 17 1 PRINCIPAIS ASPECTOS DA HISTÓRIA DA CONTABILIDADE MUNDIAL Segundo Cosenza (2002, p.8), A história da Contabilidade tem sua gênese Concomitante ao próprio nascimento da humanidade. [...] Nos primórdios da civilização humana, as primeiras manifestações contábeis ocorrem com o registro da conta, ainda que não cientificamente fundamentado. Dizer exatamente quando começou a utilizar-se a contabilidade é praticamente impossível, no entanto segundo alguns autores ela já existe desde que nasceu a civilização e os homens passaram a ter necessidade de contar e registrar aquilo que possuíam. Isso foi comprovado com muitos registros contábeis, com milhares de anos, já encontrados em diversas partes do mundo. 1.1 PERÍODO INTUITIVO PRIMITIVO De acordo com Sá (1997), o homem já registrava em contas as suas riquezas cerca de anos atrás, mas isso era feito da forma mais primitiva possível, geralmente desenhavam-se figuras para identificar o objeto e faziam-se sulcos ou riscos em ossos de animais para especificar a quantidade existente do mesmo.

19 18 Segundo Sá (1997, p.20), Antes, pois, que o homem soubesse escrever e calcular já estas manifestações ocorriam. Com isto o autor quer dizer que as manifestações contábeis, por mais que fossem primitivas, já eram utilizadas antes de existirem as letras e os números. Pela mudança ocorrida na estrutura social, por já haver melhor divisão dos trabalhos e começarem a existir produções artesanais, acredita-se que há cerca de anos já se teve um aumento crescente nos registros contábeis, pois nessa época já se identificavam os bens com seus respectivos proprietários. De acordo com Sá (1997, p.22), O homem, já habitando em casas e constituindo as primeiras aldeias e cidades [...], definindo formas de governo, possibilitou que critérios de vida fossem reformulados. Começou, então, a surgir uma nova fase que também muito atingiria a Contabilidade. Portanto, a partir de aproximadamente anos atrás, passou a surgir este novo período chamado de Racional-Mnemônico. 1.2 PERÍODO RACIONAL-MNEMÔNICO Com o desenvolvimento das sociedades e o surgimento das primeiras civilizações humanas organizadas social, cultural, política e juridicamente, as escriturações contábeis sofreram diversas mudanças. A Mesopotâmia foi uma das civilizações responsáveis por desenvolver o comércio e a burocracia, e de acordo com Sá (1997), também neste local, desenvolveu-se a escrita cuneiforme, que foi basicamente utilizada pela contabilidade, sendo que isto ocorreu aproximadamente anos antes de Cristo.

20 19 Segundo Sá (1997, p. 24), Tais foram os aperfeiçoamentos burocráticos para a realização da escrita, na Mesopotâmia, que esse local, sem nenhuma dúvida, pode ser caracterizado como o do ponto alto da racionalidade mnemônica da riqueza [...]. Sá (1997) também escreve que em pequenas tabuletas de argila faziam-se riscos com estiletes de madeira para demonstrar os registros contábeis, e tempos depois passaram a fazer resumos dessas em placas maiores, que hoje seriam os diários. Esses registros não eram em partidas dobradas, pois estavam todos em sentido positivo e não pareciam que iam ser somados, pois havia textos escritos misturados a valores numéricos. Segundo Sá (1997, p.25), Cerca de anos antes de Cristo, a Mesopotâmia já adotava o Razão, tinha muitas demonstrações e sumários de fatos patrimoniais, possuía orçamentos evoluídos de receita e despesa pública, cálculos de custo e já produzia balanços de qualidade. O desenvolvimento e os avanços dessa civilização foram tão expressivos, que chegaram a ser comparados com a época em que foram feitas as partidas dobradas na Itália. A civilização egípcia também evoluiu muita na área da Contabilidade, assim como em muitas outras, pois com o uso do papiro os métodos de escrita contábil passaram a se tornar cada vez mais simplificados, exigindo cada vez menos tempo para seus registros. De acordo com Kan (1985), evidências históricas indicam que no Egito Antigo os armazéns foram a primeira razão para se manter registros. Esses armazéns constituíam o tesouro dos países e continham ouro, gado, grãos, tecidos e outros bens. A burocracia no Egito também era evidente e existiam muitos funcionários que necessitavam entender de contabilidade para ingressar nos seus cargos. Nessa civilização, os escribas eram tidos como profissionais gabaritados, sendo que suas tarefas eram de administrar e contabilizar os maiores patrimônios dos Egípcios (azienda

