Quando os europeus chegaram ao continente americano como viviam os indígenas?

Quando os europeus chegaram ao continente americano como viviam os indígenas?
Estudo sobre os primeiros americanos teve
destaque na revista 'Nature' (Imagem: Emiliano
Bellini)

Os primeiros habitantes da América chegaram ao continente há mais de 15 mil anos e vieram da Ásia em três ondas migratórias separadas. A conclusão é de um estudo realizado por uma equipe internacional de cientistas publicado nesta quarta-feira (11) pela revista científica “Nature”.

“Durante anos, se debateu se os habitantes da América procediam de uma ou mais migrações através da Sibéria, mas nossa pesquisa põe fim a este dilema: os nativos americanos não procedem de uma só migração”, ressaltou à Agência Efe o cientista colombiano Andrés Ruiz-Linares, do University College de Londres, autor principal do estudo.

Embora os analistas calculem que tenham ocorrido pelo menos três grandes migrações, a maioria das tribos descende da primeira delas, conhecida como os “Primeiros Americanos”. As outras duas levas se limitaram à América do Norte.

Quando as ondas migratórias ocorreram, o Estreito de Bering, entre a Ásia e a América, estava congelado, e serviu como ponte entre os dois continentes.

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A pesquisa analisou o genoma de 52 tribos indígenas americanas, do Canadá à Terra do Fogo, e comparou ao de habitantes de 17 grupos nativos da Sibéria. Ao todo, mais de 364 mil variações genéticas foram consideradas.

A análise foi dificultada pela presença de material genético procedente de migrações posteriores, principalmente dos europeus e africanos que chegaram à América a partir de 1492. Por isso, os pesquisadores se centraram apenas nas seções do genoma que procediam totalmente dos nativos americanos.

“Tecnicamente, o estudo dos povos nativos americanos representa todo um desafio devido à presença generalizada de traços europeus e africanos nos grupos nativos”, indicou Ruiz-Linares.

A ocupação do continente
Os “Primeiros Americanos” teriam se deparado com um continente desabitado, e se estenderam em direção sul, seguindo a costa do Pacífico e deixando povoações em sua passagem. O processo teria durado cerca de mil anos, e suas linhagens podem ser rastreadas do presente.

No entanto, o DNA de quatro tribos da América do Norte demonstra que houve pelo menos duas outras ondas migratórias. A segunda percorreu a costa do Ártico até a Groenlândia, e a terceira se dirigiu rumo às Montanhas Rochosas.

Essas duas levas de imigrantes teriam sido protagonizadas por indivíduos mais próximos à etnia han, predominante na China, do que aos “Primeiros Americanos”.

Ao avaliar o material genético da tribo dos aleútes e dos inuítes, que vivem na Groenlândia, os pesquisadores constataram que metade de seu DNA procedia dos integrantes da segunda migração.

No caso dos membros da tribo canadense chipewyan, que viviam entre as Montanhas Rochosas e a baía de Hudson, os especialistas descobriram que tinham 10% do material genético em comum com os protagonistas da terceira leva migratória.

O DNA dessas quatro tribos – aleútes, inuítes do leste, inuítes do oeste e 'chipewyan' – contém material das três ondas migratórias, mas a maior parte corresponde à primeira. Isso significa que os habitantes asiáticos da segunda e terceira ondas teriam se relacionado com os primeiros que chegaram à América.

Segundo Ruiz-Linares, isso fica demonstrado pela menor diversidade genética dos nativos da América do Sul, cujo DNA é mais próximo ao dos “Primeiros Americanos”.

“Haveria uma relativa homogeneidade genética dos nativos desde México até o sul do continente, todos derivariam da mesma corrente migratória da Ásia”, explicou Ruiz-Linares.
“O povoamento do México rumo ao sul teria sido relativamente simples, com poucas misturas após a separação dos povos [até a chegada dos europeus em 1492]”, acrescentou o pesquisador.

Mestre em História Comparada (UFRJ, 2020)
Bacharel em História (UFRJ, 2018)

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As primeiras sociedades do continente americano, também chamadas pré-colombianas, são propriamente aquelas que ocuparam e desenvolveram-se nesta região no período anterior à chegada dos europeus. É importante ressaltar a diversidade desses povos, para que sejam compreendidas as diferentes características e formas de organização de cada grupo. As distintas realidades ambientais, sobretudo, condicionaram os modos de vida dessas sociedades.

A teorias acerca do povoamento da América relacionam-se à ideia de que esses primeiros habitantes seriam nômades, isto é, deslocavam-se de um lugar para o outro caçando grandes manadas de animais.

