Industrialização
Atualmente o cenário industrial do Brasil é amplo, mas nem sempre foi assim. Isso tudo foi conquistado aos poucos, tornando-se um dos elementos básicos da economia de determinadas regiões.
O processo de industrialização teve início no Brasil na década de 1930, quando a dependência econômica levou o país a ruir na crise de 1929. O Plano de Metas surgiu na década de 1950 intensificando o processo, ampliando a produção industrial brasileira.
A indústria automobilística consolidou-se na região de São Paulo, sendo este fator fundamental para a concentração do parque industrial brasileiro nesta cidade e em sua região metropolitana.
Esse rápido desenvolvimento acabou gerando a urbanização de forma precária, assim como a migração de muitas pessoas de diversas regiões do país que buscavam emprego e melhores condições de vida.
Ao final do século XX, a cidade era a maior do país e a quarta maior do mundo, tendo mais de 20 milhões de habitantes – cidade e região metropolitana, enquanto só a capital possuía 11 milhões.
Foto: Reprodução
Espaço industrial
A implementação da indústria carrega elementos que transformam a cultura, a economia e o espaço ocupado por ela, trazendo impactos, inclusive, para o meio ambiente.
A indústria concentrava-se no Sudeste do Brasil devido ao processo histórico pelo qual passou no início da industrialização. Devido à cafeicultura, a região possuía os fatores primordiais para a instalação destas. O plano de metas, e outros planos governamentais, além disso, deu mais intensidade à essa concentração, pois destacava a região.
No entanto, o processo da industrialização não se deu por todo o Sudeste, sendo mais presente na região de São Paulo. Isso produzia espaços geográficos diferenciados e, consequentemente, desigualdade na própria região.
Distribuição das indústrias
Antes, como citamos acima, a indústria concentrava-se na região sudeste do Brasil, mas nos dias de hoje passou a ser melhor distribuída por todo o país. Segundo uma tendência mundial, o Brasil tem passado por essa desindustrialização, que vem ocorrendo dentro do ABCD Paulista.
A partir da década de 1980, houveram grandes esforços do governo para descentralizar as indústrias, mas isso somente começou a ser algo efetivo a partir de 1990.
As indústrias tem buscado menores custos de produção, e encontram isso no interior paulista. As áreas como o Vale do Paraíba e ao longo da Rodovia Fernão Dias, oferecem incentivos fiscais, mão-de-obra mais barata, transportes sem tanto congestionamento e melhor qualidade de vida.
O processo de desconcentração das industrias acaba determinando que cidades-médias que possuem infraestrutura e mão-de-obra qualificada comecem a crescer. São Paulo continua sendo o líder nacional industrial, mas as indústrias, atualmente, encontram-se mais espalhadas.
A industrialização do Brasil é considerada um processo tardio, uma vez que teve início um século depois do surgimento das primeiras indústrias na Europa. As primeiras manufaturas foram abertas no território nacional durante o século XIX, mas foi somente a partir da década de 1930 que o processo ganhou força. Desde então, a participação do capital privado nacional e internacional e também a ação do Estado têm sido importantes para o desenvolvimento e crescimento desse setor do Brasil, que representa hoje cerca de um quinto do PIB nacional.
Confira nosso podcast: Pontos-chave para entender a industrialização brasileira
Tópicos deste artigo
Resumo sobre industrialização do Brasil
A industrialização brasileira pode ser caracterizada como um processo tardio, que se desenvolveu a partir do final do século XIX e início do século XX, impulsionado pelo capital oriundo da cafeicultura.
Esse processo se divide em quatro diferentes fases.
Primeira fase: de 1500 a 1808, quando os engenhos de açúcar eram predominantes.
Segunda fase: de 1808 a 1929, quando as primeiras manufaturas foram abertas no país.
Terceira fase: de 1930 a 1955, compreende o período da substituição das importações e da maior diversificação do parque industrial brasileiro, com a criação de importantes indústrias de base e do maior investimento em infraestrutura.
Quarta fase: teve início em 1956 e é marcada pelo maior ingresso do capital estrangeiro no país, com a internacionalização da economia e a indústria brasileira ganhando força a partir do final do século XX.
As indústrias de transformação respondem por mais de metade do PIB industrial do Brasil.
O que caracteriza a industrialização brasileira hoje é o processo de desconcentração espacial da indústria e de desindustrialização.
