A personagem da canção canta passagens da sua vida de forma amargurada

A personagem da canção canta passagens da sua vida de forma amargurada

1.(FPS) Considerada um divisor de águas na história do pensamento e da interpretação do Brasil, Casa- Grande & Senzala, de Gilberto Freyre, foge das análises puramente econômicas e históricas sobre o Brasil e lança mão da antropologia e da sociologia

para explicar os primeiros três séculos de formação da sociedade brasileira. Sobre Casa-Grande & Senzala é correto afirmar que:

1) a formação e a colonização do Brasil se deram em bases agrária, escravocrata e híbrida.

2) a obra separa dos traços de raça os efeitos do ambiente ou da experiência cultural.

3) dentro da análise antropológica, é o culturalismo de Franz Boas que orienta a obra de Freyre.

4) Casa-Grande & Senzala dedica dois capítulos ao português, dois ao negro, e um ao índio.

5) a vida sexual do brasileiro, a miscigenação e a culinárias são aspectos privilegiados em Casa- Grande & Senzala.

Estão corretas:

a) 1, 2 e 4 apenas

b) 1, 3 e 5 apena

c) 3, 4 e 5 apena

d) 2, 3 e 4 apena

e) 1, 2, 3, 4 e 5.

2. ( IFB ) – A teoria da democracia racial, derivada a partir da hipótese de pesquisa desenvolvida por Gilberto Freyre, principalmente com sua obra “Casa-Grande e Senzala”, pode ser relacionada à política de cotas implementada nos institutos federais a partir da Lei 12.711 de 29 de agosto de 2012. Dentre as opções abaixo, marque a CORRETA em relação aos conteúdos do enunciado acima.

a) A teoria desenvolvida por Gilberto Freyre contribui para explicar a diferença entre os níveis de violência racial ocorridos nos EUA e no Brasil, bem como sustenta teoricamente a política de cotas raciais adotada em nosso país.

b) A teoria da democracia racial, derivada da obra de Freyre, sustenta uma suposta convivência pacífica e democrática entre os negros, indígenas e brancos europeus, de modo a sustentar a política de cotas raciais.

c) A teoria desenvolvida por Freyre atribui uma visão romantizada da realidade, tornando invisíveis várias formas de violência praticadas por brancos europeus em relação aos negros. A política de cotas raciais, nesse sentido, visa validar a teoria de Freyre.

d) A teoria da democracia racial, derivada da obra de Freyre, mascara em grande medida a violência praticada por brancos contra negros no Brasil, sustentando de certo modo parte das críticas atribuídas à adoção de cotas raciais no país. 

e) A teoria da democracia racial de Freyre tem por princípio desvelar todas as formas de violência de brancos contra negros no Brasil, amparando teoricamente a adoção de cotas raciais como forma de compensação histórica.

3. (UFES) “O século XX nos trouxe “Casa Grande e Senzala”. Rompemos de vez com as teses de branqueamento, assumimos a nossa etnicidade. Freyre nos sabia mestiços e comprovou que isso era bom. Realmente, cantou loas a esta mestiçagem. É verdade que o fez sob a ótica do patriarcado, idílica, abafando as tensões sociais, como depois insistiria Florestan Fernandes. Mas representou, sem dúvida, um marco divisor de águas, entre um Brasil ressentido de sua negritude e um Brasil orgulhoso de sua mestiçagem. Foi o mais brilhante intérprete de nossa plasticidade cultural. Traço que saudava com justiça, como uma herança ibérica, ou, mais precisamente, lusitana.”(Trecho do discurso pronunciado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso no Congresso Brasil – Portugal/2000.)
De acordo com o texto, depois de “Casa Grande e Senzala”, obra de Gilberto Freyre, o brasileiro
a) passou a orgulhar-se de sua negritude.
b) conscientizou-se de sua descendência lusitana.
c) definiu limites entre brancos e negros.
d) conscientizou-se de sua etnia mestiça.
e) demonstrou brilhantemente sua plasticidade cultural.

4. “A Casa‐grande completada pela senzala representa todo um sistema econômico, social e político: de produção, de trabalho, de transporte, de família, de vida sexual, de higiene do corpo e da casa; de política.” (Dimenstein, 2008‐Excerto do prefácio de Casa Grande e Senzala‐1933.)
A referida obra, “Casa‐grande e Senzala”, tanto quanto seu autor são ícones da sociologia do Brasil. Dentre as grandes contribuições dessa obra de Gilberto Freyre, aponta‐se a disseminação da ideia de:
a) “Homem Cordial.”
b) “Mito da democracia racial.”
c) “Jeitinho brasileiro.”
d) “Indolência indígena e africana.”

(UERR) TEXTO PARA AS QUESTÕES  5, 6 E 7

O OUTRO BRASIL QUE VEM AÍ

Gilberto Freyre

(Poema escrito em 1926)

Eu ouço as vozes

eu vejo as cores

eu sinto os passos

de outro Brasil que vem aí

mais tropical

mais fraternal

mais brasileiro.

O mapa desse Brasil em vez das cores dos Estados

terá as cores das produções e dos trabalhos.

Os homens desse Brasil em vez das cores das três [raças]

terão as cores das profissões e das regiões.

As mulheres do Brasil em vez de cores boreais

terão as cores variamente tropicais.

Todo brasileiro poderá dizer: é assim que eu quero [o Brasil,]

todo brasileiro e não apenas o bacharel ou o [doutor]

o preto, o pardo, o roxo e não apenas o branco e o [semibranco.]

Qualquer brasileiro poderá governar esse Brasil

lenhador

lavrador

pescador

vaqueiro

marinheiro

funileiro

carpinteiro

contanto que seja digno do governo do Brasil

que tenha olhos para ver o Brasil,

ouvidos para ouvir pelo Brasil

coragem de morrer pelo Brasil

ânimo de viver pelo Brasil

mãos para agir pelo Brasil

mãos de escultor que saibam lidar com o barro [forte e novo dos Brasis]

mãos de engenheiro que lidem com ingresias e [tratores]

[europeu e norte-americanos a serviço do Brasil]

mãos sem anéis (que os anéis não deixam o [homem criar nem trabalhar)]

mãos livres

mãos criadoras

mãos fraternais de todas as cores

mãos desiguais que trabalhem por um Brasil

[sem Azeredos,]

sem Irineus

sem Maurícios de Lacerda.

Sem mãos de jogadores

nem de especuladores nem mistificadores.

Mãos todas de trabalhadores,

pretas, brancas, pardas, roxas, morenas,

de artistas

de escritores

de operários

de lavradores

de pastores

de mães criando filhos

de pais ensinando meninos

de padres benzendo afilhados

de mestres guiando aprendizes

de irmãos ajudando irmãos mais moços

de lavadeiras lavando

de pedreiros edificando

de doutores curando

de cozinheiras cozinhando

de vaqueiros tirando leite de vacas chamadas [comadres dos homens.]

Mãos brasileiras

brancas, morenas, pretas, pardas, roxas

tropicais

sindicais

fraternais.

Eu ouço vozes

eu vejo as cores

eu sinto os passos

desse Brasil que vem aí. FREYRE, Gilberto. Casa- Grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. 48 ed. São Paulo: Global, 2003.

5. Fazendo uma conexão entre os seguintes versos e o texto como um todo, assinale a afirmativa correta.

Eu ouço as vozes/ eu vejo as cores / eu sinto os passos / de outro Brasil que vem aí/ mais tropical / mais fraternal / mais brasileiro.

a)As expectativas de um novo Brasil são frustradas ao longo do texto.

b) Nesse trecho, é evidenciada a existência de apenas um Brasil. No entanto, há determinado momento do texto que deixa claro a existência de mais de um Brasil.

c) O desejo de um Brasil mais tropical é confirmado pelos versos “lenhador/ lavrador / pescador / vaqueiro / marinheiro / funileiro / carpinteiro”.

d) Para o eu-lírico, a brasilidade está contida na descrição dos versos “mãos livres/ mãos criadoras” que são características marcantes e específicas do povo brasileiro.

e) As “vozes”, as “cores” e os “passos” tratam do povo brasileiro em geral, com distinção de classe social.

6. A INVERSÃO da realidade brasileira é observada no poema, tendo em vista que o eu-lírico deseja um Brasil diferente. Assinale a alternativa em que essa INVERSÃO da realidade é evidente.

a)“Todo brasileiro poderá dizer: é assim que eu quero o Brasil.”

b)“sem mãos de jogadores/ nem de especuladores nem de mistificadores”

c)“Eu ouço as vozes/ eu vejo as cores / eu sinto os passos/ desse Brasil que vem aí”

d)“O mapa desse Brasil em vez das cores dos Estados / terá as cores das produções e dos trabalhos.”

e)“mãos de engenheiros que lidem com ingresias e tratores/ europeus e norte-americanos a serviço do Brasil”.

7. Analise os versos para assinalar a alternativa correta.

Amostra 1: “mãos sem anéis(que os anéis não deixam o homem criar nem trabalhar)”

Amostra 2: “mãos desiguais que trabalhem por um Brasil sem Azeredos/ sem Irineus / sem Maurícios de Lacerda”

a) Na amostra 1, percebemos a crítica à vaidade dos “doutores” que o condicionam a pouca ou nenhuma atividade significativa de produção ativa para o país; na amostra 2, é evidente a intertextualidade com a História do Brasil.

b) Tanto nas amostras 1 como na 2, a intertextualidade é um recurso de uso crítico.

c) Na amostra 2, são criadas figuras fictícias para a estruturação do viés crítico.

d) Na amostra 1, podemos afirmar que a noção de trabalho, para o eu lírico, se resume às atividades “braçais”, como fica claro do verso 17 ao 24, excluindo todo e qualquer tipo de trabalho intelectual.

e) Na amostra 2, quando se trata de “mãos desiguais”, o eu lírico expressa apenas a diversidade de raça.

8. A importância da obra de Gilberto Freyre, Casa Grande & Senzala, para a análise do comportamento dos diferentes grupos raciais na sociedade brasileira, consiste na
a) afirmação da existência de uma democracia racial na sociedade brasileira.
b) substituição de uma explicação biológica das diferenças raciais por uma interpretação cultural.

c) elaboração de uma interpretação biológica das diferenças raciais por oposição a uma ênfase nos elementos culturais.
d) ênfase nas diferenças socioestruturais por oposição às diferenças culturais.

9. (UFPR) Quando em 1532 se organizou econômica e civilmente a sociedade brasileira, já foi depois de um século inteiro de contato dos portugueses com os trópicos; de demonstrada na Índia e na África sua aptidão para a vida tropical. Mudado em São Vicente e em Pernambuco o rumo da colonização portuguesa do fácil, mercantil, para o agrícola; organizada a sociedade colonial sobre base mais sólida e em condições mais estáveis que na Índia ou nas feitorias africanas, no Brasil é que se realizaria a prova definitiva daquela aptidão. A base, a agricultura; as condições, a estabilidade patriarcal da família, a regularidade do trabalho por meio da escravidão, a união do português com a mulher índia, incorporada assim à cultura econômica e social do invasor.
(FREYRE, G. “Casa-grande & senzala”. 39. ed. Rio de Janeiro: Record, 2000. p. 79.)
Freyre afirma em seu texto que:
(01) A organização econômica da sociedade brasileira, a partir de 1532, foi fundada sobre o cultivo da terra.
(02) A aptidão portuguesa para a vida tropical foi testada pela primeira vez após 1532.
(04) O modo de colonização português na Índia e na África era agrícola e mercantil.
(08) A colonização portuguesa no Brasil se opõe, por seu caráter agrícola, às experiências mercantis dos lusos na Índia e na África.
(16) Entre as características da colonização portuguesa no Brasil estão a família patriarcal, a escravidão e a miscigenação com os povos indígenas.
(32) A colonização do Brasil representou uma continuidade do modo de contato dos portugueses com os povos tropicais.
SOMA:01 + 08 + 16 = 25

10. A obra de Gilberto Freyre foi pioneira na abordagem cultural no estudo da formação da sociedade brasileira. Nesta perspectiva, é CORRETO citar como exemplo desta contribuição a(o)
a) utilização do materialismo histórico como base teórica para a compreensão da sociedade brasileira.
b) estudo sobre a família patriarcal no Brasil em sua obra Casa-Grande & Senzala.
c) negação da Antropologia, em especial, a norte-americana como influência na sua obra.
d) pioneirismo nos estudos sobre o operariado e sua contribuição na formação da sociedade urbana brasileira.
e) diálogo constante com a obra e as contribuições teóricas de Florestan Fernandes.

11. (PUCCAMP) A par do contraste entre casa-grande e senzala, comum a todas as regiões dependentes do trabalho escravo, a zona açucareira do Nordeste viveu também o contraste entre
a) os monarquistas escravocratas e os republicanos abolicionistas, tal como se desenvolve em “O Quinze”.
b) a força do coronelismo conservador e a dos políticos modernos e arrojados, tal como se narra em “São Bernardo”.
c) a cultura do homem do litoral, mais aberta, e a do homem do sertão, mais conservadora, tal como surge em “Menino de engenho”.
d) o mandonismo dos grandes fazendeiros e a ação dos grupos de jagunços, tal como se narra em “Grande sertão: veredas”.
e) o modo de produção arcaico do engenho e o mais moderno da usina, tal como se narra em “Fogo morto”.

12. ( FUNCAB ) No pensamento sociológico dos anos 1930 despontam os nomes de Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda, autores dos clássicos Casa Grande & Senzala e Raízes do Brasil, respectivamente. Essas obras têm como foco temático comum:
a) a luta de classes na sociedade rural.
b) a formação do Estado nacional.
c) a democratização do ensino.
d) a escravidão do negro.
e) a estrutura patriarcal brasileira.

A personagem da canção canta passagens da sua vida de forma amargurada

1. (UNICAMP) Mas, a mal, vinha vesprando a hora, o fim do prazo, Miguilim não achava pé em pensamento onde se firmar, os dias não cabiam dentro do tempo. Tudo era tarde! De siso, devia de rezar, urgente, montão de rezas. (João Guimarães Rosa, “Campo geral”, in “Manulezão e Miguilim”. Rio de Janeiro, Editora José Olympio. 1972.)
a) O trecho acima refere-se a uma espécie de acordo que Miguilim propôs a Deus. Que acordo era esse?
b) Sabendo-se que o acordo se relaciona às perdas sofridas por Miguilim, cite as duas que mais profundamente o marcaram.
c) Se “vesprando” deriva de “véspera”, que se associa a Vésper (Estrela da Tarde), como se deve interpretar “vinha vesprando a hora”?
RESPOSTAS:

a) Seu Deográcias, espécie de curandeiro que perambulava pelo Mutum, diagnosticara que Miguilim, fraco, abatido, corria risco de vida, de contrair tuberculose. Primeiramente, o menino recorre à negra Mãitina, mas desiste ao encontrar bêbada a velha mandingueira. Volta-se para Deus e faz uma espécie de trato: se tivesse de morrer, que fosse no prazo de três dias, dilatado mais tarde, para dez dias, para permitir uma “novena” de rezas. Se não morresse que, por vontade de Deus, ficasse curado.

b) As duas perdas que mais profundamente marcaram a “travessia” de Miguilin do mundo mágico da infância para o mundo adulto foram as experiências com a morte: a do pai, que se suicidou, e a do irmão mais querido, o Dito, vitimado pelo tétano. A superação dessas duas perdas foram instantes dolorosamente decisivos no amadurecimento da criança no embate com fatos da vida.

c) O neologismo “vesprando” sugere tanto a noção mais imediata de aproximação temporal, de “fazer-se véspera”, como também nos remete à ideia de “anoitecer” e, metaforicamente, “de morrer”, associada à “noite” que a estrela Vésper prenuncia.

2. A novela de Guimarães Rosa “Uma estória de amor (Festa de Manuelzão)”, além de ser ela própria uma estória de vaqueiro, contém outras estórias de boi narradas pelas personagens. Uma delas é a de “Destemida e a vaquinha Cumbuquinha” narrada por Joana Xaviel. Ao ouvirem a história, as pessoas presentes na festa de Manuelzão têm a seguinte reação: Todos que ouviam, estranhavam muito: estória desigual das outras, danada de diversa. Mas essa estória estava errada, não era toda! Ah ela tinha de ter outra parte – faltava a segunda parte? A Joana Xaviel dizia que não, que assim era que sabia, não havia doutra maneira. Mentira dela? A ver que sabia o restante, mas se esquecendo, escondendo. Mas – uma segunda parte, o final – tinha de ter! (João Guimarães Rosa, “Uma estória de amor (Festa de Manuelzão)”, em Manuelzão e Miguilim. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984, p.181.)

a) Por que os ouvintes têm a impressão de que a estória está inacabada?

b) Cite outra estória de boi narrada dentro novela.

 c) A novela é narrada em discurso indireto livre, misturando as falas e pensamentos das personagens com a fala do narrador. Identifique uma passagem do trecho citado acima em que essa mistura ocorre.

RESPOSTA

a) Joana Xaviel conta a história de Destemida, esposa grávida de um vaqueiro, que tem vontade de comer a vaca de propriedade de um homem rico. O marido atende-lhe o desejo e é descoberto pela mãe do proprietário da vaca. Destemida envenena a mulher e, depois, coloca fogo na casa onde a morta era velada. Os ouvintes da narração de Joana acreditam que a história “tinha de ter outra parte”, pois esperavam um desfecho em que houvesse a punição do mal, no caso, representado pela personagem Destemida.

b) “Romanço do Boi Bonito” ou “Décima do Boi e do Cavalo”.

c) Podem ser citadas as seguintes passagens narradas em discurso indireto livre: “Mas essa estória estava errada, não era toda! Ah ela tinha de ter outra parte – faltava a segunda parte?”, “Mentira dela?”, Mas – uma segunda parte, o final – tinha de ter!”

3. (ENEM) :Miguilim

“De repente lá vinha um homem a cavalo. Eram dois. Um senhor de fora, o claro de roupa. Miguilim saudou, pedindo a bênção. O homem trouxe o cavalo cá bem junto. Ele era de óculos, corado, alto, com um chapéu diferente, mesmo.
– Deus te abençoe, pequenino. Como é teu nome?
– Miguilim. Eu sou irmão do Dito.
– E o seu irmão Dito é o dono daqui?
– Não, meu senhor. O Ditinho está em glória.
O homem esbarrava o avanço do cavalo, que era zelado, manteúdo, formoso como nenhum outro.
Redizia:
– Ah, não sabia, não. Deus o tenha em sua guarda… Mas que é que há, Miguilim?
Miguilim queria ver se o homem estava mesmo sorrindo para ele, por isso é que o encarava.
– Por que você aperta os olhos assim? Você não é limpo de vista? Vamos até lá. Quem é que está em tua casa?
– É Mãe, e os meninos…
Estava Mãe, estava tio Terez, estavam todos. O senhor alto e claro se apeou. O outro, que vinha com ele, era um camarada. O senhor perguntava à Mãe muitas coisas do Miguilim. Depois perguntava a ele mesmo: – ‘Miguilim, espia daí: quantos dedos da minha mão você está enxergando? E agora?”(ROSA, João Guimarães. “Manuelzão e Miguilim”. 9 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.)
Esta história, com narrador observador em terceira pessoa, apresenta os acontecimentos da perspectiva de Miguilim. O fato de o ponto de vista do narrador ter Miguilim como referência, inclusive espacial, fica explicitado em:
a) “O homem trouxe o cavalo cá bem junto.”
b) “Ele era de óculos, corado, alto (…)”
c) “O homem esbarrava o avanço do cavalo, (…)”
d) “Miguilim queria ver se o homem estava mesmo sorrindo para ele, (…)”
e) “Estava Mãe, estava tio Terez, estavam todos”

4. (UFRGS) Assinale a alternativa correta a respeito dessa obra de Guimarães Rosa.

a) O ponto de vista da criança mostra o encantamento com o mundo adulto, que é entrevisto pelo leitor através do olhar míope e infantil de Miguilim, que deseja crescer depressa.

b) Tio Terez e Nhô Berno disputam o amor de Nhanina, que decide se casar com o primeiro. (C) Dito, em uma brincadeira no meio do mato, corta o pé num caco de pote, fica muito doente, mas sobrevive para felicidade de todos que muito celebram na noite de Natal.

c) Dito, ao aconselhar Miguilim a sempre estar alegre por dentro, representa a sabedoria inata, capaz de carregar uma lição de vida .

e) O leitor, através do olhar infantil, percebe a harmonia entre os pais de Miguilim e o grande amor do pai pela mãe.

5. (ENADE) Considere a obra Miguilim, de Guimarães Rosa, da qual se extraiu o seguinte fragmento: Tio Terêz deu a Miguilim a cabacinha formosa, entrelaçada em cipós. Todos eram bons para ele, todos do Mutum. O doutor chegou: — “Miguilim, você está aprontado? Está animoso?” Miguilim abraçava todos, um por um, dizia adeus até aos cachorros, ao Papaco-o-paco, ao gato Sossõe, que lambia as mãozinhas se asseando. Beijou a mão da mãe do Grivo. — “Dá lembrança ao seu Aristeu… Dá lembrança ao seu Deográcias…” Estava abraçado com Mãe. Podiam sair. ROSA, J.G. Manuelzão e Miguilim: duas novelas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1964, p. 103 (com adaptações). Considerando o fragmento acima, assinale a opção que apresenta excerto referente à obra Miguilim

a) O outro reino, em que se esconde, ou se procura o Menino, é requintado, interiorista, respira mistério, levita na intemporalidade, mora ou pervaga numa estranha mansão (…) Trata-se, é bem de ver, da recorrência de uma primeira contemplação inefável de categoria intimista. LISBOA, H. O motivo infantil na obra de Guimarães Rosa. In: Guimarães Rosa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Brasília: INL 1983, p. 178.

b) O deslocamento espacial é o rito de passagem — ‘o atravessar o bosque’—, que se dá no meio do percurso entre as duas aldeias, separadas pela imprevisibilidade do ‘quase’: uma outra e quase igualzinha aldeia. MOTTA, S. V. O engenho da narrativa e sua árvore genealógica: das origens a Graciliano Ramos e Guimarães Rosa. São Paulo: UNESP, 2006. p. 466.

c) O Menino é uma criança qualquer a brincar com o seu macaquinho e é uma espécie de criança mítica, através de quem tudo se ordena, tudo se corresponde, tudo se completa. NUNES, B. O amor na obra de Guimarães Rosa. In: Guimarães Rosa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Brasília: INL, 1983, p. 162.

d) Ao drama de ordem pessoal e à tragédia inelutável, segue-se o conflito com a força maior, representada pelo domínio paterno contra o qual se insurge o menino, ferido nos brios. A represália do pai é tremenda. LISBOA, H. O motivo infantil na obra de Guimarães Rosa. In: Guimarães Rosa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Brasília: INL, 1983, p. 175.

e) (…) impregnado pela religiosidade da mãe e pela aura mística dos ‘milagres’, a solução do conto conduz para a leitura fácil de se explicar pela fé a tragédia que não se atina com a razão. MOTTA, S. V. O engenho da narrativa e sua árvore genealógica: das origens a Graciliano Ramos e Guimarães Rosa. São Paulo: UNESP, 2006, p. 449.

6. Considere atentamente as seguintes afirmações sobre a novela “Campo geral” (“Miguilim”), de Guimarães Rosa:

I. A sabedoria precoce do pequeno Dito é decisiva para o aprendizado de Miguilim, seja nas experiências imediatas do cotidiano, seja na investigação do valor e do sentido profundos dessas experiências.

II. Por meio da personagem Miguilim, o autor nos mostra que a vida rústica do sertanejo é pobre como experiência – o que pode ser compensado pela imaginação poética de quem sabe desligar-se daquela vida.

III. No momento final da narrativa, é em sentido literal e simbólico que um novo mundo se revela para Miguilim – mundo que também se abre para uma vida de novas experiências.

A leitura atenta da novela permite concluir que apenas:

a) as afirmações I e III são corretas.

b) as afirmações I e II são corretas.

c) as afirmações II e III são corretas.

d) a afirmação II é correta.

e) a afirmação III é correta.

7. (UFG) Após a leitura do livro “Manuelzão e Miguilim”, de Guimarães Rosa, nota-se que há uma ressignificação de elementos definidores do regionalismo tradicional. Nesse sentido,
( ) o sertão é concebido tanto como um espaço sem limites geográficos rigorosos quanto como um território marginal à civilização moderna, distanciando-se, assim, do mundo histórico-referencial.
( ) a linguagem resulta de um minucioso inventário folclórico-popular, uma vez que o autor valoriza a palavra apenas como registro documental e ignora outras fontes culturais que poderiam revigorar o arsenal linguístico à sua disposição.
( ) a densidade psicológica do sertanejo deriva de um alheamento social e moral em relação ao meio do qual provém, uma vez que o matuto se encontra colado arbitrariamente ao universo rural.
( ) a questão da identidade nacional renasce como pano de fundo relevante, em que se vislumbra, na obra do escritor, a perpetuação de uma herança nativista ultrapassada.
RESPOSTA: V F F F

8. (UFRGS) No bloco superior abaixo, estão listados cinco nomes de personagens da obra de Guimarães Rosa; no inferior, descrições de três desses personagens. Associe adequadamente o bloco inferior ao superior.

1 – Bernardo Caz (Nhô Berno)

2 – Liovaldo

3 – Dito

4 – Tio Terez

5 – Osmundo Cessim

( ) Pai do menino protagonista.

( ) Irmão mais novo do menino protagonista.

( ) Irmão mais velho do menino protagonista. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

a) 1-5-3.

b) 4-5-1.

c) 2-3-4.

d) 2-5-3.

e) 1-3-2.

9. (UFG) Diversos motivos narrativos compõem a trama de “Campo geral”, texto da obra “Manuelzão e Miguilim,” de Guimarães Rosa. Qual o motivo narrativo principal para a composição do enredo desse conto?
a) As desavenças entre Mãitina e a avó de Miguilim.
b) A instabilidade sentimental da mãe de Miguilim.
c) A observação do mundo pela ótica de Miguilim.
d) A rivalidade entre Tio Terez e o pai de Miguilim.
e) A solidariedade entre os irmãos de Miguilim.

10. (UFRGS) Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações sobre sentimentos de personagens de Campo Geral, da obra Manuelzão e Miguilim, de Guimarães Rosa. ( ) Miguilim odiava seu Pai, pela violência das surras e castigos que ele lhe impunha: mandar embora a cadela, ou soltar os passarinhos que estavam nas gaiolas.

( ) As rezas da avó e os feitiços de Mãitina enfim surtiram efeito: Miguilim passou a se sentir culpado pela morte do irmão.

( ) Miguilim detestava o Mutum, mas, com a ajuda dos óculos do doutor, acabou finalmente descobrindo que se tratava de um lugar bonito.

( ) Dito sentiu inveja de Miguilim porque Papaco-o-Paco era capaz de dizer ” -Miguilim, Miguilim, me dá um beijim”, mas não conseguia pronunciar “Dito”. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

a) F – V – F – F.

b) F – V – F – V.

c) V – V – F – V.

d) V – F – V – V.

e) V – F – V – F.

11. (UFG) O que aproxima a ficção de Guimarães Rosa, em “Manuelzão e Miguilim”, e a de Milton Hatoum, em “Dois irmãos”, é a utilização das conquistas da narrativa moderna a serviço do enredo, verificada, entre outras razões, na
a) apresentação de um quadro sócio histórico instável.
b) consonância entre a linguagem e a interioridade da personagem.
c) utilização de uma temática associada à dimensão regional.
d) valorização de fontes híbridas da cultura brasileira.
e) visão crítica dos fatos sociais por um viés implícito.

12. (UNICESUMAR) Dentre as conquistas promovidas pelo modernismo da década de 1920, permanecem a valorização do cotidiano, reforçada pelo uso da linguagem coloquial, e a pesquisa das raízes históricas e culturais do Brasil. Observa-se em Campo Geral (Miguilim), de Guimarães Rosa, a presença desses traços na caracterização de personagens típicos da cultura popular brasileira, como

a) a menina mimada que se expressa assim: Preciso de sapatos novos! Os meus fazem muito barulho […].

b) o pai de família autoritário que se expressa assim: Se você mandar matar esta galinha nunca mais como galinha na minha vida!

c) o médico charlatão que se expressa assim: a homeopatia é a verdade, e, para servir à verdade, menti; mas é tempo de restabelecer tudo.

d)) o curandeiro brincalhão que se expressa assim: tem susto não: com as ervas que sei, vai ser em pé um pau, garantia que dou, boto bom!…

e) o coronel decadente que se expressa assim: A facção dominante está caindo de podre. O país naufraga, seu doutor. É o que lhe digo: o pais naufraga.

13. (ITA) Miguilim espremia os olhos. Drelina e a Chica riam. Tomezinho tinha ido se esconder.
– Este nosso rapazinho tem a vista curta. Espera aí, Miguilim…
E o senhor tirava os óculos e punha-os em Miguilim, com todo o jeito.
– Olha, agora!
Miguilim olhou. Nem não podia acreditar! Tudo era uma claridade, tudo novo e lindo e diferente, as coisas, as árvores, as caras das pessoas. Via os grãozinhos de areia, a pele da terra, as pedrinhas menores, as formiguinhas passeando no chão de uma distância. E tonteava. Aqui, ali, meu Deus, tanta coisa, tudo… O senhor tinha retirado dele os óculos, e Miguilim ainda apontava, falava, contava tudo como era, como tinha visto. Mãe esteve assim assustada; mas o senhor dizia que aquilo era do modo mesmo, só que Miguilim também carecia de usar óculos, dali por diante.
(João Guimarães Rosa. MANUELZÃO E MIGUILIM.)
Considere as seguintes afirmações sobre o trecho acima:
I. Na narrativa, transparece o universo infantil, captado pela ótica da criança.
II. Há o uso de recursos linguísticos, como ritmo, rima e figuras de linguagem, que desfazem as fronteiras entre prosa e poesia.
III. A narrativa reporta ao mundo rústico do sertão pela ótica de um narrador externo à comunidade.
Está(ão) condizente(s) com o trecho:
a) apenas I.
b) apenas II.
c) I e II.
d) I e III.
e) II e III.

A personagem da canção canta passagens da sua vida de forma amargurada

(UFSCAR)INSTRUÇÃO: Leia o texto e responda as questões de números 1 e 2.

 (…) Como não ter Deus?! Com Deus existindo, tudo dá esperança: sempre um milagre é possível, o mundo se resolve. Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no vai-vem, e a vida é burra. É o aberto perigo das grandes e pequenas horas, não se podendo facilitar — é todos contra os acasos. Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois, no fim dá certo. Mas, se não tem Deus, então, a gente não tem licença de coisa nenhuma! Porque existe dor. E a vida do homem está presa encantoada — erra rumo, dá em aleijões como esses, dos meninos sem pernas e braços. (…) (Guimarães Rosa, Grande sertão: veredas.)

Uma das principais características da obra de Guimarães Rosa é sua linguagem artificiosamente inventada, barroca até certo ponto, mas instrumento adequado para sua narração, na qual o sertão acaba universalizado.

1) Transcreva um trecho do texto apresentado, onde esse tipo de “invenção” ocorre.

2) Transcreva um trecho em que a sintaxe utilizada por Rosa configura uma variação linguística que contraria o registro prescrito pela língua padrão.

RESPOSTAS:

1.)Nesse pequeno fragmento de Grande Sertão: Veredas o narrador faz uma reflexão sobre a necessidade da existência de Deus. O registro marcadamente roseano aparece em: “Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no vai-vem, e a vida é burra. É o aberto perigo das grandes e pequenas horas, não se podendo facilitar — é todos contra os acasos.” A linguagem artificiosamente inventada aparece na concordância ideológica “  a gente perdidos” na grafia vai-vem no lugar oficial vaivém em na construção, “ é todos” no lugar de são todos.

2.) “é todos contra os acasos.” No registro prescrito pela língua padrão, deveria ser: são todos contra os acasos.

3.(PUC-RS) Responder à questão com base o excerto a seguir, de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, preenchendo os parênteses com V (verdadeiro) ou F (falso).

Um dia, sem dizer o que a quem, montei a cavalo e saí, a vão, escapado. Arte que eu caçava outra gente, diferente. E marchei duas léguas. O mundo estava vazio. Boi e boi. Boi e boi e campo. Eu tocava seguindo por trilhos de vacas. Atravessei um ribeirão verde, com os umbuzeiros e ingazeiros debruçados – e ali era vau de gado. “Quanto mais ando, querendo pessoas, parece que entro mais no sozinho do vago…” – foi o que pensei, na ocasião. De pensar assim me desvalendo. Eu tinha culpa de tudo, na minha vida, e não sabia como não ter. Apertou em mim aquela tristeza, da pior de todas, que é a sem razão de-motivo; que, quando notei que estava com dor de cabeça, e achei que por certo a tristeza vinha era daquilo, isso até me serviu de bom consolo. E eu nem sabia mais o montante que queria, nem aonde eu extenso ia. O tanto assim, que até um Corguinho que defrontei – um riachim à-toa de branquinho – olhou para mim e me disse: – Não… – e eu tive que obedecer a ele. (…) Mas o demônio não existe real. Deus é que deixa se afinar à vontade o instrumento, até que chegue a hora de se dançar. Travessia, Deus no meio. Quando foi que eu tive minha culpa? Aqui é Minas; lá já é a Bahia? Estive nessas vilas, velhas, altas cidades… Sertão é o sozinho. Compadre meu Quelemém diz: que eu sou muito do sertão? Sertão: é dentro da gente. O senhor me acusa? Defini o alvará do Hermógenes, referi minha má cedência. Mas minha padroeira é a Virgem, por orvalho.

Nesse excerto,

( ) o sertão é apresentado como sinônimo de solidão, devido à vastidão de um mundo onde se marcham léguas à procura de alguém.

( ) perante as travessias e as larguezas do chapadão, o sertão está localizado na interioridade e na subjetividade humanas.

( ) o autor demonstra a força inovadora de uma transfiguração estilística que busca potencializar o léxico próprio e o falar sertanejo.