21 20 real e azienda do templo). Inclusive, alguns destes Escribas relatavam entrada e saída de dinheiro e até faziam balancetes mensais ou anuais das transações ocorridas no período. O progresso do povo egípcio na escrituração das contas foi tão marcante, a ponto de já utilizarem o princípio do Denominador Comum Monetário (registrando os fatos contábeis com base no valor da moeda vigente à época, o Shat ) e estabelecerem contas de provisão, além de elaborarem prestação de contas dos resultados entre os templos regionais e a sede central. (COSENZA, 2002, p.12). Todas essas informações comprovam o avanço e o desenvolvimento desse povo nos registros contábeis e diversas são as descobertas que já foram feitas por historiadores que comprovam a veracidade desses fatos. Segundo Schmidt (2000, p.22), Com o surgimento da moeda e das medidas de valor, o sistema de contas ficou completo, sendo possível determinar as contas contábeis representantes do patrimônio e seus respectivos valores. A utilização do dinheiro como meio de troca, incentivou o desenvolvimento da Contabilidade. Imagine-se o quanto o surgimento da moeda fez diferença para essa ciência, afinal todo o estudo do patrimônio passou a ter um sentido ou um valor prático, que facilitaria e muito a revelação do verdadeiro valor de cada patrimônio. Em contínua evolução no campo contábil, na ilha de Creta, os registros contábeis continuavam sendo muito utilizados. Apesar de não ter feito grandes transformações neste campo, continuaram utilizando a Contabilidade para registrar suas riquezas. Na ilha de Creta, foram descobertos registros contábeis na forma de tábua de argila. Por intermédio dos registros contábeis encontrados naquela ilha, verificou-se que seu apogeu agrícola e industrial ocorreu entre e a.c. O estado controlava toda produção por meio dos registros contábeis. (SCHMIDT, 2002, p. 22). Com essas descobertas, pode-se ter certeza da utilização da contabilidade nessa ilha e de sua importância, pois toda a produção agrícola e industrial era controlada pelo estado através da contabilidade.

22 21 Na Grécia e em Roma, apesar da grande contribuição que deixaram para a humanidade, na área contábil não se aproveitou tudo, graças ao problema da destruição de materiais e vestígios de registros que seriam importantes, mas que não chegaram aos tempos atuais. Como exemplo disso, tem-se o que aconteceu com as lápides de mármore onde eram escritas a Contabilidade Pública da Grécia. Sá (1997, p. 29) escreve que A maioria dessas lápides se perderam, pois, utilizadas foram até para construções, segundo se tem notícia, quando perdiam a atualidade. Essas duas civilizações (grega e romana), que acumularam grandes riquezas, que foram tão poderosas e majestosas, tinham também uma contabilidade de qualidade. Imaginese por um instante, o tamanho que deveria ter esse império; assim consegue-se entender as dificuldades que se deveria ter ao fazer os registros patrimoniais de toda essa riqueza, sem contar nas dificuldades com locomoção de uma cidade para outra, para se adquirir as informações necessárias para os registros. Para a época ser contador era considerado uma profissão muito importante e conceituada, pois de acordo com Sá (1997), o Contador Geral era a pessoa que tinha o melhor salário na administração pública de Roma. Sá (1997, p.31) escreve que No maior Império do Mundo, pois, o mais poderoso gestor da riqueza estava entregue a um só homem o Contador Geral do Estado. No século V depois de Cristo, aconteceu a queda do Império Romano, devido ao domínio dos bárbaros e com isso o Ocidente também declinou, passando a ter menores contribuições para a contabilidade. Contudo, no Oriente, a Contabilidade teve várias contribuições nesse período.

