Que correntes de pensamento geográfico foram definidas pelos geógrafos europeus?

Biblio 3W
REVISTA BIBLIOGRÁFICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES
(Serie  documental de Geo Crítica)
Universidad de Barcelona 
ISSN: 1138-9796. Depósito Legal: B. 21.742-98 
Vol. XIII, nº 786, 5 de junio de 2008

GEOGRAFIA CR�TICA: LEGADO HIST�RICO OU ABORDAGEM RECORRENTE?

Rosa Moura,
Deuseles de Oliveira,
Helena dos Santos Lisboa,
Leandro Martins Fontoura,
Juliano Geraldi [*]


Geografia Cr�tica: legado hist�rico ou abordagem recorrente? (Resumo)

A corrente cr�tica ou radical da Geografia desenvolveu, no Brasil, uma trajet�ria not�vel do ponto de vista da abordagem acad�mica, ao desvendar processos que nutriram o debate pol�tico em delicado momento nacional. Este artigo objetiva discorrer sobre essa corrente, abordando suas origens em diferentes pa�ses, concep��es, base metodol�gica, objeto de an�lise e sua evolu��o, particularmente no Brasil. Considerando posicionamentos d�spares em rela��o � sua trajet�ria e produ��o te�rica contempor�neos, procura fazer uma breve leitura de seu significado e import�ncia para a ci�ncia geogr�fica no Brasil, diante de tantas correntes cujos seguidores postulam a hegemonia no �mbito da an�lise na geografia.

Palavras chave: geografia cr�tica, geografia radical, nova geografia, marxismo na geografia


Geograf�a Cr�tica: �legado hist�rico o enfoque recurrente? (Resumen)

La corriente cr�tica o radical de la Geograf�a ha desarrollado, en Brasil, una trayectoria notable desde la �ptica del enfoque acad�mico, en el desvendar de procesos que ha enriquecido el debate pol�tico en delicado momento nacional. El presente art�culo objetiva presentar una reflexi�n acerca de esa corriente, desde sus or�genes en distintos pa�ses, concepciones, base metodol�gica, objeto de an�lisis, evoluci�n, y los contradictorios posicionamientos acerca de su producci�n te�rica y contribuci�n a la Geograf�a, en particular en Brasil. Plantea hacer todav�a una breve lectura de su significado e importancia para la ciencia geogr�fica, ante otras corrientes con seguidores que postulan la hegemon�a del an�lisis en la geograf�a.

Palabras clave: geograf�a cr�tica, geograf�a radical, nueva geograf�a, marxismo en la geograf�a


Critical Geography: historical legate or current use? (Abstract)

The critical or radical current of Geography has developed, in Brazil, a remarkable trajectory from the optics of the academic approach, revealing processes that has enriched the political debate at delicate national moment. The present article mains to present a reflection about that current, from its origins, conceptions, methodological basis, object of analysis, evolution, and the contradictory dialogue about its theoretical production and contribution to Geography, particularly in Brazil. It still rises to take a brief reading of its meaning for geographic science, facing to many currents that postulate the supremacy in the geographic analysis.�

Key words: critical geography, radical geography, new geography, Marxism in geography


Origens e principais concep��es

A geografia cr�tica sucede a corrente do pensamento geogr�fico denominada nova geografia ou geografia quantitativa, que surgiu durante a Guerra Fria, em meados do s�culo XX, na Inglaterra, Estados Unidos e Su�cia � corrente que, pautada em m�todos quantitativos, encobria o compromisso ideol�gico de justificar a expans�o capitalista sem exprimir a ess�ncia da realidade social. � nesse contexto de domina��o pelo uso ideologizado da informa��o, assim como de agravamento das tens�es sociais nos pa�ses centrais e movimentos por independ�ncia nos pa�ses subdesenvolvidos, que a geografia cr�tica emerge como uma corrente que se op�e � quantitativa.

O interesse dos ge�grafos pelas obras de cunho socialista ressurgiu na Europa ap�s a segunda Guerra Mundial. Conforme Andrade (1987), os trabalhos desses ge�grafos eram estimulantes e demonstravam progressos significativos. Por�m, com a invas�o da Hungria pelas tropas sovi�ticas, em 1956, grande parte desses profissionais se afastou do marxismo, ao mesmo tempo em que se iniciaram contatos com outros segmentos profissionais.

As perspectivas do planejamento abertas no p�s-guerra, consolidando pol�ticas desencadeadas durante a guerra, como Town and Country Planning, na Inglaterra, ou Am�nagement du Territoire, na Fran�a e B�lgica, procuraram dar a essa pr�tica uma dimens�o hist�rica e geogr�fica. Tais perspectivas traziam ao ge�grafo, at� ent�o mais ligado ao ensino e de certa forma isolado, o desafio de se �adaptar a um sistema de trabalho realizado em comum e em colabora��o com outros especialistas, procurando atingir fins pragm�ticos� (Andrade, 1987: 95). Disciplinas do conhecimento geogr�fico passaram a interpor-se � economia, sociologia, antropologia, al�m de haver uma transposi��o da centralidade tem�tica agr�ria para urbana. Assim, destaca-se, nesse per�odo, a import�ncia de contatos de ge�grafos com fil�sofos, como Henry Lefebvre e Louis Althusser, com urbanistas, como Manuel Castells, ou economistas, como Charles Bettelheim.

A geografia cr�tica coloca-se como �uma revolu��o que procura romper, de um lado, com a geografia tradicional e, de outro, com a geografia teor�tico-quantitativa� (Corr�a, 2001: 23), vindo a motivar intenso debate entre ge�grafos marxistas e n�o-marxistas. D� evid�ncia � a��o do Estado e dos demais agentes da organiza��o espacial � os propriet�rios fundi�rios, os industriais, os incorporadores imobili�rios �, ao mesmo tempo em que retoma as rela��es homem-natureza e a abordagem regional. Busca responder �s profundas modifica��es na organiza��o espacial, decorrentes da intensa urbaniza��o, industrializa��o e expans�o do capital, que n�o encontravam respostas no determinismo, possibilismo e m�todo regional.

Embora a geografia quantitativa se dispusesse a compor um sistema de pensamento, pelo fato de estar subordinada a uma vis�o matem�tica do mundo, negligenciava a dimens�o do tempo. Para Santos (1996: 170), a corrente quantitativa reconduziu os estudos denominados marxistas para que �voltassem e se tornassem uma das colunas fundamentais da chamada �geografia cr�tica�, que, ali�s, n�o � exclusividade dos marxistas.� Referia-se aos �ge�grafos socialmente engajados�, norte-americanos, que embora n�o fossem marxistas criticavam a vis�o anterior da geografia e propunham uma outra perspectiva.

Toma corpo ent�o uma vertente de estudo com uma postura radical cr�tica frente � geografia existente, seja a tradicional ou a pragm�tica, propondo uma total ruptura com os pensamentos anteriores. Segundo Moraes (1999), no n�vel acad�mico, os ge�grafos cr�ticos op�em-se ao empirismo exarcebado da geografia tradicional, al�m de refutarem sua an�lise pautada no mundo das �apar�ncias�, decorrente da fundamenta��o positivista, que visa a busca de um objeto automatizado, a id�ia absoluta de lei, n�o se preocupando com a diferencia��o das qualidades distintas dos fen�menos humanos, entre outros. A geografia pragm�tica, tamb�m com fundamenta��o neopositivista, � fortemente criticada pelo conte�do acr�tico, �alienante�, vinculado � legitima��o do poder do Estado burgu�s.

Diversos autores da geografia cr�tica posicionam-se exatamente em prol de uma transforma��o da realidade social, trazendo o saber como uma importante arma para este processo. Neste caso, o conhecimento cient�fico assume um conte�do fortemente pol�tico e, portanto, a geografia deve ser militante, ou seja, lutar por uma sociedade mais justa e servir como um instrumento de liberta��o do homem (Moraes, 1999). Partem, assim, para cumprir o objetivo de avaliar profundamente as contradi��es inerentes ao sistema capitalista de produ��o, desvendando, conforme Moreira (1982a), as �m�scaras sociais� desse sistema.

O movimento da geografia cr�tica, em suas diversas vertentes, reproduz o embate ideol�gico contempor�neo da luta de classes na sociedade. Os ge�grafos cr�ticos, em suas diversas orienta��es, assumem a perspectiva popular, de uma transforma��o de ordem social. Por esta raz�o, buscam uma geografia mais generosa em um espa�o mais justo, que seja organizado em fun��o dos interesses dos homens e n�o do capital (Moraes, 1999).

A influ�ncia francesa

Uma das ra�zes da geografia cr�tica est� na ala progressista da geografia regional francesa, que introduz, aos poucos, a an�lise da organiza��o do espa�o aos processos econ�micos e sociais, inaugurando uma discuss�o mais pol�tica dos estudos geogr�ficos, e aproximando-se da hist�ria e da economia. Jean Dresch anuncia este movimento, ao incorporar um discurso pol�tico em seus estudos, nas d�cadas de 1930 e 1940.

Na Fran�a, uma manifesta��o clara da renova��o cr�tica encontra-se em Geografia Ativa, de Pierre George, Yves Lacoste, Bernard Kayser e Raymond Guglielmo (1966), obra que marcou uma gera��o de ge�grafos, ao se opor � geografia aplicada, ent�o hegem�nica. Tem como proposta elaborar uma an�lise regional que desvendasse as contradi��es do modo de produ��o capitalista, neste caso, inaugurando uma geografia de den�ncias das realidades espaciais injustas e contradit�rias. Critica severamente a abordagem descritiva e enumerativa da geografia, apontando a necessidade e a car�ncia de informa��o objetiva, que permitisse tra�ar perspectivas que subsidiassem tomadas de decis�es. Ligada ao historicismo, seus autores consideravam a geografia como um prolongamento da hist�ria, mas com m�todos pr�prios, deixando seu papel meramente contemplativo e assumindo um papel din�mico, atuante, por meio do que chamavam uma �geografia ativa�, que buscasse estabelecer um elo entre passado e futuro.

Essa concep��o deixa para tr�s a conceitua��o �estreita� de uma geografia t�o somente preocupada com dados est�veis, comprovados, �receosa de enfrentar as incertezas das mais t�midas previs�es� no terreno pr�tico, como afirmam os tradutores, nas notas da contracapa da publica��o brasileira. Nessas notas, resgatam dos autores o objetivo da geografia: �perceber as tend�ncias e as perspectivas da evolu��o a curto prazo, medir em intensidade e em proje��o espacial as rela��es entre as tend�ncias de desenvolvimento e as suas antagonistas, definir e avaliar a efic�cia dos freios e obst�culos. � por a� que a geografia pode desembocar na aplica��o� (George et al., 1966).

Apesar de possuir uma leitura cr�tica da realidade, a geografia ativa n�o rompe, em termos metodol�gicos, com a an�lise tradicional, pois se mant�m descritiva e empirista. Para Moraes (1999), esse rompimento viria a ocorrer anos mais tarde, com trabalhos de Pierre George, que teve o grande m�rito de introduzir conceitos marxistas na discuss�o geogr�fica, ao tentar uma concilia��o do materialismo hist�rico � an�lise regional. Em suas obras, insurgiu-se contrariamente �s correntes vigentes, buscando conciliar postulados marxistas com lablachianos, aprofundando-se na discuss�o das rela��es de produ��o, rela��es de trabalho, a��o do grande capital, for�as produtivas etc.

Yves Lacoste, em momento de crise que atingia a geografia, face �s novas tend�ncias, retoma os debates inspirado nas obras de �lis�e R�clus[1], quanto � discuss�o da dial�tica hegeliana e sua liga��o com a geografia (Andrade, 1987). Em 1976, Lacoste cria a revista Herodote e come�a, por meio dela, a dispor an�lises sobre in�meros assuntos geogr�ficos, como os problemas ideol�gicos, da paisagem, do trabalho no campo, do urbano, do imperialismo ligado � coloniza��o, entre outros. Ap�s o trig�simo n�mero da revista, Lacoste convoca os ge�grafos a uma maior atua��o na esfera pol�tica e reanalisa o conceito de geopol�tica. Para ele, n�o s� a geografia como tamb�m outras ci�ncias foram utilizadas pelos nazistas para justificar as expans�es territoriais sobre outros povos. Lacoste (1989) procura mostrar que a geopol�tica, adotada pelos Estados, poderia ser tamb�m empregada para que os povos conquistassem a liberta��o nacional, no plano externo, e a liberta��o interna.

O radicalismo anglo-americano

Nos pa�ses anglo-americanos, em final dos anos 1960, a corrente cr�tica demarcou o engajamento de ge�grafos em lutas e processos de transforma��es sociais em curso. Movimentos contra a guerra do Vietnam, lutas anti-coloniais em pa�ses do sul, movimentos pelos direitos civis e de g�nero associavam-se �s revoltas internacionais de 1968.

Cobarrubias (2006) resgata observa��es de Peet (1977, apud Cobarrubias 2006) de que a ci�ncia radical em geral e a geografia radical em particular s�o, ao menos na Am�rica do Norte, produtos desses eventos dos anos 1960, o que � complementado por Harvey e Smith (1984, apud Cobarrubias, 2006), que apontam que os ge�grafos eram for�ados pelos acontecimentos a questionar a base conceitual e a pr�tica de sua disciplina. At� essa �poca, a geografia era vista como uma ci�ncia espacial imersa na revolu��o quantitativa. Embora muitos ge�grafos se reportassem a estudos de ge�grafos anarquistas, como Kropotkin e R�clus, n�o havia um corpo de produ��o ou autores representativos, mas pequenos grupos ou iniciativas particulares desenvolvendo trabalhos que n�o podiam ser chamados �cr�ticos�, muito menos �radicais�.