( ) não existem temáticas místicas e religiosas associadas às manifestações da natureza do sertão.

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é:

a) V – F – F – F

b) F – F – V – V

c) V – V – F – V

d) V – V – V – F

e) F – F – V – F

4. (UFPE) OBSERVE:
“Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem, não, Deus esteja. Alvejei mira em árvore, no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço; gosto, desde mal em minha mocidade. Daí vieram me chamar. Causa de um bezerro: um bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser-se viu -; e com máscara de cachorro. Me disseram: eu não quis avistar.”
(Guimarães Rosa / GRANDE SERTÃO, VEREDAS)
O texto anterior, apesar de curto, contém muitas características do estilo do autor, entre as quais:
( ) Explora o chamado Superregionalismo (dentro do Modernismo) que ampliava e transformava as características do homem do interior.
( ) Seu universo ficcional é dos senhores de terra aristocráticos, dominados por conceitos arcaicos, e dos capitalistas do litoral, ambos expressos em linguagem convencional.
( ) Seguindo o modelo de José Lins do Rego, o linguajar de seus personagens copiava o dos sertanejos, sem modificações, imobilizado no tempo, como uma cópia fiel da realidade.
( ) O texto utiliza arcaísmos, metáforas, neologismos, além de construções sintáticas inovadoras com inversões e apagamentos.
( ) Apesar das inovações, o texto conserva o tom coloquial, isto é, o tom de conversa da gente do interior, numa imitação da fala.
RESPOSTA:V F F V V

5. (UNIFESP) Leia o texto a seguir e responda à questão.

Explico ao senhor: o diabo vige dentro do homem, os crespos do homem — ou é o homem arruinado, ou o homem dos avessos. Solto, por si, cidadão, é que não tem diabo nenhum. Nenhum! — é o que digo. O senhor aprova? Me declare tudo, franco — é alta mercê que me faz: e pedir posso, encarecido. Este caso — por estúrdio que me vejam — é de minha certa importância. Tomara não fosse… Mas, não diga que o senhor, assisado e instruído, que acredita na pessoa dele?! Não? Lhe agradeço! Sua alta opinião compõe minha valia. Já sabia, esperava por ela — já o campo! Ah, a gente, na velhice, carece de ter uma aragem de descanso. Lhe agradeço. Tem diabo nenhum. Nem espírito. Nunca vi. Alguém devia de ver, então era eu mesmo, este vosso servidor. Fosse lhe contar… Bem, o diabo regula seu estado preto, nas criaturas, nas mulheres, nos homens. Até: nas crianças — eu digo. Pois não é o ditado: “menino — trem do diabo”? E nos usos, nas plantas, nas águas, na terra, no vento… Estrumes… O diabo na rua, no meio do redemunho… (Guimarães Rosa. Grande Sertão: Veredas.)

A fala expressa no texto é de Riobaldo. De acordo com o narrador, o diabo:

a) vive preferencialmente nas crianças, livre e fazendo as suas traquinagens.
b) é capaz de entrar no corpo humano e tomar posse dele, vivendo aí e perturbando a vida do homem.
c) só existe na mente das pessoas que nele acreditam, perturbando-as mesmo sem existir concretamente.
d) não existe como entidade autônoma, antes reflete os piores estados emocionais do ser humano.
e) é uma condição humana e não está relacionado com as coisas da natureza.

6. (ENEM ) “Quem é pobre, pouco se apega, é um giro-o-giro no vago dos gerais, que nem os pássaros de rios e lagoas. O senhor vê: o Zé-Zim, o melhor meeiro meu aqui, risonho e habilidoso. Pergunto: — Zé-Zim, por que é que você não cria galinhas-d‘angola, como todo o mundo faz? — Quero criar nada não… — me deu resposta: — Eu gosto muito de mudar… […] Belo um dia, ele tora. Ninguém discrepa. Eu, tantas, mesmo digo. Eu dou proteção. […] Essa não faltou também à minha mãe, quando eu era menino, no sertãozinho de minha terra. […] Gente melhor do lugar eram todos dessa família Guedes, Jidião Guedes; quando saíram de lá, nos trouxeram junto, minha mãe e eu. Ficamos existindo em território baixio da Sirga, da outra banda, ali onde o de-Janeiro vai no São Francisco, o senhor sabe.” ROSA, J. G. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: José Olympio (fragmento).

Na passagem citada, Riobaldo expõe uma situação decorrente de uma desigualdade social típica das áreas rurais brasileiras marcadas pela concentração de terras e pela relação de dependência entre agregados e fazendeiros. No texto, destaca-se essa relação porque o personagem-narrador

a) relata a seu interlocutor a história de Zé-Zim, demonstrando sua pouca disposição em ajudar seus agregados, uma vez que superou essa condição graças à sua força de trabalho.

b) descreve o processo de transformação de um meeiro — espécie de agregado — em proprietário de terra.

c) denuncia a falta de compromisso e a desocupação dos moradores, que pouco se envolvem no trabalho da terra.

d) mostra como a condição material da vida do sertanejo é dificultada pela sua dupla condição de homem livre e, ao mesmo tempo, dependente.

e) mantém o distanciamento narrativo condizente com sua posição social, de proprietário de terras.

7. (IBMEC) Utilize o texto a seguir para responder ao teste.

Amor e morte

“Eu dizendo que a Mulher ia lavar o corpo dele. Ela rezava rezas da Bahia. Mandou todo o mundo sair.
Eu fiquei. E a Mulher abanou brandamente a cabeça, consoante deu um suspiro simples. Ela me mal-entendia.
Não me mostrou de propósito o corpo. E disse…
Diadorim — nu de tudo. E ela disse:
— ‘A Deus dada. Pobrezinha…’
E disse. Eu conheci! Como em todo o tempo antes eu não contei ao senhor — e mercê peço: — mas para o senhor divulgar comigo, a par, justo o travo de tanto segredo, sabendo somente no átimo em que eu também só soube… Que Diadorim era o corpo de uma mulher, moça perfeita… estarreci. A dor não pode mais do que a surpresa.
A coice d’arma, de coronha…
Ela era. Tal que assim se desencantava, num encanto tão terrível; e levantei mão para me benzer — mas com ela tapei foi um soluçar, e enxuguei as lágrimas maiores. Uivei. Diadorim! Diadorim era uma mulher. Diadorim era mulher como o sol não acende a água do rio Urucúia, como eu solucei meu desespero.
O senhor não repare. Demore, que eu conto. A vida da gente nunca tem termo real.
Eu estendi as mãos para tocar naquele corpo, e estremeci, retirando as mãos para trás, incendiável; abaixei meus olhos. E a Mulher estendeu a toalha, recobrindo as partes. Mas aqueles olhos eu beijei, e as faces, a boca.
Adivinhava os cabelos. Cabelos que cortou com tesoura de prata… Cabelos que, no só ser, haviam de dar para abaixo da cintura… E eu não sabia por que nome chamar; eu exclamei me doendo:
— ‘Meu amor!…’
Foi assim. Eu tinha me debruçado na janela, para poder não presenciar o mundo.
A Mulher lavou o corpo, que revestiu com a melhor peça de roupa que ela tirou da trouxa dela mesma. No peito, entre as mãos postas, ainda depositou o cordão com o escapulário que tinha sido meu, e um rosário, de coquinhos de ouricuri e contas de lágrimas-de-nossa-senhora. Só faltou — ah! — a pedra-de-ametista, tanto trazida…
O Quipes veio, com as velas, que acendemos em quadral. Essas coisas se passavam perto de mim. Como tinham ido abrir a cova, cristãmente. Pelo repugnar e revoltar, primeiro eu quis: — ‘Enterrem separado dos outros, num aliso de vereda, adonde ninguém ache, nunca se saiba… ’ Tal que disse, doidava. Recaí no marcar do sofrer. Em real me vi, que com a Mulher junto abraçado, nós dois chorávamos extenso. E todos meus jagunços decididos choravam… Daí, fomos, e em sepultura deixamos, no cemitério do Paredão enterrada, em campo do sertão.
Ela tinha amor em mim.
E aquela era a hora do mais tarde. O céu vem abaixando. Narrei ao senhor. No que narrei, o senhor talvez até ache mais do que eu, a minha verdade. Fim que foi.” (ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: veredas. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1986, p. 530-1)

O texto nos apresenta um suposto interlocutor que nunca toma a palavra. A conversa de Riobaldo com o tal interlocutor revela que:

a) De fato o narrador fez um pacto com o diabo e o “diálogo vazio” era consequência deste ato.
b) Para Riobaldo servia como reflexão em voz alta sobre os mistérios da condição humana.
c) A carência do jagunço era tamanha que, em vários momentos, ele desanda a falar como se fosse uma ameaça à própria existência.
d) É um recurso estilístico muitíssimo utilizado, servindo para o autor como desabafo perante tanta dor e tanta miséria.
e) É recurso característico dos textos dissertativos já que o que se busca é o fundamento para a argumentação.

8. (PUCC-SP) “Sertão. Sabe o senhor: o sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar. Viver é muito perigoso.” Pelo fragmento acima, de Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, percebemos que neste romance, como em outros textos regionalistas do autor:

a)o conflito entre o eu e o mundo se realiza pela interação entre as personagens e o sertão, que acaba por ser mítico e metafísico.

b) o sertão é um lugar perigoso, onde os habitantes sofrem as agressões do meio hostil e adverso à sobrevivência humana.

c) não existe uma região a que geograficamente se possa chamar “sertão”: ela é fruto da projeção do inconsciente das personagens.

d) a periculosidade da vida das personagens está circunscrita ao meio físico e social em que vivem.

e) há um conceito muito restrito de sertão, reduzido a palco de luta entre bandos de jagunços.

9. (UNIFESP) Leia o texto a seguir e responda à questão.

Explico ao senhor: o diabo vige dentro do homem, os crespos do homem — ou é o homem arruinado, ou o homem dos avessos. Solto, por si, cidadão, é que não tem diabo nenhum. Nenhum! — é o que digo. O senhor aprova? Me declare tudo, franco — é alta mercê que me faz: e pedir posso, encarecido. Este caso — por estúrdio que me vejam — é de minha certa importância. Tomara não fosse… Mas, não diga que o senhor, assisado e instruído, que acredita na pessoa dele?! Não? Lhe agradeço! Sua alta opinião compõe minha valia. Já sabia, esperava por ela — já o campo! Ah, a gente, na velhice, carece de ter uma aragem de descanso. Lhe agradeço. Tem diabo nenhum. Nem espírito. Nunca vi. Alguém devia de ver, então era eu mesmo, este vosso servidor. Fosse lhe contar… Bem, o diabo regula seu estado preto, nas criaturas, nas mulheres, nos homens. Até: nas crianças — eu digo. Pois não é o ditado: “menino — trem do diabo”? E nos usos, nas plantas, nas águas, na terra, no vento… Estrumes… O diabo na rua, no meio do redemunho… (Guimarães Rosa. Grande Sertão: Veredas.)

A personagem Riobaldo dialoga com alguém que chama de senhor. Embora a fala dessa personagem não apareça, é possível recuperar, pela fala do narrador, os momentos em que seu interlocutor se manifesta verbalmente. Isso pode ser comprovado pelo trecho:

a) O senhor aprova?
b) Nenhum! — é o que digo.
c) Não? Lhe agradeço!
d) Tem diabo nenhum.
e) Até: nas crianças — eu digo.

10. (UFRS) O personagem Riobaldo, de GRANDE SERTÃO: VEREDAS,
a) tem péssima pontaria, e por isso prefere lutar à faca com seus inimigos, alcançando fama de degolador cruel e inclemente.
b) desnuda sua sensibilidade feminina passo a passo, a partir da descoberta da atração física pelos outros jagunços.
c) indaga-se a fundo para saber se o pacto que fez com o Diabo tem valor ou não e se as guerras e os sofrimentos humanos têm origem na intervenção do Demônio.
d) ao derrotar Joca Ramiro e Medeiro Vaz, ganha a inimizade de Zé Bebelo, aliado dos dois anteriores e sócio de Hermógenes.
e) para ser reconhecido como líder pelos jagunços, é forçado a lutar com seu melhor amigo, apesar de saber que Diadorim tem uma reza que lhe dá corpo fechado.

11. (ENEM) O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. ROSA. J. G. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

No romance Grande sertão: veredas, o protagonista Riobaldo narra sua trajetória de jagunço. A leitura do trecho permite identificar que o desabafo de Riobaldo se aproxima de um(a)

a) diário, por trazer lembranças pessoais.

b) fábula, por apresentar uma lição de moral.

c) notícia, por informar sobre um acontecimento.

d) aforismo, por expor uma máxima em poucas palavras.

e) crônica, por tratar de fatos do cotidiano.

12.(F. CARLOS CHAGAS-SP) Em Grande sertão: veredas, de Guimarães rosa, ergue-se como presença dominadora a terra bruta dos confins de Minas Gerais; as personagens figuram o Homem endurecido pela rude lida do sertão; e o enredo é a Luta épica entre grupos de jagunços. Esses três elementos estruturais lembram uma semelhança básica com:

a)O sertão, de Coelho Neto.

b) Canaã, de Graça Aranha.

c) Os caboclos, de Waldomiro Silveira.

d) Urupês, de Monteiro Lobato.

e) Os sertões, de Euclides da Cunha.

13. (UFMG) É CORRETO afirmar que, entre os elementos que evidenciam a presença de intertextualidade na composição de “Grande sertão: veredas”, NÃO se inclui
a) o caso de Maria Mutema e Padre Ponte.
b) a lembrança recorrente da toada de Siruiz.
c) o relato do assassinato do chefe Zé Bebelo.
d) a narração do pacto de Riobaldo com o diabo.

14. (UC-BA) “A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que nem não misturam. Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo as coisas de rasa importância. De cada vivimento que eu real tive, de alegria forte ou pesar, cada vez daquela hoje vejo que eu era como se fosse diferente pessoa. Sucedido, desgovernado. Assim eu acho, assim eu conto (…). Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data.

O trecho acima, de Grande Sertão: veredas, de Guimarães Rosa, esclarece um dos aspectos do tratamento dado ao tempo nessa obra. Assinale a alternativa em que se explicita esse tratamento.

a)narrador alterna o relato de fatos importantes do passado com a narração de pequenos episódios mais recentes.

b)A ordem cronológica da narrativa vai conferindo aos fatos relatados a importância real que tiveram no passado.

c) A narrativa constrói-se a partir de um tempo reestruturado pela memória, em que os acontecimentos se classificam segundo uma ordem de importância subjetiva.

d) relato dos acontecimentos não é feito em ordem cronológica, porque, se o fosse, ficaria falseada a importância dos fatos narrados, visto que a memória é mentirosa.

e) tempo da narrativa confunde na memória os acontecimentos significativos com aqueles que têm importância menor

15. (UNIFESP) Leia o texto a seguir e responda à questão.

Explico ao senhor: o diabo vige dentro do homem, os crespos do homem — ou é o homem arruinado, ou o homem dos avessos. Solto, por si, cidadão, é que não tem diabo nenhum. Nenhum! — é o que digo. O senhor aprova? Me declare tudo, franco — é alta mercê que me faz: e pedir posso, encarecido. Este caso — por estúrdio que me vejam — é de minha certa importância. Tomara não fosse… Mas, não diga que o senhor, assisado e instruído, que acredita na pessoa dele?! Não? Lhe agradeço! Sua alta opinião compõe minha valia. Já sabia, esperava por ela — já o campo! Ah, a gente, na velhice, carece de ter uma aragem de descanso. Lhe agradeço. Tem diabo nenhum. Nem espírito. Nunca vi. Alguém devia de ver, então era eu mesmo, este vosso servidor. Fosse lhe contar… Bem, o diabo regula seu estado preto, nas criaturas, nas mulheres, nos homens. Até: nas crianças — eu digo. Pois não é o ditado: “menino — trem do diabo”? E nos usos, nas plantas, nas águas, na terra, no vento… Estrumes… O diabo na rua, no meio do redemunho… (Guimarães Rosa. Grande Sertão: Veredas.)

O texto de Guimarães Rosa mostra uma forma peculiar de escrita, denunciada pelos recursos linguísticos empregados pelo escritor. Dentre as características do texto, está:

a) o emprego da linguagem culta, na voz do narrador, e o da linguagem regional, na voz da personagem.
b) a recriação da fala regional no vocabulário, na sintaxe e na melodia da frase.
c) o emprego da linguagem regional predominantemente no campo do vocabulário.
d) a apresentação da língua do sertão fiel à fala do sertanejo.
e) o uso da linguagem culta, sem regionalismos, mas com novas construções sintáticas e rítmicas

16. (PUCCAMP) “O romance é narrado na primeira pessoa, em monólogo ininterrupto, por um velho fazendeiro do Norte de Minas, antigo jagunço. Na estrutura do livro, os fatos são transpostos para uma atmosfera lendária e o real se cruza com o fantástico.”

As afirmações acima referem-se à obra-prima de um grande escritor brasileiro moderno:

a)Saragana, de João Guimarães Rosa.

b) Cangaceiros, de José Lins do Rego.

c) Menino do Engenho, de José Lins do Rego.

d) Grande Sertão: veredas, de João Guimarães Rosa.

e) Tempo e o Vento, de Erico Verissimo.

17.(UFMG) Considerando-se a narração do julgamento de Zé Bebelo, em “Grande sertão: veredas”, de João Guimarães Rosa, é CORRETO afirmar que esse fato
a) significou a chegada de nova ordem jurídica ao sertão.
b) aumentou o poder dos grandes chefes de jagunços.
c) representou a continuidade do mando de Joca Ramiro.
d) legitimou o princípio da vingança e o uso da violência.

18.(MACKENZIE) “O jagunço Riobaldo conta sua vida nos campos gerais, onde tem destaque seu amor por Diadorim. A história seque o ritmo dos romances de cavalaria, fugindo aos padrões do realismo. O livro é uma sucessão de frases evocativas de Riobaldo, numa cronologia própria, frases curtas em que as palavras, frequentemente, aparecem em ordem inversa.”
O trecho acima refere-se a:
a) “São Bernardo”.
b) “Fogo Morto”.
c) “A Bagaceira”.
d) “Grande Sertão: Veredas”.
e) “Angústia”.

19. (UFVJM) O narrador do romance Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, é

a) Zé Bebelo.

b) Diadorim.

c) Riobaldo.

d) João Concliz.


20. (ESPM) Leia o texto:

“O senhor… Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas — mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão. E, outra coisa: o diabo, é às brutas; mas Deus é traiçoeiro! Ah, uma beleza de traiçoeiro — dá gosto! A força dele, quando quer — moço! —me dá o medo pavor! Deus vem vindo: ninguém não vê. Ele faz é na lei do mansinho — assim é o milagre. E Deus ataca bonito, se divertindo, se economiza.” (Grande Sertão: Veredas, Guimarães Rosa)

Marque a afirmação que NÃO corresponde:

a) trata-se de uma narrativa oral, perceptível pelo uso de vocativos como “senhor” e “moço”.
b) Deus age sutilmente (“lei do mansinho”), enquanto o diabo o faz de maneira escancarada (“às brutas”)
c) na vida, tudo flui incessantemente, nada é estático: “as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas”.
d) o milagre resulta do inesperado, do modo contido (“se economiza”), e não do espalhafatoso.
e) o termo “traiçoeiro” atribuído a Deus possui um sentido pejorativo, depreciativo.

21. (UFRS) Leia o trecho abaixo de “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa.
“-Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvores no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço, gosto; desde mal em minha mocidade. Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro: um bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser – se viu -; e com máscara de cachorro. Me disseram; eu não quis avistar. Mesmo que, por defeito como nasceu, arrebitado de beiços, esse figurava rindo feito pessoa. Cara de gente, cara de cão: determinaram – era o demo. Povo prascóvio. Mataram. Dono dele nem sei quem for. Vieram emprestar minhas armas, cedi. Não tenho abusões. O senhor ri certas risadas… Olhe: quando é tiro de verdade, primeiro a cachorrada pega a latir, instantaneamente – depois, então, se vai ver se deu mortos. O senhor tolere, isto é o sertão.”
Assinale a afirmativa correta em relação ao trecho.
a) “Nonada” remete a uma situação anterior, pressuposta no início do romance, sobre a qual o narrador e o ouvinte estariam conversando.
b) As palavras do narrador indicam que o “senhor” compreendeu adequadamente o ocorrido.
c) A interpretação do interlocutor sobre os tiros está equivocada, pois aquilo que ele pensou não poderia ocorrer no sertão.
d) O aparecimento do bezerro com máscara de cachorro não causa estranhamento entre os sertanejos.
e) Para o narrador, os tiros sempre indicam que houve morte de homens.

22. (UCSAL-BA) A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que nem não misturam. Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo as coisas de rasa importância. De cada vivimento que eu real tive, de alegria forte ou pesar, cada vez daquela hoje vejo que eu era como se fosse diferente pessoa. Sucedido, desgovernado. Assim eu acho, assim eu conto […]. Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data.

O trecho anterior, de Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, esclarece um dos aspectos do tratamento dado ao tempo nessa obra. Assinale a alternativa em que se explicita esse tratamento.

a) O narrador alterna relatos de fatos importantes do passado com a narração de pequenos episódios mais recentes.

b) A ordem cronológica da narrativa vai conferindo aos fatos relatados a importância real que tiveram no passado.

c) A narrativa constrói-se a partir de um tempo reestruturado pela memória, em que os acontecimentos se classificam segundo uma ordem de importância subjetiva.

d) O relato dos acontecimentos não é feito em ordem cronológica, porque, se o fosse, ficaria falseada a importância dos fatos narrados, visto que a memória é mentirosa.

e) O tempo da narrativa confunde na memória os acontecimentos significativos com aqueles que tem importância menor.

23. (UEL) Enquanto o Brasil modernizava-se e industrializava-se, nos anos do chamado “desenvolvimentismo”, este romance – sem abrir mão de uma linguagem revolucionariamente moderna – mergulhou fundo tanto nas experiências concretas quanto no imaginário dos homens rústicos de uma região até então pouco representada em nossa literatura.

O período acima refere-se a

a) GABRIELA, CRAVO E CANELA.

b) GRANDE SERTÃO: VEREDAS.

c) MACUNAÍMA.

 d) OS SERTÕES.

(UFRS) Leia os trechos abaixo, extraídos do romance “Grande Sertão: Veredas”, de João Guimarães Rosa.
1. “O que vale, são outras coisas. A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que nem não misturam.”
2. “Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvore, no quintal, no baixo do córrego. […] Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro; um bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser – se viu -; e com máscara de cachorro.”
3. “O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: […] Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; é onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade.”
4. “Eu queria decifrar as coisas que são importantes. E estou contando não é uma vida de sertanejo, seja se for jagunço, mas a matéria vertente. Queria entender do medo e da coragem, e da gã que empurra a gente para fazer tantos atos, dar corpo ao suceder.”
5. “[…] sempre que se começa a ter amor a alguém, no ramerrão, o amor pega e cresce é porque, de certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na ideia, querendo e ajudando; mas, quando é destino dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço fatal, carecendo de quer, e é um só facear com as surpresas. Amor desse, cresce primeiro; brota é depois.”
Associe adequadamente as seis afirmações abaixo com os cinco fragmentos transcritos acima.
( ) Sob o forte impacto do seu amor por Diadorim, Riobaldo procura entender a diferença desse amor imposto pelo destino.
( ) O narrador busca definições exemplares do sertão, espaço que não se pode dimensionar.
( ) Trata-se das palavras iniciais do romance, que já dão sinais da existência de um interlocutor presente.
( ) Riobaldo ultrapassa a condição de homem da sua região, narrando o seu desejo de compreender os sentimentos e as forças que movem a vida humana.
( ) Trata-se de uma reflexão sobre a memória dos episódios vividos pelos seres humanos.
( ) O diabo, que Riobaldo vai enfrentar na cena do pacto, pode assumir várias formas, como as de animais.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é
a) 3 – 2 – 5 – 4 – 1 – 3.
b) 5 – 3 – 2 – 4 – 1 – 2.
c) 4 – 2 – 3 – 1 – 5 – 4.
d) 5 – 3 – 4 – 2 – 2 – 1.
e) 4 – 1 – 3 – 1 – 5 – 2.

25. (UFRS) GRANDE SERTÃO: VEREDAS rompe com a narrativa conhecida como Romance de 30 e estabelece um novo padrão para a narrativa longa brasileira. Entretanto, a obra de Guimarães Rosa NÃO rompe com
a) a ambientação preferencialmente rural.
b) o foco narrativo na terceira pessoa.
c) a crítica ao latifúndio.
d) a denúncia social.
e) a linguagem enxuta e discreta.

26.(IELUSC) Texto para a próxima questão:

O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: que situado sertão é por os campos-gerais a fora a dentro, eles dizem, fim de rumo, terras altas, demais do Urucúia. Toleima. […] Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar, dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade. (Guimarães Rosa)

O texto é um fragmento de Grande sertão: veredas (1956), único romance de Guimarães Rosa. Sobre esta grandiosa obra, assinale a alternativa CORRETA.

a) Trata-se de uma história em que o autor fala da vida dos cangaceiros, “os errantes sem eira nem beira”, que sofriam com o calor das matas amazônicas.
b) É uma história apresentada como um imenso monólogo em que Riobaldo, ex-jagunço do norte de Minas e agora pacato fazendeiro, conta os casos que viveu a um compadre.
c) Conta a saga de Severino, um retirante que atravessa o sertão de Pernambuco em busca de uma vida mais digna.
d) Narra a história de amor entre Gabriela e Nacib, tendo os traços exóticos da região de Ilhéus como cenário.
e) Valendo-se do realismo fantástico em sua segunda parte, traz, como personagens centrais, mortos que ressuscitam para denunciar a corrupção dos vivos.

27. (PUC-PR) Em ” Grande Sertão: Veredas”, o jagunço Riobaldo, que é o narrador da história, já no início da narrativa, se autocensura: “Ai, arre, que esta minha boca não tem ordem nenhuma. Estou contando fora, coisas divagadas”. (GSV, p.19).
Este modo de mostrar os bastidores da narração identifica uma das características da narrativa contemporânea.
Escolha a alternativa que identifica esta característica.
a) A ordem da narração está fora da vontade do narrador.
b) Não importa quando os fatos narrados acontecem, e, sim, seu significado.
c) O narrador é sempre um personagem confuso e dominado pelos fatos narrados.
d) A ordem da narração deixou de ser linear, isto é, dos fatos mais antigos para os mais recentes.
e) O romance emprega palavras de gíria, porque o narrador é um homem inculto.

28. (UFRS) Leia os trechos abaixo, extraídos do romance “Grande Sertão: Veredas”, de João Guimarães Rosa.
1. “O que vale, são outras coisas. A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que nem não misturam.”
2. “Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvore, no quintal, no baixo do córrego. […] Daí, vieram me chamar. Causa dum bezerro; um bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser – se viu -; e com máscara de cachorro.”
3. “O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: […] Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; é onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade.”
4. “Eu queria decifrar as coisas que são importantes. E estou contando não é uma vida de sertanejo, seja se for jagunço, mas a matéria vertente. Queria entender do medo e da coragem, e da gã que empurra a gente para fazer tantos atos, dar corpo ao suceder.”
5. “[…] sempre que se começa a ter amor a alguém, no ramerrão, o amor pega e cresce é porque, de certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na ideia, querendo e ajudando; mas, quando é destino dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço fatal, carecendo de quer, e é um só facear com as surpresas. Amor desse, cresce primeiro; brota é depois.”
Associe adequadamente as seis afirmações abaixo com os cinco fragmentos transcritos acima.
( ) Sob o forte impacto do seu amor por Diadorim, Riobaldo procura entender a diferença desse amor imposto pelo destino.
( ) O narrador busca definições exemplares do sertão, espaço que não se pode dimensionar.
( ) Trata-se das palavras iniciais do romance, que já dão sinais da existência de um interlocutor presente.
( ) Riobaldo ultrapassa a condição de homem da sua região, narrando o seu desejo de compreender os sentimentos e as forças que movem a vida humana.
( ) Trata-se de uma reflexão sobre a memória dos episódios vividos pelos seres humanos.
( ) O diabo, que Riobaldo vai enfrentar na cena do pacto, pode assumir várias formas, como as de animais.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é
a) 3 – 2 – 5 – 4 – 1 – 3.
b) 5 – 3 – 2 – 4 – 1 – 2.
c) 4 – 2 – 3 – 1 – 5 – 4.
d) 5 – 3 – 4 – 2 – 2 – 1.
e) 4 – 1 – 3 – 1 – 5 – 2.

29. (FATEC) “Diadorim me pôs o rastro dele para sempre em todas essas quisquilhas da natureza. Sei como sei. Som com os sapos sorumbavam.

Diadorim, duro sério, tão bonito, no relume das brasas. Quase que a gente não abria boca; mas era um delém que me tirava para ele – o irremediável extenso da vida.”

Assinale a alternativa que apresente, respectivamente: narrador-personagem, obra e autor do texto acima.

a)Macunaíma – Macunaíma – Mário de Andrade;

b) Macabea – A Hora da Estrela – Clarice Lispector;

c) Sofia – Quincas Borba – Machado de Assis.

d) Riobaldo – Grande Sertão: Veredas – Guimarães Rosa.

e) Iracema – Iracema – José de Alencar.

30. (UFVJM) Leia este trecho.

Hem? Hem? Ah. Figuração minha, de pior pra trás, as certas lembranças. Mal haja-me! Sofro pena de contar não… Melhor, se arrepare: pois, num chão, e com igual formato de ramos e folhas, não dá a mandioca mansa, que se come comum, e a mandioca-brava, que mata? Agora, o senhor já viu uma estranhez? A mandioca-doce pode de repente virar azangada – motivos não sei; às vezes se diz que é por replantada no terreno sempre, com mudas seguidas, de manaíbas – vai em amargando, de tanto em tanto, de si mesma toma peçonhas. E, ora veja: a outra, a mandioca brava, também é que às vezes pode ficar mansa, a esmo, de se comer sem nenhum mal. ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas. 19. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. P. 27

Com base nesse trecho, pode-se afirmar que Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, é marcado

a) pela riqueza da oralidade;

b) pela escassez da linguagem oral;

c) pela pobreza da variação linguística;

d) pelo preconceito contra as variações linguísticas.

31. (UNILAVRAS) Com relação à obra Grande Sertão: veredas, de João Guimarães, podemos afirmar:

I- O personagem principal, Riobaldo, é um exjagunço do norte de Minas que gasta seu tempo com conversas com as pessoas que passam pelo local.
II- Riobaldo, o personagem-narrador conta sua vida, numa espécie de monólogo ininterrupto, a um interlocutor que jamais tem a palavra.
III- O narrador-personagem, apesar de ter pertencido à plebe rural e ter aderido à jagunçagem, recebeu educação formal, o que justifica o caráter metafísico de seu discurso.

a) Apenas a alternativa I está correta.
b) Apenas a alternativa II está correta.
c) Apenas a alternativa III está correta.
d) Estão corretas apenas as alternativas II e III.
e) Todas as alternativas estão corretas.

32. (UFVJM) A respeito do enredo de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, é correto afirmar que

a) Diadorim, Urutu-Branco e Tatarana são irmãos.

b) Riobaldo e Diadorim tentam vingar a morte de Joca Ramiro.

c) O Diabo, na verdade, é um ex-jagunço que narra sua história.

d) Joca Ramiro é um sacerdote católico mineiro que aconselha os jagunços.

33.(UFPR) Leia trecho de Grande sertão: veredas.

“Tem cisma não. Pensa para diante. Comprar ou vender, às vezes, são as ações que são as quase iguais…” E me cerro, aqui, mire e veja. Isto não é o de um relatar passagens de sua vida, em toda admiração. Conto o que fui e vi, no levantar do dia. Auroras. Cerro. O senhor vê. Contei tudo. Agora estou aqui quase barranqueiro. Para a velhice vou, com ordem e trabalho. Sei de mim? Cumpro. O Rio de São Francisco – que de tão grande se comparece – parece um pau grosso, em pé, enorme… Amável o senhor me ouviu, minha ideia confirmou: que o Diabo não existe. Pois não? O senhor é um homem soberano, circunspecto. Amigos somos. Nonada. O diabo não há! É o que eu digo, se for… Existe é homem humano. Travessia.

O texto apresenta

a) o início da narrativa, revelando a precaução que o narrador tem ao referir-se ao Diabo, preferindo negar-lhe a existência.

b) a conclusão da narrativa, na qual o narrador mostra que, mais do que questionar a existência do Diabo, é necessário conhecer a natureza humana.

c) os entremeios da narrativa, mostrando a forma agressiva como o narrador se põe a falar da existência do Diabo.

d) o início da narrativa, enfatizando que o Diabo não existe, pois o narrador teme que seu interlocutor se sinta ofendido.

e) a conclusão da narrativa, revelando que o narrador, ao contrário do que pensa seu interlocutor, acredita mesmo no Diabo.

34.(ENEM) A imagem integra uma adaptação em quadrinhos da obra Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. Na representação gráfica, a inter-relação de diferentes linguagens caracteriza-se por:

A personagem da canção canta passagens da sua vida de forma amargurada

a) romper com a linearidade das ações da narrativa literária.    

b) ilustrar de modo fidedigno passagens representativas da história.    

c) articular a tensão do romance à desproporcionalidade das formas.    

d) potencializar a dramaticidade do episódio com recursos das artes visuais.    

e) desconstruir a diagramação do texto literário pelo desequilíbrio da composição.    

35. (IBMEC) Utilize o texto a seguir para responder ao teste.