23 PERÍODO LÓGICO-RACIONAL Como já citado anteriormente, no Oriente a situação econômica estava melhor do que no Ocidente. Com o domínio e a influência que a igreja Católica estava exercendo sobre Roma e outras cidades, a Contabilidade foi se tornando cada vez mais tradicional, não conseguindo desenvolver-se como também acontecia com outros setores da economia. Contudo no Oriente, passou-se a desenvolver novas formas de registros, que se melhorariam ainda mais futuramente nas cidades italianas com o surgimento das partidas dobradas. Não se sabe exatamente onde e quando surgiram as partidas dobradas, nem mesmo quando apareceram as primeiras literaturas sobre o assunto. Existem, contudo, diversas hipóteses sobre o surgimento das mesmas. Segundo Sá (1997, p. 35), A mais antiga prova completa de um registro em partida dobrada é de 1292, embora existam provas esparsas, oriundas da cidade de Siena, na Toscana, Itália, de que o processo já estivesse formado[...]. Com isso, percebe-se que apesar de existirem provas de registros desse tipo, fica difícil saber exatamente quando foi feito o primeiro. Também segundo Sá (1997, p. 35), O mais completo documento, todavia, em partida dobrada, é um Diário, iniciado em 1403, descoberto por Melis, que se encontra nos arquivos Datini, da cidade de Prato, na Toscana, Itália. Por esses fatos e também pelo desenvolvimento no setor artístico e no científico, e até mesmo pelos grandes gênios que viveram ali (como por exemplo, Leonardo da Vinci, Nicolau Copérnico, Galileu Galilei, Michelangelo etc.), é que Lopes de Sá acredita que Toscana possa ser realmente a terra onde surgiram as partidas dobradas ao Norte da Itália.

24 23 Segundo Schmidt (2000, p. 26), A data precisa da introdução dos primeiros sistemas contábeis utilizando partidas dobradas não é conhecida, mas um dos primeiros registros de seu uso data de cerca de 1340, na cidade de Gênova. O autor considera que as partidas dobradas surgiram aproximadamente nos séculos XIII e XIV, desenvolvendo-se simultaneamente em várias cidades do norte da Itália, como Veneza, Gênova e Florença. De acordo com Kan (1985), provavelmente foi Benedeto Cotrugli a primeira pessoa a escrever sobre o método das partidas dobradas em meados do século XIII, mas seu livro foi publicado somente em O autor entende da mesma forma que Schmidt e Sá, de que as partidas dobradas surgiram já no século XIII, mas que só foram publicadas em livros posteriormente. Valle e Aloe também acreditam desta maneira, segundo eles: Na verdade as partidas dobradas já eram aplicadas na Itália antes de 1340, como está provado pela existência de dois registros da Masseria de Gênova, escriturados por partidas dobradas, descobertos por Cornélio Desimoni, antigo diretor do Arquivo de Estado daquela cidade. (VALLE e ALOE, 1966, p. 69). Com isso, percebe-se que as partidas dobradas já eram utilizadas bem antes de Luca Pacioli escrevê-las em seu livro Suma de arithmetica, geometrica, proportioni et proportionalitá (publicado em 1494), fato que não tira de maneira nenhuma seu mérito, pois foi depois dele que elas realmente se difundiram e passaram a ser muito mais utilizadas em toda a Europa. 1.4 VIDA DE PACIOLI Frei Luca Pacioli viveu no período do reflorescimento da literatura, das artes e das ciências, ou seja, na época da Renascença e foi um personagem que mudou a história da Contabilidade através da publicação de seu livro, por isso torna-se impossível falar desta