Baseando-se em Harvey (2001, apud Cobarrubias, 2006), esse autor lembra ainda os constrangedores efeitos do McCarthismo e salienta que alguns ge�grafos progressistas come�aram a expressar preocupa��o social, por tr�s da suposta neutralidade do �escudo positivista�. A calma aparente foi quebrada por uma ampla crise social, �a mais s�ria crise enfrentada pela sociedade capitalista�, como destaca de Blaut (1979: 159, apud Cobarrubias, 2006), fazendo com que a geografia radical emergisse. As convuls�es e mobiliza��es que afetavam a sociedade envolveram ge�grafos, que levaram para a luta suas ferramentas cient�ficas.

Trabalhos de ge�grafos, particularmente norte-americanos e canadenses, voltados aos problemas sociais, passaram a circular e adquiriram certa relev�ncia. Com base em Blaut (1979), Cobarrubias (2006) aponta como data de refer�ncia do surgimento da corrente o ano de 1969, no encontro da Associa��o Americana de Geografia, que reuniu a maioria dos movimentos locais, incluindo a Detroit Geographical Expedition (DGE) e o grupo respons�vel pela publica��o Antipode, da Clark University.

Andrade (1987), ao analisar a obra de Kirk Mattson, reitera essa ordem de eventos, como movimentos paralelos e convergentes, agregando a eles a funda��o da Uni�o dos Ge�grafos Socialistas. Confirma que a geografia cr�tica avan�ou nos Estados Unidos devido ao desejo de alguns ge�grafos tomarem maior conhecimento da realidade existente e da constata��o das injusti�as sociais que os cercavam. O pr�prio Mattson (1978) pondera que

No existe todav�a una historia propiamente dicha de la geograf�a radical pues no es una escuela en s�, sino que se ha desarrollado a partir de muy diversas fuentes y en distintas direcciones. Tampoco puede decirse que la "radicalizaci�n" de la geograf�a sea un fen�meno inherente a la disciplina, pero s� parte de una tendencia general dentro de las ciencias sociales; no responde tampoco dicho fen�meno a una ideolog�a pol�tica determinada, pero s� a una problem�tica pol�tica concreta.

Os projetos da Expedition reuniam experimentos com preocupa��o comunit�ria e mobiliza��o ao conhecimento e pesquisa acad�mica, que buscavam uma ponte entre o ativismo e a academia. Expoente desse grupo, William Bunge (1977, apud Cobarrubias, 2006) se dedica a visitar o bairro negro de Fitzgerald, localizado em Detroit, a fim de fazer investiga��es e tomar contato com os seus habitantes. Ao se interar da realidade local, Bunge verifica que o n�vel de vida da popula��o desse bairro era muito prec�rio e que as reivindica��es dos seus habitantes n�o eram consideradas pelos ge�grafos e planejadores nos estudos governamentais, concluindo que o planejamento deveria ser feito para atender �s comunidades. A partir disso, organiza aulas de campo ao bairro, com ampla interatividade entre estudantes e moradores. Ao tomar essa atitude, � demitido da universidade, passando a residir em Toronto, onde repete a experi�ncia � segundo Mattson (1978), a mais ambiciosa de todas �, sendo demitido novamente. No final da vida, Bunge torna-se motorista de t�xi e n�o volta aos bancos acad�micos.

Mattson (1978) avalia que o fim dessas experi�ncias n�o foi um fracasso, mas seus resultados devem ser avaliados com prud�ncia, pois as expedi��es apenas funcionam quando contam com a total confian�a e coopera��o da comunidade e respondem a seus interesses, sem �paternalismo profissional�, �turismo emocional�, nem �vanguardismo pol�tico�. Chama a aten��o que, resultado dessas experi�ncias, um novo termo passou a enriquecer o vocabul�rio geogr�fico, �advocacy�, que

implica un compromiso real con los problemas de la ciudad en inter�s de sus habitantes; problemas cotidianos tales como la distribuci�n de parques, los accidentes de tr�fico que da�an a los ni�os, etc... Esta actitud de compromiso con problemas tanto humanos como pol�ticos contrastaba con la actitud de tos dem�s ge�grafos que estudiaban a veces la ciudad al servicio de urbanizadores y especuladores actitud de desprendimiento y frialdad profesional que pon�a de relieve la debilidad �tica de la geograf�a establecida.

A revista Antipode, organizada em 1969, tinha como objetivo inicial divulgar os trabalhos de campo de Bunge, passando a fazer uma cr�tica radical tanto � geografia tradicional, quanto � geografia teor�tica, como anota Andrade (1987), tendo sido concebida como porta voz de uma geografia alternativa, preocupada com problemas locais e regionais, como sublinha Mattson (1978).

J� em seu primeiro n�mero manifestou claramente a postura radical, unindo-se ao movimento que se produzia em outras ci�ncias sociais, como pode ser confirmado em resgate hist�rico de publica��es da Antipode pelos Cuadernos Cr�ticos de Geograf�a Humana (Geo Cr�tica) � esta tamb�m uma publica��o que ampliou o debate cr�tico internacional, trazendo-o para o idioma espanhol. Conforme exposto por David Stea[2],

Nuestro objetivo es un cambio radical la sustituci�n de las instituciones y el ajuste institucional de nuestra sociedad, instituciones que no pueden ya responder a las cambiantes necesidades societales, que ahogan los intentos para darnos unos patrones de vida m�s viables, que frecuentemente no sirven m�s que para el prop�sito de perpetuarse a s� mismos, No tratamos de sustituir las instituciones existentes por otras que adoptar�n inevitablemente la misma forma; mas bien tratamos de encontrar una nueva ordenaci�n de medios de acuerdo con un nuevo conjunto de objetivos.

A revista Antipode teve grande aceita��o, pois permitia a abertura de novos horizontes para os novos ge�grafos, j� que a maioria dos colaboradores eram ge�grafos quantitativistas desolados com o m�todo matem�tico-estat�stico. � medida que evolu�a e se desenvolvia, fez emergir a quest�o do m�todo e do papel da ideologia na geografia.

En 1974, en plena evoluci�n y b�squeda te�rica la revista se plante� la necesidad de explorar en el campo del marxismo y estimular las investigaciones y contribuciones de los pa�ses del tercer mundo. Durante este proceso se fueron clarificando los objetivos y ampliando las perspectivas, ganando lectores fuera de Norteam�rica, pero perdi�ndose tambi�n en el camino, muchos de los primeros lectores liberales, todav�a asustados por la palabra "Marxismo" (Mattson, 1978).

O terceiro movimento apontado, a Uni�o dos Ge�grafos Socialistas, procurava difundir id�ias que buscassem a renova��o do conhecimento geogr�fico. Formada em 1974, essa organiza��o n�o tinha car�ter pol�tico-militante nem profissional, buscando apenas discutir a geografia e, atrav�s dela, conquistar mudan�as sociais. Al�m de contribuir organizando e trabalhando para uma mudan�a radical nas comunidades, intencionavam desenvolver a teoria geogr�fica para contribuir na luta revolucion�ria, como transcreve Mattson (1978), tendo como fonte o U.S.G. Newsletter (v. 3, n. 1).

Al�m de Bunge, outro grande l�der da geografia radical norte-americana, at� os fins da d�cada de 1960, foi David Harvey, ambos neopositivistas. Influenciados pelo contexto de crise da sociedade capitalista, esses ge�grafos procuraram no socialismo novos caminhos, novas alternativas, tanto cient�ficas como s�cio-pol�ticas para os estudos geogr�ficos.

Nos anos 1960, Harvey trabalhou, principalmente, com problemas relacionados � filosofia e metodologia da geografia. Essa etapa positivista foi substitu�da por uma marxista e dualista, coincidindo com seu traslado a John Hopkins University, onde concentrou seu interesse nos processos de urbaniza��o e empobrecimento de algumas cidades norte-americanas. Seu pensamento relacionado com a geografia humana tamb�m o levou a interessar-se por mudan�as na pol�tica econ�mica, pelos processos de urbaniza��o em pa�ses capitalistas, pelas formas alternativas de urbaniza��o e justi�a ambiental. Assim, rompe radicalmente com a vanguarda do neopositivismo, aderindo � geografia cr�tica. Neste aspecto, na obra A justi�a social e a cidade (1973), o autor apresenta uma autocr�tica em rela��o � sua produ��o anterior e uma cr�tica �s teorias ditas �liberais� sobre a cidade, assumindo com isso uma postura fortemente socialista.

Uma abordagem do conte�do dessa corrente da geografia pode ser sintetizada nas observa��es de Peet (1982: 226), citadas porHenrique (2002):

a ci�ncia radical mostra os desvios, exp�e as explica��es existentes � cr�tica, providencia explica��es alternativas que tracem a rela��o entre os problemas sociais, na superf�cie, e as causas sociais profundas, e encoraja as pessoas a engajarem-se na constru��o de sua pr�pria teoria. Sobre as bases das explica��es alternativas resultantes, levanta-se um programa pol�tico radical para a reestrutura��o da sociedade enquanto ao redor deste programa desenvolveu-se uma cultura que reflete a experi�ncia e o anseio de uma popula��o redespertada. A ci�ncia radical �, ent�o, o agente consciente da mudan�a pol�tica revolucion�ria. E a Geografia Radical � uma parte dela, partilhando a mesma aspira��o, usando o mesmo m�todo, mas especializada num certo conjunto de rela��es a partir das quais a sociedade � feita.

Peet (1988, apud Silva, 2000), reitera que a geografia radical partiu do contexto de rejei��o � geografia quantitativa e � geografia humanista, construindo um novo paradigma que apontou para quest�es sociais. Resgata tamb�m a import�ncia da Ant�pode,ao publicar os primeiros trabalhos da corrente, com temas como pobreza urbana e regional, discrimina��o contra as mulheres e grupos minorit�rios, acesso desigual aos servi�os, subdesenvolvimento etc. Pondera que somente mais tarde (anos 1970) a geografia radical se tornou marxista, mesmo assim, conservando mais �nfase nas abordagens tem�ticas do que no materialismo e na dial�tica. Sofreu uma segunda transforma��o nos finais dos anos 1970, com trabalhos de Harvey, como The limits to capital (1982), e de Neil Smith, com Uneven Development (1984), assim como pela influ�ncia das id�ias de Henri Lefebvre.

Em oposi��o aos Estados Unidos, a geografia cr�tica ou radical da Europa iniciou com a an�lise de trabalhos do s�culo XIX, escritos, principalmente por Karl Marx, Friedrich Engels, Karl Kautsky, Vladimir I. L�nin, �lis�e R�clus e Kropotkin, sendo estes �ltimos, quase sempre esquecidos pelas escolas tradicionais e pelas escolas modernas da dita �nova geografia�.

Para Andrade (1987), os ge�grafos come�am a se interessar-se pela obra de Marx, principalmente quando o autor analisa alguns conceitos que interessam ao seu campo de estudos como modo de produ��o, forma��o econ�mico-social, rela��o cidade/campo e evolu��o da sociedade por meio das lutas de classe. J� a contribui��o de Engels adv�m de temas geogr�ficos, ao discutir as transforma��es naturais e os problemas urbanos. Kautsky, por sua vez, analisa o problema agr�rio, tornando-se cl�ssico nas ci�ncias sociais.

O movimento dos Ge�grafos sul-americanos

O debate por uma corrente anal�tica alternativa na geografia tamb�m tomava corpo na Am�rica do Sul. Na Argentina e no Uruguai, esta corrente se pautava em uma agenda estruturada em princ�pios valorativos que destacavam �el compromiso intelectual al servicio de la sociedad, el tratamiento de las contrariedades al desarrollo latinoamericano, otra forma de comprender el proceso de ense�anza y aprendizaje, como la necesidad de hacer pol�tica con los instrumentos y conocimientos aportados por la ciencia� (Cicalese, 2007). Essa nova corrente de reflex�o que surge na academia se vale do pensamento social latino-americano, inspirado nas teorias do desenvolvimento, e se apropria de conceitos cl�ssicos do marxismo para entender e intervir no territ�rio. Na geografia, a compreens�o da ordem de prioridades entre os fins da ci�ncia e os da pol�tica tornam-se objeto de uma assimila��o e evolu��o particular[3].

Como os espa�os para a difus�o de id�ias e trabalhos eram ex�guos, tal corrente organiza-se a partir de encontros, como o Primer Encuentro Latinoamericano de la Nueva Geograf�a, que se realiza em 1973, em Salto, no Uruguai, convocado pela Associa��o de Professores de Geografia do Uruguai, tendo aproximadamente uma centena de participantes. O Segundo Encuentro Latinoamericano de la Nueva Geograf�a aconteceu na Universidade Nacional de Comahue, em Neuqu�n, Argentina, tendo mais que o dobro de participantes. Esse encontro aconteceu em fevereiro de 1974, sob um cen�rio pol�tico que rapidamente cairia na clausura.

Cicalese (2007) se ap�ia em depoimento de Elena Chiozza[4]para descrever esse Encontro:

... fue un congreso muy agitado. En un momento de un peronismo triunfante y un peronismo que era adem�s arrollador. Y para los ge�grafos tradicionales fue un congreso revolucionario, ten�a un contenido revolucionario porque se comenz� a tomar conciencia que realmente no pod�amos repetir solamente las posturas te�rico ideol�gicas que nos miraban desde el mundo desarrollado sin comprender la naturaleza de cuales eran  todos los factores que hab�an venido trabajando a lo largo de historia para configurar nuestra geograf�a tal como es. Entonces, frente a esa tradici�n aferrada a lo que se pensaba afuera, y eso era lo �nico que val�a, es claro, reclamar otras formas de enfocar el conocimiento resultaba revolucionaria....

Foram convidados para esse Segundo Encontro, Pierre George, como referencial europeu, e Milton Santos, como referencial latino-americano, propulsores, entre os jovens ge�grafos, de id�ias comprometidas com a realidade social (Mart�nez, 2002), assim como estiveram presentes uma numerosa delega��o uruguaia, entre os quais Germ�n Wettstein e Danilo Ant�n, e ge�grafos argentinos, com destaque para Elena Chiozza e Carlos Reboratti, da Universidade de Buenos Aires, e Ricardo Capitanelli, da Universidade Nacional de Cuyo. Trataram de temas acerca do papel do ge�grafo como profissional, entre outros que marcavam a realidade, indicando a preocupa��o dos participantes em gerir outra Geografia, esta mais comprometida.