Videoaula sobre industrialização do Brasil
Características da industrialização do Brasil
O advento da produção mecanizada e das unidades industriais revolucionou a economia mundial e transformou de uma vez por todas as relações de trabalho no mundo moderno. Esse processo, a que chamamos de industrialização, teve início em tempos distintos nos diversos países do globo. Enquanto nos países considerados desenvolvidos, sobretudo na Europa, a industrialização teve início no século XVIII, nas nações emergentes ele se fez presente a partir do século XIX. É esse o caso do Brasil.
A industrialização brasileira pode ser caracterizada então como tardia. Seu desenvolvimento se deu mediante o capital proveniente do setor primário da economia, sobretudo da cafeicultura. Outro processo característico da industrialização brasileira é a substituição das importações, que aconteceu a partir da década de 1930. A substituição de importações acontece quando um país deixa de comprar determinados itens do mercado externo e passa a produzi-los internamente, suprindo a própria demanda.
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A atuação do Estado na viabilização dos processos de industrialização, da mesma forma como na construção da infraestrutura básica necessária para a instalação e atração de novas indústrias, é uma característica fundamental de como a expansão industrial decorreu no Brasil.
A partir da década de 1950, a atuação do capital estatal se deu junto do capital estrangeiro mediante a entrada de montadoras no país. A presença de firmas estrangeiras e do capital internacional, de forma geral, foi ampliada a partir do final do século XX, caracterizando o atual estágio da industrialização.
Fases da industrialização do Brasil
A industrialização do território brasileiro pode ser compreendida por meio da análise de quatro fases distintas. Descrevemos brevemente cada uma delas abaixo.
Primeira fase: pré-industrial (1500-1808)
Do início do período colonial até a chegada da família real, não havia indústrias propriamente ditas instaladas no território nacional. A maioria dos produtos industrializados presentes no país eram oriundos da então metrópole, Portugal. O que havia no Brasil eram engenhos de açúcar, que consistiam nas instalações onde a matéria-prima (cana-de-açúcar) era transformada no açúcar, que era então embalado para destinação ao restrito mercado interno e também ao mercado externo.
Além disso, no ano de 1785, a Coroa Portuguesa publicou um alvará proibindo a instalação de pequenas fábricas e manufaturas no Brasil.
Segunda fase: 1808-1929
A segunda fase da industrialização brasileira pode ser descrita como o início de fato da abertura de fábricas e pequenas manufaturas. Isso foi possível mediante a revogação do alvará de 1785, por meio de um documento que não somente colocou fim às exigências anteriores como também incentivou a criação dos estabelecimentos fabris.
Essa liberação foi concomitante ao processo de abertura dos portos brasileiros, que rompeu o Pacto Colonial e ampliou a presença de produtos importados no país, motivando a adoção de medidas protecionistas.
Pequenas unidades surgiram principalmente em áreas próximo da cidade Salvador e na região Sudeste do país, especialmente no Rio de Janeiro, então capital do Brasil, e em São Paulo. Destacou-se, nesse período, a presença das fábricas têxteis, muitas das quais se localizavam perto das lavouras de algodão. Ao final do século XIX, existiam ao menos 636 fábricas instaladas no Brasil|1|, número esse que quintuplicou durante a primeira década do século XX|2|.
Apesar do significativo crescimento da indústria no país e da ampliação do mercado consumidor com a abolição da escravidão e adoção do trabalho assalariado, estava no setor primário a principal fonte de receitas do Brasil. A atividade agrícola, especialmente a produção de café, consistia no carro-chefe da economia, sendo o principal produto de exportação. No entanto, a Primeira Guerra Mundial e a crise econômica de 1929 provocaram mudanças profundas nessa dinâmica econômica.
Terceira fase: 1930-1955
Com a queda substancial das exportações cafeeiras ao final da década de 1920, o capital dessa atividade econômica foi redirecionado e investido na atividade industrial. O início da década de 1930 ficou conhecido como o período da substituição das importações, quando determinados produtos deixaram de ser adquiridos do mercado externo e passaram a ser produzidos pelas indústrias brasileiras.
Durante esse período, tanto o capital privado, proveniente sobretudo dos antigos cafeicultores, quanto o capital estatal foram importantes para o crescimento da indústria no país, assim como para a ampliação da infraestrutura utilizada no transporte de mercadorias, como foi o caso das ferrovias e portos.
Houve também a maior diversificação do parque industrial brasileiro, com a fundação de importantes indústrias estatais de base (ou de bens de capital), como a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a Vale, à época conhecida como Companhia Vale do Rio Doce, e a Petrobras.