25 24 história sem comentar algo sobre ele. Pode-se perceber através do trecho a seguir, a importância que Iudícibus e Marion dão ao surgimento da obra de Pacioli para o desenvolvimento da Contabilidade. De acordo com Iudícibus e Marion (1999, p. 34), A obra de Pacioli pode muito bem ser vista como início do pensamento científico da Contabilidade. Sobre o verdadeiro nome deste monge têm-se muitas dúvidas, visto que até ele próprio assinava seu nome de várias formas, fato que dificulta a certeza de qual seria o correto. Segundo Valle e Aloe (1966, p. 25), A grafia preferível é Pacioli [...], por isso tratar-se-á dele desta forma, afinal o que realmente importa são os conhecimentos que este Frei deixou para a Contabilidade, que foram imprescindíveis para a evolução de nossa ciência. Valle e Aloe (1966, p. 29) também escreveram que O autor da Suma nasceu em meados do século XV, não se sabendo exatamente o ano, que deve ter sido entre 1445 e O seu nascimento deu-se na pequena cidade toscana Borgo di San Sepolcro [...]. Sobre sua família não se sabe muita coisa, mas se imagina que não era de família muito humilde, pois ainda muito moço já mantinha contato com pessoas ilustres de seu tempo. De acordo com Hendriksen e Breda (1999, p. 39), Entre seus amigos, estavam vários papas, o matemático e arquiteto Leon Battista Alberti, e o mais íntimo de todos era Leonardo da Vinci. Ainda muito jovem, Pacioli já estudava muito, viajando assim por muitas cidades como Veneza, Roma, Perugia, Florença, Nápoles, Assís, Milão, entre outras, e em todas aprendeu e transmitiu muitos de seus conhecimentos para seus discípulos. Segundo Valle e Aloe (1966, p. 39), Ignora-se a data e o lugar do falecimento de Paciolo, mas deve ter ocorrido depois de 1515.

26 25 De acordo com Schmidt (2000, p. 36), Luca Pacioli morreu, provavelmente, entre abril e outubro de 1517, em Sansepolcro. Nota-se que não se tem certeza de muitas coisas sobre a vida deste mestre, mas sobre aquilo que deixou de herança em seus livros vê-se que participou e muito na transmissão de conhecimentos em todas as ciências, não só na contabilidade. De acordo com Valle e Aloe (1966, p. 20), Paciolo foi matemático, teólogo, geômetra, mestre, arquiteto, poeta, publicista, contabilista, místico, etc., tendo escrito várias obras sobre diversos assuntos, especialmente matemática. Praticamente só os contadores é que reconhecem e reverenciam as atuações deste grande mestre, apesar de ele ter contribuído para muitas outras ciências. 1.5 PERÍODO DA LITERATURA A obra do frei italiano Luca Pacioli, feita em Veneza no ano de 1494, é que realmente causou maior impacto mundial na época, e apesar de ele não ser o primeiro autor, nem o inventor das partidas dobradas, foi o primeiro a escrever um livro que foi impresso com tipos metálicos, sendo que recém tinha sido inventada a imprensa por Gutenberg. Segundo Sá (1997, p. 41), Antes de Paciolo, também na Itália, estava escrita (manuscrita) uma obra que expunha a partida dobrada. Era a obra de Benedetto Cotrugli, produzida em 1458, intitulada Della mercatura e del mercante perfetto. Portanto, apesar de terem surgido outras obras antes de Pacioli, foi com ela que a Contabilidade realmente se difundiu neste período da história e foi também a primeira a ser realmente impressa, fato que ajudou na sua divulgação. Além disso, nesta época já existiam cidades suficientemente desenvolvidas fazendo com que este avanço fosse mais propício.