Impossibilitado de estar presente, Pierre George enviou o texto Pourquoi la Geographie?, lido por Milton Santos. Destacava o papel da ci�ncia como um saber estrat�gico de governo para a a��o e decis�o, e mostrava a necessidade de vincular seus conte�dos a outras ci�ncias, num interc�mbio imprescind�vel para evitar retratos regionais excessivamente est�ticos. Com rela��o ao texto, Cicalese (2007) observa que: �Si bien se manten�a en alguna medida dentro de los esquemas cl�sicos de la geograf�a regional francesa, se lanzaba a una cr�tica interna en la corriente haciendo ver su inadecuaci�n metodol�gica para el ejercicio de la acci�n sobre el territorio.�

Milton Santos defendeu a necessidade da constru��o de um corpo te�rico latino-americano para compreender, analisar e denunciar os problemas regionais comuns ao Terceiro Mundo, enfatizando as desigualdades sociais e os contrastes com o mundo ocidental desenvolvido. Essa vis�o marcava a diferen�a socioecon�mica do mundo ocidental. Sua presen�a gerou uma impress�o s�lida e inesquec�vel aos ge�grafos riopratenses. Mart�nez (2002) destaca que:

Hay que destacar que este II Encuentro de Neuqu�n marc� un hito en la historia de la Geograf�a Latinoamericana, y especialmente en la Geograf�a argentina, ya que por primera vez se establec�a un contacto humano directo con quienes estaban iniciando otra visi�n en la disciplina. Sin duda esto permiti� la apertura del conocimiento geogr�fico hacia otra forma de construir la ciencia, ya que s�lo conoc�a autores y cient�ficos tradicionales como Federico Daus y Rey Balmaceda. En este contexto, Milton mostr� la necesidad de construir un cuerpo te�rico desde Latinoam�rica, que permitiera analizar, comprender y denunciar los complejos procesos territoriales que estaban en marcha.

O Encontro de Neuqu�n contou com o entusiasmo de boa parte do movimento estudantil e dos convidados, que apresentaram palestras animadas pela esperan�a de transforma��o que se inaugurava no processo pol�tico argentino. As propostas da Nova Geografia eram coincidentes com outras manifesta��es de ge�grafos latino-americanos, especialmente uruguaios, que se encontravam expostos a processos pol�ticos autorit�rios. German Wettstein, em sua palestra El aporte de la Geograf�a al Desarrollo e Integraci�n Latinoamericana, �exp�s um plano de profissionaliza��o e qualifica��o dos ge�grafos para a nova geografia latino-americana, remarcando as discrep�ncias com a geografia tradicional. Wettstein recomendava a articula��o dos centros e grupos de pesquisa de geografia com outras redes interdisciplinares, para superar as condi��es de �subdesenvolvimento da geografia�, quebrando o isolamento que era comum na disciplina. Enfatizava a acriticidade dos ge�grafos, aderindo, sem questionamentos, grandes paradigmas, como por exemplo sem perguntar �a qu� fines pol�ticos respond�an o cooperaban� (Cicalese, 2007).

Como anota Cicalese (2007), ge�grafos uruguaios da Equipe de Geografia Integrada apontam como marco dessa corrente considerada alternativa a publica��o  Le m�tier de g�ographe en pays sous-d�velopp�; un essal m�thodologique, de Milton Santos, publicado em Paris, pela Ophrys (1971), por colocar-se como uma interven��o cr�tica � geografia regional francesa cl�ssica e pleitear a exig�ncia de se adentrar mais intensamente na geografia geral. Outro autor que destacam � Rigoberto Garc�a, ge�grafo colombiano, em sua publica��o Otra geograf�a latinoamericana: algunas reflexiones cr�ticas en torno a la metodologia, publicado na Revista Iberoamericana (v. IV, n. 2, 1974). Para Cicalese (2007),

Garc�a juzgaba negativamente lo que llamaba la enfermedad de la descripci�n, y abogaba por una depuraci�n metodol�gica y filos�fica con una concreta reformulaci�n de los problemas. Embest�a contra el abuso que hac�a la Geograf�a Cuantitativa de sus t�cnicas formales, convirtiendo los medios en fines. Expresaba la escasa relevancia cient�fica de un quehacer dirigido a la aplicaci�n de los modelos matem�ticos y geom�tricos para dar cuenta del espacio, puesto que alegaba que hab�a que enfrentar realidades y necesidades m�s urgentes que limitarse a comprobar modelos que poco serv�an a la comprensi�n.

Cicalese (2007) conclui que a geografia alternativa explorou novos campos e gerou produtos editoriais importantes, por�m a possibilidade de se desenvolver com os avan�os de uma geografia cr�tica, distanciada das pautas da ortodoxia, focalizada no social e com outros instrumentos, na Argentina se malogrou.

Las experiencias de trabajar a la luz del marxismo, la teor�a de la dependencia y otros desarrollos epistemol�gicos latinoamericanos o tercermundistas quedaron reducidas a una m�nima expresi�n. Ocurri� que las determinaciones de un contexto hostil y represivo no permiti� la ocupaci�n de posiciones de campo y su desenvolvimiento. La corriente, si bien expres� un marco valorativo de punto de partida, camino al que parec�a enfilarse si examinamos las proclamas pol�ticas como el listado de temas prioritarios que ya se insinuaban, se le frustr� la posibilidad de un nivel de desarrollo te�rico aceptable. Como desarrollo te�rico queremos decir la construcci�n de un punto de vista admisible y adecuado para abordar la realidad y producir un buen n�mero de trabajos emp�ricos. En suma, un camino de doble comunicaci�n entre ciencia y pol�tica para redefinir las demandas provenientes del campo pol�tico y social, trascendiendo su ret�rica para convertirlas en reglas y pr�cticas del oficio geogr�fico.

Geografia cr�tica no Brasil

As diferentes formas de interpretar a geografia nos anos 1970, tanto na Europa como nas Am�ricas, trazem consigo uma ampla gama de influ�ncias para a geografia brasileira. No entanto, Andrade (1987) chama a aten��o ao fato de que a preocupa��o com os aspectos sociais j� aparece na geografia brasileira desde a d�cada de 1940, nos trabalhos de Caio Prado Jr., tanto em artigos publicados na revista Geografia, quanto em sua obra Forma��o do Brasil Contempor�neo. Destaca tamb�m os trabalhos de S�rgio Buarque de Holanda, de Gilberto Freyre, assim como de Orlando Valverde, que demonstram preocupa��o com os problemas sociais e aprofundam a an�lise das causas, das ra�zes dos problemas.

Manuel Correia de Andrade � outro nome de destaque desse per�odo, expressando grande preocupa��o social em artigos, alguns publicados no Boletim Paulista de Geografia (Andrade, 1977), monografias e livros, por�m chegando a ser rejeitado pelos ge�grafos � seu principal livro na �poca, A pecu�ria no agreste pernambucano, foi mais aplaudido pelos historiadores e soci�logos.

Nessa �poca, o sil�ncio imposto pelo regime militar brasileiro e as pol�ticas de desenvolvimento adotadas, facilitaram a inser��o da corrente da geografia cr�tica no pa�s, no final dos anos 1970. Inicialmente sufocada pelo regime autorit�rio, assim como pela institucionaliza��o da disciplina, essa corrente significou um momento de ruptura n�o s� pol�tica, como epistemol�gica.

Andrade (1987) narra que durante a ditadura militar ocorreu um engajamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) com a pol�tica econ�mica do governo, valendo-se da abstra��o matem�tico-estat�stica. A linha de trabalho adotada pela Institui��o desprezou a problem�tica social e ambiental, chegando ao limite da destrui��o do Conselho Nacional de Geografia.

Esse contexto brasileiro foi prop�cio para que os ge�grafos procurassem novos caminhos para a geografia. Ao tomarem conhecimento das revistas Antipode e Herodote, da qual Milton Santos participava do conselho editorial, os debates em torno da cr�tica na e sobre a geografia se intensificam. Nesse mesmo per�odo, Milton Santos publica Por uma Geografia Nova (1978), obra considerada, por muitos ge�grafos, como uma das primeiras propostas da renova��o da geografia brasileira, tendo um conte�do claramente normativo, avaliando criticamente a geografia tradicional, a crise do pensamento geogr�fico e as principais id�ias de renova��o, efetivadas pela geografia pragm�tica.

Outras publica��es relevantes de cunho cr�tico se espalharam pelo pa�s, particularmente o Boletim Paulista de Geografia, al�m de Territ�rio Livre, Terra Livre, Geonordeste, entre outras.

Carlos (2002: 164) esbo�a um panorama da geografia no Brasil, com base no que foi publicado no Boletim Paulista de Geografia. Com rela��o ao momento de emerg�ncia da geografia cr�tica, aponta que a

d�cada de 1960 marca um momento na geografia brasileira em que se contrap�em duas grandes tend�ncias. No Rio de Janeiro desenvolve-se, no IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica) a chamada New Geography ou Geografia Quantitativa que passa a influenciar a maioria das pesquisas. De fundamenta��o matem�tica, esses trabalhos viam a realidade a partir da perspectiva da regularidade dos fen�menos no espa�o, fazendo da t�cnica um fim em si mesma, enquanto na Universidade de S�o Paulo as pesquisas tomavam um rumo diverso. Contrapondo-se �s id�ias esposadas por Berry e fi�is � escola francesa de interpreta��o da realidade, desenvolvem-se as pesquisas baseadas nos fundamentos da chamada Geografia Ativa, sob a influ�ncia de Pierre George - que nasce da constata��o da extrema mobilidade das situa��es atuais, conduzindo a um estudo ativo que pode inspirar ou guiar as a��es e, que a meu ver, prepara o caminho das grandes transforma��es do final dos anos 70 na Geografia brasileira�.

Para Andrade (1987), a renova��o da geografia se fez presente no Brasil com pesquisas no Laborat�rio de Geomorfologia e Estudos Regionais da Universidade da Bahia, criado por Milton Santos e recebendo muita influ�ncia de Jean Tricart. Em Recife, um conv�nio entre o Instituto Joaquim Nabuco e a Universidade de Recife possibilitou a realiza��o de pesquisas sobre a polui��o h�drica por dejetos industriais.

Santos (1996), al�m de salientar a import�ncia do Boletim Paulista de Geografia, na d�cada de 1970, no qual ge�grafos �sem posto de mando� utilizaram-se da publica��o para lan�ar o movimento e marcar a afirma��o da corrente no Brasil, aponta tamb�m um artigo de sua autoria, criticando a geografia quantitativa de Manuel Correia de Andrade � momento que o colocou numa posi��o de lideran�a no movimento que iniciava. O pr�prio Milton Santos publicou v�rios artigos representativos da abordagem da corrente cr�tica nesse Boletim.

Moreira (1992) cita o 3� Encontro de Ge�grafos, organizado pela Associa��o dos Ge�grafos Brasileiros (AGB), ocorrido em 1978, em Fortaleza, como representativo desse momento de renova��o da geografia. A AGB merece ter sua import�ncia enfatizada, dado seu papel como difusora das novas id�ias e tend�ncias da geografia, tendo publicado em n�meros da �poca do Boletim Paulista de Geografia as id�ias dos protagonistas dessa corrente. Outros ve�culos da AGB tamb�m contribu�ram nessa difus�o, como o Borrador n�1, Teoria e M�todo da Geografia, assim como a s�rie Sele��o de Textos que divulgava obras cl�ssicas obrigadas, pelo regime dominante, � circula��o restrita no Brasil (Zusman, 1996).

Um esfor�o consider�vel para difundir uma nova abordagem da geografia foi a tradu��o para o portugu�s da obra A Geografia Ativa (George et al., 1966), pelos professores da Universidade de S�o Paulo: Gil Toledo, Manuel Seabra, Nelson de La Corte e Vicenzo Bochichio � equipe que registrava a presen�a de docentes de disciplinas ligadas � geografia humana, f�sica e � cartografia.

Contemporaneamente � constru��o dessa obra, come�a no Brasil a preocupa��o com os estudos urbanos, tem�ticas associadas � cidade e � regi�o, bem como com as rela��es cidade campo, juntamente com trabalhos de pesquisa que promoveram um aumento significativo das teses produzidas nas universidades brasileiras.

Nessa �poca, Milton Santos estava rec�m reintegrado � vida acad�mica brasileira, afastado do pa�s por 13 anos, por imposi��o do regime militar � per�odo em que foi membro da USG e do comit� de reda��o de Herodote, al�m de ter editado um n�mero da Antipode, como ressalta Mattson (1978), que o aponta como �uno de los ge�grafos radicales m�s prol�ficos y viajeros�. Sua viv�ncia internacional agu�a seu intento de aprofundar a reflex�o sobre o Terceiro Mundo, valendo-se de referencial te�rico de outras disciplinas, particularmente oriundo do marxismo, conjugado � vis�o existencialista de Sartre. Conforme Zusman (1996), essa perspectiva filos�fica apoia o objetivo teleol�gico de sua pr�tica cient�fica: a reconstru��o social para a liberta��o do homem.

Na instaura��o desse processo renovador, Milton Santos busca apontar as �fal�ncias epistemol�gicas� da geografia e indicar �rumos� para superar essas fraquezas disciplinares. Reconhece o v�nculo da geografia com o Estado e o seu papel �propagand�stico� na forma��o dos Estados Nacionais e de expans�o colonial; a institucionaliza��o disciplinar e a escolha de uma estrat�gia epistemol�gica baseada nos conceitos das ci�ncias naturais, significando a deshistoriza��o e, portanto, a deshumaniza��o dos processos sociais; o empirismo abstrato, qual seja, a substitui��o das rela��es sociais por rela��es entre objetos; e o di�logo reduzido com outros saberes ou o isolacionismo da geografia (Santos, 1996). Moraes (1999) afirma que a proposta de Milton Santos � uma das mais amplas e acabadas da geografia cr�tica, apesar de tamb�m serem abordados nas suas pesquisas alguns aspectos mais espec�ficos.