A teoria cientificamente mais aceita é de que, por conta do fenômeno da glaciação, houve a possibilidade de imigração entre os continentes asiático e americano. Os povos teriam chegado à América do Norte por meio de uma ponte natural formada de gelo, no Estreito de Bering (entre a Sibéria e os EUA).

A arqueologia foi fundamental para que o acesso a artefatos e vestígios (datados de 11.500 a 12 mil anos) fosse possível. Estudiosos traçaram, por meio destes artefatos, semelhanças entre os habitantes das américas e os da ásia. Há, no entanto, outra teoria, a partir de vestígios encontrados no Brasil e na América do Sul, de que teriam ocorrido diversas ondas migratórias no processo de povoação da América vindas da África e da Oceania. Povos teriam migrado gradativamente em direção à América do Sul utilizando embarcações, por volta de 30 mil anos atrás.

Em 1975, na região brasileira de Lagoa Santa (MG), arqueólogos encontraram um fóssil que foi batizado de Luzia, datado de mais de 12 mil anos. Este fóssil permitiu o desenvolvimento da segunda teoria, visto que a presença de traços negróides, indicava a possibilidade de ocupação africana e australiana nas américas, para além da colonização asiática advinda do estreito de Bering. Na imagem abaixo pode-se ver o crânio de Luzia, exposto no Museu Nacional, antes do incêndio ocorrido em 2018.

Muitos desses grupos humanos desenvolveram-se em sociedades complexas e grandes impérios, como os Astecas e os Incas. Estes povos indígenas, assim como vários outros espalhados pelo continente, foram dizimados e encurralados em decorrência do processo colonizador iniciado com a chegada dos europeus no século XV. No entanto, a herança cultural indígena permanece caracterizando os países americanos até o tempo presente.

O historiador Ciro Flamarion Cardoso sinaliza “não ser possível para qualquer período pré-colombiano a construção de um saber histórico comparável ao que possuímos acerca da Grécia ou Roma antigas, já que estas são civilizações para as quais podemos dispor de documentação escrita”, o que possibilita a uma compreensão mais detalhada dos processos históricos.

Muitos dos documentos anteriores à colonização europeia foram destruídos, e os relatos que chegaram até nossos tempos são fundamentalmente de origem europeia. Apesar disso, tem-se observado um esforço cada vez mais crescente da arqueologia em pesquisas que busquem preencher as lacunas em relação à cultura dos primeiros habitantes da América.

Leia também:

  • América pré-colombiana
  • Primeiros povos da África
  • Primeiros povos da Ásia
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Referências:

CARDOSO, Ciro Flamarion. América pré-colombiana. Coleção Tudo é história, 1ª edição. Brasiliense. São Paulo, 1981.

Fragmentos do Crânio de Luzia são encontrados em escombros do Museu Nacional. Redação Nacional Geographic Brasil. Publicado em: 19 de outubro de 2018. Disponível em:

https://www.nationalgeographicbrasil.com/museu-nacional-do-rio-de-janeiro/2018/10/fragmentos-cranio-de-luzia-encontrado-escombros-museu-nacional-depois-incendio-rio-de-janeiro

Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/historia/primeiros-povos-da-america/

Como era a vida dos povos indígenas antes da chegada dos europeus?

Os índios, antes da colonização, viviam de maneira autônoma, sem a presença de elementos políticos e governamentais e de Estado. A gestão era coletivista, baseada na cooperação entre os membros de uma mesma tribo e em alianças e guerras entre tribos diferentes.

Quando os europeus chegaram nas Américas como foi o primeiro contato com os índios?

Em 1500, os primeiros portugueses que desembarcaram no continente americano tomaram posse das terras e logo em seguida tiveram os primeiros contatos com os indígenas, chamados pelos portugueses de “selvagens”.

Como viviam os habitantes do continente americano antes da chegada dos europeus?

A região era dividida em reinos e impérios. Na África Oriental, havia o Império de Gana, que durou do século 8 ao 11 e era baseado no comércio de ouro; e o do Mali, que durou do século 13 ao 18 e tinha como força o comércio de sal, ouro, especiarias e couro.

O que aconteceu após a chegada dos europeus na América?

Os primeiros impactos ocorreram com a exploração econômica dos recursos naturais e da terra, como também pelo genocídio de milhões de seres humanos. Os europeus trouxeram ainda para o continente milhões de africanos escravizados, que com seu suor e sangue foram utilizados para construir a sociedade americana atual.