27 26 Durante este período, o comércio nas cidades italianas havia aumentado muito e com o fim do Sistema Feudal foram surgindo em vários lugares da Europa as Casas Bancárias, que estimularam os empréstimos, tornando assim os registros contábeis cada vez mais complexos. Segundo Schmidt (2000, p. 27), Pacioli, com sua obra, tornou Veneza imortal para todos estudiosos da Contabilidade. Depois da obra do frei, diversos outros autores também abordaram este assunto em seus livros, como Gian Francesco Aritmético (1516, na Itália), Matheus Schwarz (1518, na Alemanha), entre muitos outros. Com tantas edições que surgiram, cada vez aperfeiçoando-se mais, a Contabilidade foi se separando da matemática e dos conceitos unicamente práticos e passou a buscar novas teorias que traziam cada vez mais para a Contabilidade sua autonomia. A partir do final do século XV, as cidades italianas começaram a decair tanto politicamente como centros de comércio. Com o descobrimento do Novo Mundo e abertura de novas rotas de comércio, os centros comerciais deslocaram-se para Espanha e Portugal, e posteriormente para Antuérpia e os Países Baixos. Era natural, portanto, que o sistema italiano de partidas dobradas se espalhasse a esses outros países.(hendriksen e BREDA, 1999, p. 45). Assim, com a difusão das partidas dobradas para vários outros países, passa a surgir um novo período que possui algumas divergências de idéias sobre sua importância ou não para o desenvolvimento da Contabilidade e este período será visto a seguir. 1.6 IDADE DA ESTAGNAÇÃO OU PERÍODO PRÉ-CIENTÍFICO Alguns autores consideram o período de 1494 a 1840 como uma época de estagnação para a Contabilidade, ou seja, um período em que não houve grandes descobertas ou inovações para esta ciência.

28 27 De acordo com Hendriksen e Breda (1999, p. 45), Essa caracterização é um pouco injusta, porque esse período se iniciou como uma era de descobrimento e encerrou-se como uma era de revolução. O mundo foi transformado, e isso condicionou a Contabilidade. Segundo Schmidt (2000), no período entre 1494 (em que foi publicada a obra de Pacioli), até 1840 ( com a publicação da obra Lá contabilità applicata alle amministrazioni private e pubbliche, de Francesco Villa ) houve um período de pouco desenvolvimento na área contábil. Isso aconteceu devido à grande revolução que causou a obra do frei na época, tendo que posteriormente o mundo contábil adaptar-se a esta nova realidade. Também outro fato que nos ajuda a entender este período mais estacionário, é que quase todas as outras ciências também tiveram menor desenvolvimento neste período, porque o desenvolvimento econômico, social e político foi mais lento nesta época, no mundo todo. Apesar de um pouco mais lentamente, a Contabilidade estava adaptando-se a estes novos conceitos que surgiram no século XV, por isso seria melhor dizer que este foi um período pré-científico, afinal, neste período, diversos autores desenvolveram de alguma forma aquilo que Pacioli havia começado, preparando-se assim para o período científico. Sá (1997, p. 45) acredita que [...] o pré-científico só ocorre, ostensivamente, a partir da obra de Angelo Pietra, cuja primeira edição é de Sá (1997) considera que a partir desta obra é que realmente a Contabilidade passa a caminhar e progredir para tornar-se uma ciência, pois é a primeira obra a analisar os conceitos realmente sobre o aspecto contábil, de débito e crédito, valor, quantidade, preço, custo, Plano de Contas, Exercício Social e outros. Percebe-se que Pietra não estava preocupado em mostrar somente como se registram os lançamentos e sim, em analisar esses registros e apontar falhas que poderiam ser corrigidas.

29 28 De acordo com Sá (1997, p. 47), Pouco tempo depois da obra de Pietra, surge a de Giovanni Antonio Moschetti, em Seu livro foi o primeiro a tratar mais especificamente de Contabilidade Industrial, pois até esta data nenhum outro escritor tinha se dedicado a este assunto. Sá (1997), também afirma que nesta mesma época, na Itália, Ludovico Flori também lançou seu livro Trattato Del modo di tenere il libro doppiodomestico col suo esemplare. Flori também fez outros livros onde demonstrou como utilizar múltiplos débitos e créditos, sendo que antes eram utilizados somente registros simples de um débito e um crédito. Não se sabe se foi ele quem inventou esta forma de registro, mas foi quem primeiro a difundiu. Bastiano Venturi, em 1655, mostrou as mais avançadas considerações de azienda e gestão patrimonial em sua obra Della scrittura contegiante di possessioni. De acordo com Sá (1997), Venturi fez uma boa ligação entre Contabilidade e Administração, demonstrando como se pode gerenciar a riqueza através da Contabilidade. 1.7 CONTISMO Contismo foi uma escola do período pré-científico, que teve seu maior desenvolvimento na França. Com ela percebe-se quantos autores desenvolveram suas obras de contabilidade nesta época, em que alguns consideram de estagnação. Um dos principais participantes desta escola foi Matthieu La Porte que editou o livro La science des négocians et teneurs de livres, em Segundo Sá (1997, p. 50), A obra desse eminente autor parece ter aberto o caminho para uma supremacia na França, no século XVIII e em parte do XIX, sendo responsável pela aceleração da mentalidade científica em Contabilidade [...].