Carlos (2002) aponta que a geografia radical passa a fundamentar, no Brasil, a esmagadora maioria dos trabalhos na �rea de geografia humana, contrapondo-se, violentamente, ao neopositivismo assumido pela geografia quantitativa. A corrente coloca em xeque o saber geogr�fico, abrindo perspectiva para se pensar a espacialidade das rela��es sociais.

O seu maior m�rito foi, sem d�vida, a preocupa��o te�rica que surge com toda for�a e marca o per�odo. �Um cidad�o que n�o teoriza � um cidad�o de segunda classe� e o poder da geografia � dado pela sua capacidade de entender a realidade em que vivemos, afirmava, na �poca, o professor Milton Santos� (Carlos, 2002: 164).

Para Andrade (1987: 101), a geografia cr�tica provocou o renascimento da geografia pol�tica, desvinculada da geopol�tica, que voltou a considerar o papel do Estado na produ��o e reprodu��o do seu espa�o interno, em �estudos que vieram contribuir para que o planejamento deixasse de ser muito tecnocr�tico e passasse a levar em conta caracter�sticas e interesses regionais e locais�. O autor ressalta as potencialidades existentes nos estudos envolvendo a pol�tica, pois, por um lado, o contexto do Brasil frente aos pa�ses africanos e da Am�rica do Sul o coloca como grande l�der nas rela��es internacionais. Por outro lado, os projetos de ocupa��o da Amaz�nia e do Centro-Oeste do pa�s demandam dos ge�grafos in�meros estudos voltados para a viabilidade desses projetos e os impactos resultantes dos mesmos em �reas de fragilidade elevada. Conclui que: às tentativas de despolitiza��o da geografia brasileira, est�o seguindo intensas campanhas em sentido contr�rio, de politiza��o e de conscientiza��o dos problemas da sociedade (Andrade, 1987: 101).

Lembra esse autor, que a geografia cr�tica n�o s� promoveu transforma��es na geografia humana como na geografia f�sica. Tricart passou a defender princ�pios de zonalidades em processos geomorfol�gicos, din�micas clim�ticas etc. Essa dualidade da geografia � muito atentamente considerada por Sposito (2002), ao referir-se � corrente cr�tica, que refor�a a condi��o de inseparabilidade entre o ambiental e o social, recomendando que, nessa unidade, n�o se considere o natural como objeto e o ser humano como sujeito.

Mais recentemente, a corrente cr�tica da geografia brasileira vem desempenhando importante papel nos debates sobre o atual est�gio do capitalismo e o acirramento das desigualdades sociais e territoriais. Uma s�rie de eventos cient�ficos realizados, particularmente na Universidade de S�o Paulo[5], reativam a discuss�o disciplinar para compreender as mudan�as do mundo contempor�neo no processo de globaliza��o. Milton Santos teve papel central na organiza��o desses eventos, tendo sido homenageado no Encontro Internacional O mundo do Cidad�o. Um cidad�o do Mundo, no qual foi discutida sua obra.

Os resultados desses momentos de debate repercutiram na comunidade acad�mica latino-americana. Mart�nez (2002) situa esses encontros como verdadeiros laborat�rios de trabalho intelectual onde se constru�a a Geografia.

As�, se produjo un f�rtil intercambio entre nuestras investigaciones y los conocimientos de aquellos ge�grafos (�). En los encuentros estaban presentes Paul Claval, Oliver Dollfus de Francia, Horacio Capel, Joan-Eugen� Sanchez, Joaqu�n Bosque Maurel y Aurora Garc�a Ballesteros de Espa�a, Richard Peet, Neil Smith, Saskia Sassen y Eduard Soja de Estados Unidos, Renato Ortiz, Otavio Ianni y Manoel Correia de Andrade de Brasil, Graciela Uribe Ortega de M�xico, entre otros. Este contacto directo signific� presenciar la construcci�n de una nueva manera de hacer Geograf�a. Sin duda, estas reuniones nos marcaron otra forma de estudiar, investigar, transmitir y comprender el mundo contempor�neo a trav�s de la Geograf�a.

A concep��o marxista na Geografia

Com a instigante quest�o �por que uma geografia radical deve ser marxista?�, Folke (1972) discute artigo "Teoria revolucion�ria e contra-revolucion�ria em geografia e o problema da forma��o do gueto� de Harvey, publicado na Antipode em 1972, que abre novas vias no campo da geografia[6]. Pondera que o desenvolvimento te�rico das ci�ncias sociais, incluindo a geografia, reflete os interesses da classe dominante. Por�m, as rela��es entre as classes e a pr�pria base material da sociedade est�o em constante mudan�a, sob impacto de crescentes contradi��es, tens�es econ�micas e sociais. �Junto con los cambios en las bases materiales se abren nuevas posibilidades para el desarrollo de una ciencia social diferente que puede servir a su vez como gu�a para un cambio social posterior�.

Esse � o argumento que inspira Harvey a reconhecer que o paradigma da geograf�a de base positivista est� maduro para ser desfeito, porque �existen demasiadas anomal�as entre lo que queremos explicar y manipular y lo que actualmente ocurre� (Harvey, 1972). Folke (1972) salienta que Harvey descarta as alternativas fenomenol�gicas e idealistas, assinalando que o pensamento marxista � o mais correto para a cria��o de um novo paradigma geogr�fico. Alguns trechos selecionados do texto do pr�prio Harvey (1972) tornam clara essa posi��o.

C�mo y porqu� llevar�amos a cabo una revoluci�n en el pensamiento geogr�fico? La revoluci�n cuantitativa ha seguido su curso y aparentemente los resultados son cada vez menos interesantes [�]. Adem�s, existe gente m�s joven ahora, ambiciosos como lo fueron los "cuantitativos" a principios de los a�os sesenta, un poco sedientos, y en cierto modo hambrientos de cosas interesantes que hacer. [�] M�s importante todav�a es la existencia de una clara disparidad entre la sofisticada estructura te�rica y metodol�gica que estamos utilizando y nuestra capacidad de decir algo realmente significativo sobre los acontecimientos tal como se desarrollan a nuestro alrededor. [�] Las condiciones sociales objetivas requieren que digamos algo sensible y coherente o que (a causa de la falta de credibilidad o, lo que es peor incluso, a causa de la posterior deteriorizaci�n de las condiciones sociales objetivas) que permanezcamos callados para siempre. Son las condiciones sociales objetivas que est�n surgiendo y nuestra patente incapacidad para hacerles frente lo que explica en esencia la necesidad de una revoluci�n en el pensamiento geogr�fico.

Com base na an�lise da apropria��o e uso do solo urbano, Harvey passa a demonstrar a impot�ncia da teoria tradicional frente ao problema da forma��o do gueto e a possibilidade de compreens�o aberto pelo sistema marxista. Mais tarde, como destaca Soja (1993: 58), Harvey (1985: 144, apud Soja, 1993) afirma: �a geografia hist�rica do capitalismo tem que ser objeto de nossa teoriza��o, e o materialismo hist�rico-geogr�fico, o m�todo de investiga��o�. Com efeito, o debate cr�tico teve como express�o a afirma��o de um materialismo hist�rico profundamente espacializado.

Diniz Filho (2002: 83) aponta a influ�ncia decisiva que o marxismo exerceu na g�nese da geografia cr�tica, manifestando-se em quatro esferas estreitamente complementares:

a) no plano epistemol�gico, subsidiando os esfor�os de redefini��o do objeto da disciplina, fornecendo um m�todo de an�lise que se procurava aplicar a esse objeto e ainda um discurso que atribu�a ao m�todo marxista uma cientificidade inquestion�vel;

b) no plano te�rico, por oferecer uma teoria cr�tica ampla do capitalismo e um sistema de conceitos e teorias mais espec�ficas pass�veis de serem aplicadas no estudo de temas geogr�ficos;

c) na esfera ideol�gica, moldando (e ao mesmo tempo se moldando) � vis�o de mundo dos ge�grafos, isto �, �s representa��es e valores simb�licos que orientam seus posicionamentos pol�ticos;

d) no plano deontol�gico, estabelecendo a exist�ncia de um estrito v�nculo entre ci�ncia, �tica e pol�tica e enfatizando a necessidade da a��o militante, a qual deveria tomar por base os pressupostos te�ricos e metodol�gicos mencionados para assumir um car�ter cient�fico e transformador.

Dial�tica, tempo e espa�o

Componente fundamental da base te�rico-metodol�gica da geografia cr�tica, dial�tica origina-se de dialegein, que significa discutir, e exprime a luta das id�ias contr�rias. Conforme Engels (1950: 392, apud Politzer et al., 1970: 28), a �dial�tica considera as coisas e os conceitos no seu encadeamento; suas rela��es m�tuas, sua a��o rec�proca e as decorrentes modifica��es m�tuas, seu nascimento, seu desenvolvimento, sua decad�ncia�. Sua origem enquanto m�todo se d� exatamente quando a ci�ncia avan�a o suficiente para abarcar o estudo sistem�tico dos elementos naturais, suas modifica��es no seio da pr�pria natureza, colocando em xeque a concep��o apoiada na metaf�sica.

A dial�tica deve ser entendida como a ci�ncia das leis gerais do movimento e desenvolvimento da natureza e pensamento humanos, pautando-se na transforma��o da quantidade em qualidade, na unidade e interpreta��o dos contr�rios e na nega��o da nega��o (Sposito, 2002). A assun��o de id�ias dominantes se d� sob a forma ideol�gica, da� sua import�ncia para se explicar os conflitos latentes entre classes ou grupos distintos na sociedade capitalista e a intermedia��o do Estado como mediador e como diminuidor das possibilidades de conflito.

Para Sposito (2002), a interpreta��o geogr�fica de problemas do espa�o se sustenta nos princ�pios dessa doutrina, como a rela��o causa-efeito, o princ�pio da determina��o e indetermina��o, que cria din�micas territoriais, a diferencia��o entre processo e cronologia, e o princ�pio da auto-regula��o, que cria novas ordens. Esse conjunto embasa epistemologicamente as transforma��es provocadas pela incorpora��o, apropria��o e transforma��o da natureza nos dois �ltimos s�culos, dadas nas rela��es de produ��o.

Nas an�lises da geografia cr�tica o dimensionamento temporal � recorrente. Sposito (2002) busca em Bourdieu o argumento de que o conhecimento cient�fico se inspira na convic��o de que n�o se pode capturar a l�gica mais profunda do mundo social a n�o ser submergindo na particularidade de uma realidade emp�rica, historicamente situada e datada.

A dimens�o hist�rico-temporal precisa ser abordada dialeticamente, com base na teoria da totalidade concreta. A complexidade da apreens�o desse m�todo est� na pr�pria compreens�o do que � a totalidade concreta: um princ�pio metodol�gico da investiga��o dial�tica da realidade social.

Um fen�meno social � um fato hist�rico, na medida em que � examinado como um momento do todo. Para Lefebvre (1995: 9), o �conhecimento deve, em todos os seus dom�nios, partir da unidade dos dois aspectos contradit�rios do universo: o fenomenal e o essencial, ��ntima e objetivamente, misturados. A an�lise quebra e separa a totalidade a qual n�s devemos em seguida reencontrar.�

Santos (1996), considerando que a totalidade concreta volta-se para responder a quest�o �o que � a realidade?�, argumenta que o todo � uma realidade fugaz, porque est� sempre se desfazendo para voltar a se fazer. Refuta autores que alegam a inexist�ncia do todo, afirmando que o que existe � apenas sua constru��o, dado que ele seria inalcan��vel. Explica que, na realidade, h� uma totalidade concreta das coisas e das a��es, do mundo em movimento, tal como a geografia descreve e busca explicar. Esse cont�nuo acontecer se d� em diferentes tempos. Assim, o tempo � a base indispens�vel para compreender o espa�o.

Se as a��es sobre um conjunto de objetos se dessem segundo tempos iguais n�o haveria hist�ria; o mundo seria im�vel. Mas o mundo � m�vel, em transforma��o permanente � formando uma totalidade em processo de mudan�a para surgir amanh� como uma nova totalidade (Santos, 1996: 167)

[Diz ainda,] nem sempre atingimos o TODO CONCRETO, embora o busquemos sempre. O todo concreto seria toda a superf�cie da Terra. Mas o que atingimos � um peda�o da Terra, uma fra��o do acontecer humano. (p. 164)

Historiando a geografia marxista e a teoria social cr�tica, no tocante � no��o de espa�o e com a escolha do materialismo hist�rico-geogr�fico como m�todo de investiga��o, Soja (1993) demonstra que a rela��o no espa�o � composta por uma dial�tica socioespacial, na qual o papel do espa�o � t�o ativo quanto o da pr�pria sociedade, sendo imposs�vel a exist�ncia de uma �determina��o unidirecional� entre estes elementos. Em sua cr�tica, argumenta que a geografia passou por um per�odo de isolacionismo ao mesmo tempo em que o marxismo �escondeu� a imagina��o geogr�fica, numa not�ria �desespacializa��o� do discurso. Soja (1993: 21) aponta que as �primeiras vozes insistentes da geografia cr�tica� surgiram no fim dos anos 1960, permanecendo por mais de uma d�cada sob a reafirma��o da primazia da hist�ria sobre a geografia. O historicismo, em suas palavras, silenciava a espacialidade, n�o admitia que �essas �hist�rias de vida� t�m tamb�m uma geografia: t�m ambientes, locais imediatos e localiza��es provocativas que afetam o pensamento e a a��o�.

Dentre as vozes que ecoaram, Henri Lefebvre � apontado por Soja (1993: 24) como a �mais persistente, insistente e coerente�, a fonte primordial do ataque ao historicismo e da reafirma��o do espa�o na teoria social cr�tica, com uma teoriza��o sobre produ��o social do espa�o. Destaca tamb�m Michel Foucault, pelas suas observa��es expl�citas e reveladoras sobre a import�ncia relativa do espa�o e do tempo. Desse autor, Soja (1993: 17) resgata uma observa��o sintetizadora da obsess�o com o tempo e a hist�ria presente no pensamento cr�tico do s�culo XIX: �O espa�o foi tratado como morto, o fixo, o n�o-dial�tico, o im�vel. O tempo, ao contr�rio, era a riqueza, a fecundidade, a vida, a dial�tica� (Foucault, 1980: 70, apud Soja, 1993).