Quarta fase: 1956-presente
A quarta fase da industrialização brasileira teve início no ano de 1956 e é marcada pelo maior ingresso de empresas estrangeiras, principalmente multinacionais, no país, com destaque para as montadoras de automóveis. Esse movimento é resultado direto das políticas desenvolvimentistas implantadas durante o governo de Juscelino Kubitschek (1902-1976).
Os capitais privado e internacional se tornaram ainda mais presentes no país, mas a importância do Estado não foi reduzida. Pelo contrário, o Estado foi o responsável pela oferta de incentivos fiscais para as novas indústrias, além de criar a infraestrutura necessária para o desenvolvimento da produção e circulação dos bens e mercadorias. O destaque do período ficou com o crescimento da malha rodoviária brasileira, promovendo a maior conexão do território nacional.
O processo de internacionalização da indústria brasileira ganhou forças a partir de então, e o parque industrial do país já contava com uma ampla variedade de fábricas que produziam desde os bens de consumo não duráveis até bens de capital.
A partir da década de 1990, a adoção de medidas neoliberais e a maior abertura da economia brasileira facilitou o ingresso do capital internacional no país e intensificou a concorrência interna com a maior presença das empresas estrangeiras. Esse período é marcado por uma onda de privatizações de empresas estatais, pelo processo de fusão e aquisição de empresas menores por outras de maior porte e também pelo fechamento de diversas fábricas nacionais face à concorrência.|3|
É importante notar que, em um primeiro momento, a indústria se concentrava nas regiões Sul e Sudeste, o que levou à formação do que Milton Santos chamou de Região Concentrada.|4| Mais recentemente, entretanto, observa-se o processo de desconcentração industrial, resultado da chamada guerra fiscal entre os estados.
Saiba mais: Concentração e desconcentração industrial no Brasil
Principais indústrias do Brasil
O Brasil dispõe atualmente de um parque industrial bastante amplo e diversificado, atuando em ao menos 33 ramos produtivos distintos.
De acordo com dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a indústria de transformação corresponde à principal indústria brasileira, representando pouco mais da metade (51%) do PIB do setor secundário. Dentro desse segmento, se destacam os seguintes ramos produtivos:
automobilístico;
metalurgia e siderurgia;
petroquímica;
papel e celulose;
alimentício.
A indústria extrativa também possui grande importância para a economia, sendo responsável por parte das exportações brasileiras e pela destinação de matérias-primas para outros ramos produtivos, muitos dos quais listamos acima. Destaca-se, nesse segmento, a extração de minerais metálicos e a exploração petrolífera.
Industrialização do Brasil na atualidade
Dois padrões importantes caracterizam a industrialização brasileira na atualidade: a desconcentração industrial e o que muitos analistas têm chamado de desindustrialização da economia nacional.
A desconcentração industrial diz respeito à maior distribuição espacial das plantas industriais pelo território brasileiro, isto é, deslocando-se da Região Concentrada em direção a estados e municípios de outras regiões, como a região Nordeste, por exemplo.
Existem diversos motivos que explicam esse movimento, dentre os quais podemos destacar a saturação das áreas densamente industrializadas, a ampliação das redes de transporte pelo território brasileiro, a ampla oferta de mão de obra qualificada por todo o país e a intensificação da guerra fiscal entre os estados, que corresponde a uma disputa entre as diferentes unidades federativas pela oferta das melhores condições fiscais para atrair indústrias para o seu território.
A desindustrialização, por sua vez, corresponde à diminuição da participação da indústria na economia nacional, atribuída muitas vezes a fatores de ordem burocrática, infraestrutural e fiscal que são tidos como um obstáculo para o desenvolvimento da produção nacional, chamados de Custo Brasil. Além disso, leva-se em consideração a forma como as commodities agrícolas e minerais, a exemplo da soja e do minério de ferro, passaram a alavancar a economia brasileira nos últimos anos, impulsionando sobretudo as exportações, superando a participação da indústria na pauta exportadora brasileira.
Notas
|1| SANTOS, Milton; SILVEIRA, María Laura. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro, RJ: Record, 2006. 9 ed. 473p.
|2| LUCCI, Elian Alabi. Território e sociedade no mundo globalizado, 2: ensino médio. São Paulo, SP: Saraiva, 2016. 3 ed. 289p.
|3| Idem.
|4| SANTOS, Milton; SILVEIRA, María Laura. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro, RJ: Record, 2006. 9 ed. 473p.
Por Paloma Guitarrara
Professora de Geografia