30 29 Apesar da França, nesta época, estar vivendo uma crise, não permitindo assim grande quantidade de obras, mesmo assim teve um grande avanço contábil pela qualidade das obras que foram publicadas. Logo após a obra De La Porte, surgiram outras que ajudaram na difusão do contismo, mas foi com Degranges, em 1795, em sua obra La tenue dês livres rendue facile que a teoria das contas realmente se espalhou. De acordo com Sá (1997, p. 51), Não podemos atribuir a ele a criação do pensamento das contas gerais, mas é impossível tirar-lhe o mérito de maior difusor, em condições meritórias. Após estes autores, houve também muitos outros que contribuíram para o desenvolvimento do conhecimento na escola contista, até mesmo em outros países da Europa, como na Itália e em Portugal. Segundo Hendriksen e Breda (1999, p. 46), A Era da Estagnação acabou com o segundo avanço muito importante para a contabilidade neste período: o advento da Revolução Industrial. Aos poucos, as idéias concretas e comprovadas cientificamente vão substituindo as idéias do senso comum, e assim a contabilidade vai gradativamente tornando-se uma ciência, chegando assim ao período chamado de científico. O período científico foi aquele em que as doutrinas se agigantaram, determinadas não só em buscar a delimitação de um objeto verdadeiro de estudos para a Contabilidade, mas também, especialmente de buscar conhecer a substância gerida pelo ser humano no sentido da satisfação de suas necessidades materiais. (SÁ, 1997, p. 55). Portanto, até aqui muitos autores e muitas idéias surgiram preparando o caminho para esta época e, a partir daqui, passaram a surgir as escolas do período científico, de acordo com a idéia de Lopes de Sá.

31 ESCOLA ADMINISTRATIVA OU LOMBARDA Esta foi a primeira escola considerada científica pelos autores que se identificam com a escola italiana. No século XIX, o desenvolvimento contábil foi bem notável e a escola Lombarda foi uma demonstração desse desenvolvimento. Ela teve maior influência na Itália, e seu principal difusor foi Francesco Villa, que segundo Schmidt (2000, p. 55), [...] nasceu em Milão, Itália, no ano de O fator que mais impulsionou o desenvolvimento desta escola foi a ligação criada entre a contabilidade e administração, demonstrando o quanto a contabilidade pode auxiliar no controle de gestão, e foi esta uma das grandes preocupações de Villa em sua obra La contabilità applicata alle amministrazioni private e pubbliche. De acordo com Sá (1997, p. 64), A partir de sua obra de 1840 é que esse ilustre autor penetra na área nitidamente científica, admitindo a escrita contábil como a parte mecânica, apenas. Villa tentou desvincular a contabilidade de ser apenas algo mecânico, com somente números e lançamentos, para mostrá-la como uma fonte de informação auxiliadora na gerência. Sob o nome, pois, de contabilidade deve-se entender em geral tudo o que constitui aquele complexo de cognições e de operações, as primeiras das quais são indispensáveis e as segundas são da administração prescritas ao objeto de controlar, não só a administração mas as operações de todos os indivíduos que delas participam. (VILLA, 1840 apud SÁ, 1997, p.64). Segundo Schmidt (2000, p. 54), Voltando seu interesse também para as atividades públicas, a escola Lombarda defendeu que a Contabilidade pública deveria impedir o gasto inútil e a malversação do dinheiro público. Assim percebe-se que, até na área de Contabilidade Pública, a escola Lombarda demonstrava interesse não só na forma de contabilizar, mas também na administração, aconselhando como a contabilidade poderia auxiliar numa melhor gestão do dinheiro público.

