Qual o principal motivo das queimadas?

A Amazônia é uma floresta tropical úmida. Isso quer dizer que ela é um ambiente rico em biodiversidade e, além disso, que não tem condições naturais para que o fogo surja no ecossistema de forma espontânea. Ao contrário de outros biomas, como no Cerrado ou no Pantanal, na Amazônia o fogo não faz parte do ciclo natural para a regeneração da vegetação. Por isso, ao pensarmos em causas para as queimadas na Amazônia, a origem do fogo sempre estará associada a ações humanas.

As características climáticas da Amazônia fazem com que os períodos sejam bem definidos ao longo do ano e há os períodos em que o fogo é mais frequente, justamente por ser o momento de seca na região. A temporada de queimadas na Amazônia costuma começar entre maio e junho de cada ano e pode se estender até setembro e outubro. Quando as chuvas voltam a se intensificar, o ambiente fica menos propício para a ação do fogo. Em 2021, o período de fogo na Amazônia começou com recordes: o total de focos de queimadas na Amazônia Legal em maio foi 41% maior que o número registrado no mesmo mês de 2020, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

De acordo com a gerente de ciências do WWF Brasil, Mariana Napolitano, “o fogo está quase sempre associado a uma ação humana e é algo bastante comum na paisagem rural do país. Seu uso vem de longa data e serve, geralmente, para limpar áreas que foram desmatadas para o plantio ou a criação de gado”.

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Qual o principal motivo das queimadas?

Qual o principal motivo das queimadas?

De forma geral, o fogo na Amazônia pode ser dividido em três tipos: as queimadas para desmatamento; os incêndios florestais rasteiros; e as queimadas e os incêndios em áreas já desmatadas. Segundo especialistas as três formas têm origem na ação humana, mas cada uma tem um impacto diferente.

A primeira está diretamente associada ao desmatamento: áreas de floresta são derrubadas, a madeira com valor econômico é aproveitada e comercializada, e o fogo é usado para “limpar” o material orgânico remanescente da derrubada da floresta. Quando essas queimadas têm início, o fogo pode escapar para outras regiões onde há muito material orgânico seco. Isso faz com que tenham início os incêndios florestais rasteiros, que podem impactar florestas primárias ou áreas previamente desmatadas para a exploração de madeira. Por fim, há o uso de fogo intencional em pastagens e lavouras, seguindo uma tradição secular de uso do fogo para “limpar” o pasto e renovar os terrenos. Este modelo também pode resultar em outros incêndios acidentais em áreas de pastagens vizinhas aos locais onde as chamas se originaram.

Por isso, quando se fala em fogo na Amazônia, é preciso entender que, na maioria das vezes, foi necessário que alguém “acendesse um fósforo” para que o estrago fosse feito. Esta ação tem origem em motivações econômicas, muitas vezes ilegais, que impõem grandes desafios para o desenvolvimento sustentável no bioma amazônico.

De acordo com dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), 28,5% do território amazônico não possui informações sobre destinação fundiária. Além disso, o Imazon destaca que 43% do território sem definição fundiária possui prioridade para conservação, mas os procedimentos atuais não garantem a destinação do território para essa finalidade.

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Qual o principal motivo das queimadas?

Qual o principal motivo das queimadas?

Um mapeamento do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) de 2020 mostrou que dos quase 50 milhões de hectares de florestas públicas não destinadas na Amazônia, 23% (11,6 milhões de ha) foram declarados irregularmente como imóveis particulares no Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (CAR). Ou seja, pela falta de destinação de áreas públicas, muitas ficam vulneráveis à grilagem e se tornam alvos de criminosos que querem ocupar terras ilegalmente e lucrar com isso. A invasão de terras é apenas o primeiro passo de um ciclo que se repete há décadas na Amazônia. Para demarcar o território, uma área é desmatada, a madeira com valor comercial pode ser vendida e, na maioria das vezes, ocupa-se o terreno aberto com pastagem e gado.

Segundo a gerente de ciências do WWF Brasil, o fogo na Amazônia está muito atrelado à presença de gado. “Não raro, o fogo ateado no campo foge ao controle e o que era para ser uma queimada, acaba se tornando um incêndio. Na Amazônia, o fogo segue o desmatamento. Quanto mais se desmata, mais focos de calor se espalham pela região”.

Ainda de acordo com Mariana, tanto o desmatamento quanto as queimadas na região amazônica são, na maioria das vezes, ilegais. “Quando o clima está mais seco e chove menos, e isso é cada vez mais frequente na Amazônia, o risco de o fogo fugir do controle torna-se ainda maior”, afirma. Enquanto a floresta é devastada, a biodiversidade se torna cada vez mais ameaçada e a população perde um patrimônio natural – a Floresta Amazônica – que é de toda a sociedade.

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