Soja (1993: 25) rememora que �Foucault concentrou nossa aten��o numa outra espacialidade da vida social, num �espa�o externo� � o espa�o efetivamente vivido (e socialmente produzido) dos locais e das rela��es (...)�, e que Foucault assumia o espa�o como fundamental para qualquer forma de vida comunit�ria assim como para qualquer exerc�cio de poder, e salientava a interse��o entre o tempo e o espa�o.

A proposta da geografia cr�tica e o debate em torno do espa�o, enquanto categoria de an�lise, assumem uma dimens�o filos�fica. Para Carlos (2002: 164), a �supera��o da id�ia de espa�o enquanto palco da atividade humana criava a condi��o de analisar a realidade al�m de seu plano fenom�nico colocando em debate a articula��o dial�tica entre homem e natureza; com isso, abria-se numa nova perspectiva para a geografia.� A autora aponta que se rompe a postura positivista do �mist�rio da origem do fen�meno�; ou mesmo da id�ia de correspond�ncia e solidariedade entre os fen�menos, desenvolvida por Vidal de La Blache.

O materialismo dial�tico estruturava a base do conhecimento enquanto adequa��o do pensamento e do ser; de um conhecimento que n�o se reduziria ao pensamento abstrato, antes o articularia � dimens�o da pr�tica social enquanto conte�do do real, levando a compreens�o do car�ter contradit�rio das rela��es que produzem o espa�o geogr�fico, permitindo orientar o pensamento para a a��o, num esfor�o de compreender o conte�do te�rico da sociedade em seu processo contradit�rio de humaniza��o/desumaniza��o do homem em suas condi��es concretas de exist�ncia. Nesta perspectiva, o espa�o � entendido como produto de um processo de rela��es reais que a sociedade estabelece com a natureza (primeira ou segunda). A sociedade n�o � passiva diante da natureza; existe um processo dial�tico entre ambas que reproduz, constantemente, espa�o e sociedade, diferenciados em fun��o de momentos hist�ricos espec�ficos e diferenciados.

Nesse sentido, o espa�o � humano n�o porque o homem o habita, mas porque o produz. Um produto desigual e contradit�rio � imagem e semelhan�a da sociedade que o produziu com seu trabalho. Por sua vez, o homem � visto enquanto membro indissoci�vel da sociedade de classes imersas em suas contradi��es, introduzindo a id�ia do envolvimento consciente do sujeito no processo hist�rico da qual faz parte e n�o mais como membro de uma coletividade, integrante um grupo homog�neo, implodindo, por exemplo, com os conte�dos da ent�o geografia da popula��o� (Carlos, 2002: 165).

Mas, � na cr�tica � abordagem espacial na teoria marxista que o espa�o consolida sua centralidade nesta corrente da geografia. Conforme Corr�a (2001: 24), concomitantemente ao debate deflagrado por Claval (1977 e 1987, �apud Corr�a, 2001), Harvey, em 1975, divulga artigo �no qual ele pretende construir geograficamente a teoria marxiana, cuja dimens�o espacial foi largamente ignorada�. Em 1979, tal negligenciamento � retomado por Soja e Hadjimichalis, para quem, tamb�m conforme Corr�a (2001: 24), �os marxistas tinham abordado o espa�o de modo semelhante �quele das ci�ncias burguesas, considerando-o como um recept�culo ou como um espelho externo da sociedade�. Soja aprofunda essa discuss�o em seu Geografias p�s-modernas (1993).

Corr�a (2001: 24) afirma ainda que �o vi�s antiespacialista� do marxismo decorre de outra raz�o, pois �remonta � cr�tica de Marx � �nfase que Hegel d� ao espa�o, reificado e fetichizado na forma do Estado territorial. Marx procura enfatizar o tempo e a temporalidade, que foram elevados � primazia na filosofia e ci�ncia ocidental�. Foi a crise do capitalismo dos anos 1960 que exp�s as m�ltiplas contradi��es espaciais, que suscitariam �a necessidade de exercer maior controle sobre a reprodu��o das rela��es de produ��o em todos os n�veis espaciais� (Corr�a, 2001: 25).

Lefebvre efetivamente colocou o espa�o na an�lise marxista, argumentando em sua obra Espacio y pol�tica (1976, apud Corr�a, 2001)que o espa�o tem papel decisivo na estrutura��o de uma totalidade. Segundo Corr�a (2001: 25):

O espa�o entendido como espa�o social, vivido, em estreita correla��o com a pr�tica social n�o deve ser visto como um espa�o absoluto, �vazio e puro, lugar por excel�ncia dos n�meros e das propor��es� (Lefebvre, 1976: 29), nem mesmo como um produto da sociedade, �ponto de reuni�o dos objetos produzidos, o conjunto das coisas que ocupam e de seus subconjuntos, efetuado, objetivado, portanto funcional� (Lefebvre, 1976: 30). O espa�o n�o � nem o ponto de partida (espa�o absoluto), nem o ponto de chegada (espa�o como um produto social).

Prossegue Corr�a (2001), mostrando que o espa�o tampouco � um instrumento pol�tico ou um campo de a��es ligado ao processo de reprodu��o da for�a do trabalho, por meio do consumo. Transcreve de Lefebvre (1976: 34, apud Corr�a, 2001) a afirma��o de que o espa�o ultrapassa tudo isso, estando �essencialmente vinculado com a reprodu��o das rela��es (sociais) de produ��o.� Seria, pois, o locus da reprodu��o da sociedade.

Santos, com forte inspira��o em Lefebvre, quanto � concep��o de espa�o social, estabelece o conceito de forma��o s�cio-espacial, admitindo, segundo Corr�a (2001: 26) �n�o ser poss�vel conceber uma determinada forma��o s�cio-econ�mica sem se recorrer ao espa�o. Segundo ele, modo de produ��o, forma��o s�cio-econ�mica e espa�o s�o categorias interdependentes�.

Para Santos (1977: 5, apud Corr�a, 2001), �as formas espaciais constituem uma linguagem dos modos de produ��o�. Sociedade e espa�o n�o s�o inst�ncias separadas, mas uma forma��o, e assim, a sociedade s� se concretiza atrav�s do seu espa�o. Conforme o autor (1996: 170), a abordagem do espa�o, nessa corrente, deveria responder � indaga��o: �como ocupar espa�o?� Trabalhar com espa�o n�o deve significar apenas categoriz�-lo, buscar categorias anal�ticas que o contemplem, manter-se apenas no discurso do espa�o, o que n�o permite a an�lise. A constru��o te�rica deveria ser diferente do discurso, ou seja, promover �a busca de um sistema de instrumentos de an�lise que prov�m de uma vis�o da realidade e que permite, de um lado, intervir sobre a realidade como pensador e, de outro, reconstruir permanentemente aquilo que se chamar� ou n�o de teoria� (Santos, 1996: 171).

Numa observa��o marcante quanto � dificuldade de produ��o de um discurso que contemplasse as especificidades do espa�o, Santos adverte a necessidade de tirar a geografia da �viuvez� do espa�o, ou seja, como bem esclarece Zusman (1996: 31), �legitimar o saber geogr�fico com base em um corpo te�rico particular em torno da quest�o do espa�o�. A ado��o da met�fora da �viuvez�, presente em Por uma Geografia Nova (Santos, 1996), segundo Corr�a (2001), remete � neglig�ncia dos ge�grafos para com o espa�o, apresentando-o como fator social, n�o como reflexo.

Milton Santos tamb�m argumenta que � necess�rio discutir o espa�o social e ver como objeto � produ��o do espa�o. Tal espa�o � hist�rico, obra do trabalho, morada do homem, sendo uma categoria de compreens�o da realidade. Afirma que o espa�o tamb�m � um fator, na medida em que se caracteriza como uma acumula��o de trabalho, uma incorpora��o de capital na superf�cie terrestre, criando formas dur�veis, denominadas de �rugosidades�. Estas criam imposi��es sobre a a��o presente na sociedade, sendo uma �in�rcia din�mica� (tempo incorporado na paisagem) que dura mais que o processo que as criou, sendo tamb�m uma heran�a espacial, que influi no presente. Por esta raz�o, o espa�o tamb�m � uma inst�ncia, pois � uma estrutura fixa com uma determina��o que atua no movimento da totalidade social. Portanto as formas espaciais s�o resultados de processos passados, mas tamb�m condi��es para processos futuros.

Sobre a atividade produtiva no espa�o, Milton Santos argumenta que a mesma implica em uma a��o sobre a superf�cie terrestre, que sempre est� se recriando em novas formas, de tal maneira que �produzir � produzir o espa�o�. Neste caso, a organiza��o do espa�o � determinada pela tecnologia, pela cultura e pela organiza��o da sociedade. No caso do modo de produ��o capitalista, � imposto o ritmo de acumula��o que implica uma dota��o diferencial de instrumentos de trabalho, e com isso resulta em uma distribui��o no espa�o �desigual e combinada�.

Outros autores adotam concep��o em linha similar. Segundo Moreira (1982a), o objeto da geografia � o espa�o, constituinte de parte de uma totalidade; j� explicar esta �totalidade social historicamente determinada� � definida pelo conceito de �forma��o econ�mico-social� (FES) � � o seu objetivo. A investiga��o dos arranjos espaciais atrav�s da FES confere � geografia a capacidade de �desvendar m�scaras sociais�, revelando as rela��es de classes que estruturam tais arranjos.

Moreira (1982a) argumenta que o espa�o n�o � �suporte�, �substrato� ou �recept�culo� das a��es humanas, nem se confunde com o espa�o f�sico. O espa�o geogr�fico � um espa�o produzido, uma �forma��o espacial�. Nessa forma��o, a �primeira natureza� � uma condi��o concreta de sua exist�ncia social, por ser condi��o concreta da exist�ncia humana. Mesmo que a primeira natureza n�o seja o espa�o geogr�fico, n�o h�, no entanto, espa�o geogr�fico sem ela, e ela somente � incorporada ao espa�o geogr�fico quando absorvida pelo processo da hist�ria.

Para ele, a transforma��o do meio depende necessariamente do trabalho social, que � agente de muta��o do homem de um �ser animal� para um �ser social�, combinando estes dois momentos em todo o decorrer da hist�ria humana (Moreira, 1982a). Assim, �a forma��o espacial, na verdade uma forma��o econ�mico-social�, deriva de um duplo conjunto de intera��es articuladas: intera��es homem/meio, �erroneamente denominadas �rela��es geogr�ficas�� e intera��es homem/homem, �as rela��es sociais�. Moreira, nessa concep��o, n�o ignora as proposi��es de Milton Santos, quanto � �forma��o s�cio-espacial�, nem de Henri Lefebvre, que concebe o espa�o geogr�fico como �espa�o social�, por�m n�o tece rela��es entre essas e sua proposi��o.

Para Moraes e Costa (1982), o objeto da geografia seria o processo social de valoriza��o do espa�o. Esta valoriza��o se torna necess�ria pela impossibilidade do espa�o ser tomado por si apenas em sua exist�ncia e individualidade, mas deveria ser considerada como resultado da rela��o sociedade/espa�o.

Diante de tais concep��es, h� que se atentar para uma diferen�a de compreens�o do espa�o no �mbito dos ge�grafos de linha marxista. Zusman (1996) mostra sutis detalhes da diferen�a entre as abordagens de Moreira (1982b) e de Moraes e Costa (1982), da de Milton Santos. Para o primeiro, �� a express�o fenom�nica do �modo de socializa��o� da natureza (...) e condi��o da reprodu��o�. Para os demais, a revaloriza��o do espa�o (valor contido) e no espa�o (valor criado) permite a compreens�o do papel da apropria��o territorial, no �mbito do exerc�cio do poder, como momento da acumula��o do capital.

Mesmo que para Santos o espa�o tamb�m seja funcional ao modo de produ��o, sua �nfase recai �no processo de produ��o do espa�o no momento em que a sociedade se apropria da natureza, processo que adquire ao mesmo tempo car�ter global e diferenciado nos diferentes pontos do planeta� (Zusman, 1996: 31). Ele supera a pol�mica do espa�o enquanto um fator, inst�ncia da sociedade ou mero reflexo dessa, apresentando-o como um fato social, e requerendo, para descri��o de suas particularidades o reconhecimento de seu papel na sociedade. Assim, uma teoria do espa�o est� submetida a uma teoria da sociedade (Santos, 1982).

Dessa forma, a geografia passa a pensar o homem enquanto sujeito, ser social e hist�rico �que produz o mundo e a si pr�prio, num processo amplo de reprodu��o, ultrapassando a mera reprodu��o biol�gica e material� (Carlos, 2002: 165).

Avan�ando em sua an�lise, Santos coloca que as diferen�as entre os lugares s�o naturais e hist�ricas, e que a varia��o da organiza��o do espa�o � fruto de uma acumula��o desigual de tempo, sendo uma combina��o de vari�veis, res�duos vivificados pelo tempo presente e unificados pelo Estado. Portanto ocorre um cont�nuo processo de moderniza��o, que n�o atinge todos os lugares ao mesmo tempo, obedecendo aos est�mulos do Estado e � l�gica do capital. Nesse aspecto, este processo define os usos do solo, a apropria��o da natureza, as rela��es entre os lugares, e a organiza��o do espa�o como um todo, fortemente marcado pelas desigualdades e seletividades. Com isso, este processo deve ser objeto de preocupa��o dos ge�grafos, tendo em vista uma geografia mais generosa ao observar o espa�o como um lugar de luta.