Amor e morte

“Eu dizendo que a Mulher ia lavar o corpo dele. Ela rezava rezas da Bahia. Mandou todo o mundo sair.
Eu fiquei. E a Mulher abanou brandamente a cabeça, consoante deu um suspiro simples. Ela me mal- entendia. Não me mostrou de propósito o corpo. E disse…
Diadorim — nu de tudo. E ela disse:
— ‘A Deus dada. Pobrezinha…’
E disse. Eu conheci! Como em todo o tempo antes eu não contei ao senhor — e mercê peço: — mas para o senhor divulgar comigo, a par, justo o travo de tanto segredo, sabendo somente no átimo em que eu também só soube… Que Diadorim era o corpo de uma mulher, moça perfeita… estarreci. A dor não pode mais do que a surpresa.
A coice d’arma, de coronha…
Ela era. Tal que assim se desencantava, num encanto tão terrível; e levantei mão para me benzer — mas com ela tapei foi um soluçar, e enxuguei as lágrimas maiores. Uivei. Diadorim! Diadorim era uma mulher. Diadorim era mulher como o sol não acende a água do rio Urucúia, como eu solucei meu desespero.
O senhor não repare. Demore, que eu conto. A vida da gente nunca tem termo real.
Eu estendi as mãos para tocar naquele corpo, e estremeci, retirando as mãos para trás, incendiável; abaixei meus olhos. E a Mulher estendeu a toalha, recobrindo as partes. Mas aqueles olhos eu beijei, e as faces, a boca.
Adivinhava os cabelos. Cabelos que cortou com tesoura de prata… Cabelos que, no só ser, haviam de dar para abaixo da cintura… E eu não sabia por que nome chamar; eu exclamei me doendo:
— ‘Meu amor!…’
Foi assim. Eu tinha me debruçado na janela, para poder não presenciar o mundo.
A Mulher lavou o corpo, que revestiu com a melhor peça de roupa que ela tirou da trouxa dela mesma. No peito, entre as mãos postas, ainda depositou o cordão com o escapulário que tinha sido meu, e um rosário, de coquinhos de ouricuri e contas de lágrimas-de-nossa- senhora. Só faltou — ah! — a pedra-de-ametista, tanto trazida…
O Quipes veio, com as velas, que acendemos em quadral. Essas coisas se passavam perto de mim. Como tinham ido abrir a cova, cristãmente. Pelo repugnar e revoltar, primeiro eu quis: — ‘Enterrem separado dos outros, num aliso de vereda, adonde ninguém ache, nunca se saiba … ’ Tal que disse, doidava. Recaí no marcar do sofrer. Em real me vi, que com a Mulher junto abraçado, nós dois chorávamos extenso. E todos meus jagunços decididos choravam… Daí, fomos, e em sepultura deixamos, no cemitério do Paredão enterrada, em campo do sertão.
Ela tinha amor em mim.
E aquela era a hora do mais tarde. O céu vem abaixando. Narrei ao senhor. No que narrei, o senhor talvez até ache mais do que eu, a minha verdade. Fim que foi.” (ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: veredas. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1986, p. 530-1)

A que verdade Riobaldo, o narrador, se refere?

a) Ao fato de que Diadorim andava disfarçada porque não correspondia ao sentimento que Riobaldo nutria por ela.
b) Ao fato de tanto terem lutado e, mesmo assim, perderem a luta pela posse e domínio das terras do lugar.
c) Ao misticismo que acompanhava Diadorim. Tanto é que se fez enterrar com escapulário, rosário e pedra de ametista.
d) Ao iminente fim do bando a partir da morte de Diadorim que era comandante da tropa.
e) Ao fato de que ele se sentia totalmente atraído por Diadorim, mesmo antes de saber que ela era mulher.

36. (UFPE) “Moço: Toda saudade é uma espécie de velhice”.
“Amar é reconhecer-se incompleto”.
“Viver é muito perigoso”.
(Guimarães Rosa)
As frases acima são de autoria de Guimarães Rosa. Sobre esse autor, podemos afirmar que:
( ) fez parte da geração de 45, cujo diferencial foi a expansão do regionalismo, um regionalismo universal e cósmico.
( ) em suas narrativas, retrata o sertão das Gerais, e a gente que lá vive: matutos, vaqueiros, crianças, velhos, feiticeiros e loucos, sem priorizar questões regionais.
( ) como se vê nas frases acima, a sua linguagem incorpora o falar coloquial dos sertanejos, com o uso de aforismos.
( ) não conseguiu atingir o objetivo de renovação da linguagem literária, tendo sua obra um caráter passadista e pouco inovador.
( ) no conjunto de sua obra, destacam-se “Sagarana”, seu livro de estreia, “Corpo de Baile”, “Tutaméia” e um único romance, considerado sua obra-prima, “Grande Sertão: Veredas”.
RESPOSTA:V V V F V

37. (PUCC-SP) Guimarães Rosa – numa linguagem em que a palavra é valorizada não só pelo seu significado, como também pelos seus sons e formas – tomou um tipo humano tradicional em nossa ficção, o jagunço, e transportou-o, além do documento, até a esfera onde os tipos literários passam a representar os problemas comuns da nossa humanidade.

Exemplifica as palavras acima o trecho de Guimarães Rosa:

a) “O chefe disse: me traga esse homem vivo, seu Getúlio. Quero o bicho vivão aqui e, pulando. O homem era valente, quis combate, mas a subaqueira dele anganchou a arma, de sorte que foi o fim dele. Uma parabelada no focinho, passarinhou aqui e ali e parou.”

b) “À sua audácia e atrocidade deve seu renome este herói legendário para o qual não achamos par nas crônicas provinciais. Durante muitos anos, ouvindo suas mães ou suas aias cantarem as trovas comemorativas da vida e morte desse como Cid, ou Robin Hood pernambucano, os meninos tomados de pavor adormeceram mais depressa do que se lhes contassem as proezas do lobisomem ou a história do negro do surrão muito em voga entre o povo naqueles tempos.”

c) “João Miguel sentiu na mão que empunhava a faca a sensação fofa de quem fura um embrulho. O homem, ferido no ventre, caiu de borco, e de sob ele um sangue grosso começou a escorrer sem parar, num riacho vermelho e morno, formando poças encarnadas nas anfractuosidades do ladrilho.”

d) “Qu’é que me acuava? Agora, eu velho, vejo: quando cogito, quando relembro, conheço que naquele tempo eu girava leve demais, e assoprado. Deus deixou. Deus é urgente sem pressa. O sertão é dele. Eh! – o que o senhor quer indagar, eu sei. Porque o senhor está pensando alto, em quantidades. Eh. Do demo?”

e) “O tiroteio começou. A princípio ralo, depois mais cerrado. O padre olhava para seu velho relógio: uma da madrugada. Apagou a vela e ficou escutando. Havia momentos de trégua, depois de novo recomeçavam os tiros. E assim o combate continuou madrugada adentro. O dia raiava quando lhe vieram bater à porta. Foi abrir. Era um oficial dos farrapos cuja barba negra contrastava com a palidez esverdinhada do rosto.”

38. — Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvore, no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço, gosto; desde mal em minha mocidade.

*Nonada: pode-se traduzir o significado de “nonada” como se o signo fosse um nome: “o nada”, “coisa alguma”; como um pronome substantivo: “nada”; como um advérbio: “em lugar algum”, “em parte alguma”, “no nada”; como uma predicação: “algo não é coisa alguma”, “isso é nada”, “algo é no nada”, “algo é nada”.

Acompanhado dos chefes-de-turma ― que ele dava patente de serem seus sotenentes e oficiais de seu terço ― Zé Bebelo, montado num formudo ruço-pombo e com um chapéu distintíssimo na cabeça, repassava daqui p’r’ali, eguando bem, vistoriava.

*Formudo: formudo = formoso + sufixo de grau 3 aumentativo de adjetivo –udo.

Os fragmentos que você leu acima fazem parte do romance Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. A partir da leitura dos trechos, é possível observar uma grande característica da linguagem desse escritor:

a) uso constante de figuras de sintaxe.

b) emprego de empréstimos linguísticos.

c) uso constante de figuras de linguagem.

d) gosto pelos neologismos semânticos e sintáticos.

39. (UFMG) É CORRETO afirmar que, entre os elementos que evidenciam a presença de intertextualidade na composição de Grande sertão: veredas, NÃO se inclui:

a) o caso de Maria Mutema e Padre Ponte.
b) a lembrança recorrente da toada de Siruiz.
c) o relato do assassinato do chefe Zé Bebelo.
d) a narração do pacto de Riobaldo com o diabo.

40. (UNB) Tomando o tempo da gente, os soldados remexiam este mundo todo. Milho crescia em roças, sabiá deu cria, gameleira pingou frutinhas, o pequi amadurecia no pequizeiro e a cair no chão, veio veranico, pitanga e caju nos campos. Até que voltaram as tempestades, mas entre aquelas noites de estrelaria se encostando. Daí, depois, o vento principiou a entortar rumo, mais forte — porque o tempo todo das águas estava no se acabar. João Guimarães Rosa. Grande sertão: veredas, 19.ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001, p. 319.

A partir da leitura desse fragmento da obra Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, julgue os itens a seguir.

55 O narrador atesta o passar do tempo por meio de uma ordenação de eventos naturais segundo a sucessão temporal desses eventos.

56 Esse fragmento de texto descreve efeitos de uma característica climática: a sazonalidade das chuvas, que se verifica, por exemplo, nas regiões Centro-Oeste e Nordeste do Brasil.

RESPOSTAS: C, C41.(UFAM) Leia o trecho abaixo, extraído de famoso romance brasileiro:

“Aprovaram, os todos, todos. Até Zé Bebelo mesmo. Assim Joca Ramiro refalou, normal, seguro de sua estança, por mais se impor, uma fala que ele drede avagarava. Dito disse que ali, sumetido diante, só estava um inimigo vencido em combates, e que agora ia receber continuação de seu destino. Julgamento, já. Ele mesmo, Joca Ramiro, como de lei, deixava para dar opinião no fim, baixar sentença. Agora, quem quisesse, podia referir acusação, dos crimes que houvesse, de todas as ações de Zé Bebelo, seus motivos; e propor condena.”

Pela linguagem em que está escrito e pelo nome de dois dos personagens, refere-se o trecho ao romance:

a) Grande sertão: veredas

b) O quinze

c) O tempo e o vento

d) São Bernardo

e) Vidas secas

42. (MACKENZIE-SP)“O nome de Diadorim, que eu tinha falado, permaneceu em mim. Me abracei com ele. Mel se sente é todo lambente — ‘Diadorim, meu amor…’ Como era que eu podia dizer aquilo? Explico ao senhor: como se drede fosse para eu não ter vergonha maior, o pensamento dele que em mim escorreu figurava diferente, um Diadorim assim meio singular, por fantasma, apartado completo do viver comum, desmisturado de todos, de todas as outras pessoas — como quando a chuva entre-onde-os-campos.”

Assinale a afirmação INCORRETA sobre a obra da qual se extraiu o fragmento acima.

a) Retrata determinada região do sertão brasileiro e também tematiza questões universais.

b) Apresenta a travessia do sertão como metáfora da travessia da vida.

c) Atribui novos sentidos a palavras usuais.

d) Reproduz com fidelidade o linguajar do sertão mineiro.

e) Explora recursos comuns à poesia, tais como o ritmo, as aliterações, as metáforas.

43. (UFMG) Assinale a alternativa em que o trecho transcrito NÃO apresenta a descrição de um espaço narrativo.
a) Esta terra, Senhor, me parece que da ponta que mais contra o sul vimos, até outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste porto houvemos vista, será tamanha que haverá nela bem 20 ou 25 léguas por costa; traz ao longo do mar, em algumas partes, grandes barreiras delas vermelhas e delas brancas e a terra por cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. (“Carta”)
b) Cabralhada. Tiba. De boa entrada, ao que me gasturei, no vendo. Aqueles eram mais de cento e meio, sofreu dos, que todos curtidos no jagunçar, rafaméia, mera gente. Azombado, que primeiro até fiquei, mas daí quis assuntação, achei, a meu cômodo. Assim, isto é, me acostumei com meio-só meu coração, naquele arranchamento. (“Grande sertão: veredas”)
c) O zaino galopava e Rodrigo aspirava com força o ar, que cheirava a capim e distância. Quero-queros voaram, perto, guinchando. Longe, uma avestruz corria, descendo uma coxilha. O capitão começou a gritar um grito sincopado e estrídulo, bem como faziam os carreiristas no auge da corrida. (“Um certo capitão Rodrigo”)
d) Chovia a cântaros. Os medonhos trovões do Amazonas atroavam os ares; de minuto em minuto relâmpagos rasgavam o céu. O rapaz corria. Os galhos úmidos das árvores batiam-lhe no rosto. Os seus pés enterravam-se nas folhas molhadas que tapetavam o solo. De quando em quando, ouvia o ruído da queda das árvores feridas pelo raio ou derrubadas pelo vento, e cada vez mais perto o uivo de uma onça faminta. (“Contos amazônicos”)

44. (UFPR) A obra Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa:

a)continua o regionalismo dos fins do século passado, sem grandes inovações.

b) exprime problemas humanos, em estilo próprio, baseado na contribuição linguística regional.

c) descreve tipos de várias regiões do Brasil, na tentativa de documentar a realidade brasileira.

d) fixa os tipos regionais, com precisão científica.

e) idealiza o tipo sertanejo, continuando a tradição de Alencar

45. (UFRGS) Leia o trecho do romance Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, abaixo. Essas coisas todas se passaram tempos depois. Talhei de avanço, em minha história. O senhor tolere minhas más devassas no contar. É ignorância. Eu não converso com ninguém de fora, quase. Não sei contar direito. Aprendi um pouco foi com o compadre meu Quelemém; mas ele quer saber tudo diverso: quer não é o caso inteirado em si, mas a sobre-coisa, a outra-coisa. Agora, neste dia nosso, com o senhor mesmo -me escutando com devoção assim -é que aos poucos vou indo aprendendo a contar corrigido. E para o dito volto. Como eu estava, com o senhor, no meio dos hermógenes. Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações sobre o trecho.

( ) Riobaldo, narrador da história, tem consciência de que sua narrativa obedece ao fluxo da memória e não à cronologia dos fatos. 

( ) A ignorância de Riobaldo é expressa pelos erros gramaticais e pela inabilidade em contar sua história, que carece de ordenação.

( ) “A sobre-coisa, a outra-coisa”, que o compadre Quelemém quer, é a interpretação da própria vivência e não o simples relato dos acontecimentos.

( ) O ouvinte exerce um papel importante, pois obriga Riobaldo a organizar a narrativa e a dar significado ao narrado.

a) F – V – V – F.

b) V – F – V – V.

c) F – V – F – V.

d) V – V – F – V.

e) F – F – V – F.

46. (UFPE) Alguns clássicos da literatura brasileira da segunda metade do século XX já operavam um desvio no ideário do movimento regionalista de 1930. Leia os textos abaixo e analise os comentários a seguir.

beira dele, tudo dá – fazendões de fazendas, almargem de vargens de bom render, as vazantes; culturas que vão de mata em mata, madeiras de grossura, até ainda virgens dessas lá há. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães (…) o sertão está em toda a parte. (…) Aqui é Minas; lá já é a Bahia? Estive nessas vilas, velhas, altas cidades (…) Sertão é o sozinho. Compadre meu Quelemém diz: que eu sou muito do sertão? Sertão: é dentro da gente.”(…)

Rebulir com o sertão, como dono? Mas o sertão era para, aos poucos e poucos, se ir obedecendo a ele; não era para à força se compor. Todos que malmontam no sertão só alcançam de reger em rédea por uns trechos. Que sorrateiro o sertão vai virando tigre debaixo da sela. (Guimarães Rosa, Grande sertão: veredas).

O casario, as cruzes, aves e árvores, vacas e cavalos, a estrada, os cata-ventos, nós levando Joana para o cemitério. Chapéus na mão, rostos duros, mãos ásperas, roupas de brim, alpercatas de couro, nós vamos conduzindo Joana para o cemitério, nós, os ninguéns da cidade, que sempre a ignoraram os outros, gente do dinheiro e do poder. Desapareceu a lua no horizonte. E todos viram ser a brancura do mundo apenas uma crosta, pele que se rompia, que se rompeu, desfez-se, revelou o esplendor e o sujo do arvoredo, do chão, a cor do mundo. Jambos, mangas-rosa, cajus, goiabas, romãs, tudo pendia dos ramos, era uma fartura, um pomar generoso e pesado de cheiros. Viveu seus anos com mansidão e justiça, humildade e firmeza, amor e comiseração. Morreu com mínimos bens e reduzidos amigos. Nunca de nunca a rapinagem alheia liberou ambições em seu espírito. Nunca o mal sofrido gerou em sua alma outras maldades. Morreu no fim do inverno. Nascerá outra igual na próxima estação?

(Osman Lins, Retábulo de Santa Joana Carolina).

“Uma vez por outra tinha a sorte de ouvir de madrugada um galo cantar a vida e ela se lembrava nostálgica do sertão. Onde caberia um galo a cocoricar naquelas paragens ressequidas de artigos por atacado de exportação e importação? (…) Talvez a nordestina já tivesse chegado à conclusão de que a vida incomoda bastante, alma que não cabe bem no corpo, mesmo alma rala como a sua. Imaginavazinha, toda supersticiosa, que se por acaso viesse alguma vez a sentir um gosto bem

bom de viver – se desencantaria de súbito de princesa que era e se transformaria em bicho rasteiro. Porque, porpior que fosse sua situação, não queria ser privada de si,ela queria ser ela mesma.”(Clarice Lispector, A hora da estrela).

0-0) Pela exploração literária do aspecto degradado de seus habitantes subdesenvolvidos, nos três trechos citados, fica clara a intenção de denúncia do cenário de miséria do sertão brasileiro.

1-1) Na obra de Guimarães Rosa, ao contrário da maioria dos escritores regionalistas brasileiros, o sertão é visto e vivido de uma maneira subjetiva, profunda, e não apenas como uma paisagem a ser descrita, ou como uma série de costumes que parecem pitorescos.

2-2) No conto Retábulo de Santa Joana Carolina, Osman Lins presta uma grandiosa homenagem à mulher simples e sofrida do sertão nordestino, sobrepondo a riqueza de sua sabedoria e a retidão de seu caráter à aparente miséria do contexto.

3-3) Em A hora da estrela, Clarice Lispector utiliza, em algumas passagens, uma terminologia típica da descrição dos cenários da seca nos romances regionalistas, para descrever a paisagem urbana onde vive a nordestina Macabéa.

4-4) Em todos os textos, o nordestino é valorizado em si, como ser humano que é, e não em função do aspecto do cenário em que se insere ou dos bens que acumula à sua volta.
RESPOSTA: FVVVV

47. (PU-CAMPINAS) A dificuldade inicial que encontra um leitor diante da linguagem de Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, uma vez enfrentada e vencida, transforma-se em prazerosa revelação. Isso porque a linguagem desse grande criador

a) vive da exploração de saborosos mas antigos falares locais das províncias mineiras, inacessíveis para um leitor moderno.

b) arrisca tudo no experimentalismo linguístico, influenciada que foi pelas tendências da poesia de vanguarda das décadas de 50 e 60.

c) recupera, em grande parte, o vocabulário erudito de sua matriz ficcional que é o importante romance Os sertões, de Euclides da Cunha.

d) mistura características da linguagem da norma culta com casos de transgressão típicos da oralidade espontânea do falar urbano.

e) vale-se de uma linguagem para cuja criação concorrem tanto expressões de fala regional como operações de um código elaborado pelo gênio do autor.

(UFGD) Em relação à obra veredas, de Guimarães Rosa, responda às questões 48 e 49.

48. Nesse romance, os costumes sertanejos são retratados numa linguagem especial. Quanto a essa especificidade da linguagem, é correto afirmar que

a) a linguagem é literalmente aquela utilizada pelos sertanejos.

b) a linguagem é literariamente construída, mesclando neologismos, expressões poéticas e linguajar sertanejo.

c) a linguagem é científica, formal e se aproxima daquela utilizada na esfera acadêmica.

d) a linguagem é ininteligível, pois apresenta unicamente neologismos.

e) a linguagem é literalmente aquela utilizada pelos sertanejos que eram escravos alforriados.

49. Há, em veredas, o relato de uma bela história de amor, aparentemente impossível por conta de questões sócio-culturais. Sobre a impossibilidade desse amor, assinale a alternativa correta.

a) Riobaldo amava, em silêncio, Zé Bebelo, e a impossibilidade amorosa está centrada na questão de gêneros.

b) Marcelino Pampa amava, em silêncio, Diadorim, e a impossibilidade amorosa está centrada na questão étnica.

c) Zé Bebelo amava, em silêncio, Marcelino Pampa, e a impossibilidade amorosa está centrada na questão religiosa.

d) Riobaldo amava, em silêncio, Diadorim, e a impossibilidade amorosa está centrada na questão de gênero.

e) Diadorim amava, em silêncio, Marcelino Pampa, e a impossibilidade amorosa está centrada na questão religiosa.

50. (UFAM) O fragmento a seguir é do texto de Euclides da Cunha, Os sertões, quando ele caracteriza o homem:

“O sertanejo é, antes de tudo, um forte. […] A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas. É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo, quase gingante e sinuoso, aparenta a translação de membros desarticulados. Agrava-o a postura normalmente abatida, num manifestar de displicência que lhe dá um caráter de humildade deprimente. […]”

Assinale a alternativa CORRETA:

a) A visão que o autor tem do sertanejo é alterada ao longo do livro, Os sertões, como se o autor passasse a ver melhor o homem.

b) Mesmo que não alcance o objetivo, o texto tenta seguir uma perspectiva cientificista.

c) A caracterização do sertanejo no fragmento segue o padrão romântico das descrições dos romances sertanejos.

d) Chamar o sertanejo de Hércules-Quasímodo é uma ironia.

e) Ao descrever a aparência do sertanejo, destacando-lhe os aspectos negativos, o autor corrobora a afirmação inicial do parágrafo.

(MACKENZIE) Textos para as questões de 51 e 52.

Texto I

Na paisagem do rio

difícil é saber

onde começa o rio;

onde a lama

começa do rio;

onde a terra

começa da lama;

onde o homem,

onde a pele

começa da lama;

onde começa o homem

naquele homem.

“O cão sem plumas”, João Cabral de Melo Neto

TEXTO II

O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: que situado

sertão é por os campos gerais a fora a dentro, eles dizem, fim de

rumo, terras altas, demais do Urucuia. Toleima. Para os de Corinto e

do Curvelo, então, o aqui não é dito sertão? Ah, que tem maior. […]

Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é

questão de opiniães… O sertão está em toda a parte. Grande sertão: veredas, João Guimarães Rosa

51. Considerando o texto II, no contexto da obra do escritor, assinale a alternativa correta.

a) O diálogo entre o autor e o leitor – O senhor tolere, o senhor sabe … (linhas 01 e 05) – é traço estilístico de Guimarães Rosa, caracterizado essencialmente pela oralidade e espontaneidade da fala sertaneja.

b) Expressões como Toleima (linha 03) e opiniães (linha 06), entre outras, dão um tom humorístico ao discurso e reforçam a crítica do autor à ingenuidade e cultura não-letrada do sertanejo.

c) Na fala do narrador-personagem problematizam-se os limites de uma determinada região geográfica do Brasil – o sertão –, formalizando-se, assim, o tema da relatividade dos juízos.

d) O fragmento exemplifica o regionalismo de Guimarães Rosa, desenvolvido a partir de um enfoque naturalista, em que se ressalta a cor local – fim de rumo, terras altas, demais do Urucuia (linhas 02 e 03).

e) O foco centrado na conversa de dois interlocutores de culturas diferentes – o sertanejo e o senhor – é índice da temática neorrealista que caracteriza o escritor, qual seja, o contraste entre cidade e campo.

52. Considere as seguintes assertivas relacionadas aos dois textos, levando em conta a produção dos respectivos autores.

I. O caráter literário de I e de II resulta da beleza, concisão e clareza da linguagem utilizada pelos autores para registrar fidedignamente um universo típica e exclusivamente brasileiro.

II. O valor literário de I e II deve-se ao especial tratamento linguístico que confere às palavras sentidos múltiplos.

III. O efeito conotativo dos textos permite dizer que tanto o homem referido em I, quanto o sertão referido em II, transcendem os limites do regional para representarem valores universais.

Assinale:

a) se todas as assertivas estiverem corretas.

b) se apenas I e II estiverem corretas.

c) se apenas II e III estiverem corretas.

d) se apenas II estiver correta.

e) se apenas III estiver correta.

53. (UF-BA) “Este pequeno mundo do sertão, este mundo original e cheio de contrastes, é para mim o símbolo, diria mesmo o modo de meu universo. Nós, os homens do sertão, somos fabulistas por natureza. Eu trazia sempre os ouvidos atentos, escutava tudo o que podia e comecei a transformar em lenda o ambiente que me rodeava, porque este, em sua essência, era e continua sendo uma lenda.”

O depoimento acima é do escritor:

a) Rubem Braga

b) Dalton Trevisan

c) Erico Verissimo

d) João Guimarães Rosa

e) Mário de Andrade

(UFMT) Responda às questões de 54 a 56.

Eu ouvi aquilo demais. O pacto! Se diz – o senhor sabe. Bobéia. Ao que a pessoa vai, em meia-noite, a uma encruzilhada, e chama fortemente o Cujo – e espera. Se sendo, há-de que vem um pé-de-vento, sem razão, e arre se comparece uma porca com ninhada de pintos, se não for uma galinha puxando barrigada de leitões. Tudo errado, remedante, sem completação… O senhor imaginalmente percebe? O crespo – a gente se retém – então dá um cheiro de breu queimado. E o dito – o Coxo – toma espécie, se forma! Carece de se conservar coragem. Se assina o pacto. Se assina com o sangue de pessoa. O pagar é alma. Muito mais depois. O senhor vê, superstição parva? Estornadas!… Provei. Introduzi. (p.45)

O demo, tive raiva dele? Pensei nele? Em vezes. O que era em mim valentia, não pensava; e o que pensava produzia era dúvidas de me-enleios. Repensava, no esfriar do dia. A quando é o do sol entrar, que então até é o dia mesmo, por seu remorso. Ou então, ainda melhor, no madrugal, logo no instante em que eu acordava e ainda não abria os olhos: eram só os minutos, e, ali durante, em minha rede, eu preluzia tudo claro e explicado. Assim: – Tu vigia, Riobaldo, não deixa o diabo te pôr sela… – isto eu divulgava. Aí eu queria fazer um projeto: como havia de escapulir dele, do Temba, que eu tinha mal chamado. Ele rondava por me governar? (p.458) (ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.)

54. A leitura dos dois excertos revela um dos temas que permeia a ação do romance. Qual é ele?

a)A coragem do herói em momentos de luta e perigo.

b) A existência ou não do demônio, com o qual teria sido feito um pacto.

c)O embate entre o bem e o mal que atormenta Riobaldo.

d) A necessidade de confissão para alívio do espírito.

e)A indicação do espiritual como refúgio para problemas pessoais.

55. A respeito do processo de narração de Grande sertão: veredas, pode-se afirmar que Riobaldo, o narrador,

a) caracteriza-se pela onisciência, que garante sua certeza sobre os eventos narrados: Se diz – o senhor sabe.

b) faz um relato de fatos passados, interrompendo-se para refletir sobre sua interpretação: Ele rondava por me governar?

c) conta suas aventuras a um leitor virtual, ausente da narrativa: O senhor imaginalmente percebe?

d) utiliza o discurso indireto ao retomar a fala alheia: Tu vigia, Riobaldo, não deixa o diabo te pôr sela…

e) relata, como testemunha, as ações de outras personagens: Repensava, no esfriar do dia.

56. Sobre a renovação da linguagem empreendida por Rosa, assinale a afirmativa INCORRETA.

a) O trecho Riobaldo, não deixa o diabo te pôr sela. exemplifica a quebra da ordem canônica da língua portuguesa.

b) Remedante, completação, imaginalmente são exemplos de neologismos por sufixação, que altera a classe gramatical, mas conserva o sentido original do radical.

c) Em vezes e em meia-noite são expressões correntes na língua, utilizadas com nova regência.

d) O Cujo, o Coxo, o demo, o diabo, o temba, usados como sinônimos no texto, comprovam apropriação do vocabulário popular.

e) Preluzia e me-enleios exemplificam neologismos por prefixação, com alteração do sentido original.

(ESCS) Texto para as questões 57 e 58

Sei que estou contando errado, pelos altos. Desemendo. Mas não é por disfarçar, não pense. De grave, na lei do comum, disse ao senhor quase tudo. Não crio receio. O senhor é homem de pensar o dos outros como sendo o seu, não é criatura de pôr denúncia. E meus feitos já revogaram, prescrição dita. Tenho meu respeito firmado. Agora, sou anta empoçada, ninguém me caça. Da vida pouco me resta – só o deogratias; e o troco. […] Eu estou contando assim, porque é o meu jeito de contar. Guerras e batalhas? [.] Isso é como jogo de baralho, verte, reverte. Os revoltosos depois passaram por aqui, soldados de Prestes, vinham de Goiás, reclamavam posse de todos os animais de sela. Sei que deram fogo, na barra do Urucuia, em São Romão, aonde aportou um vapor do Governo, cheio de tropas da Bahia. Muitos anos adiante, um roceiro vai lavrar um pau, encontra balas cravadas. O que vale, são outras coisas. A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que nem não misturam. Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo as coisas de rasa importância. De cada vivimento que eu real tive, de alegria forte ou pesar, cada vez daquela hoje vejo que eu era como se fosse diferente pessoa. Sucedido desgovernado. Assim eu acho, assim é que eu conto. O senhor é bondoso de me ouvir. Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data. O senhor mesmo sabe. Mire veja: aquela moça, meretriz, por lindo nome Nhorinhá, filha de Ana Duzuza: um dia eu recebi dela uma carta: carta simples, pedindo notícias e dando lembranças, escrita, acho que, por outra alheia mão. […] Ela tinha botado por fora só: Riobaldo que está com Medeiro Vaz. E veio trazida por tropeiros e viajores, recruzou tudo. […]

Sendo isto. Ao doido, doideiras digo. Mas o senhor é homem sobrevindo, sensato, fiel como papel, o senhor me ouve, pensa e repensa, e rediz, então me ajuda. Assim, é como conto. Antes conto as coisas que formaram passado para mim com mais pertença. Vou lhe falar. Lhe falo do sertão. Do que não sei. Um grande sertão! Não sei. Ninguém ainda não sabe. Só umas raríssimas pessoas — e só essas poucas veredas, veredazinhas. O que muito lhe agradeço é a sua fineza de atenção. João Guimarães Rosa. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988, p. 82-4.

57. O fragmento de texto apresentado acima foi extraído de uma das mais conhecidas obras de Guimarães Rosa, escritor que renovou a ficção regionalista brasileira. A narrativa desse autor caracteriza-se por

a) reproduzir a evasão dos sentimentos do herói, que não se reconhece em seu meio.

b) apresentar crítica política severa aos acontecimentos sertanejos nordestinos.

c) criar uma tensão crítica em que o herói luta contra o meio e as suas mazelas.

d) transfigurar metafisicamente o espaço do sertão.

e) retratar fielmente a linguagem e os costumes sertanejos.

58. No texto de Guimarães Rosa, Riobaldo, narrador de Grande Sertão: Veredas, explica ao ouvinte que seu modo de contar é

a) linear, por respeito ao ouvinte e ao leitor.

b) marcado por pesar desgovernado e, por isso, sem lógica.

c) cheio de emendas, porque os fatos relatados são de pouca importância.

d) um misto de ficção e realidade, a depender de sua vivência no momento de narrar.

e) entrecortado pela lembrança específica de cada fato, que possui ritmo e forma próprios.

59. (ESPM) Leia os fragmentos seguintes para depois considerar as afirmações sobre eles e seus autores:

(…) De que jeito eu podia amar um homem, meu de natureza igual, macho em suas roupas e suas armas, espalhado rús­tico em suas ações?! Me franzi. Ele tinha a culpa? Eu tinha a culpa? Eu era o chefe. O sertão não tem janelas nem portas. E a re­gra é assim: ou o senhor bendito governa o sertão, ou o sertão maldito vos governa… Aquilo eu repeli? (Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa)

Com que então eu amava Capitu, e Ca­pitu a mim? Realmente, andava cosido às saias dela, mas não me ocorria nada entre nós que fosse deveras secreto. Antes dela ir para o colégio, eram tudo travessuras de criança; depois que saiu do colégio, é certo que não restabelecemos logo a antiga inti­midade, mas esta voltou pouco a pouco, e no último ano era completa. (D. Casmurro, de Machado de Assis)

I. Ambos os narradores fazem reflexões retrospectivas sobre suas dúvidas amo­rosas.

II. O narrador de Grande Sertão: Veredas também reflete sobre a grandiosidade do sertão, sobre como o ser humano in­terage com ele.

III. O narrador de D. Casmurro utiliza uma linguagem figurada – “cosido às saias dela” – inexistente no texto de Guima­rães Rosa.

Está correto o que se afirma em:

a) I, somente.

b) II, somente.

c) I e II, somente.

d) II e III, somente.

e) I, II e III.

60. (PUC-CAMPINAS) A linguagem e o universo de Guimarães Rosa na obra prima que é o romance Grande sertão: veredas estão em parte caracterizados no seguinte segmento do texto:

a) apanhando uma realidade moldada mais pela impressão da imaginação criativa do que pelas formas nítidas naturais.

b) o fascínio dos artistas [do estilo gótico] estava em criar efeitos de perspectiva e a ilusão de espaços que parecem reais.

c) as paisagens rurais e retratos de pessoas, sobretudo das diferentes aristocracias, apresentam-se num auge de realismo.

d) paisagens bucólicas e jardins harmoniosos desfilam ainda pelo desejo de realismo e fidedignidade na representação da natureza.

e) acentuará as cores dramáticas, convulsionadas, as formas quase irreconhecíveis de uma realidade fraturada.

A personagem da canção canta passagens da sua vida de forma amargurada

1.(FUVEST) QUERO ME CASAR

Quero me casar
na noite na rua
no mar ou no céu
quero me casar.

Procuro uma noiva
loura morena
preta ou azul
uma noiva verde
uma noiva no ar
como um passarinho.
Depressa, que o amor
não pode esperar!  (Carlos Drummond de Andrade, ALGUMA POESIA)
a) Caracterize brevemente a concepção de amor presente neste poema.
b) Compare essa concepção de amor com a que predominava na literatura do Romantismo.
RESPOSTAS:

a) A concepção de amor é idealizada pelo “eu-lírico” do poeta. Ele aceita qualquer tipo de noiva – loura, morena – mas é preciso concretizar o desejo em alguma mulher.
b) Tanto neste poema modernista como no romântico, a concepção ideal de amor é vista de forma platônica. No entanto, quando a figura da mulher, no modernismo, não é idealizada, enquanto no romântico há que ser perfeita, harmônica e de beleza absoluta.