32 31 Outro grande colaborador desta escola foi Antonio Tonzig, que de acordo com Schmidt (2000, p. 58), [...] nasceu em Pádua no ano de Ele foi o principal seguidor de Villa e também escreveu muitas obras, sendo que a principal delas foi Nuova scuola perfetta dei mercanti, ossia la vera scienza della contabilità commerciale, publicada em 1876, em Pádua. Schmidt (2000, p. 59) afirma que Ele foi considerado, por muitos estudiosos contábeis italianos, como um dos precursores da chamada moderna escola aziendal, desenvolvida posteriormente por outros autores italianos. Esta escola abriu caminho para o início da era científica da contabilidade e, depois dela, surgiram muitas outras que também foram importantes para a continuação do avanço da ciência. 1.9 ESCOLA PERSONALISTA Até iniciar-se o século XIX, o Contismo ainda possuía muitos seguidores, que mesmo com o surgimento das novas escolas, ainda continuavam a criar movimentos de reações. Somente nas primeiras décadas deste século é que esta escola foi sufocada pela Escola Lombarda de Villa e pela Escola Personalista, difundida principalmente na Itália, que segundo Schmidt (2000, p. 61), [...] foi fundada na segunda metade do século XIX e teve muitos seguidores, [...], especialmente, Francesco Marchi, Giuseppe Cerboni e Giovanni Rossi. Sá (1997, p. 70) afirma que O Personalismo foi uma corrente que se ligou aos conceitos jurídicos, pessoais, mas, com sérios envolvimentos, também, com a administração.

33 32 Essa escola valorizava o conceito do meu e do seu, ou seja, de que as pessoas estavam inseridas na contabilidade e que deveriam ser abertas contas com seus nomes, sejam elas físicas ou jurídicas. Também foram os personalistas que conceituaram a entidade como um conjunto de direitos e obrigações, demonstrando assim que as contas sempre se referem a fatos ligados às pessoas, pois os direitos e obrigações são também em relação a indivíduos. Francesco Marchi é que foi o idealizador desta teoria personalista. De acordo com Schmidt (2000, p. 67), ele [...] nasceu no ano de 1822 em Pescia (Itália), onde desenvolveu todo trabalho de sua vida relativamente breve, pois morreu em Mesmo tendo uma vida curta, deixou muitas contribuições para a Contabilidade, principalmente uma preparação da teoria personalista para que outros seguidores pudessem continuá-la e aperfeiçoá-la. Sá (1997, p. 71) declara que Depois dos impactos da obra de Francesco Marchi, cujo mérito é deveras expressivo, surge o trabalho de Giuseppe Cerboni, em 1873 [...]. Cerboni construiu a teoria personalista das contas em cima do trabalho de Marchi, dando assim uma conclusão ao seu trabalho que teria sido interrompido pelo seu falecimento. A teoria personalista teve extraordinário impulso com o trabalho desenvolvido por Cerboni, que teve grande interesse pelo aspecto jurídico das relações entre o proprietário e a entidade, aspecto esse não abordado no trabalho de Marchi. Marchi foi o iniciador e Cerboni, o construtor da teoria personalista. (SCHMIDT, 2000, p. 61). Cerboni defendia que a contabilidade, no final do século XIX, já havia saído da era de transição entrando definitivamente no estágio científico. Nesse estágio ela não mais simplesmente registrava e contava as riquezas, fazendo sim muito mais do que isso, ajudando também na área jurídica e administrativa das entidades. Segundo Schmidt (2000), Cerboni nasceu em 1827, em Porto Azzurro, ilha de Elba, na Itália, voltou para a mesma cidade antes de sua morte e ficou ali até a mesma, em 1917.