Leituras d�spares

A despeito do peso do marxismo como orienta��o dessa corrente, embora a geografia cr�tica tenha princ�pios e objetivos bastante claros e comuns, convive constantemente com propostas d�spares. Assim n�o se trata de um conjunto monol�tico, mas, ao contr�rio, � um agrupamento de perspectivas diferenciadas (Moraes, 1999). Sua unidade manifesta-se na postura de oposi��o a uma realidade social e espacial contradit�ria e injusta, por�m este objetivo unit�rio fundamenta-se por meio de procedimentos metodol�gicos diversificados, considerando, al�m dos marxistas (em suas v�rias nuan�as), os estruturalistas, existencialistas, anal�ticos, ecl�ticos, entre outros.

A postura dessa corrente para um discurso cr�tico da realidade � fundamentada em um amplo e diverso espectro de autores, como Adorno, Foucault, Mao-Tse-Tung, Lefort, Godelier, Barthes, L�nin, Sartre, entre outros. Portanto existe uma unidade �tica pautada por uma diversidade epistemol�gica que, para Moraes (1999), � bastante ben�fica, pois estimula um amplo debate, gerando pol�micas e com isso avan�ando em suas coloca��es.

No grupo dos ge�grafos cr�ticos ou radicais norte-americanos existiam grandes subdivis�es: as correntes formadas por ge�grafos n�o-marxistas, mas comprometidos com reformas sociais, sendo alguns de forma��o anarquista, ligados originalmente aos discursos de �lis�e R�clus e Kropotkin, em suas criticas � sociedade burguesa; e a corrente formada por ge�grafos marxistas.

Dos textos dos ge�grafos marxistas, h� grande diversifica��o entre as suas postula��es, como salienta Andrade (1987). Em linhas gerais, distingue aqueles que aceitaram Marx como um pensador, como fil�sofo e procuraram aplicar sua teoria � pr�xis ao analisar as situa��es que se lhes apresentam para estudo, preocupando-se com os problemas da totalidade, dando grande import�ncia � an�lise das forma��es econ�mico-sociais e dos modos de produ��o. Outro aspecto importante desse grupo � que levam em conta que Marx viveu e estudou a Europa no s�culo XIX, n�o podendo haver transposi��o dos seus pensamentos sem uma adapta��o, tanto para outros continentes como para a �poca.

Contr�rios a essa id�ia, outro grupo de ge�grafos aceita Marx como um doutrinador e o marxismo como um doutrina, e seus seguidores procuram transferir as categorias de Marx para a realidade do s�culo XX e para todos os continentes. Al�m disso, tamb�m se preocupam em enriquecer, ao m�ximo, os seus textos, com cita��es de Marx, de Kautsky, de L�nin etc. Tal comportamento torna f�cil entender o porqu� desses ge�grafos serem taxados marxistas ortodoxos, pois em geral, prov�m de uma forma��o neopositivista e l�em Marx atrav�s de uma formula��o positivista, como se o marxismo n�o fosse uma filosofia dial�tica. Dessa forma, Andrade (1987: 123) afirma que h�, �naturalmente, um distanciamento cada vez maior entre marxistas e marx�logos, entre ortodoxos e heterodoxos�.

Sua observa��o se confirma no fato de que, nos anos 1980, os debates sobre a teoriza��o do espa�o e do tempo, em todos os campos do discurso cr�tico, expandiram para al�m da geografia marxista, atraindo para a discuss�o participantes que n�o se enquadram no que se convencionou chamar �marxista�, tampouco se restringem a ge�grafos. A proposta transformadora da geografia cr�tica e a busca da compreens�o e da organiza��o do espa�o, em conson�ncia com os interesses da sociedade, colocam significados espec�ficos aos conceitos de sociedade, espa�o, territ�rio, regi�o (diferen�as regionais) e lugar � este, recuperado na obra de Milton Santos, particularmente quando discute o processo de globaliza��o.

A Geografia Cr�tica hoje

A corrente cr�tica pode ser enaltecida como um movimento de renova��o do pensamento geogr�fico, tendo desempenhado um papel not�rio na evolu��o do enfoque e do m�todo na geografia. Entretanto, foi objeto de severas cr�ticas.

Uma das cr�ticas � a de que sua constru��o te�rica se manteve muito pr�xima apenas do n�vel do discurso, expressando dificuldade da busca te�rica sobre os conceitos fundantes da geografia. Uma busca de certa forma �atrofiada�, como diz Santos (1996), uma �pregui�a epistemol�gica�, que causou problemas � consolida��o da corrente. Outros problemas decorrem de que sua base, �que seria a hist�ria do presente, n�o teve for�a suficiente.� Prossegue Santos (1996: 171) alertando que o �entendimento do mundo de hoje � um problema para os intelectuais brasileiros�. A pesquisa concentra-se em abordagens localizadas, perdendo a no��o de totalidade dos acontecimentos, atrasando a elabora��o te�rica.

Andrade (1987) adverte que os estudos geogr�ficos procedentes da corrente radical ou cr�tica n�o podem ser considerados como uma nova escola de pensamento, pois n�o apresentam uniformidade. Por�m, os ge�grafos que se enquadram nessa linha de pensamento se destacam pela consci�ncia dos in�meros problemas sociais. Ao grupo dos ge�grafos cr�ticos, esse autor destaca duas caracter�sticas: a primeira se referindo aos profissionais classificados como radicais, pois procuravam ir �s ra�zes das causas dos problemas sociais; a segunda, aos ge�grafos denominados cr�ticos, pois assumiram compromissos ideol�gicos, n�o se escondendo dos problemas existentes sob falsas neutralidades cient�ficas.

Para Carlos (2002: 165), a dificuldade surgida nessa perspectiva de an�lise refere-se ao m�todo, pois, embora o materialismo hist�rico fosse a base das pesquisas, a partir dele se produziu uma vertente econ�mica para a qual �o homem aparece enquanto for�a de trabalho e o espa�o como um produto direto da a��o do capital. Nesse sentido, negligenciou-se o significado da no��o de produ��o bem como o sentido social da reprodu��o.�

Muitos pesquisadores buscaram em Marx categorias anal�ticas, como nas an�lises urbanas, para as quais foi transportada a teoria da renda da terra, desenvolvida por Marx para pensar o campo; ou em muitos casos em que o materialismo dial�tico foi empregado mais enquanto �forma de linguagem� do que enquanto teoria e m�todo capaz de �desvendar o mundo moderno, atrav�s da geografia� (Carlos, 2002: 165). Houve, mesmo, uma vulgariza��o da obra de Marx, um fen�meno de �moda�, causando �uma forte deturpa��o do pensamento de Marx com o aparecimento de n marxismos�, com esse pensamento cristalizado, imobilizado em modelos, impossibilitado de gerar reflex�es cr�ticas de seu pr�prio conte�do. Isso �n�o produziu um movimento conseq�ente em dire��o � supera��o de suas id�ias, afinal as an�lises realizadas por Marx se referiam �s an�lises do per�odo hist�rico do capitalismo concorrencial� (Carlos, 2002: 165-166).

Santos (1996: 172) anota que alguns pensadores dessa corrente prenderam-se ao marxismo de Marx como uma ideologia, trabalhando �com uma hist�ria que n�o existe mais, da� uma certa fixidez dos conceitos.� Outros autores dedicaram-se � cr�tica do marxismo por dentro, do pr�prio legado de Marx, como o caminho aberto por Henri Lefebvre, particularmente quanto � cidade e ao urbano, como destaca Soja (1993: 57).

A dial�tica est� novamente em pauta. Mas, j� n�o se trata da dial�tica de Marx, tal como a de Marx n�o era mais a de Hegel (...). A dial�tica de hoje n�o se apega � historicidade e ao tempo hist�rico, ou a um mecanismo temporal como �tese-ant�tese-s�ntese� ou �afirma��o-nega��o-nega��o da nega��o� (...). Reconhecer o espa�o, reconhecer o que �est� acontecendo� ali e para que � usado, � retomar a dial�tica; a an�lise revelar� as contradi��es do espa�o (Lefebvre, 1976: 14 e 17, apud Corr�a, 2001).

Na dire��o oposta, houve, tamb�m, por parte de alguns ge�grafos, uma rejei��o ao marxismo; alguns buscaram o caminho do ecletismo, outros se fascinaram com a possibilidade da an�lise fenomenol�gica, apoiada fundamentalmente em Husserl e Hartman, como observa Carlos (2002).

Diniz Filho (2002: 84-85) argumenta que o �pecado original� da geografia marxista foi a leitura dogm�tica das obras de Marx e dos cl�ssicos do pensamento marxista, numa assimila��o por demais simplificada. Admite que o marxismo continua a ter grande influ�ncia, mas o marxismo com o qual os ge�grafos atualmente trabalham � o mesmo marxismo �vulgar e dogm�tico� caracter�stico das d�cadas de 1970 e 1980. O posicionamento pol�tico-ideol�gico que muitos cientistas ainda possuem com rela��o ao marxismo, faz com que a corrente cr�tica necessite rever suas discuss�es deontol�gicas. Para ele, a utiliza��o de jarg�es marxistas, a id�ia de que �todos� os problemas s�o resultado da l�gica perversa do capitalismo, a demoniza��o de palavras como lucro e mercado, a oposi��o simpl�ria entre capitalismo e socialismo, e o n�o reconhecimento dos marcos da rela��o entre desenvolvimento econ�mico e bem-estar social em sociedades capitalistas, contra todas as evid�ncias emp�ricas, fazem com que o discurso cr�tico esteja hoje desgastado.

A despeito dessas vis�es, que sugerem repensar a geografia cr�tica, admitindo a possibilidade do mercado no estabelecimento de um espa�o de sociabilidade, para muitos ge�grafos a import�ncia dessa corrente persiste nas possibilidades de compreender as l�gicas perversas do capitalismo em seu est�gio contempor�neo. Para Moreira (2002), a geografia cr�tica contribui para analisar as m�ltiplas facetas do capitalismo atual. Roberto Lobato Corr�a (1991 e 2001) reitera a preocupa��o com o futuro, presente hoje na geografia, resultante dos efeitos da globaliza��o.

Na �nfase � import�ncia da geografia, em sua leitura cr�tica dos processos atuais, a obra recente de Santos � paradigm�tica. Concebendo a globaliza��o enquanto �met�fora�, Santos (1996b e 2000), enseja a espacializa��o, atribuindo ao lugar a realiza��o da articula��o local/global. Para ele, o mundo � apenas um conjunto de possibilidades cuja efetiva��o depende das oportunidades oferecidas pelos lugares, que garantem ao movimento do mundo a possibilidade de sua realiza��o mais eficaz. A ordem global busca impor em todos os lugares sua racionalidade; mas este processo � profundamente desigual e contradit�rio, reproduzindo-se no terceiro mundo �como perversidade�, refletindo o modo como o processo capitalista se realiza. A an�lise de Milton Santos sobre esse momento da hist�ria aponta outra dire��o, entendendo o espa�o, hoje, enquanto meio t�cnico-cient�fico-informacional, para o qual se privilegia a media��o da t�cnica como elemento definidor da nossa realidade.

Soja (1993), ap�s analisar a presen�a do marxismo no interior da an�lise geogr�fica e da geografia, com a teoria do espa�o, no pr�prio marxismo ocidental, aponta para uma reconstru��o da geografia humana cr�tica, ou sua passagem para a p�s-modernidade. Mostra a forte ader�ncia das modalidades geogr�ficas de an�lise aos debates pol�ticos e te�ricos contempor�neos � como nunca ocorrido antes. Entretanto, � ainda �provis�ria e limitada em seu impacto, pois a espacializa��o da teoria cr�tica e a constru��o de um novo materialismo hist�rico-geogr�fico mal come�aram� (Soja, 1993: 77).

No contexto contempor�neo, outra cultura do tempo e do espa�o vem se formando e redefinindo a natureza e a experi�ncia da vida cotidiana. Conforme Soja (1993), tais mudan�as tamb�m redefinem a import�ncia e a centralidade de categorias e fronteiras da pesquisa acad�mica, de modo geral, consequentemente da geografia. Cita como representantes desta transforma��o, novamente Lefebvre e Foucault, cujas trajet�rias intelectuais �cruzam-se na constru��o e reconstru��o contempor�neas da modernidade� (Soja, 1993: 78).

Esses autores consolidaram suas afirma��es sobre a import�ncia da espacialidade, em momento hist�rico de profunda reestrutura��o da economia. Reconheceram que �� mais o espa�o que o tempo que oculta as coisas de n�s, de que a desmistifica��o da espacialidade e de sua velada instrumenta��o de poder � a chave para dar um sentido pr�tico, pol�tico e te�rico � era contempor�nea� (Soja, 1993: 58).

A geografia e as ci�ncias sociais como um todo tentam hoje responder �s perguntas de um mundo em constitui��o, apontando para uma evidente crise te�rica, argumenta Carlos (2002), referindo-se � compress�o do tempo, como conseq��ncia do desenvolvimento da ci�ncia e da tecnologia aplicados ao processo produtivo, provocando profundas e amplas transforma��es espaciais. Ressalta a reafirma��o do espa�o, dada sua crescente import�ncia para as estrat�gias da reprodu��o, e da categoria de lugar, que ultrapassa a id�ia de exist�ncia particular.

Para Carlos (2002: 177), a volta ao empirismo, a recusa do debate te�rico na pesquisa que se desdobra e se limita ao plano fenom�nico, ou ainda na postura que reduz os problemas atuais a uma possibilidade t�cnica, viabilizando a produ��o econ�mica (e, com isso, atendendo �s necessidades da acumula��o), revelam uma crise te�rica na geografia.

Invadida, hoje, pelo discurso da p�s-modernidade, a Geografia, �s vezes, sucumbe diante da necessidade da n�o-teoriza��o dos temas de sua al�ada, o que revela, a meu ver, um recuo e coloca uma necessidade. Superados os debates dos anos 70, que propunham a necessidade de repensar a Geografia e sua contribui��o para o desvendamento do mundo, apoiada no legado marxista, como embasamento da constru��o de um pensamento radical, onde se centraria, a potencialidade da cr�tica radical, hoje, da Geografia, quando muitos falam do abandono deste legado?