2. (FUVEST)

“Política Literária

O poeta municipal

discute com o poeta estadual

qual deles é capaz de bater o poeta

[federal.

Enquanto isso o poeta federal

tira ouro do nariz.”

“Anedota Búlgara

Era uma vez um czar naturalista

que caçava homens.

Quando lhe disseram que também se

[caçam borboletas e andorinhas,

ficou muito espantado

e achou uma barbaridade.” ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia.

Costuma-se reconhecer que estes poemas, pertencentes ao Modernismo, apresentam aspectos característicos do “poema-piada”, modalidade bastante praticada nesse período literário.

a) Identifique um recurso de estilo tipicamente modernista que esteja presente em ambos os poemas. Explique-o sucintamente.

b) Considere a seguinte afirmação:

O poema-piada visa a um humorismo instantâneo e, por isso, esgota-se em si mesmo, não indo além desse objetivo imediato.

A afirmação aplica-se aos poemas aqui reproduzidos? Justifique brevemente sua RESPOSTA:

a) Pode-se citar como recurso modernista presente em ambos os textos, a paródia. Trata, nos poemas, de uma paródia das ideologias ligadas à cultura do poder. Em “Política Literária”, a transformação da poesia em política não acrescenta nada à poesia; em “Anedota Búlgara”, satiriza-se a intolerância e a violência disfarçadas em gosto e predileção A oralidade, o verso livre e sem ornamentos, a conclusão final chocante (peripécia) e o bom de deboche contra tudo o que não se apresente vivo ou espontâneo na cultura e na sociedade são outros recursos utilizados no poema que contribuem para garantir o efeito pretendido.

b) Não, a afirmação não pode ser atribuída aos poemas em questão, pois o humorismo destes não se esgota em si mesmo; a sensação de humor não se dá apenas instantaneamente, mas enquanto os fatos presentes, e satirizados, do poema, existirem.

3. POLÍTICA LITERÁRIA

O poeta municipal
discute com o poeta estadual
qual deles é capaz de bater o poeta
[federal.
Enquanto isso o poeta federal
tira ouro do nariz.
(Carlos Drummond de Andrade, “Alguma poesia”)

ANEDOTA BÚLGARA

Era uma vez um czar naturalista
que caçava homens.
Quando lhe disseram que também se
[caçam borboletas e andorinhas,
ficou muito espantado
e achou uma barbaridade.         (Carlos Drummond de Andrade, “Alguma poesia”)
Costuma-se reconhecer que estes poemas, pertencentes ao Modernismo, apresentam aspectos característicos do “poema-piada”, modalidade bastante praticada nesse período literário.
a) Identifique um recurso de estilo tipicamente modernista que esteja presente em ambos os poemas. Explique-o sucintamente.

b) Considere a seguinte afirmação:
O POEMA-PIADA VISA A UM HUMORISMO INSTANTÂNEO E, POR ISSO, ESGOTA-SE EM SI MESMO, NÃO INDO ALÉM DESSE OBJETIVO IMEDIATO.
A afirmação aplica-se aos poemas aqui reproduzidos? Justifique brevemente sua resposta.
RESPOSTAS:

a) Ambos os poemas são compostos em versos chamados “livres”, pois não obedecem às convenções da métrica tradicional, isossilábica (isto é, na qual os versos “medem” o mesmo número de sílabas). Em ambos os poemas, o registro de linguagem é coloquial, ou seja, próprio da conversação, despido dos traços retóricos que caracterizam o discurso de registro formal, típico da tradição literária de que o Modernismo de então procurava afastar-se. Em ambos os poemas, o humor (outro ingrediente de predileção modernista) é essencial ao efeito crítico e não compromete sua gravidade.
b) Nos dois poemas, o humorismo é instrumento de crítica, de “crítica de vida”: em “Política Literária”, trata-se da vida cultural, suas relações com o poder e suas hierarquias espúrias; em “Anedota Búlgara”, trata-se da opressão política.

4. (FURG) “Família”, de Carlos Drummond de Andrade, integra o livro Alguma poesia, publicado em 1930:

Três meninos e duas meninas,
sendo uma ainda de colo.
A cozinheira preta, a copeira mulata,
o papagaio, o gato, o cachorro,
as galinhas gordas no palmo de horta
e a mulher que trata de tudo.

A espreguiçadeira, a cama, a
gangorra,
o cigarro, o trabalho, a reza,
a goiabada na sobremesa de domingo,
o palito nos dentes contentes,
o gramofone rouco toda a noite
e a mulher que trata de tudo.

O agiota, o leiteiro, o turco,
o médico uma vez por mês,
o bilhete todas as semanas
branco! Mas a esperança sempre
verde.
A mulher que trata de tudo
e a felicidade.

Leia atentamente o poema acima e assinale a alternativa correta:

a) O poema, como muitos outros de Alguma poesia, revela a preferência de Drummond pelo fugaz e inefável.
b) O poema apresenta uma métrica regular que remete para uma prática poética típica do Modernismo brasileiro.
c) O poema organiza- se a partir de um processo de associação de ideias, em que as relações entre os termos seguem o princípio da similaridade.
d) O poema, ao focalizar o cotidiano familiar, aproxima- se das experiências levadas a cabo pela poética parnasiana.
e) O poema vale- se de um processo de enumeração caótica, aspecto que o vincula à poética simbolista.

5. (FUVEST) Refere-se corretamente a Alguma Poesia, de Drummond, a seguinte afirmação:
a) A imagem do poeta como gauche revela a sua militância na poesia engajada e participante, de esquerda.
b) As oposições sujeito-mundo e província-metrópole são fundamentais em vários poemas.
c) A filiação modernista do livro liberou o poeta das preocupações com a elaboração formal dos poemas.
d) O livro não contém textos metalinguísticos, o que caracteriza a primeira fase do autor.
e) A ironia e o humor evitam que o eu-lírico se distancie ou se isole, proporcionado-lhe a comunhão com o mundo exterior.

6. (ENEM) Quem não passou pela experiência de estar lendo um texto e defrontar-se com passagens já lidas em outros? Os textos conversam entre si em um diálogo constante. Esse fenômeno tem a denominação de intertextualidade. Leia os seguintes textos:

I. Quando nasci, um anjo torto
Desses que vivem na sombra
Disse: Vai Carlos! Ser “gauche” na vida
(ANDRADE, Carlos Drummond de. ALGUMA
POESIA. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964)

II. Quando nasci veio um anjo safado
O chato dum querubim
E decretou que eu estava predestinado
A ser errado assim
Já de saída a minha estrada entortou
Mas vou até o fim.
(BUARQUE, Chico. LETRA E MÚSICA. São
Paulo: Cia das Letras, 1989)

III. Quando nasci um anjo esbelto
Desses que tocam trombeta, anunciou:
Vai carregar bandeira.
Carga muito pesada pra mulher
Esta espécie ainda envergonhada. (PRADO, Adélia. BAGAGEM. Rio de Janeiro: Guanabara, 1986)
Adélia Prado e Chico Buarque estabelecem intertextualidade, em relação a Carlos Drummond de Andrade, por
a) reiteração de imagens
b) oposição de ideias
c) falta de criatividade
d) negação dos versos
e) ausência de recursos

7. (UPF) Primeiro grande poeta a se afirmar após as estreias modernistas, Carlos Drummond de Andrade publica, na década de 1930, os livros Alguma poesia e Brejo das almas, marcados pelo individualismo e pelo humor do poeta gauche. Entretanto, desde Sentimento do mundo, publicado no início da década de 1940, nota-se a emergência de um(a) _____________ na produção do poeta mineiro, e o livro A rosa do povo, de 1945, assinala, justamente, o momento culminante e derradeiro da ______________ de Drummond, composta sob os anos trágicos e sombrios da Segunda Guerra Mundial.

Assinale a alternativa cujas informações preenchem corretamenteas lacunas do enunciado.

a)sentimento ufanista / poesia nacionalista.

b)senso participante / poesia política.

c)pendor filosofante / poesia metafísica.

d)sentimento nostálgico / poesia memorialística.

e)concepção formalista / poesia experimental.

8. (UEL) O poema que segue faz parte do primeiro livro de Carlos Drummond de Andrade, Alguma poesia, publicado em 1930, e tem como título “Cidadezinha qualquer”.

Leia o poema e assinale a alternativa correta:

Casas entre bananeiras
Mulheres entre laranjeiras
Pomar amor cantar.

Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.

Devagar… as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus.

a) O poema denuncia de forma irônica e com uma linguagem sintética a monotonia e o tédio que predominam em pequenas cidades do interior.
b) O poema mostra com sentimento piedoso o desajuste existencial do homem diante da vida.
c) O poema retrata de modo triste e melancólico a desventura amorosa do poeta na cidade de Itabira, onde nasceu.
d) Predomina no poema um sentimento de nostalgia do passado, por meio de uma linguagem muito simples e pouco elaborada esteticamente.
e) Há no poema uma preocupação de ordem social e política que sintetiza o “sentimento do mundo” do eu lírico.

9. (FUVEST) Pode-se dizer que os poemas de Alguma Poesia filiam-se às propostas estéticas da primeira geração modernista porque:

a) exalta-se o dinamismo da urbanidade, que possibilita uma vida mais plena e satisfatória.
b) demonstram a preocupação do autor em abordar temas relacionados à diversidade cultural brasileira, a partir de uma ótica ingênua que pode ser chamada de “primitivista”.
c) através do desenvolvimento de temas prosaicos, incorporam o cotidiano como matéria de poesia, idealizando-o como o âmbito dos acontecimentos e sentimentos sublimes.
d) caracterizam-se pela brevidade e pelo espírito de síntese, já que se apresentam na forma de poemas-pílula.
e) apresentam retratos urbanos e provincianos em que, normalmente, prevalece menos uma lógica descritiva que uma perspectiva prismática da realidade vivida e observada.

10. (FUVEST)
I.
(…)
Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.
(…)
(O sobrevivente)

II
Cota zero

Stop.
A vida parou.
Ou foi o automóvel?

Sobre esses versos, extraídos de Alguma Poesia, pode-se dizer que:
a) Os dois textos podem ser aproximados quanto ao tema (mecanização do cotidiano); entretanto, enquanto o primeiro apresenta uma visão crítica sobre o tema, o segundo faz uma apologia bem-humorada do progresso urbano.
b) Os textos assemelham-se não apenas quanto ao tema (automatização da vida humana), mas também quanto à linguagem: ambos apresentam a brevidade e a descontinuidade sintática características de Alguma Poesia.
c) A crítica à mecanização excessiva que caracteriza a vida moderna evidencia-se, no texto I, especialmente no emprego da antítese no primeiro verso, e, no texto II, no emprego do estrangeirismo, ou barbarismo (stop).
d) O texto II apresenta, através de uma linguagem marcada pela concisão telegráfica, a crítica presente no texto I, uma vez que os termos zero, stop e parou indicam a total dependência da vida moderna em relação às máquinas.
e) A máquina como assunto poético pode ser verificada nos dois textos, o que torna evidente a influência exercida, sobre o autor, da vanguarda artística conhecida como futurismo.

11. (PUCCAMP)”Na verdade, desde Alguma Poesia, foi pelo prosaico, pelo irônico, pelo antirretórica, que Drummond se afirmou como poeta congenialmente moderno”.

Exemplifique as palavras acima, sobre o poeta, os seus versos:

a)”O ovo revela e acabamento

a toda mão que o acaricia,

daquelas coisas torneadas

num trabalho de toda a vida.

E que se encontra também noutras

que entretanto mão não fabrica:

nos corais, nos seixos rolados

e em tantas coisas esculpidas.”

b) “Já ao verme – este operário das ruínas –

que o sangue podre das carnificinas

come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos, para roê-los”

c)”E como ficou chato o ser moderno.

Agora serei eterno.

Eterno! Eterno!

O Padre Eterno,

a vida eterna,

o fogo eterno.”

d)”Ó personagens solenes

que arrastais os apelidos

como pavões auriverdes

seus rutilantes vestidos,

– todo esse poder que tendes

confunde os vossos sentidos”

e)”E a câmara muda. E a sala, muda, muda …

Afonamente rufa. A asa da rima

Paira-me no ar. Quedo-me como um Buda

Novo, um fantasma ao som que se aproxima.

Cresce-me a estante, como quem sacuda

Um pesadelo de papéis acima.”

12. (FUVEST) Chega!
Meus olhos brasileiros se fecham saudosos.
Minha boca procura a “Canção do Exílio”.
Como era mesmo a “Canção do Exílio”?
Eu tão esquecido de minha terra…
Ai terra que tem palmeiras
onde canta o sabiá!
(Carlos Drummond de Andrade, “Europa, França e Bahia”, ALGUMA POESIA)
Neste excerto, a citação e a presença de trechos………….. constituem um caso de…………..
Os espaços pontilhados da frase acima deverão ser preenchidos, respectivamente, com o que está em:
a) do famoso poema de Álvares de Azevedo / discurso indireto.
b) da conhecida canção de Noel Rosa / paródia.
c) do célebre poema de Gonçalves Dias/ intertextualidade.
d) da célebre composição de Villa-Lobos/ ironia.
e) do famoso poema de Mário de Andrade / metalinguagem.

13. (UPF) Infância

Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.

Minha mãe ficava sentada cosendo.

Meu irmão pequeno dormia.

Eu sozinho menino entre mangueiras

lia a história de Robinson Crusoé,

comprida história que não acaba mais.

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu

a ninar nos longes da senzala – e nunca se esqueceu

chamava para o café.

Café preto que nem a preta velha

café gostoso

café bom.

Minha mãe ficava sentada cosendo

olhando para mim:

— Psiu… Não acorde o menino.

Para o berço onde pousou um mosquito.

E dava um suspiro… que fundo!

Lá longe meu pai campeava

no mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que minha história

era mais bonita que a de Robinson Crusoé.

Sobre “Infância”, que integra a obra Alguma poesia, de Carlos Drummond de Andrade, apenas é incorreto afirmar que:

a) O eu lírico guarda na lembrança cenas agradáveis de sua infância, comparando sua história à de Robinson Crusoé.

b) Desde a sua primeira estrofe, o texto constrói a imagem de uma criança que é leitora de obras literárias.

c) A voz da preta velha, símbolo de aconchego para o menino, também remete à situação vivida por ela no passado, quando era escrava.

d) Verifica-se, no poema, a presença do discurso direto e da linguagem coloquial.

e) A mãe e o pai mantêm-se atentos e próximos aos filhos, a fim de garantirem o seu bem-estar.

14. (FUVEST )

“Chega!

Meus olhos brasileiros se fecham saudosos.

Minha boca procura a ‘Canção do Exílio’.

Como era mesmo a ‘Canção do Exílio’?

Eu tão esquecido de minha terra…

Ai terra que tem palmeiras

onde canta o sabiá!”

ANDRADE, Carlos Drummond de. “Europa, França e Bahia”, Alguma poesia.

Neste excerto, a citação e a presença de trechos … constituem um caso de …… .

Os espaços pontilhados da frase acima deverão ser preenchidos, respectivamente, com o

que está em:

a) do famoso poema de Álvares de Azevedo / discurso indireto.

b) da conhecida canção de Noel Rosa / paródia.

c) do célebre poema de Gonçalves Dias / intertextualidade.

d) da célebre composição de Villa-Lobos / ironia.

e) do famoso poema de Mário de Andrade / metalinguagem.

Texto para a questão 15:

“Música

Uma coisa triste no fundo da sala.

Me disseram que era Chopin.

A mulher de braços redondos que nem coxas

martelava na dentadura dura

sob o lustre complacente.

Eu considerei as contas que era preciso pagar,

os passos que era preciso dar,

as dificuldades…

Enquadrei o Chopin na minha tristeza

e na dentadura amarela e preta

meus cuidados voaram como borboletas.”ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma Poesia.

15. (FATEC-SP)As marcas modernistas mais acentuadas no poema são:

a) alusão ao compositor Chopin, como forma de recuperar valores subjetivos da estética romântica.

b) crítica aos procedimentos parnasianos, por meio de imagens que remetem ao corpo.

c) marcas do fluxo da consciência, que tornam o texto relativamente hermético.

d) uso da primeira pessoa, como forma de realçar a objetividade da poesia e da dor.

e) emprego de construções da linguagem coloquial, versos livres e imagens inusitadas.

16. (PUC-MG) Todas as alternativas abaixo, sobre o “Poema de Sete Faces”, de “Alguma Poesia”, são verdadeiras, EXCETO:
a) cada uma das sete estrofes do poema representa uma das faces mencionadas no título.
b) a presença e a ausência de rimas no poema podem significar ruptura com as estéticas literárias anteriores.
c) a inexistência de pontuação entre alguns de seus versos pode estar ligada à liberdade de expressão modernista.
d) foi o primeiro poema escrito por Carlos Drummond de Andrade, razão pela qual abre o livro.

17. (CESGRANRIO) O poema “Romaria” insere-se no livro ALGUMA POESIA, que Drummond publicou em 1930. Esta data marca, no Modernismo, o início de uma fase caracterizada pela(o):
a) Era Vargas, com uma literatura mais construtiva e mais politizada na prosa – José Lins do Rego, Graciliano Ramos.
b) redemocratização do país e fim do Estado Novo, com o regionalismo abordando problemas humanos universais – João Guimarães Rosa.
c) anarquia, com manifestos que rejeitavam as estruturas do passado, predominando, na poesia, o verso livre.
d) preocupação dos poetas com o policiamento da expressão e com a estética – João Cabral de Mello Neto, Ferreira Gullar.
e) nacionalismo exacerbado, com uma poesia mais voltada para as causas sociais, cultivando o rigor na rima e na métrica.

18. (UNIUBE) Infância

Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras.
Lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala – nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.

Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
– Psiu… Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro… que fundo!

Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.

A partir da leitura do poema “Infância”, de Carlos Drummond de Andrade, assinale a afirmativa INCORRETA.

a) O tratamento do tema da infância caracteriza-se pela emoção contida. O poeta recupera um tempo feliz, por meio de versos límpidos, serenos, discretos. Seu sentimento do mundo se manifesta na simplicidade de adjetivos como “gostoso”, “bom” e “bonita”, para que possa ser compartilhado pelo leitor comum.

b) A imagem da negra servil no cotidiano da família tem um sentido crítico. Sua voz aguda, rotineira e cronológica, chamando para a refeição, ecoa como um grito de protesto. Seu gesto de revolta representa uma ameaça ao sistema patriarcal, cuja estabilidade é expressa na imagem da mãe que vela o sono do pequeno herdeiro.

c) O menino poeta vivencia a liberdade na ausência física e espiritual de seus familiares. O espaço da ficção e do imaginário sobrepõe-se ao espaço real das mangueiras como lugar das aventuras infantis. Sua situação de isolamento no seio da família o aproxima do herói Robson Crusoé.

d) A ordem familiar, marcada pela propriedade do pai, é recuperada pela memória afetiva numa perspectiva harmoniosa. O menino poeta insere-se, sem conflitos, no espaço íntimo e saudoso de sua origem rural, de que o café, como produto econômico e prática familiar, é um símbolo.

19. (UEMA) Leia o poema a seguir extraído da obra Alguma poesia, de Carlos Drummond de Andrade, em que o autor descreve o cotidiano familiar.

Família

Três meninos e duas meninas,

sendo uma ainda de colo.

A cozinheira preta, a copeira mulata,

o papagaio, o gato, o cachorro,

as galinhas gordas no palmo de horta

e a mulher que trata de tudo.

A espreguiçadeira, a cama, a gangorra,

o cigarro, o trabalho, a reza,

a goiabada na sobremesa de domingo,

o palito nos dentes contentes,

o gramofone rouco toda noite

e a mulher que trata de tudo.

O agiota, o leiteiro, o turco,

o médico uma vez por mês,

o bilhete todas as semanas

branco! mas a esperança sempre verde.

A mulher que trata de tudo

e a felicidade. ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.

Considerando os aspectos linguísticos no referido texto, verifica-se que,

a) em ―o médico uma vez por mês‖ (última estrofe), o vocábulo destacado classifica-se como artigo por acrescentar uma noção particular ao substantivo a que está associado.

b) no verso ―e a mulher que trata de tudo‖, há uma oração que pode ser substituída pelo adjetivo tratante, sem provocar alteração no sentido do texto.

c) no segundo verso ―sendo uma ainda de colo.‖, a forma verbal introduz uma explicação que caracteriza o cotidiano familiar.

d) do ponto de vista semântico, utilizou-se um processo de enumeração, ao longo do poema, no qual predomina uma classe de palavras cuja função primordial é designar.

e) no verso ―o bilhete todas as semanas‖ (terceira estrofe), ―todas‖ está adverbializado pela presença do artigo.

(UECE) TEXTOS PARA AS QUESTÕES 20 A 24

TEXTO 1

Poema de sete faces

Quando nasci, um anjo torto

desses que vivem na sombra

disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida

As casas espiam os homens

que correm atrás de mulheres.

A tarde talvez fosse azul,

não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:

pernas brancas pretas amarelas.

Para que tanta perna, meu Deus, pergunta

[meu coração.

Porém meus olhos

não perguntam nada.

O homem atrás do bigode

é sério, simples e forte.

Quase não conversa.

Tem poucos, raros amigos

o homem atrás dos óculos e do bigode

Meu Deus, por que me abandonaste

se sabias que eu não era Deus

se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,

se eu me chamasse Raimundo

seria uma rima, não seria uma solução.

Mundo mundo vasto mundo,

mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer

mas essa lua

mas esse conhaque

botam a gente comovido como o diabo. Carlos Drummond de Andrade. In Alguma poesia, publicado em 1930.

Obs. O “Poema de sete faces”, de Carlos Drummond de Andrade, será usado como subsídio (ou suporte) para a leitura do poema “Com licença poética” (texto 2).

TEXTO 2

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,

desses que tocam trombeta, anunciou:

vai carregar bandeira.

Cargo muito pesado pra mulher,

esta espécie ainda envergonhada.

Aceito os subterfúgios que me cabem,

sem precisar mentir.

Não sou tão feia que não possa casar,

acho o Rio de Janeiro uma beleza e

ora sim, ora não, creio em parto sem dor.

Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.

Inauguro linhagens, fundo reinos

— dor não é amargura.

Minha tristeza não tem pedigree,

já a minha vontade de alegria,

sua raiz vai ao meu mil avô.

Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.

Mulher é desdobrável. Eu sou. Adélia Prado. Bagagem. 24 ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Editora Record, 2007. p.9.

20. Carlos Drummond de Andrade inicia seu “Poema de sete faces” (texto 1, linhas 1-3) com os seguintes versos: Quando nasci, um anjo torto / desses que vivem na sombra / disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. A partir da comparação desses versos de Drummond com os três versos iniciais do poema de Adélia Prado (texto 2, linhas 31-33), considere as seguintes afirmações:

I. Há, entre esses versos destacados, uma coincidência sintática, semântica e métrica.

II. No poema de Adélia Prado, texto 2, há um caso de polifonia (presença de mais de uma voz).

III. Ocorre, no segundo poema, texto 2, uma subversão do sentido do primeiro (texto 1).

Está correto o que se afirma

a) apenas em I e II.

b) apenas em II e III.

c) apenas em I e III.

d) em I, II e III.

21. Marque a opção que completa corretamente, o enunciado a seguir: Sobre os textos que se valem do recurso da intertextualidade, como é o caso do poema de Adélia Prado (texto 2), pode-se dizer que o autor

a) espera que o leitor tenha a capacidade de ativar, na memória discursiva, o texto fonte.

b) escreve pensando não em um leitor específico, mas em qualquer tipo de leitor.

c) acredita que todos os leitores terão a capacidade de fazer leituras do mesmo nível de

complexidade.

d) compõe um poema que constitui um plágio, um tipo de intertextualidade.

22. As relações sintáticas, semânticas e textual discursivas do texto 2 nos autorizam a dizer que a mulher

a) é mais inteligente do que o homem; só precisa de reconhecimento.

b) está mais preparada fisicamente para enfrentar o mundo moderno.

c) é subserviente ao homem: aceita a sina que lhe cabe, embora seja cheia de subterfúgios.

d) tem flexibilidade e facilidade de adaptar-se às situações; está apta para enfrentar a vida.

23. No texto 2, o anjo esbelto anunciou ao sujeito lírico que ele iria carregar bandeira. Carregar bandeira significa, no poema,

a) expor-se portando um estandarte nas passeatas de protesto.

b) cometer o erro de revelar o que não deveria ser revelado.

c) defender novas ideias e lutar para inaugurar um mundo novo.

d) assumir responsabilidades sociais que estão além da própria capacidade.

24. Considere os versos seguintes de Adélia Prado (texto 2, linhas 36 e 37): Aceito os subterfúgios que me cabem, / sem precisar mentir. Por esses versos pode-se inferir corretamente que o sujeito lírico

a) aceita o juízo que a sociedade faz dele como mulher.

b) acha-se sincero e diz que não mente.

c) assume suas peculiaridades femininas.

d) conforma-se com as injustiças da sociedade contra as mulheres.

25. (UPF) O SOBREVIVENTE

A Cyro dos Anjos

Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.

Impossível escrever um poema – uma linha que seja – de verdadeira poesia.

O último trovador morreu em 1914.

Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.

Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.

Se quer fumar um charuto aperte um botão.

Paletós abotoam-se por eletricidade.

Amor se faz pelo sem-fio.

Não precisa estômago para digestão.

Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta

muito para atingirmos um nível razoável de

cultura. Mas até lá, felizmente, estarei morto.

Os homens não melhoraram

e matam-se como percevejos.

Os percevejos heroicos renascem.

Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.

E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.

(Desconfio que escrevi um poema.)   Alguma poesia

Com relação ao texto acima, é incorreto afirmar que o eu lírico:

a) diz, em tom sério, que não é poeta, porque ―o último trovador morreu em 1914 e porque ele mesmo não conseguiu fazer deste texto um poema.

b) exprime, com humor, a sua incompatibilidade com o mundo moderno.

c) relaciona a sua poesia com a insensibilidade moderna à violência crescente das relações humanas.

d) se apresenta como um poeta que sobrevive num tempo hostil à poesia.

e) sugere que a poesia deve ocupar-se do mundo moderno, mesmo que discorde dele.

A personagem da canção canta passagens da sua vida de forma amargurada

1. (UFU) Texto I

De facto, a única coisa que acontece é a consecutiva mudança da paisagem. Mas só Muidinga vê essas mudanças. Tuahir diz que são miragens, frutos do desejo de seu companheiro. Quem sabe essas visões eram resultado de tanto se confinarem ao mesmo refúgio. Por isso ele queria uma vez mais partir, tentar descobrir nem sabia o quê, uma réstia de esperança, uma saída daquele cerco. COUTO, Mia. Terra sonâmbula. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 61.

Texto II

As ondas vão subindo a duna e rodeiam a canoa. A voz do miúdo quase não se escuta, abafada pelo requebrar das vagas. Tuahir está deitado, olhando a água a chegar. Agora, já o barquinho balouça. Aos poucos se vai tornando leve como mulher ao sabor de carícia e se solta do colo da terra, já livre, navegável. Começa então a viagem de Tuahir para um mar cheio de infinitas fantasias. Nas ondas estão escritas mil estórias, dessas de embalar as crianças do inteiro mundo. COUTO, Mia. Terra sonâmbula. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p.189.

a) Levando-se em consideração o texto I e a leitura da obra, explique, em um parágrafo, o porquê de somente Muidinga ver as mudanças da paisagem.

b) Levando-se em consideração a leitura da obra, explique, em um parágrafo, uma ideia sugerida pelo último período do texto II.

RESPOSTAS:

a)Terra sonâmbula, de Mia Couto, as duas protagonistas, Muidinga e Tuahir, apresentam características opostas, mas, ao mesmo tempo, complementares diante das experiências limites nos últimos momentos da Guerra de Moçambique. Enquanto Tuahir possui o posicionamento mais realista em relação à vida, característico de sua identidade anciã e de sua experiência ancestral, Muidinga apresenta traços os quais remetem ao universo da inocência, do sonho e da imaginação, revelados pelas palavras de Tuahir como sendo “miragens, frutos do desejo de seu companheiro”. Nesse sentido, essa singularidade, advinda, muito provavelmente, da relação existente entre a identidade pueril e a entrega às leituras dos cadernos de Kindzu, faz com que, diferentemente de Tuahir, a personagem Muidinga consiga perceber as diversas mudanças da paisagem em suas trajetórias, uma vez que carrega em si a perspectiva de um futuro mais humanizado, ou seja, “uma réstia de esperança, uma saída daquele cerco”.

b) O texto II se insere nos últimos momentos da trajetória dos personagens Muidinga e Tuahir no enredo de Terra Sonâmbula. É o instante em que eles se encontram com o mar, elemento simbólico que marca as transformações e o caráter transitório da vida. Na passagem, Tuahir, a seu pedido, é colocado na canoa pelo seu companheiro peregrino Muidinga. A narração parece revelar que Tuahir está morrendo, ou seja, na passagem da vida para a morte, conforme se conota da simbologia do mar em “Começa então a viagem de Tuahir para um mar cheio de infinitas fantasias”. Especificamente no último período do texto II, nas sensíveis palavras “Nas ondas estão escritas mil estórias, dessas de embalar as crianças do inteiro mundo”, sugere-se a ideia de que a morte de Tuahir, nos últimos instantes vividos no mar, representa que as vivências dele ficarão registradas nas águas e permitirão dar continuidade da tradição das narrativas populares africanas.

2. (UFGD) Leia o excerto abaixo e responda a questão:

Pelos caminhos só as hienas se arrastavam, focinhando entre cinzas e poeiras. A paisagem se mestiçara de tristezas nunca vistas, em cores que se pegavam à boca. Eram cores sujas, tão sujas que tinham perdido toda a leveza, esquecidas da ousadia de levantar asas pelo azul. Aqui, o céu se tornara impossível. E os viventes se acostumaram ao chão, em resignada aprendizagem da morte. (COUTO, Mia. Terra Sonâmbula. São Paulo: Companhia das Letras, 2007)

No que tange à realidade sócio histórica exposta na obra do escritor moçambicano Mia Couto, Terra Sonâmbula, no breve recorte acima, é correto afirmar que os elementos grifados no excerto fazem analogia direta, respectivamente, a

a) Moçambicanos / da luta / os pássaros.

b) Moçambicanos / da vida / a vida.

c) Moçambicanos / da guerra / a vida.

d) Africanos / da guerra / a vida.

e) Africanos / da guerra / os pássaros.

3. (UFU) O romance Terra Sonâmbula, de Mia Couto, é uma das mais importantes obras da literatura moçambicana após a independência do país. Sobre a elaboração dessa trama narrativa, assinale a alternativa INCORRETA.

a) Mesmo em se tratando de uma guerra, a obra não apresenta tom épico, pois não há ênfase nas cenas de batalha, estando o foco nos efeitos devastadores da guerra.

b) O romance se compõe de múltiplas narrativas que se cruzam na obra; o próprio ato de narrar aparece como essencial ao ato de permanecer vivo.

c) A combinação entre a tradição oral moçambicana e a tradição literária, de origem europeia, ocorre sempre de modo tenso, mostrando a distância entre elas.

d) A obra pode ser vista como narrativa de viagem, porém, em vários momentos, o deslocamento experimentado é mais temporal e psicológico do que espacial.

4. (UFGD) Em Terra sonâmbula, de Mia Couto, de que maneira os cadernos de Kindzu adquirem importância para a sobrevivência do menino Muidinga em meio à guerra civil que assola o país?

a) Sendo Muidinga semianalfabeto, os cadernos de Kindzu permitem que ele, à medida que os decifra, perceba que a leitura é um poderoso instrumento de resistência ao poder estabelecido.

b) Sendo Tuahir analfabeto, os cadernos de Kindzu permitem que Muidinga, ao lê-los, entretenha o velho durante a longa viagem que intentam fazer para fugir da guerra.

c) Ao ler os cadernos de Kindzu para o analfabeto Tuahir, Muidinga, ao se identificar com o relato, assimila melhor seu próprio drama de resistência à guerra e a busca aos pais desaparecidos.

d) Ao ler os cadernos de Kindzu, Muidinga finalmente identifica e localiza, ao final do relato, seu irmão desaparecido no início da guerra.

e) Através dos cadernos de Kindzu, Muidinga percebe que Tuahir é na verdade seu pai, apesar do esforço deste em manter a informação em segredo a fim de não comprometer a fuga do local de conflito.

5. (UFU) O excerto abaixo, retirado da obra Terra sonâmbula de Mia Couto, é a reprodução do diálogo entre Kindzu e Surendra.

        Antoninho, o ajudante, escutava com absurdez. Para ele eu era um traidor da raça, negro fugido das tradições africanas. Passou por entre nós dois, desdelicado provocador, só para mostrar seus desdéns. No passeio, gargalhou-se alto e mau som. Me vieram à lembrança as hienas. Surendra disse, então:

– Não gosto de pretos, Kindzu.

– Como? Então gosta de quem? Dos brancos?

– Também não.

– Já sei: gosta de indianos, gosta da sua raça.

– Não. Eu gosto de homens que não têm raça. É por isso que eu gosto de si, Kindzu. COUTO, Mia. Terra sonâmbula, São Paulo: Companhia das Letras, 2016. p. 15.

Com base no diálogo transcrito e no enredo do romance, é correto afirmar que

a) a conversa ocorre ainda no início da guerra quando Kindzu havia impedido a destruição da loja do indiano por parte de alguns negros moçambicanos.

b) o romance mostra como o racismo que atravessa a sociedade moçambicana, devastada pelas guerras, é consequência imediata da colonização portuguesa.

c) o romance pretende apresentar os dilemas que geraram os conflitos entre negros e indianos, povos de etnias distintas que lutam pelo território moçambicano.

d) a fala de Surendra revela um desejo radical de convívio harmônico entre os diferentes, capaz de superar noções de identidade baseadas só na raça.