34 33 Como maior seguidor de Cerboni e também grande gênio na contabilidade, não se pode deixar de falar sobre Giovanni Rossi. De acordo com Sá (1997), Rossi nasceu em 1845 em Reggio Emilia (Itália). Foi imediato de Cerboni na Contadoria Geral da Itália, e em razão disso se tornou seu maior seguidor e sucessor. Escreveu diversas obras que ajudaram muito no desenvolvimento contábil, também fundou uma revista e deu início à criação da Teoria Algébrica das Contas (uma teoria sobre o aspecto matemático na contabilidade). Veio a falecer no ano de 1921, aos 76 anos de idade. Segundo Schmidt (2000), mesmo sendo a escola dominante no final do século XIX, o personalismo teve muitos opositores, até mesmo na Itália, e as principais críticas eram: A contabilidade estava se tornando um campo com muito conteúdo por querer englobar toda a administração da entidade. As funções econômicas de uma entidade para outra são muito diversificadas mas, por trabalhar mais com entidades públicas, Cerboni pensava ter encontrado um sistema de funções administrativas único, que serviria para todas as entidades. Os administradores não podem ser considerados devedores ou credores do proprietário, devem se responsabilizar apenas pela gestão da empresa. Entre os principais opositores, encontrava-se Fábio Besta que será um dos principais mentores da escola a seguir.

35 ESCOLA VENEZIANA OU CONTROLISTA Sá (1997, p. 80) escreve que A escola personalista, Toscana, com grande força e prestígio, encontrou sua contestação ferrenha com o aparecimento da escola de Veneza (controlista). Esta escola teve como principal líder Fábio Besta, como já foi citado anteriormente. Como suas principais obras foram elaboradas em Veneza (Itália), esta escola também passou a ser chamada de Veneziana. De acordo com Schmidt (2000, p. 80), Besta nasceu em Teglio de Valtellina, na Lombardia, quase divisa da Itália com a Suíça, em 17 de janeiro de [...] Transferiu-se para a cidade de Treviso de Sondrio, onde morreu em 3 de outubro de 1922, com 77 anos de idade. Durante sua vida estudou muito até tornar-se professor e só deixou a docência pouco antes de sua morte, transmitindo assim, por muito tempo, suas teorias a seus discípulos. Segundo Schmidt (2000, p. 73), Uma das principais afirmações, que caracterizavam sua escola, foi a distinção feita por ele entre o conceito de administração geral e administração econômica. Para Besta a administração econômica se distingue da geral, pois o objetivo principal daquela é a produção de mais riqueza enquanto desta é apenas o ato de administrar ou organizar. Diferentemente dos personalistas, os controlistas não utilizavam o raciocínio jurídico, mas sim uma realidade materialista, por isso estudaram a organização administrativa de forma que pudessem defender o controle das riquezas que era o que acreditavam ser correto.

Qual escola teve maior predominância na influência da Contabilidade e por quê?

Enquanto as escolas europeias estudavam praticamente só a teoria da Contabilidade, sem se interessar pela parte pragmática da disciplina, a escola norte-americana enfocava muito mais a prática contábil, procurando atender as necessidades dos seus usuários através de uma Contabilidade útil para a gestão e cada vez mais ...

Qual escola influenciou a Contabilidade no Brasil?

Para Sá (2010), as primeiras informações sobre a teoria da contabilidade que o Brasil teve, foi à influência da escola italiana, e posteriormente a influência da escola Norte- Americana, em destaque a primeira escola de ensino em contabilidade no Brasil, a Escola de Comércio Álvares Penteado, com data de criação em ...

Quais as escolas que mais influenciaram na evolução do pensamento contábil?

As correntes doutrinárias do pensamento contábil: CONTISMO – precursor: Luca Pacioli. PERSONALISMO – precursor: Francesco Marchi. CONTROLISMO – precursor: Fabio Besta.

Quais as duas principais escolas da Contabilidade?

Após o surgimento do método das partidas dobradas (século XIII ou XIV) e sua divulgação através da obra de Frei Luca Pacioli, a escola italiana ganhou grande impulso e se espalhou por toda a Europa.