Na mesma dire��o, ao analisar a �confus�o intelectual e o discurso te�rico obscuro da corrente das ci�ncias sociais p�s-modernas�, Castro (2005: 12-13) alerta-nos para os riscos dessas perspectivas, pois podem �produzir mais apatia do que a��o no necess�rio engajamento para a transforma��o do mundo em dire��o a uma maior justi�a distributiva.�

Nesse sentido, Santos (1996a: 172) considera que muitas vezes a necessidade de ser cr�tico opera como se o anal�tico fosse dispens�vel. Para ele, �quando a cr�tica n�o � acompanhada pela an�lise, ela permite a mobiliza��o, mas n�o a constru��o�.

Consolidando e mantendo a atualidade da reflex�o te�rica sobre o tema, a geografia cr�tica continua promovendo debates. Henrique (2002), em relato sobre a III Confer�ncia Internacional sobre Geografia Cr�tica, realizada na Hungria, em 2002, numa promo��o do International Critical Geographical Group, observa a centralidade das pesquisas em fatos do momento, n�o sem import�ncia, mas em abordagens que carecem de um enfoque metodol�gico cient�fico. Cita o enfraquecimento e a desconsidera��o, ou a aparente marginalidade da geografia cr�tica, nos dias de hoje, que �pode ser entendida como resultado de um pragmatismo que afeta toda a geografia, onde observamos um crescente abandono da teoria para uma maior aplica��o da disciplina definida por necessidades dos mercados de trabalho atuais� (Henrique, 2002).

Ressalta tamb�m o poder renovador e transformador que uma explica��o realmente cr�tica do espa�o geogr�fico atual pode construir, cuja compreens�o dos movimentos contradit�rios e dial�ticos do mundo � imprescind�vel para a supera��o dos processos de domina��o e controle, desigualdade e falta de oportunidades, explora��o e marginalidade, pobreza e fome vigentes.

� o que est� impl�cito em alguns cap�tulos da obra Unifying geography - Common heritage, shared future (Mathews e Herbert, 2004), que contempla a rela��o homem/natureza, como o elemento dual e indissoci�vel da geografia, enfatizando a necess�ria intera��o entre a geografia f�sica e a geografia humana. Esses campos de interesse da ci�ncia geogr�fica v�m alimentando o cl�ssico e recorrente debate sobre a dualidade e dicotomia da geografia. Para Mendon�a (2005: 139), ambos �s�o de fundamental import�ncia para a composi��o do seu status enquanto campo do conhecimento humano, particularmente quando de sua consolida��o enquanto ci�ncia moderna�.

Nesse aspecto, num dos textos da citada obra Unwin e Rose (2004) constroem um di�logo simb�lico entre representantes da geografia f�sica e da geografia humana, concluindo que essa divis�o bin�ria � nociva ao desenvolvimento da ci�ncia, assim como impede sua contribui��o verdadeira na busca de solu��es aos problemas da sociedade.

Outros textos da obra incorporam elementos do discurso cr�tico em sua reflex�o. Douglas e Gilbert (2004) se voltam a apontar como os ge�grafos, usando os saberes da geografia, podem transformar a realidade social � exatamente na linha do que afirma Santos (1996), de que �n�o basta explicar o mundo, pois cumpre transform�-lo�. Para eles, o conhecimento t�cnico dos ge�grafos associado ao saber das comunidades e �s pr�ticas dos governos possibilitaria a constru��o de uma vis�o integrada e apropriada do espa�o, que extrapola a abordagem acad�mica e que se aplica na busca de solu��es aos graves problemas decorrentes da combina��o urbaniza��o/pobreza/meio ambiente. Correlata a essa combina��o, a reflex�o sobre os desastres geof�sicos deve apoiar-se na concep��o da manifesta��o espacial das pr�ticas sociais e de solu��es articuladas para superar seus efeitos sobre as popula��es. O papel da governan�a e a import�ncia da aproxima��o do trabalho do ge�grafo � a��o do Estado e � defini��o de pol�ticas p�blicas tamb�m refletem uma compreens�o da geografia cr�tica quanto ao significado desse agente na produ��o ou na dire��o da organiza��o do espa�o.

Robson e Shove (2004), em outra abordagem, alertam quanto � possibilidade da inger�ncia de interesses pol�ticos na constru��o da agenda e na condu��o das pesquisas acad�micas, assim como na formula��o de pol�ticas p�blicas, beneficiando segmentos financiadores em detrimento da sociedade como um todo. Todos os temas apontados deram corpo ao inesgotado debate cr�tico.

Mostrando a import�ncia da geografia, em especial a geografia cr�tica, para entender e explicar o espa�o geogr�fico, e assim ser usada como ferramenta pol�tica para movimentar o mundo, Henrique (2002) resgata de Milton Santos (1978: 219) a reflex�o:

Os ge�grafos, ao lado de outros cientistas sociais, devem se preparar para colocar os fundamentos de um espa�o verdadeiramente humano, um espa�o que una os homens por e para o seu trabalho, mas n�o para em seguida os separar em classes, entre exploradores e explorados; um espa�o mat�ria inerte trabalhado pelo homem, mas n�o para se voltar contra ele; um espa�o natureza social aberta a contempla��o direta dos seres humanos, e n�o um artif�cio; um espa�o instrumento de reprodu��o da vida, e n�o uma mercadoria trabalhada por uma outra mercadoria, o homem artificializado.

Perspectivas para a geografia cr�tica

� relevante o legado da geografia cr�tica para a ci�ncia geogr�fica, no sentido de colocar �nfase na compreens�o das l�gicas e processos socioespaciais, e na no��o intr�nseca de que o pesquisador deve assumir postura cr�tica perante os fatos.

Alguns estudos sugerem que, com a queda do bloco socialista, os rumos da corrente cr�tica se esvaneceriam. Verifica-se, entretanto, que orienta��es metodol�gicas e apontamentos para a constru��o da agenda de pesquisa na geografia, oriundas de autores nacionais e internacionais, remetem para procedimentos efetivamente adotados pela corrente da geografia cr�tica.

A pr�pria preocupa��o e recomenda��o expressa na obra de Milton Santos, de desvendar as fabula��es que emanam do atual est�gio de acumula��o do capital, confirmam uma postura cr�tica diante da realidade, cuja compreens�o pode pautar-se no m�todo dial�tico, e a��es que devem transcender os meios acad�micos e impregnar a pr�tica social.

S�o in�meros os textos e autores que refor�am, na atualidade, a perspectiva adotada pela corrente cr�tica, clamando a intera��o entre os meios acad�micos, governamentais e sociedade civil, n�o s� na busca de um conhecimento acumulado nas v�rias esferas de atua��o, como na consecu��o de estrat�gias que enfrentem a crescente desigualdade social e territorial contempor�nea. Cobram um posicionamento mais ativo do ge�grafo frente aos problemas do mundo, dando centralidade � preocupa��o da corrente cr�tica, contribuindo na renova��o do que seria uma verdadeira totalidade geogr�fica: nem dicot�mica nem dualista, mas unificada para a constru��o da prosperidade humana.

A geografia cr�tica renovou o pensamento geogr�fico, principalmente por admitir o papel da divis�o social e territorial do trabalho. Permitiu e vem possibilitando a exposi��o de l�gicas, processos, agentes. Da mesma forma, politizou o debate sobre espa�o, territ�rio e ambiente, assumindo temas como domina��o, controle, exclus�o, desigualdade socioespacial, pobreza e vulnerabilidade. Em alguns casos, aproximou-se da geografia f�sica, como por exemplo, nos trabalhos que discutem os problemas ambientais numa �tica cr�tica, relacionando a crise da sociedade ao modelo de desenvolvimento dos pa�ses industrializados e � cultura do consumo, al�m de salientar enfoques socioambientais.

Assim, esta corrente, entre outras, apesar de algumas falhas, trouxe e segue trazendo contribui��es fundamentais � geografia. Teve seu auge, pois na �poca da sua ascens�o vivia-se mundialmente a efervesc�ncia de um per�odo de intensa contesta��o, raz�o que sublinha sua caracter�stica extremamente cr�tica. Evidentemente, sofreu os entraves do m�todo e da ortodoxia na ado��o dogm�tica, por um lado, e da rejei��o, por outro, da teoria marxista. Foi, algumas vezes, apenas cr�tica, adotando excessivo pragmatismo, sem conseq��ncia na an�lise, tornando-se merecedora, apenas nesses casos, de ser sumarizada como panflet�ria. R�tulo que em hip�tese alguma deve ser generalizado como caracter�stica da corrente.

A geografia, portanto, deve reconhecer a import�ncia de sua vertente cr�tica, consolidando seus pressupostos essenciais: buscar uma vis�o de totalidade e construir an�lises que incorporem a dimens�o pol�tica em seu objetivo de compreender as din�micas espa�o/sociedade/natureza. Deve, tamb�m, permanecer atenta �s mistifica��es decorrentes de jogos de interesse, que esvaziam de significado ou at� recusam o debate te�rico contempor�neo, apropriando-se da t�cnica em busca de ampliar as margens da acumula��o.

Em rela��o � crise ou ao fim da geografia cr�tica, talvez ela se insira no �mbito da pr�pria crise contempor�nea das ci�ncias sociais. Esta vertente de estudo n�o sucumbiu, apenas se reformula em novas perspectivas. O debate sobre a geografia cr�tica permanece, pois, recorrente, dado que enriquece a hist�ria de sua trajet�ria e estabelece novas formas de estudo, mantendo-a apta para entender e explicar o espa�o geogr�fico.

Notas

[*]Sobre os autores

Rosa Moura é geógrafa do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES) e do Observatório das Metrópoles/Instituto do Milênio/CNPq; é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e docente do curso de especialização em Análise Ambiental do mesmo Programa.

Deuseles de Oliveira é professor de Geografia da Secretaria de Estado da Educação e mestrando no Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFPR.

Helena dos Santos Lisboa é geógrafa, Pós-graduada em Educação, Meio Ambiente e Desenvolvimento, e mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFPR.

Leandro Martins Fontoura é turismólogo, pós-graduado em análise ambiental pela Universidade Federal de Juiz de Fora e mestre em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFPR; docente do curso de turismo nas faculdades Facinter (Faculdade Internacional de Curitiba) e Isulpar (Instituto Superior do Litoral do Paraná).

Juliano Geraldi é arquiteto e urbanista da Companhia de Habitação do Paraná, pós-graduado em Gestão Técnica do Meio Urbano pelo GTU Internacional e Universitè de Technologie de Compiègne, e em Desenvolvimento Regional pelo Programa de Pós-Graduação em Economia Rural da UFPR.

[1] Obra de Daniel Hiernaux-Nicolás (La geografía como metáfora de la libertad. Textos de Eliseo Reclus. Centro de Investigaciones Científicas Tamayo/Plaza y Valdés editores, México, 1999, 314 págs. ISBN 968-856-655-1) reúne textos "militantes" e históricos de Réclus (1830-1905), que revelam sua orientação política, e textos de conteúdo geográfico, que assinalam sua inquietude com a ação do capital no espaço urbano, rompendo com os ideais modernos sobre a cidade. Ver resenha em Vargas (1999).

[2] Geo Crítica. Cuadernos críticos de geografía humana. Año I, n. 4, julio de 1976. Nota introdutória ao texto de David Harvey, �Teoría revolucionaria y contrarrevolucionaria en geografía y el problema de la formación del ghetto�, originalmente publicado em Antipode, v. 4, n. 2, em 1972.

[3] Cabe destacar que Cicalese (2007) aponta como importante referência aos debates que se abrem sobre a Nova Geografia, a reflexão que tinha centro na Faculdade de Ciências Exatas e Naturais da Universidade de Buenos Aires, sobre políticas científicas e a objetividade e ideologia na ciência e a técnica. Entre os autores, destaca Carlos Varsavsky, cuja reflexão social delimita o conceito de cientificismo, particularmente sua apropriação pelo esquema desenvolvimentista da época, particularmente, a ainda tímida, porém crescente, influência no financiamento dos programas de empresas e fundações estrangeiras. O livro mais popular de Varsavsky, Ciencia, política y cientificismo, foi editado pela primeira vez em 1969, e reimpresso em seis edições entre 1969 e 1975, pelo Centro Editor de América Latina (CEAL).

[4] Segundo Cicalese (2007), em entrevista realizada em 25/08/2006, na Universidad Nacional de Luján, Buenos Aires. Elena Chiozza, entre outras importantes obras, participou da produção de Argentina. Suma de Geografía, obra em nove tomos lançados entre 1958 e 1962, que se tornou referência obrigatória para estudantes de ensino de Geografia, particularmente nos anos 1970.

[5] É o caso dos eventos realizados pelo Departamento de Geografia da Faculdade de Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo: Encontro Internacional O novo mapa do mundo, em 1992; Seminário Território. Globalização e fragmentação, em 1993, Encontro Internacional Lugar, formação socioespacial, mundo, em 1994, e o já citado Encontro Internacional O mundo do cidadão. Um cidadão do mundo.

[6] O debate travado em torno do artigo de David Harvey também foi resgatado pela publicação Geo Crítica. Cuadernos Críticos de Geografía Humana, ano I, n. 4, jul. 1976, disponível em http://www.ub.es/geocrit/geo5.htm .

Bibliografia

ANDRADE, Manuel Correia de. Geografia, ci�ncia da sociedade: uma introdu��o � an�lise do pensamento geogr�fico. S�o Paulo: Atlas, 1987.

ANDRADE, Manuel Correia de. O pensamento geogr�fico e a realidade brasileira. Boletim Paulista de Geografia, n. 54. S�o Paulo: Associa��o dos Ge�grafos Brasileiros, 1977.

BLAUT, James M. The Dissenting Tradition. Annals of the Association of American Geographers, 69:1, 1979, p. 157-164 (Apud COBARRUBIAS, 2006).

BUNGE, William. The First Years of the Detroit Geographical Expedition: a Personal Report. In: PEET, Richard (Ed). Radical Geography: Alternative Viewpoints on Contemporary Issues. Chicago: Marroufa Press, 1977 (Apud COBARRUBIAS, 2006).

CARLOS, Ana Fani Alessandri. A geografia brasileira, hoje: algumas reflex�es. Terra Livre. S�o Paulo, ano 18, v. I, n. 18, p. 161-178, jan./jun. 2002.