6. (UFGD) Leia os seguintes trechos de Terra sonâmbula, de Mia Couto, publicado pela Editora Caminho em 1992.

I.―Quero pôr os tempos, em sua mansa ordem, conforme esperas e sofrências. Mas as lembranças desobedecem, entre a vontade de serem nada e o gosto de me roubarem do presente. Acendo a estória, me apago a mim. No fim destes escritos, serei de novo uma sombra sem voz (p. 15).

 II. ―Deixei o caminho antigo da casa, olhei a paisagem, o paciente verde. Meus olhos derretiam aquelas visões, fosse para guardar o passado em navegáveis águas. Era noite quando a canoa desatou o caminho. O escuro me fechava, apagando os lugares que foram meus. Sem que eu soubesse começava uma viagem que iria matar certezas da minha infância (p.34).

A propósito desses fragmentos, assinale a alternativa correta.

a) Em I, o narrador em 3ª pessoa inicia o relato realista da guerra civil em Moçambique.

b) Em I, as lembranças de Kindzu submetem-se tranquilamente à ―mansa ordem‖ da escrita.

c) Em II, Muidinga descreve como começou sua viagem ao lado de Tuahir.

d) Em II, Kindzu observa a paisagem de sua infância a fim de poder voltar a ela mais tarde, em lembrança.

e) Em I e II, Muidinga relata seu amadurecimento durante a leitura dos cadernos de Kindzu.

7. (UFU) Sobre a obra de Mia Couto, Terra sonâmbula, depreende-se que esse texto

a) abarca heróis no sentido clássico com capacidade de atos heroicos movidos por sentimentos nobres e elevados em prol da comunidade.

b) funde histórias e estabelece pontos de contato entre épocas diferentes permitindo a identificação de um personagem com outro.

c) solidifica a percepção de uma identidade nacional unificada à medida que há um amadurecimento de personagens.

d) traz à tona a preocupação de reconstrução da cultura moçambicana no sentido de alinhá-la às culturas modernas.

8. (UFU) [Siqueleto] encara os prisioneiros com um só olho enquanto fala na língua local. Tuahir traduz:

– Ele diz que nos vai semear.

– Semear?

[…]

Muidinga, então, se excede. Grita. O velho aldeão se atenta para escutar, através da tradução de Tuahir. […] Mas o desdentado aldeão já anoitecera, queixo no peito. Seu mundo já era esse que Tuahir anunciara, de extensos sossegos. O próprio Muidinga está como se encantado com as palavras de Tuahir. Não é a estória que o fascina mas a alma que está nela. E ao ouvir os sonhos de Tuahir, com os ruídos da guerra por trás, ele vai pensando: “não inventaram ainda uma pólvora suave, maneirosa, capaz de explodir os homens sem lhes matar. […] Por um buraco da rede Muidinga consegue retirar um braço. Apanha um pau e escreve no chão.

– Que desenhos são esses?, pergunta Siqueleto.

– É o teu nome, responde Tuahir.

– Esse é o meu nome?

O velho desdentado se levanta e roda em volta da palavra. Está arregalado. […] Solta Tuahir e Muidinga das redes. São conduzidos pelo mato, para lá do longe. Então, frente a uma grande árvore, Siqueleto ordena algo que o jovem não entende.

– Está a mandar que escrevas o nome dele.

[…] No tronco Muidinga grava letra por letra o nome do velho. Ele queria aquela árvore para parteira de outros Siqueletos, em fecundação de si. […]

– Agora podem-se ir embora. A aldeia vai continuar, já meu nome está no sangue da árvore. COUTO, Mia. Terra sonâmbula. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p.63-67. (Adaptado).

Terra sonâmbula trata da guerra civil em Moçambique pós-independência. O autor tece uma escrita em que ocorre a todo o momento o contato do antigo com o novo, das gerações antigas com as novas. Por meio desses contatos, com a finalidade de que a nação sobreviva, compreende-se que a obra propõe

a) um conhecimento ancestral sobreposto ao costume moderno.

b) uma relação de interdependência entre a geração antiga e a nova.

c) uma unificação por meio da língua para a harmonia entre as gerações.

d) uma condescendência das novas gerações para com as antigas gerações.

9. (UFT) Leia o fragmento de Terra Sonâmbula, do escritor moçambicano Mia Couto, para responder a QUESTÃO 13.

Naquele lugar, a guerra tinha morto a estrada. Pelos caminhos só as hienas se arrastavam, focinhando entre cinzas e poeiras. A paisagem se mestiçara de tristezas nunca vistas, em cores que se pegavam à boca. Eram cores sujas, tão sujas que tinham perdido toda a leveza, esquecidas da ousadia de levantar asas pelo azul. Aqui, o céu se tornara impossível. E os viventes se acostumaram ao chão, em resignada aprendizagem da morte. (…) COUTO, Mia. Terra sonâmbula. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 9.

Observando a passagem do romance, é CORRETO afirmar que

a) no trecho “Eram cores sujas, tão sujas que tinham perdido toda a leveza, esquecidas da ousadia de levantar asas pelo azul. ”, o narrador utiliza uma linguagem objetiva.

b) no trecho “Naquele lugar, a guerra tinha morto a estrada”, o narrador trata da reconstrução de lugares que passaram por alguma guerra.

c) no trecho “E os viventes se acostumaram ao chão, em resignada aprendizagem da morte”, o narrador descreve o que pode acontecer com as pessoas e outros seres na guerra.

d) no trecho “A paisagem se mestiçara de tristezas nunca vistas (…)”, o narrador retrata um cenário de esperança futura.

A personagem da canção canta passagens da sua vida de forma amargurada

  1. (IFSC) Sobre o romance “O presidente negro”, de Monteiro Lobato, é CORRETO afirmar que:

01.O romance aborda, basicamente, três fatos gerais: a eleição americana do 88º presidente; o amor de Ayrton por Jane; a missão literária de Ayrton: escrever um romance daquilo que Jane lhe narrava.

02. O porviroscópio era um aparelho inventado pelo professor Benson; nele, conseguia-se ver fatos do presente, passado e futuro. Pouco antes de morrer, o professor destruiu a sua invenção, com medo de que a mesma caísse em mãos erradas.

04.A eleição à presidência americana ocorre no ano de 2228. Três candidatos disputam os votos: o presidente Kerlog, candidato à reeleição, a feminista Evelyn Astor e o negro Jim Roy. O candidato negro vence as eleições, mas é assassinado no dia da posse, com um tiro disparado pelo concorrente Kerlog.

08.De acordo com a obra, para resolver o problema das raças, havia duas soluções: a miscigenação ou a seleção. Na ficção, a solução brasileira foi a miscigenação, que acaba sendo criticada por torná-la uma raça instável, e a solução americana foi a seleção, a eugenia. A ideia americana foi criticada por Miss Jane, que associou o fato às ideias nazistas em voga na época.

16.Ao final do livro, a narrativa toma ares de ficção romanesca: após Kerlog assumir o poder, o choque entre as raças cessa. Brancos e negros americanos começam a conviver em harmonia, e os homens, por se mostrarem evoluídos, constroem uma ideal sociedade americana.

32.Mesmo escrito em 1926, o romance de Lobato faz várias previsões, dentre elas pode-se destacar o trabalho a distância e jornais eletrônicos com noticiários em tempo real (Internet); a junção dos países Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai (Mercosul); o embranquecimento dos negros; o alisamento dos cabelos crespos; a velocidade exorbitante do automóvel; as alterações climáticas e a falta de água em todo o mundo.

SOMA:  03

2. (UDESC) Nada lembrava ali o organismo que é uma cidade comum – misto de órgãos nobres e vísceras de funções humilhantes. Em vez de ruas geométricas, meandros irregulares, ganglionados magicamente de pelouses e moitas nupciais. Sumiam-se nelas os amorosos passeantes e em tais ninhos de doçura trocavam o beijo que elabora o porvir. Tudo fora planejado em Erópolis como intento de dar às criaturas as mais finas sensações estéticas, de modo que os seres ali concebidos já se plasmassem em beleza e harmonia desde o contato inicial dos gametas. Os filhos de Erópolis passaram a constituir uma elite na América – a nova aristocracia dos filhos do Amor e da Beleza. Suspirei. Vi-me em Erópolis de mãos dadas a Miss Jane, olhos nos seus olhos e em tal enlevo amoroso que todas as maravilhas da nova ilha de Calipso eram como se não existissem para mim… LOBATO, Monteiro. O presidente negro. São Paulo: Globo, 2008, p. 128.

Assinale a alternativa correta em relação ao Texto .

a. ( ) A cidade de Erópolis propiciava aos casais a seleção das células germinativas masculina e feminina, para que as crianças nascessem arianas, pois lá era o berço dos eugenistas.

b. ( ) A palavra “humilhantes” (linha 2) possui 11 letras, 9 fonemas, 1 dígrafo consonantal e 1 dígrafo vocálico.

c. ( ) Nas linhas 1, 2 e 3 há duas descrições relativas à cidade: na primeira, há a predominância da linguagem conotativa e, na segunda, uma mescla da denotativa com a conotativa.

d. ( ) Erópolis, cidade do amor, é a cidade arquitetada por Miss Jane para ela viver uma grande noite de amor com o senhor Airton.

e. ( ) Lobato faz da cidade uma descrição comparativa com o corpo humano, por aquela ser o berço da nova elite na América.

TEXTO PARA AS QUESTÕES 03 E 04

“O líder branco, pálido como no dia da Convenção, entrou. Aproximou-se vagarosamente do líder negro e pôs-lhe a mão sobre o ombro num gesto de piedade comovida.

— “Sim, o Presidente Kerlog, o branco que vem assassinar-te, Jim…”

— “A raça branca não poderia prestar maior homenagem à raça negra do que elegendo para carrasco de Jim Roy tão nobre chefe. Que arma escolhe para a missão que traz, Presidente Kerlog? Veneno dos Borgias ou lâmina de aço?”

— “Minha linguagem não é figurada, Jim. Venho de fato assassinar-te, repito”.

— “E eu repito: com o punhal de Brutus ou com o veneno dos Borgias?”

— “Arma pior, Jim. Trago na boca a palavra que mata…”

[…]

— “Não creio que o Presidente Kerlog possua a palavra que mata. O peito de Jim tem couraças por dentro. Quatro séculos de martírio nas torturas físicas da escravidão e nas torturas morais do pária enfibram a alma de quem resume cem milhões de irmãos. O peito de Jim traz couraças de rinoceronte por dentro. Couraças à prova das palavras que matam…”

— “Trazia…” emendou mansamente o líder louro. O Jim de hoje não é mais o titã que o Presidente Kerlog recebeu na Casa Branca. Quando o corisco fulmina a sequoia, a árvore solitária continua de pé, porém outra.

O negro pressentiu a verdade daquilo. Recordou-se de que já não era o mesmo. Mas como Kerlog o adivinhava? Como penetrava assim no seu imo? Ele não confessara a ninguém a subitânea queda da sua força vital, e nada a definia melhor do que a imagem do líder branco: árvore siderada onde a seiva já não circula…

[…]

— “Tua raça morreu, Jim”. — repetiu Kerlog. “Com a frieza implacável do Sangue que nada vê acima de si, o branco pôs um ponto final no negro da América.”

Jim quedou-se um instante imóvel, como que adivinhando.

— “Os raios Omega!” exclamou afinal num clarão, agarrando os braços de Kerlog com os dedos crispados.

— “Sim”, confirmou Kerlog. “Os raios de John Dudley possuem virtude dupla… Ao mesmo tempo que alisam os cabelos…”

Os olhos de Jim saltaram das órbitas. Seu transtorno de feições era tamanho que o líder branco vacilou de piedade. A raça cruel, porém, reagiu nele. E, surda, quase imperceptível, aflorou em seus lábios a palavra fatal:

— “… esterilizam o homem.””  (LOBATO, M. O presidente negro. São Paulo: Ed. Globo, 2008, p.188-90)

3. (IFSC) Na véspera da posse, o presidente Kerlog foi visitar Jim Roy, o 88º presidente dos Estados Unidos. Observe o diálogo entre os dois personagens e depois assinale a(s) assertiva(s) VERDADEIRA(S) de acordo com o que ocorre na obra “O presidente negro”.

01. No período: “O negro pressentiu a verdade daquilo. Recordou-se de que já não era o mesmo.”, o sujeito da segunda oração é do tipo indeterminado.

02. No trecho: “Minha linguagem não é figurada, Jim. Venho de fato assassinar-te, repito.”, o termo assinalado possui valor sintático de aposto.

04. Em: “ – “Trazia…” emendou mansamente o líder louro. O Jim de hoje não é mais o titã que o Presidente Kerlog recebeu na Casa Branca. Quando o corisco fulmina a sequoia, a árvore solitária continua de pé, porém outra.”, o presidente Kerlog utilizou uma linguagem figurada com metáforas.

08. Jim Roy realmente não assumiu a presidência. Mais tarde, fez-se nova eleição e o vencedor foi Kerlog.

16. O desfecho do diálogo resultou em um tiro dado em Jim Roy pelo então presidente Kerlog, que saiu impune, devido à falta de provas.

SOMA:  12

4. (IFSC) Ainda com relação ao texto, assinale o(s) item(s) VERDADEIRO(S).

01. John Dudley era um ministro, amigo de longa data de Kerlog, que inventou um antídoto para desencarapinhar os cabelos dos negros.

02. Em: “— “Os raios Ômega!” exclamou afinal num clarão, agarrando os braços de Kerlog com os dedos crispados.”, o termo sublinhado pode ser substituído, sem alteração de sentido por “contraídos”.

04. No trecho: — “Trazia…” emendou mansamente o líder louro.”, o termo sublinhado exerce a função de adjetivo.

08. O assombro maior de Jim Roy foi que os raios Ômega, além de alisar os cabelos, também deixavam a raça estéril e Jim também havia alisado os cabelos.

16. Ao dizer: “Quando o corisco fulmina a sequoia, a árvore solitária continua de pé, porém outra.”, Kerlog associa a esterilidade da árvore à esterilidade da raça negra.

32. Na obra, esse diálogo com Jim Roy ocorreu após as eleições presidenciais e antes de as feministas se aliarem a Kerlog.

SOMA:  26

(UDESC) De acordo com a leitura do excerto e da obra O presidente negro, de Monteiro Lobato, responda às questões 5 a 6.

     A ideia do expatriamento para o vale do Amazonas tinha um ponto fraco: só podia ser voluntária e o negro não se mostrava inclinado a trocar a cidadania americana por outra qualquer. O processo científico de embranquecê-los aproximava-os dos brancos na cor, embora não lhes alterasse o sangue nem o encarapinhamento dos cabelos. O desencarapinhamento constituía o ideal da raça negra, mas até ali a ciência lutara em vão contra a fatalidade capilar. Se isso se desse, poderia o caso negro entrar por um caminho imprevisto, a perfeita camuflagem do negro em branco. Tal saída, entretanto, era apenas um sonho dos imaginativos impenitentes. E, como a repartição do país em duas zonas não fosse forma aceita pelos brancos, iam os Estados Unidos entrar no seu 88º período presidencial com o mesmo problema que 339 anos antes preocupara o grande George Washington.

      Enquanto Miss Jane falava, naquele tom impessoal e frio de sábio a fazer conferência pública, toda ela cérebro e cultas expressões na boca, eu, humano que sou, envolvia-a nos meus ternos olhares de carneiro amoroso, e essa minha excessiva atenção à parte corpórea da encantadora vidente me fez perder muita coisa interessante das suas revelações. Distraía-me, preso àquele lindo presente de olhos azuis sempre a pairar pelas eras futuras. Quando, por exemplo, ela entrou a descrever o tipo dos negros descascados do ano 2228, confesso que perdi metade das suas observações. Achava-me no momento a namorar o mimoso lóbulo da sua orelha esquerda, onde brincava um raio de sol. Esse fio de luz acendia-lhe em ouro a penugem finíssima e o tornava do róseo translúcido de certos veios da ágata. Perdi-me no gracioso pedacinho de carne, como a sua dona andava perdida em plena despigmentação do século XXIII. A poesia falou em mim e uma imagem lírica entreabriu a pieguice das suas pétalas. Monteiro Lobato, em O presidente negro, p. 121 e 122.

5.Analise as proposições.

I – Da leitura de “Perdi-me no gracioso pedacinho de carne, como a sua dona andava perdida em plena despigmentação do século XXIII” , compreende-se que, embora estivessem próximos pela temática da obra, estavam distantes pelos interesses diferentes.

II – Sabendo-se que a coesão é a articulação dos enunciados entre si, pode-se dizer que são exemplos de elementos coesivos “isso” e “Tal saída” que estabelecem a coesão dos período em que estão inseridos com a ideia anterior.

III – Da leitura, percebe-se que o redator usa o viés – escolha criteriosa das palavras – tanto para se referir à Miss Jane relatora do futuro: “tom impessoal e frio de sábio”, “toda ela cérebro” , “tipo dos negros descascados” (linhas 17 e 18); quanto para se referir à Miss Jane mulher: “lindo presente de olhos azuis” (linha 16), “brincava um raio de sol”, “róseo translúcido de certos veios da ágata”, “gracioso pedacinho de carne”, entre outros.

IV – O autor usa a conotação em “A poesia falou em mim e uma imagem lírica entreabriu a pieguice das suas pétalas.” para mostrar a paixão que o narrador nutre por Miss Jane.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente a afirmativa II é verdadeira.

b) Somente as afirmativas I e II são verdadeiras.

c) Somente a afirmativa IV é verdadeira.

d) Somente as afirmativas III e IV são verdadeiras.

e) Todas as afirmativas são verdadeiras.

6. No primeiro parágrafo do excerto, o autor utiliza os operadores argumentativos – e, embora, mas, entretanto, como… – para desenvolver o argumento baseado na lógica, que consiste em argumentar e contra argumentar.

Analise as proposições abaixo e escolha os operadores argumentativos adequados para preenchê-las, mantendo o sentido do excerto.

I – O embranquecimento do negro seria uma boa saída, …………… o sangue e o encarapinhamento dos cabelos continuariam inalterados.

II – O expatriamento não deu certo, …………… o negro não se interessou em trocar voluntariamente a cidadania americana por outra.

III – O problema americano estaria resolvido, …………… o negro quisesse mudar sua cidadania; ou o ambranquecimento resolvesse a questão do sangue e do encarapinhamento dos cabelos; ou o branco aceitasse a divisão do país em duas zonas.

IV – Os Estados Unidos continuariam com o mesmo problema, …………… a divisão do país em duas zonas não era aceita pelos brancos.

Assinale a alternativa que completa corretamente os espaços, de cima para baixo.

a) entretanto – desde que – pois – uma vez que

b) pois – entretanto – uma vez que – desde que

c) uma vez que – desde que – pois – entretanto

d) entretanto – pois – desde que – uma vez que

e) desde que – uma vez que – entretanto – pois

7. Analise as proposições abaixo.

I – Em suas estratégias persuasivas, o produtor do texto pode utilizar-se de expedientes linguísticos para estabelecer um conflito entre o que ele diz e o que realmente quer dizer. Em outras palavras, pode estar dizendo uma coisa para significar outra, é o caso da ironia. Da leitura do excerto e da obra depreende-se que, ao descrever sua admiração por Miss Jane, o narrador está, na verdade, ironizando; o que sente por ela é um forte desprezo, situação comprovada no final da história quando ele a abandona levando consigo os lucros pela publicação do livro.

II – Na disputa à presidência da república dos Estados Unidos, o partido Masculino vence, o que permite a coalizão entre o partido Feminino, de Miss Astor, e o partido Negro, de Jim Roy.

III – Quando escreveu O presidente negro, o autor se referia ao 88º presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, o primeiro presidente negro estadunidense.

IV – Embora “até ali a ciência lutara em vão contra a fatalidade capilar” no final da história a ciência obtém êxito em relação a isso. Tal êxito, no entanto, traz consequências sérias aos negros que usufruíram deste recurso científico.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente a afirmativa IV é verdadeira.

b) Somente as afirmativas I e II são verdadeiras.

c) Somente as afirmativas III e IV são verdadeiras.

d) Somente a afirmativa I é verdadeira.

e) Todas as afirmativas são verdadeiras.

“Defrontaram-se os dois chefes como duas forças da natureza, contrárias nos seus destinos, inimigas pela voz do sangue, mas irmanadas no momento por um nobre objetivo comum. No primeiro ímpeto Kerlog apostrofou o chefe negro.

– “Vê tua obra, Jim! A América transformada num vulcão e ameaçada de morte!” […]

-“Jim manterá presa em cadeia de aço a pantera africana. Ele a domina com os olhos como o soba a dominava no Kraal de onde a cupidez dos brancos a tirou. Jim é rei! […] Mas só o farei se por sua vez o presidente Kerlog açaimar o orgulho branco. Eu domino os meus com o olhar e a palavra. O presidente Kerlog domina com a força do Estado. Em nossas mãos está, pois, a paz da América.” O líder branco baixou a cabeça. Meditava.

– “Pois salvemos a América, Jim!”, disse erguendo-se. “Açaima tu a pantera negra que meterei luvas nas unhas da águia branca.” Um leal aperto de mão selou aquele pacto de gigantes.

– “Mas a pantera que conte com o revide da águia!”, continuou o líder branco depois que as mãos se desapertaram. “A águia é cruel!…” LOBATO, Monteiro. O presidente negro. São Paulo: Globo, 2008, p.148-49.

8. (IFSC) Com relação à obra O presidente negro e a partir do texto, assinale a(s) proposição(ões) CORRETA(S).

01. O texto  é um diálogo entre os candidatos à presidência dos Estados Unidos, Jim Roy e Kerlog, acontecido em 2228. Na história, Jim Roy vence as eleições, mas não chega a exercer o cargo, pois, mediante pressão de Kerlog, ele acaba se matando.

02. O texto  é narrado por miss Jane a Ayrton; decidida a conquistar o rapaz, ela lhe conta uma história fictícia e pede que ele escreva um romance.

04. Em: “Se não contivermos de rédeas presas os dois monstros – o monstro da ebriedade negra e o monstro do orgulho branco -, a chacina vai ser espantosa…”, o trecho sublinhado indica um aposto.

08. Nos fragmentos: “Em nossas mãos está, pois, a paz da América.” e “Pois salvemos a América, Jim!” , os vocábulos sublinhados possuem o mesmo valor:ambos são conjunções explicativas.

16. Bem como acontece no romance Iracema, de José de Alencar, em O presidente negro, de Monteiro Lobato, apesar de retratar os Estados Unidos como uma potência, em diversas passagens da obra, exalta o Brasil como sendo um dos melhores lugares do mundo para se viver.

32. A frase “Mas a pantera que conte com o revide da águia! […] A águia é cruel”, indica que Kerlog não mediria esforços para se vingar de Jim. Ele era capaz de fazer qualquer coisa, pois, para ele, acima da América, estava o sangue.

SOMA: 36

9. (UDESC) Analise as proposições acerca da obra O presidente negro, de Monteiro Lobato.

I. Da leitura da obra pode-se inferir um entendimento do pensamento ‘racista’ que permeava a sociedade brasileira.

II. No desenrolar do romance é desvelada a probabilidade de uma solução para o problema racial – o investimento em um processo científico de ‘embranquecimento’.

III. A mecanização do processo eleitoral hoje é fruto do processo criado pelo professor Benson, por meio do seu porviroscópio.

IV. Embora a obra tenha sido publicada em 1926, há quase um século, algumas situações sociopolíticas apresentadas por Lobato se assemelham às de hoje.

Assinale a alternativa correta.

a. ( ) Somente as afirmativas I e IV são verdadeiras.

b. ( ) Somente as afirmativas I e III são verdadeiras.

c. ( ) Somente as afirmativas I, II e IV são verdadeiras.

d. ( ) Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras.

e. ( ) Todas as afirmativas são verdadeiras.

1.(UFU) A obra Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago, assim pode ser resumida.

A personagem da canção canta passagens da sua vida de forma amargurada

1. (UFU) A obra Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago, assim pode ser resumida.

Em pleno tráfego, um homem é surpreendido por uma cegueira inexplicável, que “contamina”, em cadeia, toda a população, a qual passa a sofrer do mal branco (como a cegueira é denominada). A princípio, os cegos são isolados, mas com o tempo, o governo perde o controle da situação. Enclausuradas ou nas ruas, as pessoas lutam pela sobrevivência, criando, para isso, os mais variados mecanismos de defesa, que vão da violência à compaixão. Nesse sentido, essa obra é concebida como uma alegoria: um discurso que faz entender outro discurso.Isto posto, considere a epígrafe do livro: “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”, e:

a) Explique o sentido alegórico da narrativa.

b) Relacione esse sentido à categoria do espaço ali representado.

RESPOSTAS:

a) Ensaio sobre a cegueira é uma alegoria da condição

humana nos sombrios tempos modernos, quando todos se cegam frente ao poder, que se converte em opressão, à injustiça, às verdades estabelecidas, deixando aflorar seus mais primitivos instintos de sobrevivência, como a brutalidade, o egoísmo e a violência, dentro de um universo que se desumaniza. Nesse mundo brutalizado e injusto, nós somos cegos.

Daí a responsabilidade de ter olhos, de enxergar pelos outros, mas com um olhar que atravesse a superficialidade da aparência: o olhar que vê e que aprofunda o interior do homem, na tentativa de conhecê-lo e até redimi-lo. Mais do que olhar o outro, é preciso reparar nele. Esta desautomatização do olhar, proposta alegoricamente por Saramago deverá ser explicitada através do comentário de eventos do livro, que demonstrem a leitura atenta da obra.

b) O espaço é alegórico porque a história não tem uma localização precisa, pode ser em qualquer país, o que facilita a universalização da cegueira alegórica/simbólica: ela está em qualquer parte, onde houver ser humano.

Espaços em que os cegos são confinados: um manicômio desativado, de corredores labirínticos, o que implica alienação e desorientação. Igual sentido têm as ruas inindentificáveis por onde vagam, as casas que já não mais lhes pertencem, agora habitadas por outros.

2. (UEAP) Sobre a obra O ensaio sobre a cegueira, de José Saramago, marque a alternativa incorreta.

a) A obra destaca a visão de humanidade que temos na atualidade e desafia esta visão a sustentar-se em meio ao caos de uma tragédia.

b) Há a utilização de um narrador onisciente e onipresente, e assim o leitor pode apreciar todos os ângulos dos acontecimentos.

c) Na obra, há a exposição dos personagens a dificuldades extremas, como que para testar suas reações diante das situações.

d) O tema da cegueira é abordado principalmente para discutir a delicada questão dos deficientes visuais e dos problemas que eles enfrentam na sociedade, sofrendo discriminações.

e) Há características da Escola Realista na obra.

3. (UFGD) A respeito do enredo de Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago, assinale a alternativa correta.

a) Dentro do manicômio, a rapariga de óculos escuros teme que os cegos possam se aproveitar do fato de ela não ter sido contaminada pela epidemia de cegueira.

b) A mulher do primeiro cego é prostituta, e torna-se cega em um hotel.

c) O primeiro cego morre por causa de infecção causada por uma ferida na perna.

d) Com o intuito de acompanhar o marido ao isolamento, a mulher do médico mente para os homens da ambulância que vieram buscá-lo, dizendo que também está cega.

e) Quando o médico e sua mulher chegam ao manicômio, o encontram lotado de cegos e suspeitos de contágio.

O texto a seguir é referência para as questões 4 e 5.

Ensaio sobre a cegueira

E então o Congresso saltitou de alegria porque aprovou que nos próximos dez anos 10% do PIB serão destinados para a Educação. E então os governadores e prefeitos trombetearam de satisfação porque o Congresso deixou para posterior regulamentação as formas de garantir a aplicação adequada desses recursos e a responsabilização de quem não cumprir. E então os empresários serpentearam de júbilo porque as verbas não são, assim, propriamente para a educação pública. E então o governo federal ululou de felicidade porque a medida é um resgate histórico de lutas pela melhoria da educação e com recursos ninguém segura esse país e esse é um país que vai pra frente e quem não gostar, ora, deixe-o. E então as empresas de informática e de outras parafernálias de última geração para garantir ensino como nunca se viu nesse país deliciaram-se com o êxito da medida que gerará empregos e revolucionará para sempre a educação pátria. E então muitos professores sapatearam frevos, polcas e mazurcas porque agora terão computadores e tablets, quadros digitais e outras ferramentas tecnológicas a aí sim, a educação vai deslanchar. E então muitos pais exultaram emocionados e eufóricos porque agora as crianças receberão uniforme escolar e materiais diversos e enfim poderão aprender e tornarem-se cidadãos melhores e mais preparados. E então muitos alunos festejaram e fizeram chacrinhas e chistes uns com os outros porque agora terão aulas em tempo integral, com muitas atividades de informática e outras atividades lúdicas e jogos e não precisarão mais ficar em casa sem fazer nada. E então disse o mestre Saramago: “Por que foi que cegamos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos, que, vendo, não veem”. Daniel de Medeiros, 18/06/2014, http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/educacao-no-dia-a-dia/

4. O autor enfatiza a euforia de diferentes segmentos da sociedade após a aprovação pelo Congresso da destinação de mais verbas para a educação. Tendo isso em vista, considere as seguintes afirmações:

1. Com a repetição da expressão “e então”, o autor sugere o encadeamento dos fatos motivados pela deliberação do Congresso.

2. O autor destaca o efeito positivo que a destinação de 10% do PIB terá sobre a educação.

3. As citações de Saramago no título e no último parágrafo evidenciam que os segmentos da sociedade citados não se preocupam efetivamente com a qualidade da educação.

4. Uma regulamentação mais precisa do Congresso atenuaria os interesses escusos de alguns segmentos. Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras.

b) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras.

c) Somente as afirmativas 2 e 4 são verdadeiras.

d) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras.

e) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras.

5. José Saramago, prêmio Nobel de Literatura, é conhecido por subverter o uso da pontuação. É possível observar isso na citação feita no último parágrafo, retirada do livro Ensaio sobre a Cegueira. Se reescrevêssemos o trecho usando as normas canônicas de pontuação, teríamos que utilizar outros sinais, além daqueles usados pelo escritor. Sem alterar a sintaxe do texto, que sinal poderia ser dispensado nessa reescrita?

a)Ponto final.

b) Ponto e vírgula.

c) Travessão.

d) Ponto de interrogação.

e) Ponto de exclamação.

6. (UFGD) Leia os trechos a seguir, retirados do romance Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago, publicado pela Editora Caminho em 1998.

I.―A culpa foi minha, chorava ela, e era verdade, não se podia negar, mas também é certo, se isso lhe serve de consolação, que se antes de cada ato nosso nos puséssemos a prever todas as consequências dele, a pensar nelas a sério, primeiro as imediatas, depois as prováveis, depois as possíveis, depois as imagináveis, não chegaríamos sequer a mover-nos de onde o primeiro pensamento nos tivesse feito parar. Os bons e os maus resultados dos nossos ditos e obras vão-se distribuindo, supõe-se que de uma forma bastante uniforme e equilibrada, por todos os dias do futuro‖ (p. 68).

II. ―Pela primeira vez, desde que aqui entrara, a mulher do médico sentiu-se como se estivesse por trás de um microscópio a observar o comportamento de uns seres que não podiam nem sequer suspeitar da sua presença, e isto pareceu-lhe subitamente indigno, obsceno, Não tenho o direito de olhar se os outros não me podem olhar a mim, pensou. Com a mão trémula, a rapariga punha algumas gotas do seu colírio. Assim sempre poderia dizer que não eram lágrimas o que lhe estava escorrendo dos olhos‖ (p. 71). III. ―(…) tão longe estamos do mundo que não tarda que comecemos a não saber quem somos, nem nos lembramos sequer de dizer-nos como nos chamamos, e para quê, para que iriam servir-nos os nomes, nenhum cão reconhece outro cão, ou se lhe dá a conhecer, pelos nomes que lhes foram postos, é pelo cheiro que identifica e se dá a identificar, nós aqui somos como uma outra raça de cães, conhecemo-nos pelo ladrar, pelo falar, o resto, feições, cor dos olhos, da pele, do cabelo, não conta, é como se não existisse‖ (p. 64).

Considerando o que foi afirmado, assinale a alternativa correta.

a) Em I e III, o narrador estabelece analogias entre os personagens do romance e os animais, de modo a revelar o processo de desumanização que os cegos atravessam durante a epidemia.

b) Em I, o narrador abandona temporariamente a narração dos eventos para realizar uma digressão sobre as consequências dos atos das pessoas.

c) II e III são considerações em torno da importância dos nomes, e de como eles conseguem expressar a essência das pessoas.

d) Em II, descreve-se a vergonha que a rapariga de óculos escuros sentia por ser a única personagem a enxergar no manicômio.

e) Em II, a mulher do médico sente-se privilegiada por enxergar em meio aos cegos, confirmando a moral da fábula de Saramago, a de que, ―em terra de cegos, quem tem olho é rei.

7. (UFU) José Saramago, autor de Ensaio sobre a cegueira, possui um estilo inconfundível de narrar, isto é, em suas obras percebe-se um conjunto de traços formais que são peculiares ao autor, conforme se verifica no trecho seguinte.

… Quando foi que cegou, Ontem à noite, E já o trouxeram, O medo lá fora é tal que não tarda que comecem a matar as pessoas quando perceberem que elas cegaram, Aqui já

liquidaram dez, disse uma voz de homem, Encontrei-os, respondeu o velho da venda preta simplesmente, […] A partir deste ponto, salvo alguns soltos comentários que não puderam ser evitados, o relato do velho da venda preta deixará de ser seguido à letra, sendo substituído por uma reorganização do discurso oral, orientada no sentido da valorização da informação pelo uso de um correto e adequado vocabulário. […] Má para toda a gente, a situação, para os cegos, era catastrófica, uma vez que, segundo a expressão corrente, não podiam ver aonde iam nem onde punham os pés. Dava lástima vê-los esbarrar nos carros abandonados, um após outro, esfolando as canelas, alguns caíam e choravam, Está aí alguém que me ajude a levantar, mas também os havia, brutos de desespero ou por natureza, que praguejavam e repeliam a mão benemérita que acudira a auxiliá-los, Deixe lá que a sua vez também lhe há de chegar, então a compassiva pessoa assustava-se, fugia, perdia-se na espessura do nevoeiro branco, subitamente consciente do risco em que a sua bondade a tinha feito incorrer, quem sabe se para ir cegar uns metros adiante. Assim estão as coisas lá fora, rematou o velho da venda preta, e ainda eu não sei tudo, só falo do que pude ver com os meus próprios olhos […] Com os meus olhos, não, porque só tinha um, agora nem esse, …

Com base neste trecho de Ensaio sobre a cegueira, marque a alternativa que foge ao estilo do autor .

a) Ao lançar mão de diálogos e intervenções do narrador, fundindo-os em uma linguagem ora coloquial ora pomposa, o autor cria um ritmo fluente, que se aproxima da oralidade, o que é característico de suas narrativas moralizantes.

b) O autor cria um narrador em terceira pessoa, onisciente, que, além de comentar os acontecimentos, também faz ponderações sobre o ato de narrar, observando que há distinção entre o discurso espontâneo e o construído.

c) Para acompanhar o tom trágico do tema, a cegueira, o autor elege um discurso lírico-melancólico, de tonalidade introspectiva, que despreza o traço humorístico, uma de suas marcas.

d) Ao empregar um estilo que privilegia frases longas, parágrafos infindáveis e um uso bastante peculiar dos sinais de pontuação, o autor se distancia dos padrões narrativos comuns.

8. (UFU) Considerando a categoria “tempo” na obra Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago, marque para as alternativas abaixo (V) Verdadeira, (F) Falsa ou (SO) Sem Opção.

1 ( ) O tempo da ação de Ensaio sobre a cegueira, isto é, quando, historicamente, todos aqueles episódios ocorreram, é indeterminado, pois não se sabe a época dos acontecimentos. Essa ausência da marca temporal sugere uma cegueira permanente, que ajuda a confirmar o caráter alegórico da narrativa.

2 ( ) “Os relógios de todos eles estavam parados, tinham-se esquecido de lhes dar corda ou acharam que já não valia a pena, só o da mulher do médico continuava a trabalhar.” Essa afirmação antecipa o que vai acontecer na narrativa: a mulher do médico será contratada pelo governo para gerenciar o alojamento.

3 ( ) “Eu fico aqui até ser dia, E como sabes tu que é dia, pelo Sol, pelo calor do sol, Se o céu não estiver encoberto. Tantas horas hão-de passar que alguma vez há-de ser dia”. Esse diálogo indica que a categoria tempo, no decorrer da narrativa, é inseparável da condição em que se encontram as personagens. Dessa forma, nesse diálogo, instaura-se uma construção subjetiva do tempo.

4 ( ) “Ao quarto dia, os malvados tornaram a aparecer. Vinham chamar ao pagamento do imposto de serviço as mulheres da segunda camarata”. Essa consciência do tempo cronológico, na narrativa, pertence ao narrador, que é onisciente.

RESPOSTA: FVFF

9. (UFU)Ensaio sobre a cegueira, de José Miguel Saramago, pode não ser uma obra-prima, acolhida com unanimidade pela crítica, mas tem despertado polêmica e incomodado a muitos por tratar de problemas da sociedade contemporânea. As

opiniões da crítica alternam admiração e repúdio. Em meio a essa duplicidade, parece haver consenso quanto a algumas decisões de Saramago ao escrever sua narrativa.

Neste sentido, assinale a alternativa cujo conteúdo NÃO corresponde ao consenso da crítica sobre a narrativa de Saramago.

a) Tratamento do elemento fantástico como metáfora política.

b) Cura das epidemias sociais com a redenção dos fracos e oprimidos.

c) Descrença absoluta no aprimoramento da sensibilidade humana.

d) Fim das ilusões perdidas de uma humanidade que caminha célere para o caos.

(UFU) O aspecto das ruas piorava a cada hora que ia passando. O lixo parecia multiplicar-se durante as horas noturnas, era como se do exterior, de algum país desconhecido onde ainda houvesse uma vida normal, viessem pela calada despejar aqui os contentores, não fosse estarmos em terra de cegos veríamos avançar pelo meio desta branca escuridão as carroças e os camiões fantasmas carregados de detritos, sobras, destroços, depósitos químicos, cinzas, óleos queimados, ossos, garrafas, vísceras, pilhas cansadas, plásticos, montanhas de papel, só não nos trazem restos de comida, nem sequer umas cascas de frutos com que pudéssemos ir enganando a fome, à espera daqueles dias melhores que sempre estão para chegar. A manhã vai ainda no princípio, mas o calor já se sente. O mau cheiro desprende-se da imensa lixeira como uma nuvem de gás tóxico, Não tarda que apareçam por aí umas quantas epidemias, voltou a dizer o médico, não escapará ninguém, estamos completamente indefesos […]. José SARAMAGO, Ensaio sobre a cegueira.

Leia o trecho acima para responder as questões 10 e 11.

10. Sobre o trecho acima, assinale a alternativa correta.

a) A fala do médico, no fim do trecho, sintetiza a total descrença no ser humano transmitida pelo romance de Saramago, uma vez que nele se demonstra a impossibilidade de a humanidade sobreviver a uma situação catastrófica que viesse a demolir a sociedade tal como a conhecemos.

b) Ao descrever o impacto que a produção industrial tem sobre o meio ambiente, o texto denuncia a completa ineficácia do avanço científico para construir uma sociedade melhor. Por isso, é correto afirmar que Ensaio sobre a cegueira vai contra a tecnologia e a ciência.

c) A cidade é apresentada como um espaço de degradação de toda forma de vida, motivo pelo qual os personagens centrais pensam em fugir para o campo, onde poderiam viver dignamente. Quanto a este aspecto, há uma idealização da natureza que permeia todo o romance.

d) O texto baseia-se em dados científicos para construir uma hipótese razoável sobre como se comportaria uma sociedade tomada por uma cegueira repentina. Tal atitude investigativa se repete por todo o livro e é um dos aspectos que explicam sua qualidade de ensaio.

42) Ainda sobre o trecho de Ensaio sobre a cegueira transcrito acima, assinale a alternativa correta.

a) O uso da primeira pessoa do plural em trechos como em “não fosse estarmos em terra de cegos veríamos avançar pelo meio desta branca escuridão” indica que o narrador participa como personagem da ação narrada no romance.

b) O uso de termos banais como “depósitos químicos”, “óleos queimados” “vísceras”, “plásticos”, “lixeira”, “gás tóxico”, “epidemias”, entre outros, configura um texto desencantado e despido de toda a estética literária.

c) O trecho apresenta algumas características bastante peculiares do estilo narrativo de Saramago, tais como o uso de períodos longos, a presença do discurso indireto livre e a alternância constante de foco narrativo.

d) No final do excerto, a palavra “Não” usada em maiúscula, logo depois de uma vírgula, tem a função de realçar e de acentuar todo o negativismo com que o médico analisa as chances de a humanidade sobreviver.

11.(UFU) Sobre a presença da intertextualidade na obra Ensaio sobre a cegueira é correto afirmar que:

a) o questionamento da religião e dos deuses, presente ao longo da obra, justifica o fato de o autor ter evitado conscientemente dialogar com a Bíblia.

b) a referência a textos clássicos, por exemplo, Odisseia ou Divina comédia revela a incapacidade de a literatura contemporânea criar novos mitos e símbolos.

c) a relação intertextual com obras da narrativa fantástica explica a temática lendária do romance, o qual não estabelece nenhuma relação com o contexto histórico atual.

d) a teia intertextual da obra provoca uma mistura de estilos narrativos, advindos de parábolas, alegorias, fábulas, ensaios, entre outros.

12. (IFTM) “Não havendo testemunhas, e se as houve não consta que tenham sido chamadas a estes autos para nos relatarem o que se passou, é compreensível que alguém pergunte como foi possível saber que estas coisas sucederam assim e não doutra maneira, a resposta a dar é a de que todos os relatos são como os da criação do universo, ninguém lá esteve, ninguém assistiu, mas toda a gente sabe o que aconteceu.” (José Saramago. Ensaio sobre a cegueira. São Paulo: Companhia das Letras, 2008, p. 253)

Conforme se observa no trecho e na obra como um todo:

a) ela incorpora a história da arte e a história do homem sem precisar de marcadores temporais e espaciais.

b) a centralização do sujeito e o discurso intertextual marcam a pluralidade e a heterogeneidade do pós-moderno.

c) o tema do romance norteia-se pela singularidade da linguagem, marca dos romances pós-modernos.

d) o autor utilizou a cegueira como uma alegoria para mostrar as diferenças dos eus que são vistas como obstáculos na compreensão do mundo.

e) os males humanos se devem à capacidade do homem de reparar, com o olhar contemplativo, a criação do universo e ver a sua inserção na sociedade contemporânea.

(UNCISAL ) Considere o texto para responder às questões de números 13a 17.

Ensaio sobre a cegueira

Gosto dos romances e dos filmes apocalípticos, ou seja, das histórias em que algum tipo de fim do mundo (guerra nuclear, invasão extraterrestre, epidemia etc.) nos força a encarar uma versão laica e íntima do Juízo Final. Nessa versão, Deus não avalia nosso passado, mas, enquanto o mundo desaba, nosso desempenho mostra quem somos realmente. No desamparo, quando o tecido social se esfarela e as normas perdem força e valor, conhecemos, enfim, nosso estofo “verdadeiro”. Somos capazes do melhor ou do pior: o apocalipse nos testa e nos revela. O primeiro romance apocalíptico (de 1826) talvez tenha sido “O Último Homem”, de Mary Shelley, que é também a autora de “Frankenstein”. De fato, as duas obras são animadas pelo mesmo sonho: uma criatura radicalmente nova pode ser fabricada em um necrotério ou nascer das cinzas da civilização. Em ambos os casos, ela será sem história, sem ascendência, sem comunidade e, portanto, penosamente livre. No romance de Shelley, aliás, a causa da catástrofe é uma epidemia, como no “Ensaio sobre a Cegueira”, de Saramago, que é agora levado para o cinema por Fernando Meirelles. A obra de Meirelles é fiel ao livro que a inspira, mas, para contar a mesma história, consegue inventar uma eloquência própria. Por exemplo, banha o filme uma luz esbranquiçada e difusa que não é apenas (como muitos apontaram) uma evocação da cegueira branca que aflige a humanidade: é a atmosfera ordinária de nosso universo desbotado, em que a trivialidade do cotidiano desvanece os contrastes – até que as sombras e os brilhos sejam revelados na “hora do vamos ver”, que acontece, paradoxalmente, porque todos (ou quase todos) perdem a visão. No “Ensaio sobre a Cegueira”, diferente do que acontece em muitas narrativas apocalípticas, a heroína é uma mulher, e as mulheres são as depositárias da esperança; elas saem engrandecidas pelas provas da situação extrema. São elas que, para o bem de todos, entregam-se aos estupradores, aviltando não elas mesmas, mas os que as violentam, com uma coragem que salienta a covardia dos maridos ciumentos ou zelosos de sua “honra”. São elas que sabem cuidar de uma criança ou matar quando é preciso. São elas que reinventam a amizade em algumas cenas memoráveis do filme. Aviso, caso, um dia, a gente tenha que recomeçar tudo do zero: em geral, as mulheres sabem, melhor do que os homens, o que é essencial na vida. (Contardo Calligaris. Folha de S.Paulo, 18.09.2008. Adaptado)

13. De acordo com o autor, narrativas apocalípticas

a) baseiam-se na crença de que Deus avaliará o passado de todos no Juízo Final.

b) levam as pessoas a refletir intimamente sobre suas atitudes cotidianas.

c) mostram que, diante de tragédias, as pessoas descobrem o que têm de melhor.

d) revelam a capacidade que a sociedade tem de se reerguer após uma crise.

e) criam situações extremas, em face das quais, revela-se a essência das pessoas.

14. O autor apresenta uma explicação particular para a luz esbranquiçada que banha o filme, entendendo-a como

a) um modo de fazer o espectador compreender o sofrimento das personagens.

b) uma forma de representar a cegueira que atinge todas as personagens.

c) uma representação da banalidade cotidiana.

d) um recurso cinematográfico inovador.

e) uma reprodução do que ocorre no livro de Saramago.

15. O paradoxo mencionado pelo autor no final do terceiro parágrafo

– … até que as sombras e os brilhos sejam revelados na “hora do vamos ver”, que acontece, paradoxalmente, porque todos (ou quase todos) perdem a visão. – refere-se ao fato de

a) as personagens perderem a visão por excesso de luz e brilho.

b) a revelação ocorrer porque quase todos ficaram cegos.

c) as sombras e os brilhos se tornarem equivalentes na “hora do vamos ver”.

d) aqueles que perderam a visão não poderem mais distinguir sombras e brilhos.

e) o momento decisivo (“a hora do vamos ver”) ocorrer apenas para quem perdeu a visão.

16. Considere as afirmações:

I. … quando o tecido social se esfarela e as normas perdem força e valor, conhecemos, enfim, nosso estofo “verdadeiro”. (1.º parágrafo) – a forma correta do verbo conhecer no pretérito imperfeito é conhecíamos.

II. … a causa da catástrofe é uma epidemia … (2.º parágrafo) – o adjetivo relativo ao substantivo catástrofe é catastrófico.

III. A frase – … as mulheres são as depositárias da esperança, ... (4.º parágrafo) – equivale a … as mulheres são as credoras da esperança.

IV. Em – … elas saem engrandecidas pelas provas da situação extrema. (4.º parágrafo) – a grafia e a forma corretas do infinitivoda forma verbal engrandecidas é engrandecer-se.

Está correto apenas o que se afirma em

a) I e II.

b) I e IV.

c) II e III.

d) II e IV.

e) III e IV.

17. Assinale a alternativa em que o trecho – Aviso, caso, um dia, a gente tenha que recomeçar tudo do zero: em geral, as mulheres sabem, melhor do que os homens, o que é essencial na vida. – reescrito, encontra-se corretamente pontuado, de acordo com a norma culta.

a) Aviso que, caso a gente um dia tenha que recomeçar tudo do zero, as mulheres em geral sabem, o que é essencial na vida, melhor do que os homens.

b) Aviso, caso a gente, tenha que recomeçar, um dia, tudo do zero: as mulheres sabem, em geral, melhor do que os homens, o que é essencial na vida.

c) Aviso: caso um dia a gente tenha que recomeçar tudo do zero, as mulheres, em geral, sabem, o que é essencial à vida, melhor do que os homens.

d) Caso, um dia, a gente tenha, que recomeçar tudo do zero, aviso: em geral, as mulheres sabem o que é essencial na vida, melhor do que os homens.

e) Aviso: caso a gente tenha que recomeçar tudo do zero um dia, as mulheres sabem, em geral, o que é essencial à vida melhor do que os homens.

18. (FEEVALE) Sobre o filme , Ensaio sobre a Cegueira,  de Fernando Meirelles, é incorreto afirmar que:

a) a cegueira do filme não é igual à cegueira normal, pois se trata de uma metáfora sobre a sociedade atual e os processos de homogeneização promovidos pela globalização.

b) o filme tem como objetivo refletir sobre a necessidade que todo ser humano tem de seus semelhantes, por isso a mulher do médico diz que também está cega, pois os outros não a veem.

c) mesmo estando cegas e, portanto, frágeis, as pessoas confinadas continuaram a explorar umas às outras, o que mostra a falta de solidariedade e a essência competitiva do homem, contrariamente à amizade e ao respeito aos Direitos Humanos.

d) a doença da cegueira branca é provocada por um novo vírus produzido em laboratório, de modo que os afetados precisam ficar de quarentena.

e) o fato de nenhum personagem ter nome próprio mostra como o ser humano se desumaniza, aproximando-se do nível dos outros animais, como, por exemplo, o Cão das Lágrimas.

(UFPR) O texto a seguir é referência para as questões 19 e 20.

Ensaio sobre a cegueira

E então o Congresso saltitou de alegria porque aprovou que nos próximos dez anos 10% do PIB serão destinados para a Educação. E então os governadores e prefeitos trombetearam de satisfação porque o Congresso deixou para posterior regulamentação as formas de garantir a aplicação adequada desses recursos e a responsabilização de quem não cumprir. E então os empresários serpentearam de júbilo porque as verbas não são, assim, propriamente para a educação pública. E então o governo federal ululou de felicidade porque a medida é um resgate histórico de lutas pela melhoria da educação e com recursos ninguém segura esse país e esse é um país que vai pra frente e quem não gostar, ora, deixe-o. E então as empresas de informática e de outras parafernálias de última geração para garantir ensino como nunca se viu nesse país deliciaram-se com o êxito da medida que gerará empregos e revolucionará para sempre a educação pátria. E então muitos professores sapatearam frevos, polcas e mazurcas porque agora terão computadores e tablets, quadros digitais e outras ferramentas tecnológicas a aí sim, a educação vai deslanchar. E então muitos pais exultaram emocionados e eufóricos porque agora as crianças receberão uniforme escolar e materiais diversos e enfim poderão aprender e tornarem-se cidadãos melhores e mais preparados. E então muitos alunos festejaram e fizeram chacrinhas e chistes uns com os outros porque agora terão aulas em tempo integral, com muitas atividades de informática e outras atividades lúdicas e jogos e não precisarão mais ficar em casa sem fazer nada. E então disse o mestre Saramago: “Por que foi que cegamos, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos, que, vendo, não veem”. Daniel de Medeiros, 18/06/2014,http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/educacao-no-dia-a-dia/

19. O autor enfatiza a euforia de diferentes segmentos da sociedade após a aprovação pelo Congresso da destinação de mais verbas para a educação. Tendo isso em vista, considere as seguintes afirmações:

1. Com a repetição da expressão “e então”, o autor sugere o encadeamento dos fatos motivados pela deliberação do Congresso.

2. O autor destaca o efeito positivo que a destinação de 10% do PIB terá sobre a educação.

3. As citações de Saramago no título e no último parágrafo evidenciam que os segmentos da sociedade citados não se preocupam efetivamente com a qualidade da educação.

4. Uma regulamentação mais precisa do Congresso atenuaria os interesses escusos de alguns segmentos. Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras.

b) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras.

c) Somente as afirmativas 2 e 4 são verdadeiras.

d) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras.

e) Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras.

20. José Saramago, prêmio Nobel de Literatura, é conhecido por subverter o uso da pontuação. É possível observar isso na citação feita no último parágrafo, retirada do livro Ensaio sobre a Cegueira. Se reescrevêssemos o trecho usando as normas canônicas de pontuação, teríamos que utilizar outros sinais, além daqueles usados pelo escritor. Sem alterar a sintaxe do texto, que sinal poderia ser dispensado nessa reescrita?

a) Ponto final.

b) Ponto e vírgula.

c) Travessão.

d) Ponto de interrogação.

e) Ponto de exclamação.

21. (UEAP) Analise as afirmações sobre a obra Ensaio Sobre a Cegueira, de José Saramago e, posteriormente, assinale a alternativa correta.

I- Tem como cenário principal o sertão, onde os migrantes lutam contra o

sistema latifundiário que os oprime.

II- Os personagens apresentados na narrativa não têm nomes, suas

identidades são marcadas por seus sentimentos e suas atitudes.

III- Faz crítica aos valores sociais e da sociedade urbana em transformação,

tanto do ponto de vista moral quanto material.

IV- A narrativa é predominantemente alinear, ou seja, pode ir ao passado e ao

futuro, sem obedecer à ordem do tempo cronológico.

a) Apenas II e IV estão corretas.

b) Apenas I e III estão corretas.

c) Apenas III e IV estão corretas.

d) Apenas II e III estão corretas.

e) Todas as afirmações estão corretas.

22. (IFTM) “Ela tem, como a gente normal, uma profissão, e também como a gente normal, aproveita as horas que lhe ficam para dar algumas alegrias ao corpo e suficientes satisfações às necessidades, as particulares e as gerais. Se não se pretender reduzi-la a uma definição primária, o que finalmente se deverá dizer dela, em lato sentido, é que vive como lhe apetece e ainda por cima tira daí o prazer que pode.”(José Saramago. Ensaio sobre a cegueira. São Paulo: Companhia das Letras, 2008, p. 31)

De acordo com o trecho e com os conhecimentos sobre os romances contemporâneos pode-se afirmar:

a) que a leitura nos remete a um espaço atemporal, marca dos romances deste período.

b) que o livro apresenta os personagens de acordo com suas condições morais e éticas.

c) que a relativização é uma marca no romance, pois parte do princípio de que os seres são todos iguais.

d) que a não identificação dos personagens, como a da descrita no trecho, deixam implícita a trajetória a ser seguida para o descobrir do eu e do outro.

e) que nos romances contemporâneos a identificação espaço-temporal dos personagens possibilita, pois, o retrato contundente da condição humana.

A personagem da canção canta passagens da sua vida de forma amargurada

(UFG) Leia a canção a seguir:
Aos quatro cantos o seu corpo
Partido, banido.
Aos quatro ventos os seus quartos,
Seus cacos de vidro.
O seu veneno incomodando
A tua honra, o teu verão.
Presta atenção!
Presta atenção!
Aos quatro cantos suas tripas,
De graça, de sobra,
Aos quatro ventos os seus quartos,
Seus cacos de cobra,
O seu veneno arruinando
A tua filha, a plantação.
Presta atenção!
Presta atenção!
Aos quatro cantos seus gemidos,
Seu grito medonho,
Aos quatro cantos os seus quartos,
Seus cacos de sonho,
O seu veneno temperando
A tua veia, o teu feijão.
Presta atenção!
Presta atenção!
Presta atenção!
Presta atenção!
BUARQUE, Chico; GUERRA Ruy. “Calabar”. O elogio da traição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. p. 68-69.
1. Na peça teatral “Calabar”, a personagem Bárbara entoa a canção “Cobra-de-Vidro”, acima transcrita.
a) Considerando-se os gêneros literários, o que a presença desse texto na obra evidencia?
b) Analise a metáfora “cobra-de-vidro”.
c) A quem se refere o jogo gramatical estabelecido entre “seu, seus, suas” e”tua, teu” e que efeito ele produz para a compreensão da mensagem da peça?
RESPOSTA:

a)Demonstra a hibridização dos gêneros dramático e lírico.
b) Espécie de lagarto que quando se corta em dois, três, mil pedaços, facilmente se refaz. Então, metaforiza que as ideias de Calabar não morreram, pelo contrário, se multiplicaram.
c) Seu, seus, suas”, a Calabar.
Tua, teu”, ao leitor/espectador.
Aproxima Calabar e seus ideais do leitor/espectador, visando à sua sensibilização ou à adesão a seus ideais.

2. (UFU) Traição era uma atitude cotidiana, aliás implícita na própria colocação do problema: defender Portugal ou defender a Holanda significava uma traição ao Brasil. Trocar de lado era um hábito constante. […] “Calabar”, neste sentido, é uma reflexão aberta, irônica e provocativa, teatral e musical, grotesca e crítica, existencial e materialista, sobre o significado, tornado relativo, portanto passível de interpretação, do problema e do significado da traição.
Fernando Peixoto, “Duas vezes Calabar”.

O traidor se chama Calabar.
Outros terão levado segredos,
Outros terão levado propinas,
Mas esses sabem se portar.
Outros terão se sujado as calças,
Outros terão delatado amigos,
Mas esses voltam pra jantar.
Outros irão vender sua terra,
A casa, a cama, a alma, a mãe, os filhos,
O povo, os rios, as árvores e os frutos.
[…]
O melhor traidor é o que se escala,
Corpo pronto para a bala,
Se encurrala, se apunhala
E se espeta numa vala.
Se amarrota e não estala
E cabe dentro da mala,
Se despeja numa vala
E não se fala na sala. Chico Buarque e Ruy Guerra, “Calabar”.

Tendo em vista os trechos e a obra “Calabar”,
a) comente como o tema TRAIÇÃO reflete o panorama histórico-político do Brasil do século XVII.
b) explique como, metaforicamente, “Calabar” discute o panorama político do país nos anos 70 do século XX, apresentando dois exemplos que aparecem nos versos apresentados.
RESPOSTA:

a) No século XVII, houve em Pernambuco, devido às invasões holandesas, uma sangrenta batalha do Capão da Traição. Calabar representou a traição contra os portugueses, a favor dos holandeses.
b) Época da ditadura. A traição de alguns, por ganância ou covardia, trazia consequências gravíssimas aos que lutavam pela liberdade.
“Outros terão levado segredos,
Outros terão levado propinas…”

3. (UFU) Em relação à peça teatral Calabar, o elogio da traição, marque a alternativa INCORRETA.

a) No discurso que pronuncia, na abertura da peça, Frei faz referência a um mito bíblico que explicaria a origem do Brasil, ainda hoje presente no imaginário do povo brasileiro: “[…] e não parecia esta terra senão um retrato do terreal paraíso.” Essa referência ao paraíso evidencia que o colonizador português, em pleno século XVII, ainda pautava sua visão do mundo nas verdades dogmáticas vigentes na Idade Média.

b) “Vence na vida quem diz sim.” Esse verso, extraído de uma das canções da peça, explica o comportamento do negro Henrique Dias e do índio Filipe Camarão; afinal, são as únicas personagens – além de Bárbara – que não são mercenários, nem egoístas, nem delatores. Ao contrário, reiteram sempre sua fidelidade ao mestiço Calabar – um dos primeiros heróis do povo brasileiro em formação.

c) Nas falas de Nassau, fica clara a diferença entre o espírito progressista dos holandeses e a inércia do colonialismo dos portugueses. Diz o príncipe: “E se mais não me foi dado criar, é porque atrás de um homem de visão, há sempre no mesmo reino podre dez generais e mil burocratas.” São falas como essa que permitem ao espectador estabelecer relação entre a história colonial e a situação política na época da encenação de Calabar.

d) Na abertura da peça, a personagem Frei pronuncia um discurso ufanista, exaltando tanto a riqueza da terra brasileira como as pessoas que ali viviam. Aqui, diz o Frei, “[…] Tudo eram delícias […]”. O discurso do Frei contrasta com a sessão de tortura, que se observa ao fundo da cena. A intenção dessa situação dramática é denunciar a violência instalada na colônia pela coroa portuguesa.

4. (UFMG) Leia atentamente os versos da peça “Calabar”, de Chico Buarque e Ruy Guerra:
Aí, esta terra ainda vai cumprir seu ideal,
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal.
Todas as alternativas apresentam interpretações possíveis para a peça, a partir da leitura do trecho, EXCETO
a) A expressão CUMPRIR SEU IDEAL indica que a peça apresenta uma visão irônica do futuro brasileiro.
b) A expressão TORNAR-SE UM IMENSO PORTUGAL sugere que o Brasil independente manteve os vícios e mazelas do período colonial.
c) A peça elogia a traição como uma forma de resistência ao sistema colonial, representado pelo IMENSO PORTUGAL.
d) A peça afirma que o ideal de grandeza dos portugueses, no século XVII, viu-se realizado na empresa colonial brasileira.
e) A peça denuncia a situação autoritária do Brasil, nos anos setenta, comparando-o a Portugal.

5. (UFMS) A propósito de Calabar, de Chico Buarque e Ruy Guerra, assinale a(s) proposição(ões) correta(s).

(001) Promove uma leitura da História do Brasil, deslocando o foco do protagonista para a ação.

(002) As contradições das personagens alegorizam o medo e a insegurança das pessoas diante da ditadura militar instaurada em 1964.

(004) A obra faz uma apologia que defende o ideário de independência econômica e política do Brasil.

(008) Como metáfora do momento político em que foi escrita, a peça se estrutura nos moldes de uma fábula clássica.

(016) Diante das necessidades coletivas maiores, ressalta do drama a mensagem de que a liberdade individual pode ser alienada.

SOMA:  007 (001+002+004)

6. (UFU) Em relação à peça Calabar, o elogio da traição, de Chico Buarque de Holanda e Ruy Guerra, marque para as alternativas abaixo (V) Verdadeira, (F) Falsa ou (SO) Sem Opção.

1 ( ) No desenrolar da peça, observa-se que a pobreza dos moradores de uma cidade nordestina, então ocupada pelos holandeses, sob o comando de Nassau, contrasta com a riqueza e a ostentação dos católicos portugueses em geral indiferentes a essa condição miserável.

2 ( ) Os personagens Henrique Dias e Filipe Camarão não têm escrúpulos em assumir que estavam dispostos a enganar índios e negros, etnias que lideravam, compactuando com o poder e agindo em benefício deles mesmos. Logo, são traidores – embora na história oficial brasileira sejam heróis da resistência contra o invasor herege.

3 ( ) No final da peça, Bárbara trai Calabar. A traição surpreende pela sua vilania e gratuidade, em se tratando de uma personagem até então dotada de nobreza de caráter. Em uma atitude vulgar, sem qualquer sofrimento íntimo, Bárbara busca encontrar outro amante para se vingar de Calabar.

4 ( ) O clima de denúncia e traição, aliado à atitude oportunista de muitos personagens – sobretudo aqueles identificados com o poder colonial lusitano –, explicam a ironia presente no título da peça. Esse ambiente de imoralidade e cinismo permite ao espectador/leitor estabelecer relação entre a história colonial brasileira e a situação política vivida no país na época da Ditadura Militar.

RESPOSTA: VFVV

7. (UFMG) Todas as alternativas sobre a peça “Calabar” de Chico Buarque e Ruy Guerra são corretas, EXCETO
a) A fala de Frei Manoel do Salvador foi montada com base na oratória sacra do Padre Antônio Vieira.
b) A opinião e a fala dos autores transparecem nas letras das músicas, que funcionam como comentários das cenas.
c) A peça deixa Calabar em silêncio, mas ele está representado nas falas e nos atos de outras personagens.
d) A peça sugere que a verdade é relativa e dependente de vários interesses.
e) A peça se constitui como uma sátira à visão tradicional da história do Brasil.

8. (UFMS) Com relação à peça teatral Calabar, de Chico Buarque e Ruy Guerra, assinale a(s) proposição(ões) correta(s).

(001) O subtítulo “O elogio da traição” se refere, também, a uma defesa de mudanças nos costumes, em especial propugnando ampla liberdade sexual, inclusive para aqueles que já se casaram.

(002) O primeiro ato, nomeado como “Agnus Dei qui tollit peccata mundi…”, trata das terras do Brasil antes da chegada do governador holandês Maurício de Nassau.

(004) O segundo ato tem início com Nassau, governador plenipotenciário, expondo suas ideias

administrativas e políticas para as terras de Pernambuco, descrevendo tais idéias como “um sonho grandioso”.

(008) O embate entre as realizações do governo nomeado e as aspirações da Companhia das Índias Ocidentais determina o retorno, à Europa, do conde Maurício de Nassau.

(016) A ausência de personagens femininas, na peça, é uma licença poética, pois as pesquisas

(032) históricas demonstram que as mulheres tiveram papel preponderante na invasão holandesa e na retomada de Pernambuco pelos portugueses.

SOMA: 012 (004+008)

9. (UFG) Em “Calabar”, de Chico Buarque e Ruy Guerra, as personagens Mathias de Albuquerque e Maurício de Nassau pertencem a diferentes metrópoles europeias. Apesar de trabalharem para países distintos, eles têm em comum
a) o ideal de representar a síntese do povo brasileiro em Souto, Dias e Camarão.
b) o plano de punir Calabar pela traição e pelos danos causados aos seus países.
c) o desejo de tornar o Brasil autônomo em relação à Europa.
d) a necessidade de neutralizar a ação delatora do agente da CIO.
e) a convicção de receber o apoio de Frei Manoel do Salvador.

10. (UFU) Considerando a leitura de Calabar: o elogio da loucura, de Chico Buarque e Ruy Guerra, assinale a afirmativa INCORRETA.

a) O texto desmistifica o mito Calabar e oferece possibilidades de reflexão ao leitor sobre a realidade apresentada, considerando a personagem Calabar como um verdadeiro traidor, por ter aderido aos holandeses.

b) O texto apresenta uma relação entre passado e presente que reflete dois momentos históricos, isto é, o século XVII, período em que os holandeses e portugueses lutavam pela colonização do Brasil, e o pós 64, com o desenvolvimento da ditadura militar no Brasil.

c) O texto foi escrito em 1973 por Chico Buarque de Holanda e Ruy Guerra, porém foi impedido de ser apresentado ao público. Somente em 1980 foi liberado pela censura com severas restrições.

d) Para a história oficial do Brasil, Domingos Fernandes Calabar é considerado um traidor; para os autores do texto, entretanto, o mito da traição é questionado, pois a traição pode ser vista como procedimento necessário da política colonialista.

11. (UFMG) Todas as alternativas apresentam interpretações possíveis para a peça “Calabar”, de Chico Buarque e Ruy Guerra, EXCETO
a) A traição de Calabar desmascara a hipocrisia da sociedade.
b) A traição de Calabar possui uma conotação política positiva.
c) A traição é um conceito relativizado pelas ações e falas das personagens.
d) Calabar trai Bárbara por preferir Anna de Amsterdã.
e) Calabar trai Portugal por preferir a Holanda.

12. (UFMS) Com relação à peça teatral Calabar, de Chico Buarque e Ruy Guerra, assinale a(s) proposição(ões) correta(s).

(001) Faz sátira severa contra a nobreza decadente, ambiciosa, com a consequente exploração das riquezas brasileiras pelos holandeses.

(002) Mostra, a partir da situação histórica, as contradições do ser humano, observáveis, por exemplo, nas personagens Bárbara e Sebastião de Souto.

(004) Constantemente, as personagens dialogam com o público, em técnica cênica que conduz o espectador a refletir sobre a realidade retratada.

(008) A peça pode ser caracterizada como um musical, e o seu clímax se dá com todo o elenco cantando “O elogio da traição”.

(016) É obra que, sem preocupações de ordem estética, retrata fatos históricos do Brasil do século XVII.