CASTRO, In� Elias de. Geografia e pol�tica: territ�rio, escalas de a��o e institui��es. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.

CICALESE, Guillermo Gustavo. Ortodoxia, ideolog�a y compromiso pol�tico en la geograf�a argentina  en la d�cada de 1970. Biblio 3W. Revista Bibliogr�fica de Geograf�a y Ciencias Sociales (Serie documental de Geo Cr�tica). Universidad de Barcelona, v. XII, n. 767, dez. 2007. Dispon�vel em: http://www.ub.es/geocrit/b3w-767.htm (Acesso em mar�o de 2008).

CLAVAL, Paul. Le Marxisme et l�Espace. L�Espace Geographique. Paris, n. 3, v. 6, 1977, p. 145-164 (Apud CORR�A, 2001).

CLAVAL, Paul. Le Neo-Merxisme et l�Espace. L�Espace Geographique. Paris, n. 16, v. 6, 1987, p. 161-166 (Apud CORR�A, 2001).

COBARRUBIAS, Sebastian. The Academy in Activism and Activism in the Academy: Collaborative Research Methodologies and Radical Geography. Dispon�vel em http://www.euromovements.info/html/radical-geography.htm (Acesso em maio de 2006).

CORR�A, Roberto Lobato. As correntes do pensamento geogr�fico. In: CORR�A, R.L. Regi�o e organiza��o espacial. S�o Paulo: �tica, 1991.

CORR�A, Roberto Lobato. Espa�o, um conceito-chave da geografia. In: CASTRO, I.E. de; GOMES, P. C. da C.; CORR�A, R.L. (Org.) Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.

CORR�A, Roberto Lobato. O espa�o geogr�fico: algumas considera��es. In: SANTOS, M. (Org.) Novos rumos da geografia brasileira. S�o Paulo: Hucitec, 1982.

DINIZ FILHO, Luis Lopes. Certa m� heran�a marxista: elementos para repensar a geografia cr�tica. In: MENDON�A, F.; KOZEL, S. (Org.) Elementos da epistemologia da contempor�nea. Curitiba: Editora da UFPR, 2002.

DOUGLAS, Ian; GILBERT, Alan G. Urbanization, development and the environment in a unequal world. In: MATHEWS, J.A.; HERBERT, D. Unifying geography. Common heritage, shared future. Oxfordshire: Routledge, 2004.

ENGELS, Friedrich. Anti-D�bring. Paris: �d. Sociales, 1950 (Apud POLITZER et al., 1970).

FOLKE, Steen. Why a radical Geography must be Marxist. Originalmente publicado em Antipode. A radical Journal of Geography, Worcester, Mass: v. 4 n. 2, jul. 1972, p. 13. Traduzido para o espanhol e publicado em Geo Cr�tica. Cuadernos cr�ticos de Geograf�a Humana. Universidade de Barcelona, ano I, n. 5, set. 1976. Dispon�vel em http://www.ub.es/geocrit/geo5.htm (Acesso em junho de 2007).

FOUCAULT, Michel. Questions on Geography. In: GORDON, C. (org.). Power/Knowledge: selected interviews and other writings, 1972-1977. Nova Cork: Pantheon, 1980 (Apud SOJA, 1993).

GEORGE, Pierre. Problemas, doutrina e m�todo. In: GEORGE, P.; LACOSTE, Y.; KAYSER, B.; GUGLIELMO, R. A Geografia Ativa. S�o Paulo: Difus�o Europ�ia do Livro/Editora da USP, 1966.

GEORGE, Pierre; LACOSTE, Yves; KAYSER, Bernard; GUGLIELMO, Raymond. A Geografia Ativa. S�o Paulo, Difus�o Europ�ia do Livro/Editora da USP, 1966. Tradu��o de Gil Toledo, Manuel Seabra, Nelson de La Corte e Vicenzo Bochichio.

HARVEY, David. Revolut�onary and counterrevolut�onaty theory �n Geography and the problem of ghetto formar�an. Originalmente publicado em Antipode. A radical Journal of Geography . Worcester, Mass, v. IV, n. 2, 1972, p. 1-13. Traduzido para o espanhol e publicado em Geo Cr�tica. Cuadernos cr�ticos de geograf�a humana. Universidade de Barcelona, ano I, n. 4, jul. 1976. Dispon�vel em http://www.ub.es/geocrit/geo4.htm (Acesso em junho de 2007).

HARVEY, David. Spaces of capital: towards a critical geography. New York: Routledge, 2001 (Apud COBARRUBIAS, 2006).

HARVEY, David. The geography of capitalist accumulation: a reconstruction of marxism theory. Antipode, Worcester, n. 2, v. 7, 1975, p. 9-21 (Apud CORR�A, 2001).

HARVEY, David. The urbanization of capital. Baltimore: Johns Hopkins University Press/ Oxford: Basil Blackwell, 1985 (Apud SOJA, 1993).

HARVEY, David; SMITH, Neil. Geography: from Capitals to Capital. In OLLMAN, B.; VERNOFF, E. (Eds.) The Left Academy: Marxist Scholarship on American Campuses, Volume II. New Cork: Praeger, 1984 (Apud COBARRUBIAS, 2006).

HENRIQUE, Wendel. Pela continuidade da Geograf�a Cr�tica. Sobre a Third International Conference of Critical Geography. Biblio 3w. Revista Bibliogr�fica de Geograf�a y Ciencias Sociales. Universidad de Barcelona, v. VII, n. 400, set. 2002. Dispon�vel em http://www.ub.es/geocrit/b3w-400.htm (Acesso em maio de 2006).

LACOSTE, Yves. A geografia � isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. 2a ed. Campinas: Papirus, 1989.

LEFEBVRE, Henri. Espacio y pol�tica. Barcelona: Ediciones Peninsula, 1976 � original em franc�s de 1973 (Apud CORR�A, 2001).

LEFEBVRE, Henri. La notion de totalit� dans les Sciences Sociales. Cahier Internationaux de Sociologie, v. XVIII, jan./jun. 1995, Paris, PUF, p. 55-77. Tradu��o de Luis A. B. Ventini.

MART�NEZ, Mar�a N�lida. Milton Santos en Neuqu�n, Argentina: una presencia que marc� rumbos. In: El ciudadano, la globalizaci�n y la geograf�a. Homenaje a Milton Santos. Scripta Nova. Revista Electr�nica de Geograf�a y Ciencias Sociales, Universidad de Barcelona, v. VI, n. 124, set. 2002. Dispon�vel em http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-124.htm (Acesso em mar�o de 2008).

MATHEWS, J.A.; HERBERT, D. Unifying geography. Common heritage, shared future. Oxfordshire: Routledge, 2004.

MATTSON, Kirk. Una introducci�n a la geograf�a radical. Geo Cr�tica. Cuadernos Cr�ticos de Geograf�a Humana. Universidade de Barcelona, ano III, n. 13, jan. 1978. Dispon�vel em http://www.ub.es/geocrit/geo13.htm (Acesso em junho de 2007).

MENDON�A, Francisco. Resenha: Unifying Geography. RA�E GA. Curitiba: Editora UFPR, n. 10, 2005, p. 139-140.

MORAES, Antonio Carlos Robert de. Geografia: pequena hist�ria cr�tica. 16� ed. S�o Paulo: Hucitec, 1999.

MORAES, Antonio Carlos Robert de; COSTA, Wanderley Messias da. A geografia e o processo de valoriza��o do espa�o. In: SANTOS, M. (Org.) Novos rumos da geografia brasileira. S�o Paulo: Hucitec, 1982.

MOREIRA, Ruy. A geografia serve para desvendar m�scaras sociais. In: MOREIRA, R. (org.) Geografia: teoria e cr�tica. Petr�polis: Vozes, 1982a.

MOREIRA, Ruy. Assim se passaram dez anos (a renova��o da geografia no Brasil 1978-1988). Caderno Prudentino de Geografia, 14. Presidente Prudente, AGB, jun., 1992.

MOREIRA, Ruy. Repensando a geografia. In: SANTOS, M. (Org.) Novos rumos da geografia brasileira. S�o Paulo: Hucitec, 1982b.

MOREIRA, Ruy. Velhos temas, novas formas. In. MENDON�A, F.; KOZEL, S. (Orgs.). Elementos de epistemologia da geografia contempor�nea. Curitiba: Editora da UFPR, 2002.

PEET, Richard. Modern geographical thougth. Oxford: Blackwell, 1998 (Apud SILVA, 2000).

PEET, Richard. O desenvolvimento da geografia radical nos Estados Unidos. In: CHRISTOFOLETTI, A. (Org.). Perspectivas da Geografia. S�o Paulo: Difel, 1982 (Apud HENRIQUE, 2002).

PEET, Richard. The development of radical geography in the United States. In: PEET, R. (ed). Radical Geography: Alternative Viewpoints on Contemporary Issues. Chicago: Marroufa Press, 1977 (Apud COBARRUBIAS, 2006).

POLITZER, George; BESSE, Guy; CAVEING, Maurice. Princ�pios fundamentais de filosofia. S�o Paulo: Hemus, 1970.

ROBSON, Brian; SHOVE, Elizabeth. Geography and public policy. A political turn. In: MATHEWS, J.A.; HERBERT, D. Unifying geography. Common heritage, shared future. Oxfordshire: Routledge, 2004.

SANTOS, Milton. Para que a geografia mude sem ficar a mesma coisa. Boletim Paulista de Geografia, n. 59, 1982.

SANTOS, Milton. Por uma geografia nova. 1� ed. 1978; 4� ed. S�o Paulo: Hucitec, 1996.

SANTOS, Milton. Society and space: social formation as theory and method. Ant�pode. Worcester, n. 1, v. 9, 1977, p. 3-13 (Apud CORR�A, 2001).

SANTOS, Milton. T�cnica, espa�o, tempo. Globaliza��o e meio t�cnico-cientifico informacional. S�o Paulo: Hucitec, 1996.

SILVA, Carlos Nunes. O p�s-positivismo na geografia humana. Finisterra, XXXV, 69, 2000, p. 151-154. Dispon�vel em http://www.ceg.ul.pt/finisterra/numeros/2000-69/69_08.pd (Acesso em maio de 2006).

SOJA, Edward. Geografias p�s-modernas. A reafirma��o do espa�o na teoria social cr�tica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1993.

SOJA, Edward; HADJIMICHALIS, C. Between geographical materialism and spatial an�lisis. Ant�pode. Worcester, n .11, v. 3, p. 3-11 (Apud CORR�A, 2001).

SPOSITO, Eliseu S. Pequenas argumenta��es para uma tem�tica complexa. In: MENDON�A, F.;KOSEL S. (Orgs.). Elementos de Epistemologia da Geografia Contempor�nea. Curitiba: Ed. da UFPR, 2002.

UNWIN, Tim; ROSE, Jim. Regions, Area Studies and the Meaning of Place. In: MATHEWS, J.A.; HERBERT, D. Unifying geography. Common heritage, shared future. Oxfordshire: Routledge, 2004.

VARGAS, H�ctor Mendoza. Daniel Hiernaux-Nicol�s. La geograf�a como met�fora de la libertad. Textos de Eliseo Reclus. Resenha. Biblio 3W. Revista Bibliogr�fica de Geograf�a y Ciencias Sociales. Universidade de Barcelona, n. 163, jun. 1999. Dispon�vel em http://www.ub.es/geocrit/b3w-163.htm (Acesso em junho de 2007).

ZUSMAN, Perla B. Milton Santos e a metamorfose da geografia brasileira. In: CARLOS, A.F.A. (Org.) Ensaios de Geografia Contempor�nea. Milton Santos, obra revisitada. S�o Paulo: Hucitec, 1996.

©Rosa Moura, Deuseles de Oliveira, Helena dos Santos Lisboa, Leandro Martins Fontoura, Juliano Geraldi, 2008
© Biblio3W, 2008

Ficha bibliográfica:

MOURA, Rosa; OLIVEIRA, Deuseles de; LISBOA, Helena dos Santos; FONTOURA, Leandro Martins, GERALDI, Juliano. Geografia Crítica: legado histórico ou abordagem recorrente? Biblio 3W, Revista Bibliográfica de Geografía y Ciencias Sociales , Universidad de Barcelona, Vol. XIII, nº 786, 5 de junio de 2008. <http://www.ub.es/geocrit/b3w-786.htm>. [ISSN 1138-9796].


Volver al menú principal

Que correntes de pensamento geográfico foram definidas pelos geógrafos europeus?

Volver al índice de Biblio 3W

Que correntes de pensamento geográfico foram definidas pelos geógrafos europeus explique as?

A sistematização da Geografia teve inicio em meados do século XIX, com Humboldt e Ritter. Derivando destes dois autores surgem as correntes de pensamento geográfico. Destacam-se como correntes de pensamento geográfico: o Determinismo Ambiental, o Possibilismo, o Método Regional, a Nova Geografia e a Geografia Crítica.

Quais são as 5 correntes do pensamento geográfico?

Correntes do Pensamento Geográfico.
I) Geografia Moderna. ... .
II) Geografia Tradicional. ... .
III) Geografia Quantitativa/Teórica/Nova Geografia. ... .
IV) Geografia Crítica/Radical. ... .
V) Geografia Humanista..

Quais são as duas importantes correntes do pensamento geográfico?

O expansionismo do Império Alemão, arquitetado pelo primeiro-ministro da Prússia Otto von Bismarck (1815-1898), foi legitimado pelas duas principais correntes de pensamento ratzeliano, o determinismo geográfico e o espaço vital (espaço necessário à sobrevivência de uma dada comunidade).

Quais são as três correntes da nova geografia?

A seguir delineamos as principais correntes de pensamento na geografia moderna e suas diferentes abordagens e formas de entender o mundo..
Determinismo geográfico. ... .
Possibilismo geográfico. ... .
Método regional. ... .
Geografia teorética ou quantitativa. ... .
Geografia crítica. ... .
Fenomenologia ou Geografia humanística. ... .
Geopolítica..