SOMA: 014 (002+004+008)

13. (UFU) As afirmações abaixo referem-se a Calabar. Assinale a alternativa correta.

a) No personagem Sebastião de Souto, a traição cotidiana e mesquinha se agiganta e se transforma num ato de vingança.

b) Cabalar é essencialmente teatral na medida em que segue as regras habituais da dramaturgia e conserva uma linha dramática consequente e objetiva.

c) Bárbara, a mulher de Calabar, não mede consequências para desvendar a traição e o traidor.

d) Recurso decisivo para sustentar a complexidade do tema da traição, Calabar é um “ser de palavras”, personagem construído pelo que dizem dele os demais no drama encenado.

14. (UFMG) Leia o trecho seguinte, da peça “Calabar” de Chico Buarque e Ruy Guerra:
HOLANDÊS: Ah, foi bom falar nisso. Eu tenho aqui comigo algumas ações da Companhia. Se Vossa Excelência se interessar..
MATHIAS: Como disse?
HOLANDÊS: Cada ação está cotada a 3 mil florins. Eu posso lhe confidenciar que a Companhia pretende investir 2 milhões e meio na conquista do Brasil, sendo que a previsão de retirada é da ordem dos 8 milhões de florins anuais. Logo, fazendo os cálculos rapidamente…
MATHIAS: Vossa Excelência tem a noção do que está me propondo?
HOLANDÊS: Perfeitamente. Vossa Excelência estará jogando no par e no ímpar, no vermelho e no preto ao mesmo tempo. Vitorioso na guerra, será um herói com déficit. Em caso de derrota, ficará simplesmente milionário.
MATHIAS: Saiba Vossa Excelência que eu sou um general a serviço da coroa de Portugal e Castela !
HOLANDÊS: Sim, mas não importa…
Nesse trecho, a fala do HOLANDÊS
a) apresenta uma argumentação ambígua, que oscila entre catolicismo e protestantismo.
b) contém uma lição de moral favorável às práticas econômicas holandesas.
c) é uma tentativa de induzir Mathias a marchar com as tropas holandesas.
d) procura convencer Mathias de que a religião dos holandeses é mais liberal.
e) reflete os interesses do capitalismo, que são colocados acima dos valores morais.

15. (UFG) “Calabar”, de Chico Buarque e Ruy Guerra, e “Romanceiro da Inconfidência”, de Cecília Meireles, trazem episódios da História do Brasil para o plano literário e, nessa releitura,
a) o tópico da traição é relativizado e exposto de forma poética.
b) o açúcar e o ouro constituem temas secundários desenvolvidos alegoricamente.
c) os negros e as mulheres são subjugados e excluídos das cenas dramáticas.
d) a consolidação dos heróis da Independência recebe tratamento irônico.
e) o fracasso dos primeiros ideais de brasilidade é mostrado por diversas vozes.

16. (UFMS) A propósito de Calabar, de Chico Buarque e Ruy Guerra, assinale a(s) proposição(ões) correta(s).

(001) É peça ousada esteticamente pela criação do coro com o papel de comentar os acontecimentos encenados.

(002) É peça ousada politicamente por defender ideologia que contrariava o poder político do período em que foi escrita e encenada.

(004) É peça ousada do ponto de vista teatral por se valer à exaustão das rubricas para indicar

aspectos psicológicos das personagens.

(008) É peça ousada por defender a precariedade dos juízos históricos em época de certezas.

(016) É peça ousada por defender a liberação dos costumes, tais como o aborto e o nudismo.

SOMA: 010 (002+008)

17. (UFU) Leia as afirmações a seguir e assinale a alternativa correta.
a) “A hora e a vez de Augusto Matraga” é um romance que apresenta um diálogo com o gênero lírico principalmente no que se refere à linguagem metaforizada.
b) “Sentimento do mundo” é uma obra narrativa, apesar de possuir trechos dramáticos que o aproximam da tragédia pela densidade que apresenta em alguns momentos.
c) “Calabar” pertence ao gênero dramático, aproximando-se, em alguns momentos, da comédia por apresentar em sua estrutura teatral elementos grotescos.
d) “Triste fim de Policarpo Quaresma” pertence ao gênero dramático, por apresentar a estrutura perfeita de uma comédia, apesar da evidência de elementos líricos e narrativos.

18. (UFG) Em relação a Oribela, Bárbara e Chica da Silva, personagens das obras “Desmundo”, “Calabar” e “Romanceiro da Inconfidência”, respectivamente, pode-se afirmar:
a) Relacionam-se com seus pares visando interesse econômico.
b) Transgridem o papel social das mulheres determinado pela época.
c) Sofrem a influência dos dogmas transmitidos pela Igreja.
d) Possuem conhecimento sistemático dos movimentos políticos.
e) Atuam como coadjuvantes nos grandes feitos das personagens masculinas.

19. (UEG) O enredo de Calabar, de Chico Buarque e Ruy Guerra, representa um episódio remoto da formação sociopolítica brasileira que alude ao período da ditadura militar porque

a) a linguagem apresenta traços denotativos para o enfrentamento da censura.

b) o espaço da ação histórica restringe-se aos limites físicos do palco.

c) o passado é colocado em cena sob o olhar contemporâneo e crítico dos autores.

d) o conflito político ocorre por meio do jogo de poder entre portugueses e holandeses.

e) a posição ideológica do texto dilui a reflexão crítica expressa pelas partes cantadas.

20. (UFU) “NASSAU. Mas diga que a cada dia nasce uma nova obra de arte, decifra-se o mistério de uma ciência, descobre-se algo…
MÉDICO (Entrando, às pressas). Alteza! Alteza!
NASSAU. O que foi que descobriste hoje, doutor?
MÉDICO. A cura da gonorreia.
CONSULTOR. Ah, isso é magnífico.
NASSAU. Gostou, hein? Não lhe disse? (Para o MÉDICO) Qual é a fórmula?
MÉDICO. Simples, meu Príncipe. Mastigando-se frequentemente a cana e engolindo-se o suco, sem nenhum outro medicamento, fica-se curado em oito dias.
CONSULTOR toma um maço de cana das mãos do MÉDICO, NASSAU toma outro, põem na boca e começam a mastigar. O MÉDICO oferece ao FREI que, discreta e maliciosamente, recusa.
NASSAU (Mastigando). Notável… Que seria de nós sem a cana-de-açúcar?”
Chico Buarque e Ruy Guerra. “Calabar”.
Tendo em vista o trecho acima e a obra “Calabar”, assinale a alternativa correta.
a) Este trecho revela, de maneira irônica e metafórica, o ideal nacionalista de seus autores, mostrando um país que conseguia manter um desenvolvimento científico espetacular, mesmo em face das dificuldades políticas da época.
b) A descoberta da cura da gonorreia, mal que os europeus transmitiram aos nativos brasileiros, evidencia os avanços tecnológicos e científicos trazidos pelos holandeses ao Brasil, quando governaram em Pernambuco.
c) O fato de o Frei se recusar a mastigar a cana-de-açúcar demonstra sua descrença na cura científica, comprovando sua inabalável fé nos desígnios superiores e místicos. Isso prova que ele – o Frei – era um homem moralmente superior aos demais.
d) Por trás do humor e da ironia, principalmente na última fala de Nassau, esta passagem apresenta o motivo real das desavenças da época: o controle da produção da cana-de-açúcar e o monopólio de sua distribuição na Europa.

21. (UEG) O romance O fantasma de Luis Buñuel, de Maria José Silveira, e a peça Calabar, de Chico Buarque e Ruy Guerra, apresentam direta e indiretamente as consequências do golpe militar de 1964 na realidade brasileira.

Assim, o enfoque literário é semelhante no que se refere

a) ao processo revisionista dos modos da violência de Estado em tempos históricos remotos.

b) à captação realista dos modos de rebeldia da juventude formada num contexto ditatorial.

c) à expressão multifacetada da tradição autoritária na sociedade brasileira.

d) ao tratamento alegórico das formas de atuação política do poder militar.

e) à recorrência temática da luta político-partidária contra o poder autoritário vigente.

A personagem da canção canta passagens da sua vida de forma amargurada

(FGV) O fragmento abaixo, extraído do conto “Tentação”, de Clarice Lispector, é a base para as Questões 1 a 5.

 “Ela estava com soluço. E como se não bastasse a claridade das duas horas, ela era ruiva. Na rua vazia as pedras vibravam de calor — a cabeça da menina flamejava. Sentada nos degraus de sua casa, ela suportava. Ninguém na rua, só uma pessoa esperando inutilmente no ponto do bonde. E como se não bastasse seu olhar submisso e paciente, o soluço a interrompia de momento a

momento, abalando o queixo que se apoiava conformado na mão. Que fazer de uma menina ruiva com soluço? Olhamo-nos sem palavras, desalento contra desalento. Na rua deserta nenhum sinal de bonde. Numa terra de morenos, ser ruivo era uma revolta involuntária. Que importava se num dia futuro sua marca ia fazê-la erguer insolente uma cabeça de mulher? Por enquanto ela estava sentada num degrau faiscante da porta, às duas horas. O que a salvava era uma bolsa velha de senhora, com alça partida. Segurava-a com um amor conjugal já habituado, apertando-a contra os joelhos.” LISPECTOR, Clarice. A Legião Estrangeira. São Paulo: Ática, 1990, p. 59.

1.O texto tem, notadamente, um caráter sinestésico. Nomeie os dois aspectos sensoriais que se destacam e explique como a autora conseguiu esse efeito linguístico.

RESPOSTA:

Os aspectos são o visual e o tátil. O efeito se deu graças à concentração de expressões que evocam os dois sentidos, por exemplo: claridade, ruiva, calor, flamejava, deserto, ruivo, faiscante; todas, diretamente ou por associação, remetem a uma tonalidade amarela — aludindo ao sol — que cria uma sensação de luminosidade intensa, visual, que queima, tátil.

2. Alguns elementos textuais são apresentados repetidamente. Aponte dois pares distintos deles que comprovem tal afirmação e explique o efeito de sentido conseguido a partir desse procedimento.

RESPOSTA:

Há várias combinações possíveis, que dependem sempre do enfoque; o importante é que sejam apontados os dois pares distintos. Por exemplo: 1) “Ela estava… era ruiva.” e “Que fazer… com soluço”; 2) “Na rua vazia… de calor” e “Ninguém na rua,… bonde.” ou “Na rua deserta… bonde.”; 3) “E como se não bastasse a claridade” e “E como se não bastasse seu olhar”; 4) “a cabeça da menina” e “uma cabeça de mulher”. Quanto ao efeito de sentido, trata-se da atmosfera de angústia vivida pela menina, amplificada justamente pelo caráter iterativo do texto, que gera uma sensação de um eterno retorno sufocante. Também, é adequado afirmar que os elementos reiterados que apontam para o tipo físico da menina ou para a ideia de calor agem como intensificadores dessa sensação de angústia.

3.Destaque quatro palavras de uma mesma classe gramatical que apontem para um sentido comum e explique como elas agem significativamente no texto. Identifique a classe gramatical dessas palavras.

Obs.: A variação de gênero, por exemplo, não conta como distinção.

RESPOSTA:

1) Verbo: suportava, apoiava, salvava, erguer, Segurava-a; sentido de “suster”, “carregar” algo.

2) Adjetivo: ruiva, vazia, deserta, velha, partida; sentido de algo inferiorizado.

3) Adjetivo: submisso, paciente, conformado, involuntária, habituado; sentido de algo ou alguém sem vontade própria. Essas palavras ajudam a compor a imagem de uma personagem cujo perfil psicológico é o de alguém que se sente inferiorizado, resignado, angustiado em face de uma realidade adversa, necessitando de auxílio.

4) Substantivo: claridade, calor, revolta, marca, amor. Essas palavras remetem ao sentido de algo forte, intenso, luminoso, contrastando com o estado de espírito atual da menina.

4.Nas palavras destacadas em negrito dos trechos “Ninguém na rua, uma pessoa esperando inutilmente no ponto do bonde.” e “abalando o queixo que se apoiava conformado na mão.”, há um procedimento lúdico. Que procedimento é esse, como ele se dá, e que efeito de sentido é conseguido no texto?

RESPOSTA:

A autora valeu-se da “polissemia”, isto é, da multiplicidade de sentidos das expressões “só” e “conformado”. Outras respostas possíveis são “duplo sentido”, “ambiguidade”, “trocadilho”.

No caso de “só”, há o jogo com o sentido adverbial, do advérbio “apenas” — “somente”, “unicamente” —, podendo ser entendida como “adjunto adverbial de modo”, e com o sentido qualificativo, do adjetivo “sozinha”, podendo ser entendida como “adjunto adnominal”; no caso de “conformado”, há o jogo com o sentido adverbial, do advérbio “conformadamente”, podendo ser entendida como “adjunto adverbial de modo”, e com o sentido qualificativo, do adjetivo “conforme” — “adaptado” —, podendo ser entendida como “adjunto adnominal”.

Assim, duas palavras apontam para quatro significados distintos que convergem para uma ideia, qual seja enfatizar a sensação de “angústia” da menina, que se sentia excluída.

5. Que figura de linguagem, mais especificamente, que figura de pensamento ocorre na expressão em destaque: “Numa terra de morenos, ser ruivo era uma revolta involuntária.”?

Justifique sua resposta e explique esse período no contexto do fragmento.

RESPOSTA:

A figura é “paradoxo” ou “oxímoro”. Denotativamente, uma “revolta” não pode ser “involuntária”, pois revoltar-se implica arbítrio. Pelo acaso de ser “ruiva”, a personagem era muito diferente das pessoas comuns, os “morenos”, numa etapa da vida, a infância, em que se anseia ser igual, para se enturmar, por exemplo; daí, sua “angústia”, pois não desejava ser diferente.

6. (PUC-RIO) Tentação

         Ela estava com soluço. E como se não bastasse a claridade das duas horas, ela era ruiva.

        Na rua vazia as pedras vibravam de calor − a cabeça da menina flamejava. Sentada nos degraus de sua casa, ela suportava. Ninguém na rua, só uma pessoa esperando inutilmente no ponto do bonde. E como se não bastasse seu olhar submisso e paciente, o soluço a interrompia de momento a momento, abalando o queixo que se apoiava conformado na mão. Que fazer de uma menina ruiva com soluço? Olhamo-nos sem palavras, desalento contra desalento. Na rua deserta nenhum sinal de bonde. Numa terra de morenos, ser ruivo era uma revolta involuntária. Que importava se num dia futuro sua marca ia fazê-la erguer insolente uma cabeça de mulher? Por enquanto ela estava sentada num degrau faiscante da porta, às duas horas. O que a salvava era uma bolsa velha de senhora, com alçapartida. Segurava-a com um amor conjugal já habituado, apertando-a contra os joelhos.

        Foi quando se aproximou a sua outra metade neste mundo, um irmão em Grajaú. A possibilidade de comunicação surgiu no ângulo quente da esquina, acompanhando uma senhora, e encarnada na figura de um cão. Era um basset lindo e miserável, doce sob a sua fatalidade. Era um basset ruivo.

       Lá vinha ele trotando, à frente de sua dona, arrastando seu comprimento. Desprevenido, acostumado, cachorro. A menina abriu os olhos pasmada. Suavemente avisado, o cachorro estacou diante dela. Sua língua vibrava. Ambos se olhavam.

       Entre tantos seres que estão prontos para se tornarem donos de outro ser, lá estava a menina que viera ao mundo para ter aquele cachorro. Ele fremia suavemente, sem latir. Ela olhava-o sob os cabelos, fascinada, séria. Quanto tempo se passava? Um grande soluço sacudiu-a desafinado. Ele nem sequer tremeu. Também ela passou por cima do soluço e continuou a fitá-lo.

       Os pelos de ambos eram curtos, vermelhos.

       Que foi que se disseram? Não se sabe. Sabe-se apenas que se comunicaram rapidamente, pois não havia tempo. Sabe-se também que sem falar eles se pediam. Pediam-se com urgência, com encabulamento, surpreendidos.

        No meio de tanta vaga impossibilidade e de tanto sol, ali estava a solução para a criança vermelha. E no meio de tantas ruas a serem trotadas, de tantos cães maiores, de tantos esgotos secos − lá estava uma menina, como se fora carne de sua ruiva carne. Eles se fitavam profundos, entregues, ausentes de Grajaú. Mais um instante e o suspenso sonho se quebraria, cedendo talvez à gravidade com que se pediam.

       Mas ambos eram comprometidos.

       Ela com sua infância impossível, o centro da inocência que só se abriria quando ela fosse uma mulher. Ele, com sua natureza aprisionada. A dona esperava impaciente sob o guarda-sol. O basset ruivo afinal despregou-se da menina e saiu sonâmbulo. Ela ficou espantada, com o acontecimento nas mãos, numa mudez que nem pai nem mãe compreenderiam. Acompanhou-o com olhos pretos que mal acreditavam, debruçada sobre a bolsa e os joelhos, até vê-lo dobrar a outra esquina. Mas ele foi mais forte que ela. Nem uma só vez olhou para trás. LISPECTOR, Clarice. A legião estrangeira. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1964, p. 67-69

a)Um dos procedimentos críticos necessários à análise da obra literária é o entendimento da relação entre o narrador, as personagens e o leitor no desenvolvimento da trama. Determine o foco narrativo utilizado por Clarice Lispector no conto Tentação, caracterizando-o.

b) Em todo o conto, percebe-se a presença de signos visuais e cromáticos que reforçam o sentido do título. Comente a afirmação acima, destacando dois termos do Texto 5 que confirmam a sua argumentação.

RESPOSTAS:

a)O foco narrativo do conto é de terceira pessoa marcado pela presença do narrador onisciente.

b) Termos como “ruivo”, “ruiva”, “vermelho”, “flamejava”, “carne” mostram como a menina e o cão, por suas características assemelhadas, apesar de seus diferentes destinos, são atraídos de uma maneira irresistível um pelo outro, reforçando a ideia contida no título.

7. (UFSC) Com relação às obras “Relatos escolhidos”, de Silveira de Souza, “A legião estrangeira”, de Clarice Lispector e “Comédias para se ler na escola”, de Luis Fernando Veríssimo, assinale a(s) proposição(ões) CORRETA(S).
(01) Os três livros de contos apresentam narrativas curtas, cenas do cotidiano, com certa dose de bom humor e crítica social.
(02) As narrativas de Silveira de Souza refletem o mundo que cerca o homem com seus desencontros; os transtornos que podem ser interpretados pelo insólito; o absurdo ou o mistério que cercam os personagens, a exemplo do despropósito representado pelo crescimento desmedido do braço esquerdo de Noêmia.
(04) As narrativas de Clarice Lispector apresentam enredo linear, previsível, a exemplo de cenas que mostram a fragilidade dos animais diante do ser humano, o que pode ser observado na morte do pintinho no conto “A legião estrangeira”.
(08) O humor é matéria-prima de Veríssimo. Porém, suas crônicas não levam somente ao riso, mas também à reflexão sobre os temas do nosso cotidiano, como equívocos, violência e mudança de sentido das coisas da vida.
(16) No conto “Os pequenos desencontros”, de Silveira de Souza, um casal percebe-se sem saída no meio de uma cidade tumultuada, de gentilezas formais e de sorrisos impessoais, o que demonstra a angústia do homem diante de uma realidade desumana.
(32) Clarice Lispector, em seus escritos realistas, tenta explicar questões polêmicas, como ocorre no texto intitulado “O ovo e a galinha”, em que responde à tradicional pergunta: “Quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?”.
SOMA: 02 + 08 + 16 = 26

(UEG) Leia o fragmento e observe a imagem a seguir para responder às questões 8 e 9.

A estrada era mais bonita que o Rio de Janeiro, e subia muito. Mocinha sentou-se numa pedra que havia junto de uma árvore, para poder apreciar. O céu estava altíssimo, sem nenhuma nuvem. E tinha muito passarinho que voava do abismo para a estrada. A estrada branca de sol se estendia sobre um abismo verde. Então, como estava cansada, a velha encostou a cabeça no tronco da árvore e morreu. LISPECTOR, Clarice. Viagem a Petrópolis. In: A legião estrangeira. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. p. 51.

A personagem da canção canta passagens da sua vida de forma amargurada

DA VINCI, Leonardo. Anatomia – Desenho de feto no útero. Disponível em: https://www.ebay.com/itm/Da-Vinci-Anatomy-Drawings-Fetus-in-Utero-Art-Print-/191954119588?_ul=BR. Acesso em: 26 abr. 2019.

8. Instaura-se, entre o fragmento e o desenho apresentados, um diálogo pautado por

a) antítese, já que momentos opostos da existência humana são contrapostos.

b) crítica social, já que o descaso com a vida humana é tematizado de modo sutil.

c) metáfora, na medida em que vida e morte aludem à ideia de pecado e redenção.

d) misticismo, já que se apropriam do metafísico como expressão artística.

e) sincronia, na medida em que pertencem a contextos históricos distintos.

9. O fragmento pertence ao Modernismo brasileiro, ao passo que o desenho se filia ao Renascimento, pois

a) retrata, implicitamente, que a vida rural é saudável, evidenciando a pertinência de fugere urbem.

b) tematiza o dilema de uma consciência dividida entre o prazer carnal e o imperativo espiritual.

c) é tributário de um procedimento valorativo do uso da razão, da ciência e da natureza.

d) sobrepõe o dever religioso à satisfação da curiosidade humana, considerada fonte de pecado.

e) veicula a ideia de que se deve viver com plenitude, instaurando o que se denomina carpe diem.

10. (PUC-PR) Considerando a leitura de contos de Clarice Lispector que tematizam as relações entre pessoas de idades diferentes, relacione as colunas:
1. “O grande passeio”
2. “A legião estrangeira”
3. “Macacos”
4. “Uma estória de tanto amor”
( ) A narradora tenta mostrar a Ofélia que é possível matar por amor, mesmo sem sabê-lo.
( ) A relação entre mãe e filho se torna mais intensa após o convívio de ambos com Lisette.
( ) A partir da história de Mocinha, é tematizada a rejeição sofrida pelos idosos.
( ) Uma menina é convencida a comer a galinha que havia sido criada em sua casa; para sua mãe, essa seria uma forma de trazer o animal que se ama para dentro de si.
A sequência correta é:
a) 1, 2, 3, 4
b) 2, 3, 4, 1
c) 3, 2, 4, 1
d) 2, 4, 3, 1
e) 2, 3, 1, 4

11. (UEMS) Num determinado trecho do conto Legião estrangeira, de Clarice Lispector, a narradora diz a respeito da personagem Ofélia: “Diante de meus olhos fascinados, ali diante de mim, como um ectoplasma, ela estava se transformando em criança”. Sobre esse trecho, é correto afirmar que:

a) Ofélia, a mãe da protagonista, comportava-se de modo infantil em sua própria festa de aniversário.

b) Ofélia era uma criança que agia como adulto. Mas, ao descobrir que havia um pintinho na casa da protagonista, finalmente se revelou como uma criança, manifestando o desejo de brincar com o animalzinho.

c) Ofélia era a cachorra da protagonista. Mas seu comportamento, às vezes, parecia tão humano que ela podia ser considerada a criança da casa.

d) A narradora fala em “ectoplasma”, referindo-se ao desejo de Ofélia de se tornar cientista quando crescesse.

e) A protagonista adquire um pintinho, para realizar experiências científicas. Por isso, fala em “ectoplasma” que, segundo o dicionário Aurélio, é a “parte periférica do citoplasma”.

A personagem da canção canta passagens da sua vida de forma amargurada

1.(PUC-RIO) FELIZ ANIVERSÁRIO
A família foi pouco a pouco chegando. Os que vieram de Olaria estavam muito bem vestidos porque a visita significava ao mesmo tempo um passeio a Copacabana. A nora de Olaria apareceu de azul-marinho, com enfeites de paetês e um drapejado disfarçando a barriga sem cinta. O marido não veio por razões óbvias: não queria ver os irmãos. Mas mandara sua mulher para que nem todos os laços fossem cortados – e esta vinha com o seu melhor vestido para mostrar que não precisava de nenhum deles, acompanhada dos três filhos: duas meninas já de peito nascendo, infantilizadas com babados cor-de-rosa e anáguas engomadas, e o menino acovardado pelo terno novo e pela gravata.
Tendo Zilda – a filha com quem a aniversariante morava – disposto cadeiras unidas ao longo das paredes, como numa festa em que se vai dançar, a nora de Olaria, depois de cumprimentar com cara fechada aos de casa, aboletou-se numa das cadeiras e emudeceu, a boca em bico, mantendo sua posição ultrajada. “Vim para não deixar de vir”, dissera ela a Zilda, e em seguida sentara-se ofendida. As duas mocinhas de cor-de-rosa e o menino, amarelos e de cabelo penteado, não sabiam bem que atitude tomar e ficaram de pé ao lado da mãe, impressionados com seu vestido azul-marinho e com os paetês.
Depois veio a nora de Ipanema com dois netos e a babá. O marido viria depois. E como Zilda – a única mulher entre os seis irmãos homens e a única que, estava decidido já havia anos, tinha espaço e tempo para alojar a aniversariante -, e como Zilda estava na cozinha a ultimar com a empregada os croquetes e sanduíches, ficaram: a nora de Olaria empertigada com seus filhos de coração inquieto ao lado; a nora de Ipanema na fila oposta das cadeiras fingindo ocupar-se com o bebê para não encarar a concunhada de Olaria; a babá ociosa e uniformizada, com a boca aberta.
E à cabeceira da mesa grande a aniversariante que fazia hoje oitenta e nove anos.
LISPECTOR, Clarice. “Laços de família”. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979, pp. 59-60.
a) – Observe:
1) “Mas a partir do século XVIII, as famílias burguesas não aceitaram mais essa mistura (…)” – voz ativa
2) Mas a partir do século XVIII, essa mistura não foi mais aceita pelas famílias burguesas … – voz passiva analítica
Realize a transposição da frase a seguir para a voz passiva analítica, processando modificações, se necessárias:
“O antigo corpo social único, ao contrário, englobava a maior variedade possível de idades e condições.”
b) No texto “Feliz Aniversário”, a festa de aniversário da matriarca é motivo para o encontro da família. De acordo com o outro texto, “os membros da família se unem pelo sentimento, o costume e o gênero de vida.” Qual desses três fatores melhor se relaciona com a reunião familiar descrita no texto “Feliz Aniversário”? Justifique a sua resposta.
RESPOSTA:

a) Ao contrário, a maior variedade possível de idades e condições era englobada pelo antigo corpo social único.
b) O fator seria o costume, pois, no texto, reunião é feita apenas para atender a uma regra social : a comemoração do aniversário da matriarca da família. Não havia um sentimento de desejo, por parte das personagens, para esse encontro, pois os valores e o estilo de vida daquelas pessoas eram completamente diferentes.

2. (UNICAMP) “Um cego me levou ao pior de mim mesma, pensou espantada. Sentia-se banida porque nenhum pobre beberia água nas suas mãos ardentes. Ah! era mais fácil ser um santo que uma pessoa! Por Deus, pois não fora verdadeira a piedade que sondara no seu coração as águas mais profundas? Mas era uma piedade de leão.” (Clarice Lispector, “Amor”, em Laços de família. 20ª ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1990, p. 39.)

Ao caracterizar a personagem Ana, a expressão “piedade de leão” reúne valores opostos, remetendo simultaneamente à compaixão e à ferocidade. É correto afirmar que, no conto “Amor”, essa formulação

a) revela um embate de natureza social, já que a pobreza do cego causa náuseas na personagem.

b) expressa o dilema cristão da alma pecadora diante de sua incapacidade de fazer o bem.

c) indica um conflito psicológico, uma vez que a personagem não se sente capaz de amar.

d) alude a um contraste moral e existencial que provoca na personagem um sentimento de angústia.

3.(ITA) O livro de contos “Laços de família”, de Clarice Lispector, reúne textos que, em geral, apresentam
a) dramas femininos relacionados ao adultério.
b) personagens femininas envolvidas com reflexões pessoais desencadeadas por um fato inusitado.
c) dramas femininos ligados exclusivamente ao problema da solidão.
d) personagens femininas lutando por causas sociais.
e) personagens femininas preocupadas com o amor à família.

4.(UFGD) Aponte a alternativa que apresenta características ou elementos temáticos presentes na obra “Laços de Família” de Clarice Lispector.

a) Fluxo de consciência, desencanto, questionamento das convenções sociais, cotidiano da classe média.

b) Narrador onisciente, ceticismo, erotismo, luta de classes.

c) Exame de consciência, conformismo, relações de poder, cotidiano da classe operária.

d) Narrativa em primeira pessoa, lirismo, papel da mulher na sociedade, consciência de classe.

e) Fragmentos de narrativa, proselitismo, comédia de costumes, fatos das colunas sociais.

5.(PUCCAMP) – Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! Ela quer o nosso bem!.
Todos correram de novo à cozinha e rodearam mudos a jovem parturiente. Esquentando seu filho, esta não era nem suave nem arisca, nem alegre nem triste, não era nada, era uma galinha. O que não sugeria nenhum sentimento especial. O pai, a mãe e a filha olhavam já há algum tempo, sem propriamente um pensamento qualquer. O pai afinal decidiu-se com certa brusquidão:
– Se você mandar matar esta galinha nunca mais comerei galinha na minha vida!
– Eu também! Jurou a menina com ardor.
Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: “E dizer que a obriguei a correr naquele estado!”. A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas capacidades: a de apatia e a do sobressalto.
No excerto acima, do conto “Uma galinha”, Clarice Lispector, a autora de LAÇOS DE FAMÍLIA,
a) utiliza a ave para projetar nela a condição da mulher enquanto fêmea reprodutora, dona de casa e ser reflexivo.
b) alegoriza a condição da mulher moderna, emancipada das estritas funções domésticas, e no entanto saudosa delas.
c) estabelece uma analogia entre a criação artística e o parto, mostrando o quanto há neles de sofrimento e o nenhum reconhecimento que obtêm no mundo moderno.
d) afasta-se do tema que estrutura seu livro e pratica uma forma singular de humor, num conto ao mesmo tempo cruel e anedótico.
e) vale-se da uma galinha para simbolizar nela a crise de uma família de classe média cujos laços afetivos há muito se desataram.

6.(UFV) Em grande parte das narrativas que compõem “Laços de Família”, Clarice Lispector privilegia as personagens femininas que vivem o tradicional modelo da dona-de-casa e desempenham papéis estabelecidos para a mulher, em uma sociedade opressora e de valores masculinos.
Observe as situações transcritas e assinale a alternativa cuja citação NÃO confirma a observação anterior:
a) Por caminhos tortos, viera a cair num destino de mulher, com a surpresa de nele caber como se o tivesse inventado. O homem com quem casara era um homem verdadeiro, os filhos que tivera eram filhos verdadeiros. Sua juventude anterior parecia-lhe estranha como uma doença de vida. Dela havia aos poucos emergido para descobrir que também sem a felicidade se vivia: abolindo-a, encontrara uma legião de pessoas, antes invisíveis, que viviam como quem trabalha – com persistência, continuidade, alegria. (“Amor”, p. 18.)
b) Interrompendo a arrumação da penteadeira, Laura olhou-se ao espelho: e ela mesma, há quanto tempo? Seu rosto tinha uma graça doméstica, os cabelos eram presos com grampos atrás das orelhas grandes e pálidas. Os olhos marrons, os cabelos marrons, a pele morena e suave, tudo dava a seu rosto já não muito moço um ar modesto de mulher. (“A imitação da rosa”, p. 36.)
c) Ela, a forte, que casara em hora e tempo devido com um bom homem a quem, obediente e independente, respeitara; a quem respeitara e quem lhe fizera filhos e lhe pagara os partos, lhe honrara os resguardos. O tronco fora bom. (“Feliz aniversário”, p. 67.)
d) Tinha quinze anos e não era bonita. Mas por dentro da magreza, a vastidão quase majestosa em que se movia como dentro de uma meditação. E dentro da nebulosidade algo preciso. Que não se espreguiçava, não se comprometia, não se contaminava. Que era intenso como uma jóia. Ela. (“Preciosidade”, p. 95.)
e) Quem sabe se sua mulher estava fugindo com o filho da sala de luz bem regulada, dos móveis bem escolhidos, das cortinas e dos quadros? Fora isso o que ele lhe dera. […] O homem inquietou-se. Porque não poderia continuar a lhe dar senão: mais sucesso. E porque sabia que ela o ajudaria a consegui-lo e odiaria o que conseguissem. Assim era aquela calma mulher de trinta e dois anos que nunca falava propriamente, como se tivesse vivido sempre. […] Às vezes ele procurava humilhá-la, entrava no quarto enquanto ela mudava de roupa porque sabia que ela detestava ser vista nua. (“Os laços de família”, p. 118.)

7. (UFGD) Com relação a Laços de família, de Clarice Lispector, é correto afirmar:

I.Nesta coletânea de contos, as personagens – sejam adultos ou adolescentes – debatem-se nas cadeias de violência latente que podem emanar do círculo doméstico. Homens ou mulheres, os laços que os unem são, em sua maioria, elos familiares ao mesmo tempo de afeto e de aprisionamento.

II. E, como se pouco a pouco se desnudasse uma estratégia, o cotidiano dos personagens de Laços de família, cuja primeira edição data de 1960, vai-se desnudando como um ambiente falsamente estável, em que vidas aparentemente sólidas se desestabilizam de súbito, justo quando o dia-a-dia parecia estar sendo marcado pela ameaça de nada acontecer.

III. O texto de Clarice Lispector não costuma apresentar ilusória facilidade. Seu vocabulário não é simples, as imagens voltam-se para animais e plantas, quando não para objetos domésticos e situações da vida diária, com frequência numa voltagem de intenso lirismo. Assinale a alternativa CORRETA:

a) As alternativas I e II estão corretas.

b) As alternativas II e III estão corretas.

c) Apenas a alternativa I está correta.

d) Apenas a alternativa II está correta.

e) Apenas a alternativa III está correta

8. (UFES) É CORRETO afirmar que nos contos de “Laços de família”, de Clarice Lispector,
a) tal como em “Gota d’água”, de Chico Buarque & Paulo Pontes, aparecem personagens proletários e malandros do submundo carioca.
b) tal como em “O país d’el rey”, de Roberto Almada, busca-se no Brasil urbano e pós-moderno o espaço privilegiado para a ação.
c) tal como em “Noite na taverna”, de Álvares de Azevedo, ocorrem casos de homicídio, suicídio e antropofagia.
d) tal como em “Quincas Borba”, de Machado de Assis, são insistentes as chamadas e referências a um suposto leitor.
e) tal como em “O burrinho pedrês” de Guimarães Rosa, os personagens não se envolvem em questões de caráter político-partidário.

9. (UFV) Leia o seguinte comentário sobre o conto “Feliz aniversário”, da obra “Laços de Família”, de Clarice Lispector:
Bastante legível, mesmo num primeiro contato com o texto “Feliz aniversário”, é a desmontagem de cunho crítico-social das diversas situações nele apresentadas através da “festa” – momento de “encontro” familiar, onde diversos sentimentos, regras e condutas são expostos. “Feliz aniversário” bem esboça a lógica dos contos constantes do livro “Laços de Família”. Os “laços”, de família, constituem-se ao mesmo tempo em proximidade, distância, dilaceramento e prisão. Na festa, as semelhanças e as diferenças, em especial as de classes, ficam reunidas para o cumprimento do instituído. Assim, cercadas as personagens, mais visíveis se tornam a artificialidade, a revolta, o despeito e o ódio: todos os sentimentos mascarados sob a aparência de um “feliz” aniversário. Menos visível – porque mais ausente – estará também sendo tecida a linha de vida e do amor […].SANTOS, R. Corrêa dos. “Clarice Lispector”. São Paulo: Atual, 1986. p. 58.
Reflita sobre o texto crítico anterior em sua relação com as afirmativas I, II e III:
I – A “desmontagem do cunho crítico-social das diversas situações” apresentadas no conto “Feliz aniversário” pode ser observada na forma irônica com que a narradora vê a miséria humana através do olhar crítico da velha, a ponto de comparar os membros de sua família a “ratos se acotovelando”.
II – “Os ‘laços’, de família, constituem-se ao mesmo tempo em proximidade, distância, dilaceramento e prisão”. Isso se pode verificar na maneira sutil e minuciosa com que Clarice Lispector descreve o perfil psicológico da personagem Anita, que, no conto, é denominada: “Mamãe”, “Vovó” e “D. Anita”.
III – A “artificialidade, a revolta, o despeito e o ódio: todos os sentimentos mascarados sob a aparência de um ‘feliz’ aniversário” são experimentados apenas pela velha aniversariante.
Assinale agora a alternativa CORRETA:
a) Apenas a afirmativa I é verdadeira.
b) Apenas as afirmativas I e II são verdadeiras.
c) Apenas as afirmativas I e III são verdadeiras.
d) Apenas a afirmativa II é verdadeira.
e) Apenas a afirmativa III é verdadeira.

10. (UNICAMP) No conto “Amor”, de Clarice Lispector, após ver um cego mascando chicletes, a personagem passa por uma situação que, segundo o narrador, ela própria chama de “crise”:

“O que chamava de crise viera afinal. E sua marca era o prazer intenso com que olhava agora as coisas, sofrendo espantada. O calor se tornara mais abafado, tudo tinha ganho uma força e vozes mais altas.” (Clarice Lispector, Laços de Família. Rio de Janeiro: Rocco, 2009, p.23.)

Essa crise, que transforma a relação da personagem com o mundo e com a família,

a) nasce do colapso da vontade de viver da personagem, em razão do doloroso prazer com que passou a ver as coisas.

b) revela o conflito vivido pela personagem entre o tipo de vida que havia escolhido e as coisas que passou a desejar.

c) constitui, para a personagem, uma alteração no modo de vida que antes a fazia sofrer e do qual agora havia se libertado.

d) remete à excitação da personagem por ter conseguido harmonizar sua antiga vida com os novos desejos e sensações.

11. (FATEC) Sobre “Laços de Família”, é correto afirmar que
a) consiste numa obra experimental, de caráter regionalista, que trabalha os problemas enfrentados pelo nordestino ao chegar na cidade de São Paulo.
b) consiste numa obra de tensões psicológicas geradas no cotidiano, até mesmo no seio familiar, as quais se estendem à dimensão filosófica do homem.
c) o livro, que se compõe de contos, não mantém unidade de estilo, em virtude da versatilidade da autora.
d) se trata de um livro de contos voltados para a temática ecológica, cada um deles abordando um aspecto crítico da falta de preservação ambiental no Brasil.
e) se trata de um livro de contos de abordagem estritamente social, que aponta, criticamente, para a violência dos grandes centros urbanos.

12. (PUCCAMP) Leia com atenção os seguintes excertos de contos do livro Laços de Família, de Clarice Lispector:

“Mas ninguém poderia adivinhar o que ela pensava. E para aqueles que junto da porta ainda a olharam uma vez, a aniversariante era apenas o que parecia ser: sentada à cabeceira da mesa imunda, com a mão fechada sobre a toalha como encerrando um cetro, e com aquela mudez que era a sua última palavra.” (“Feliz aniversário”)

“Olhando os imóveis limpos, seu coração se apertava um pouco em espanto. Mas na sua vida não havia lugar para que sentisse ternura pelo seu espanto – ela o abafava com a mesma habilidade que as lides em casa lhe haviam transmitido. Saía então para fazer compras ou levar objetos para consertar, cuidando do lar e da família à revelia deles.” (“Amor”).

Em ambos os excertos destaca-se um dos temas estruturadores do livro Laços de Família, já que nele a autora

a)explora o imaginário feminino, cuja natureza idealizante liberta a mulher de qualquer preocupação existencial.

b) denuncia o conformismo burguês da mulher, fazendo-nos ver que seus inúteis desvaneios a afastam da realidade.

c) satiriza a hipocrisia dos laços familiares, propondo em lugar deles a harmonia de um mundo politicamente mais aberto e mais democrático.

d) desvela as tensões entre o universo íntimo e complexo da mulher e as condições objetivas do cotidiano em que ela deve desempenhar seu papel.

e) revela a solidez íntima da mulher, mais preparada para o sucesso das relações familiares do que o homem, obcecado por valores materiais.

13. (UFU) Todas as afirmativas a seguir referem-se à obra “Laços de família”, de Clarice Lispector, EXCETO:
a) Há, na obra, a presença de personagens frágeis e desajustadas que se escondem por trás de uma máscara, apresentando momentos de lucidez que as despertam para a rotina cotidiana.
b) O título da obra configura-se como uma ironia, pois é evidente a decadência do relacionamento afetivo das personagens, quase sempre excluídas do âmbito familiar. Os laços familiares são apenas aparentes.
c) A predominância do foco narrativo em primeira pessoa revela que as personagens atuam, timidamente, à mercê dos laços familiares que revigoram a harmonia das relações cotidianas.
d) Há, na obra, o predomínio de um monólogo interior, conferindo à narrativa o caráter nitidamente introspectivo e a permanente tematização da situação da mulher na cidade, que se moderniza e aprofunda as desigualdades sociais.

14. (U.E. Londrina) No livro de contos Laços de Família encontra-se, aprofundada, uma tendência de Clarice Lispector já anunciada em seu primeiro romance. Trata-se da

a)busca de um novo modo de narrar que correspondesse ao modo de comunicação primitivo de suas personagens, nordestinos explorados pela sociedade.

b) tentativa de renovar a estrutura e andamento do conto para melhor caracterizar a alma popular, observada por meio do humor e da sátira, principalmente entre os “italianinhos” da década de 20.

c) preocupação em denunciar a existência de um grupo marginalizado e explorado pela sociedade, focalizando, ao mesmo tempo, as relações, entre o homem e o meio, numa linguagem concisa e despojada de artificialismos.

d) tentativa de penetrar a mente humana, o que significou o rompimento com uma narrativa ligada a acontecimentos exteriores e a necessidade de utilização de uma linguagem, carregada de metáforas originais.

e) inovações linguísticas e temáticas exigidas por uma nova concepção de arte, que denuncia os falsos valores da época em que viveu e que antecipava, em muitos aspectos, os ideais da Semana de 22.

15. (FUVEST) A respeito de Clarice Lispector, nos contos de Laços de Família, seria correto afirmar que:

a)parte frequentemente de acontecimentos surpreendentes para banalizá-los.

b) elabora o cotidiano em busca de seu significado oculto.

c) é altamente intimista, vasculhando o âmago das personagens com rara argúcia.

d) é regionalista hermética.

e) opera na área da memória, da autoanálise e do devaneio.

16. (UFGD) Leia o fragmento a seguir do conto “Uma galinha”, de Laços de Família (1960), de Clarice Lispector.

―Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada. Às vezes, na fuga, pairava ofegante num beirai de telhado e enquanto o rapaz galgava outros com dificuldade tinha tempo de se refazer por um momento. E então parecia tão livre. Estúpida, tímida e livre. Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que é que havia nas suas vísceras que fazia dela um ser? A galinha é um ser. É verdade que não se poderia contar com ela para nada. Nem ela própria contava consigo, como o galo crê na sua crista. Sua única vantagem é que havia tantas galinhas que morrendo uma surgiria no mesmo instante outra tão igual como se fora a mesma‖

Considerando as questões de gênero, tão em voga na atualidade, mas muito antecipadas pela escrita intimista de Clarice Lispector, como pode ser a Galinha – protagonista do conto – compreendida num aspecto sociocultural?

a) Como uma metáfora da mulher traída.

b) Como uma metáfora da mulher de rua.

c) Como um símbolo de sofrimento milenar.

d) Como a alegoria da condição feminina.

e) Como a alegoria da disputa entre os sexos.

17. (UFU) Leia o trecho adiante.
“A arte é necessária para que o homem se torne capaz de conhecer e mudar o mundo. Mas a arte também é necessária em virtude da magia que lhe é inerente.”
Ernst Fischer
Tendo em vista a reflexão anterior sobre a função da literatura, assinale a afirmativa correta.
a) Em “Laços de família”, a literatura se coloca a serviço da expressão estética e de um questionamento incessante do fazer literário, além de discorrer sobre os problemas existenciais e psicológicos do ser humano.
b) Em “Morte e vida severina” e “São Bernardo”, a literatura apresenta uma função estritamente social, ao propor uma discussão sobre as injustiças causadas pela má distribuição de rendas e pela estruturação do sistema latifundiário.
c) Em “Conversa de bois”, narrativa em que aparecem elementos fabulosos, o autor ausenta-se da descrição dos aspectos regionais e da discussão sociológica, política e econômica do sertão.
d) Em “Sentimento do mundo”, a poesia coloca-se a serviço de uma causa histórica, uma vez que sinaliza uma insatisfação com o presente e afirma as preocupações estéticas como desnecessárias para aquele momento político.

18. (UEL) No livro “Laços de família”, de Clarice Lispector, o conto “Feliz aniversário” apresenta uma reunião familiar para uma festa de aniversário. Identifique a única opção que contém a caracterização correspondente à personagem da aniversariante:
a) “… arrumara a mesa cedo, enchera-a de guardanapos de papel colorido e copos de papelão alusivos à data, espalhara balões sugados pelo teto…”
b) ” … como tendo sido tão forte pudera dar à luz aqueles seres opacos, com braços moles e rostos ansiosos?”
c) “… na fila oposta das cadeiras fingindo ocupar-se com o bebê para não encarar a concunhada de Olaria…”
d) “… não sabia o que fazer, olhou para todos em pedido cômico de socorro. Mas, como máscaras isentas e inapeláveis, de súbito nenhum rosto se manifestava.”
e) “… servia como uma escrava, os pés exaustos e o coração revoltado.”

19.(UFRS) Leia, a seguir, a síntese de um conto do livro “Laços de Família”, de Clarice Lispector.
Numa manhã bem cedo, a menina saiu de casa para ir à escola. As ruas estavam desertas, ainda era noite e “as casas dormiam nas portas fechadas”. Caminhando sozinha, ela avistou, ao longe, dois rapazes vindo em sua direção. A menina se amedrontou e ficou indecisa sobre qual atitude tomar: dar a volta e sair correndo, ou enfrentá-los. Vencendo o próprio medo, a menina decidiu continuar caminhando, na expectativa de que nada lhe acontecesse. No momento em que cruzaram com ela, os rapazes lhe tocaram o corpo com as duas mãos e saíram correndo, deixando-a paralisada.
Trata-se da síntese do conto intitulado
a) “Feliz Aniversário”.
b) “Preciosidade”.
c) “Amor”.
d) “A Imitação da Rosa”.
e) “Os Laços de Família”.

(MACKENZIE) Texto para as questões de 20 a 22

Na cabeceira da mesa, a toalha manchada de coca-cola, o bolo desabado, ela era a mãe. A aniversariante piscou. Eles se mexiam agitados, rindo, a sua família. E ela era a mãe

de todos. E se de repente não se ergueu, como um morto se levanta devagar e obriga mudez e terror aos vivos, a aniversariante ficou mais dura na cadeira, e mais alta. Ela era a mãe de todos. E como a presilha a sufocasse, ela era a mãe de todos e, impotente à cadeira,

desprezava-os. Todos aqueles seus filhos e netos e bisnetos que não passavam de carne de seu joelho, pensou de repente como se cuspisse. Rodrigo, o neto de sete anos, era o único a ser a carne de seu coração, Rodrigo, com aquela carinha dura, viril e despenteada. Cadê Rodrigo? Rodrigo com olhar sonolento e intumescido naquela cabecinha ardente, confusa. Aquele seria um homem. Mas, piscando, ela olhava os outros, a aniversariante. Oh o desprezo pela vida qu falhava. Clarice Lispector, “Feliz aniversário”. In: Laços de família

20. No excerto, está presente um

a) narrador onisciente que descreve cena familiar construída a partir da perspectiva da mãe aniversariante, valendo-se, para isso, do discurso indireto livre.

b) narrador observador que procura caracterizar uma comemoração entre familiares – a festa de aniversário da mãe –, posicionando-se de forma neutra e objetiva.

c) narrador protagonista que, confundindo-se com a personagem mãe, rememora uma festa de aniversário conflituosa.

d) narrador de terceira pessoa que, ao retratar a festa, utiliza também a voz em primeira pessoa da protagonista, formalizada em discurso indireto.

e) narrador onipresente que, valendo-se apenas da observação direta, descreve as reações negativas da família, na ocasião em que se comemora a festa de aniversário da mãe.

21. No fragmento em análise, a repetição da expressão ela era a mãe  conota

a) o orgulho de uma senhora que, embora não gostasse muito dos familiares, fica surpresa ao ver a família reunida.

b) a preocupação da protagonista ao se reconhecer responsável por familiares que desprezava.

c) a importância que o narrador atribui à matriarca nos destinos daquela família que, no fundo, não merecia nenhuma atenção.

d) a percepção irônica daquela situação, motivada pelo sentimento de frustração da personagem.

e) o ódio da mãe por se sentir rejeitada por todos, justamente num momento de confraternização familiar.

22. Considere as seguintes afirmações:

I. No excerto transcrito, a descrição inicial  não só caracteriza o ambiente da narrativa como também aponta, conotativamente, para a ideia de desconstrução de um modelo familiar.

II. A frase E como a presilha a sufocasse, no contexto em que está inserida aponta, denotativamente, para o incômodo provocado pelo traje de festa e, conotativamente, para a angústia existencial da personagem.

III. É índice da contemporaneidade de Clarice Lispector a visão idealizada das relações familiares, inscrita, por exemplo, no sentido do título do conto (“Feliz aniversário”) e da coletânea (Laços de família).

Assinale:

a) se todas as afirmações estiverem corretas.

b) se nenhuma afirmação estiver correta.

c) se apenas as afirmações I e II estiverem corretas.

d) se apenas as afirmações II e III estiverem corretas.

e) se apenas a afirmação II estiver correta.

23.(UEM) Leia o fragmento a seguir e assinale o que for correto.
“O bonde se arrastava, em seguida estacava. Até Humaitá tinha tempo de descansar. Foi então que olhou para o homem parado no ponto.
A diferença entre ele e os outros é que ele estava realmente parado. De pé, suas mãos se mantinham avançadas. Era um cego.
O que havia mais que fizesse Ana aprumar em desconfiança? Alguma coisa intranquila estava sucedendo. Então ela viu: o cego mascava chicles.
[…] Ele mascava goma na escuridão. Sem sofrimento, com os olhos abertos.”(Clarice Lispector, “Amor”, In: “Laços de família”)
01) O conto “Amor”, de Clarice Lispector, não é um dos mais típicos da autora, já que está centrado sobre uma problemática social, a do deficiente visual; mais especificamente, sobre o descaso a que o “diferente” é submetido em uma sociedade que privilegia a norma. Como integrante dessa sociedade, a protagonista Ana passa a questionar a legitimidade de sua organização e os valores sobre os quais está erigida.
02) A prosa de Clarice Lispector, inaugurada em 1944, com a publicação de seu primeiro romance, “Perto do coração selvagem”, aparece em um cenário literário em que predominava a narrativa regionalista (romance de 30 ou ciclo nordestino), que, de modo geral, tratava das relações do homem com a seca e com a miséria, denunciando as relações de favor entre os poderosos e a política do coronelismo. Seu texto de caráter introspectivo, portanto, contrastava com a prosa em vigor. O uso intensivo do discurso indireto livre para captar o pensamento das personagens, como se verifica no recorte acima, faz quase desaparecer a história propriamente dita: ao invés da narrativa de acontecimentos, com começo, meio e fim, tem-se a revelação do universo psicológico das personagens, com base na memória e na emoção.
04) No conto “Amor”, como é comum nos textos de Clarice Lispector, acontece um momento, que a crítica costuma chamar de EPIFANIA ou de REVELAÇÃO, em que a personagem, mediante uma imagem ou um acontecimento qualquer, defronta-se repentinamente com uma verdade que lhe confere uma nova maneira de “ler” a realidade. Em outras palavras, um acontecimento que parece banal, desprovido de importância, provoca uma iluminação repentina na consciência da personagem. Em “Amor”, a imagem do cego mascando chiclete desencadeia em Ana um processo de autoconhecimento que a leva a refletir acerca da legitimidade da organização da sua vida cotidiana.
08) No quadro da terceira geração do Modernismo no Brasil, pode-se afirmar que Clarice Lispector e João Guimarães Rosa inauguram um novo estilo literário. Clarice Lispector inova em relação à: 1) temática (sondagem do universo psicológico de suas criaturas); 2) estrutura da narrativa (ruptura com a linearidade/ fluxo da consciência); 3) linguagem (transita entre a prosa narrativa e as imagens típicas da poesia). Guimarães Rosa confere à temática do regional um caráter filosófico, recriando o mundo sertanejo pela linguagem, a partir da apropriação de recursos da oralidade, da criação de neologismos, dos desvios de sintaxe, entre outros.
16) Com base no conto destacado e na obra de Clarice Lispector em geral, pode-se afirmar que, para a autora, a literatura é um caminho para explicar a realidade da vida. Por isso, em sua ficção, sempre há a preocupação com a explicação das causas sociais e políticas dos acontecimentos que condicionam a vida das personagens, e o enredo assume importância maior no texto.
SOMA: 14

24. (UFSM) “Então subia, séria como uma missionária por causa dos operários no ônibus que ‘poderiam lhe dizer alguma coisa’. Aqueles homens que não eram mais rapazes. Mas também de rapazes tinha medo, medo também de meninos. Medo que lhe ‘dissessem alguma coisa’, que a olhassem muito. Na gravidade da boca fechada havia a grande súplica: respeitassem-na. (…) Se a olhavam, ficava rígida e dolorosa. O que a poupava é que os homens não a viam. Embora alguma coisa nela, à medida que dezesseis anos se aproximava em fumaça e calor, alguma coisa estivesse intensamente surpreendida – e isso surpreendesse alguns homens”. Preciosidade (“Laços de Família”, de Clarice Lispector.)
Com base no fragmento, assinale verdadeira (V) ou falsa (F) em cada uma das afirmativas.
( ) Evidencia-se o receio de uma jovem de ser tocada ou desrespeitada pelos homens.
( ) A moça é comparada pelo narrador a uma religiosa devido à humildade de sua postura.
( ) O temor de ser tocada não é justificado, pois a jovem é incapaz de surpreender.
( ) O narrador, em 3 pessoa, confunde-se com a personagem pela utilização do discurso indireto livre.
A sequência correta é
a) V – F – F – V.
b) V – V – V – F.
c) F – V – F – F.
d) V – F – V – F.
e) F – V – F – V.

25. (UEL) Conto “Feliz Aniversário” (Laços de Família, 1960), de Clarice Lispector (1920-1977). Na cabeceira da mesa, a toalha manchada de Coca-Cola, o bolo desabado, ela era a mãe. A aniversariante piscou. Eles se mexiam agitados, rindo, a sua família. E ela era a mãe de todos. E se de repente não se ergueu, como um morto se levanta devagar e obriga mudez e terror aos vivos, a aniversariante ficou mais dura na cadeira, e mais alta. Ela era a mãe de todos. E como a presilha a sufocasse, ela era a mãe de todos e, impotente à cadeira, desprezava-os. E olhava-os piscando. Todos aqueles seus filhos e netos e bisnetos que não passavam de carne de seu joelho, pensou de repente como se cuspisse. Rodrigo, o neto de sete anos, era o único a ser a carne de seu coração. Rodrigo, com aquela carinha dura, viril e despenteada, cadê Rodrigo? Rodrigo com olhar sonolento e intumescido naquela cabecinha ardente, confusa. Aquele seria um homem. Mas, piscando, ela olhava os outros, a aniversariante. Oh o desprezo pela vida que falhava. Como?! como tendo sido tão forte pudera dar à luz aqueles seres opacos, com braços moles e rostos ansiosos? Ela, a forte, que casara em hora e tempo devidos com um bom homem a quem, obediente e independente, respeitara; a quem respeitara e que lhe fizera filhos e lhe pagara os partos, lhe honrara os resguardos. O tronco fora bom. Mas dera aqueles azedos e infelizes frutos, sem capacidade sequer para uma boa alegria. Como pudera ela dar à luz aqueles seres risonhos fracos, sem austeridade? O rancor roncava no seu peito vazio. Uns comunistas, era o que eram; uns comunistas. Olhou-os com sua cólera de velha. Pareciam ratos se acotovelando, a sua família. Incoercível, virou a cabeça e com força insuspeita cuspiu no chão. (LISPECTOR, Clarice. Feliz Aniversário. In: Laços de Família. 28. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995. p. 78-79.) Ainda que Clarice Lispector tenha morrido um dia antes de completar cinquenta e sete anos, a problemática das mulheres de terceira idade faz-se presente em muitos de seus contos. “Feliz Aniversário” registra tal tema. Neste conto, sentada à cabeceira da mesa preparada para a comemoração de seu octogésimo-nono aniversário, D. Anita:

a) Vê, horrorizada, sua descendência constituída por seres mesquinhos.

b) Lembra-se, saudosa, da época em que seu marido era vivo e com ela dividia as dificuldades cotidianas.

c) Contempla seu neto, Rodrigo, a trazer-lhe ao presente a imagem do falecido marido quando jovem.

d) Rememora, com rancor, sua vida de mulher, seja enquanto esposa, seja enquanto mãe, mostrando-se indignada com a atual falta de afeto de filhos, netos e bisnetos.

e) Mistura presente e passado, deixando emergir a saudade que há tempo domina seu cotidiano.

(IFG) Considere o seguinte texto para responder às questões de 26 a 29.

Texto 02

“Os laços de família” Clarice Lispector

         A mulher e a mãe acomodaram-se finalmente no táxi que as levaria à Estação. A mãe contava e recontava as duas malas tentando convencer-se de que ambas estavam no carro. A filha, com seus olhos escuros, a que um ligeiro estrabismo dava um contínuo brilho de zombaria e frieza assistia.

      – Não esqueci de nada? perguntava pela terceira vez a mãe.

       – Não, não, não esqueceu de nada, respondia a filha divertida, com paciência.

         Ainda estava sob a impressão da cena meio cômica entre sua mãe e seu marido, na hora da despedida. Durante as duas semanas da visita da velha, os dois mal se haviam

suportado; os bons-dias e as boas-tardes soavam a cada momento com uma delicadeza cautelosa que a fazia querer rir. Mas eis que na hora da despedida, antes de entrarem no táxi, a mãe se transformara em sogra exemplar e o marido se tornara o bom genro. “Perdoe alguma palavra mal dita”, dissera a velha senhora, e Catarina, com alguma alegria, vira Antônio não saber o que fazer das malas nas mãos, a gaguejar – perturbado em ser o bom genro. “Se eu rio, eles pensam que estou louca”, pensara Catarina franzindo as sobrancelhas. “Quem casa um filho perde um filho, quem casa uma filha ganha mais um”, acrescentara a mãe, e

Antônio aproveitara sua gripe para tossir. Catarina, de pé, observava com malícia o marido, cuja segurança se desvanecera para dar lugar a um homem moreno e miúdo,

forçado a ser filho daquela mulherzinha grisalha… Foi então que a vontade de rir tornou-se mais forte. Felizmente nunca precisava rir de fato quando tinha vontade de rir: seus olhos

tomavam uma expressão esperta e contida, tornavam-se mais estrábicos – e o riso saía pelos olhos. Sempre doía um pouco ser capaz de rir. Mas nada podia fazer contra: desde

pequena rira pelos olhos, desde sempre fora estrábica.

(…)

         – Não esqueci de nada…, recomeçou a mãe, quando uma freada súbita do carro lançou-as uma contra a outra e fez despencarem as malas.

           – Ah! ah! – exclamou a mãe como a um desastre irremediável, ah! dizia balançando a cabeça em surpresa, de repente envelhecida e pobre. E Catarina? Catarina olhava a

mãe, e a mãe olhava a filha, e também a Catarina acontecera um desastre? Seus olhos piscaram

surpreendidos, ela ajeitava depressa as malas, a bolsa, procurando o mais rapidamente possível remediar a catástrofe. Porque de fato sucedera alguma coisa, seria inútil

esconder: Catarina fora lançada contra Severina, numa intimidade de corpo há muito esquecida, vinda do tempo em que se tem pai e mãe. Apesar de que nunca se haviam

realmente abraçado ou beijado. Do pai, sim. Catarina sempre fora mais amiga. Quando a mãe enchia-lhes os pratos obrigando-os a comer demais, os dois se olhavam piscando em cumplicidade e a mãe nem notava. Mas depois do choque no táxi e depois de se ajeitarem, não tinham o que falar – por que não chegavam logo à Estação?

       – Não esqueci de nada, perguntou a mãe com voz resignada.

        Catarina não queria mais fitá-la nem responder-lhe.

       – Tome suas luvas! disse-lhe, recolhendo-as do chão.

      – Ah! ah! minhas luvas! exclamava a mãe perplexa. Só se espiaram realmente quando as malas foram dispostas no trem, depois de trocados os beijos: a cabeça da mãe apareceu na janela.

     Catarina viu então que sua mãe estava envelhecida e tinha os olhos brilhantes.

O trem não partia e ambas esperavam sem ter o que dizer. A mãe tirou o espelho da bolsa e examinou-se no seu chapéu novo, comprado no mesmo chapeleiro da filha. Olhava-se compondo um ar excessivamente severo onde não faltava alguma admiração por si mesma. A filha observava divertida. Ninguém mais pode te amar senão eu, pensou a mulher rindo pelos olhos; e o peso da responsabilidade deu-lhe à boca um gosto de sangue. Como se “mãe e filha” fosse vida e repugnância. Não, não se podia dizer que amava sua mãe. Sua mãe lhe doía, era isso. A velha guardara o espelho na bolsa, e fitava-a sorrindo. O rosto usado e ainda bem esperto parecia esforçar-se por dar aos outros alguma impressão, da qual o chapéu faria parte.

A campainha da Estação tocou de súbito, houve um movimento geral de ansiedade, várias pessoas correram pensando que o trem já partia: mamãe! disse a mulher. Catarina! disse a velha. Ambas se olhavam espantadas, a mala na cabeça de um carregador interrompeu-lhes a visão e um rapaz correndo segurou de passagem o braço de Catarina, deslocando-lhe a gola do vestido. Quando puderam ver-se de novo, Catarina estava sob a iminência de lhe perguntar se não esquecera de nada…

         – …não esqueci de nada? perguntou a mãe.

         – Também a Catarina parecia que haviam esquecido de alguma coisa, e ambas se olhavam atônitas – porque se realmente haviam esquecido, agora era tarde demais. Uma mulher arrastava uma criança, a criança chorava, novamente a campainha da Estação soou…

         Mamãe, disse a mulher. Que coisa tinham esquecido de dizer uma a outra? e agora era tarde demais. Parecia-lhe que deveriam um dia ter dito assim: sou tua mãe, Catarina. E ela deveria ter respondido: e eu sou tua filha.

       – Não vá pegar corrente de ar! gritou Catarina.

      – Ora menina, sou lá criança, disse a mãe sem deixar porém de se preocupar com a própria aparência. A mão sardenta, um pouco trêmula, arranjava com delicadeza a aba do chapéu e Catarina teve subitamente vontade de lhe perguntar se fora feliz com seu pai:

        – Dê lembranças a titia! gritou.

         – Sim, sim!

         – Mamãe, disse Catarina porque um longo apito se ouvira

e no meio da fumaça as rodas já se moviam.

        – Catarina! disse a velha de boca aberta e olhos espantados, e ao primeiro solavanco a filha viu-a levar as mãos ao chapéu: este caíra-lhe até o nariz, deixando aparecer apenas a nova dentadura. O trem já andava e Catarina acenava. O rosto da mãe desapareceu um instante

e reapareceu já sem o chapéu, o coque dos cabelos desmanchado caindo em mechas brancas sobre os ombros como as de uma donzela – o rosto estava inclinado sem sorrir, talvez mesmo sem enxergar mais a filha distante. LISPECTOR, C. Laços de Família. Editora Rocco: Rio de Janeiro, 1998, p. 94

26. O trecho proposto para análise foi retirado de “Laços de Família”, obra escrita por Clarice Lispector e publicada, pela primeira vez, em 1960. Sobre ele, é correto afirmar que

a) as várias perguntas acerca de um possível esquecimento de alguma coisa são, na verdade, tentativa de estabelecer um diálogo entre mãe e filha, cujo relacionamento é distante e vazio.

b) o texto apresenta uma mãe e sua filha que se encontram pela primeira vez e, por isso, ainda não possuem um laço maior de proximidade entre elas.

c) o texto retrata uma família que mantém um laço forte de proximidade entre seus membros, com destaque para mãe e filha. Daí a palavra “laços” no título.

d) Catarina mostra-se triste, durante todo o percurso feito de táxi, por perceber que o relacionamento entre sua mãe e seu marido é frágil.

e) em “O trem não partia e ambas esperavam sem ter o que dizer”, percebe-se o quão tímidas eram mãe e filha.

27. O trecho de “Os laços de família” apresenta o relacionamento da família de Catarina. Sobre tal relacionamento, considere as proposições a seguir:

I. “Durante as duas semanas da visita da velha, os dois mal se haviam suportado” explicita uma relação de tolerância e falsidade entre a sogra e o genro.

II. Na hora da despedida, Catarina sente vontade de rir porque percebe o comportamento falso da mãe e do marido, que querem passar por sogra e genro exemplares.

III. “Catarina fora lançada contra Severina, numa intimidade de corpo há muito esquecida” ilustra um desencadeamento de um processo epifânico no relacionamento entre mãe e filha, isto é, processo de revelação, de tomada de consciência da personagem.

Assinale a única alternativa que contém somente a(s)

proposição(ões) verdadeira(s).

a) I e II

b) I, II e III

c) II e III

d) I e III

e) III

28. Em “Ninguém mais poderia te amar senão eu”, o termo “te” se refere

a) a Catarina.

b) ao chapéu.

c) a Severina.

d) ao genro de Severina.

e) ao taxista.

29. Clarice Lispector (1926-77) é um dos principais nomes da geração de 45 e uma das principais expressões da ficção brasileira de todos os tempos. Dentre várias contribuições, podemos citar a introdução em nossa literatura de novas técnicas de expressão. Sobre essa

autora e sua produção, é incorreto afirmar que

a) seus temas são essencialmente humanos e universais, tais como: as relações entre o eu e o outro, a falsidade das relações humanas, a condição social da mulher, o esvaziamento das relações familiares.

b) o fluxo de consciência em sua obra quebra os limites espaço-temporais. Por meio dele, presente e passado, realidade e desejo se misturam. O fluxo de consciência cruza vários planos narrativos, sem preocupação com a lógica ou com a ordem narrativa.

c) trata-se de uma escrita intimista e psicológica. É também social, filosófica, existencial e metalinguística.

d) processos epifânicos são comuns na prosa de Clarice Lispector. Isso significa que as personagens, mergulhadas num fluxo de consciência, passam a ver o mundo e a si mesmas de outro modo, a partir de fatos banais do cotidiano, como um encontrão, porexemplo.

e) Clarice Lispector põe em xeque os modelos narrativos tradicionais e relativiza os limites entre a poesia e a prosa. É, ainda, alvo da crítica literária que rejeita toda a sua produção por trazer à tona personagens femininas

Qual o assunto geral de que nos fala a canção?

A canção Cidadão, de Lúcio Barbosa, descreve a amargura de um pedreiro que é impedido de frequentar, de usufruir e até mesmo de apreciar as construções onde trabalhou durante anos de sua vida.

Porque o personagem da música não pode entrar nos lugares em que ele ajudou a construir?

Resposta. A música relata que ele é pobre e por esse simples fato ele não pode entrar!

Qual é a profissão do personagem da música cidadão?

Cidadão é sobre um homem que trabalha na construção civil e ajudou a construir vários prédios e casas na cidade grande. Ela foi escrita pelo poeta baiano Lúcio Barbosa, em homenagem a seu tio Ulisses.

Por que o personagem da música Cidadão é um migrante de onde ele saiu e para onde ele foi?

O personagem é música cidadão É um migrante porque veio do Norte.