As transformações urbanas em são paulo foram motivadas por quais interesses

Lugares e suas interfaces intraurbanas [transformações urbanas e periferização]

Published on Nov 9, 2016

Este livro é uma coletânea de pesquisas sobre a cidade e os processos urbanos contemporâneos em diversas escalas e regiões. Envolve trabalhos do Brasi...

LAURBE I UFPB I Brasil


Art�culos
Papers
Vladimir Bartalini, Catharina Pinheiro C. S. Lima, Vera Pallamin *
ABRINDO ESPA�O NA METROPOLE.
PROJETOS PARA ESPA�OS P�BLICOS NO CENTRO DE SAO PAULO

Introduction

O processo brasileiro de redemocratiza��o que ocorreu durante os anos 1908s, ap�s mais de duas d�cadas de regime militar (1964-1985), possibilitou a elabora��o de uma nova Constitui��o (1988) que, entre outros avan�os, atribuiu maior poder aos governos locais, visando dot�-los de instrumentos mais eficientes para a realiza��o de pol�ticas p�blicas de interesse social. Nesta Constitui��o foram incorporadas emendas populares voltadas especificamente para a quest�o da moradia popular, compreendendo-se-a sob o princ�pio da inclus�o urbana, de modo integrado a transportes, servi�os, equipamentos coletivos e espa�os p�blicos.

Esta premissa significou um enorme avan�o em rela��o �s pol�ticas habitacionais anteriores, sobretudo aquelas implementadas a partir do per�odo militar. Naquele momento, o governo federal objetivou a constru��o de moradias em massa, promovendo o setor da constru��o civil como propulsor de setores econ�micos e financeiros, al�m de fonte de gera��o de empregos[1]. Por meio do Banco Nacional da Habita��o (BNH, 1964-1986), financiou a constru��o de v�rios conjuntos habitacionais, muitos deles transformados em verdadeiros desastres do ponto de vista social e ambiental. Estes empreendimentos consistiram na constru��o de centenas de unidades habitacionais sempre iguais, prec�rias e implantadas uniformemente em grandes terrenos, distantes da cidade e desprovidos de servi�os e infra-estrutura, conformando guetos urbanos. Para essa pol�tica habitacional, a quantidade sempre foi privilegiada em detrimento da qualidade. Os s�tios de implanta��o eram desconsiderados em termos geogr�ficos e topogr�ficos: eram reduzidos a superf�cies terraplenadas e esquadrinhadas por uma malha ortogonal que servia de base � loca��o das casas. Nesta vertente, a moradia de baixa renda era concebida isoladamente em rela��o � cidade.

Aos resultados desta incisiva disjun��o entre moradia popular e tecido urbano somaram-se, neste per�odo, os problemas agravados pela acelera��o do processo de urbaniza��o que se estabeleceu no pa�s, em meio a uma situa��o de crise econ�mica, infla��o e depress�o[2]. A partir dos anos 1970s, a maioria da popula��o brasileira passou a viver em �reas urbanas, num movimento que se acentuou progressivamente, chegando hoje a mais de 90% do seu conjunto de 152 milh�es de brasileiros. Deste montante, certa de 60% encontra-se em 28 �reas metropolitanas, das quais S�o Paulo � a maior delas, com 17,9 milh�es de habitantes.

Neste processo, a extens�o da mancha urbana de S�o Paulo associou-se diretamente ao aumento das favelas e do bin�mio loteamento clandestino e auto-constru��o, isto �, habita��es erigidas pelos moradores, em lugares n�o legalizados, sem infra-estrutura e fora do mercado imobili�rio formal (cidade ilegal). Esta metr�pole, caracterizada por um padr�o ambiental agressivo, apresenta hoje a maior concentra��o de pobres do pa�s, em sua maioria residente em suas regi�es perif�ricas, embora grupos menores tamb�m ocupem certas �reas do seu Centro Expandido � regi�o que abrange o Centro Hist�rico e bairros adjacentes � alojando-se em sub-habita��es e corti�os.

Em S�o Paulo, estas transforma��es urbanas ocorreram em meio a um movimento de desindustrializa��o e acentuado desenvolvimento do setor terci�rio, iniciado nos anos setenta e consolidado nas d�cadas seguintes. Seu Centro Hist�rico, numa tend�ncia esbo�ada j� nos anos sessenta, sofreu um s�rio processo de degrada��o urbana, concomitantemente � valoriza��o imobili�ria de outros eixos da cidade, para os quais transferiram-se sedes de empresas e bancos. Al�m da perda de parte de sua popula��o residente � que chegou a cerca de 11% nos anos oitenta � v�rios edif�cios da regi�o central tornaram-se vacantes ou sub-utilizados, num quadro em expans�o at� o final da d�cada de 1990, quando atingiu �ndices da ordem de 30%.

Este per�odo marca, para esta metr�pole, um agravamento das desigualdades sociais, segrega��o espacial e viol�ncia urbana. Parques, pra�as e �reas livres passaram a ser sistematicamente cercados, proliferando-se os condom�nios fechados, bols�es residenciais de acesso restrito e �reas de uso exclusivo. Frente a um processo hist�rico em que o acesso ao mercado habitacional tem sido muito restrito e sem linhas de financiamento para baixa renda, tem-se legado � maioria da popula��o apenas sa�das ilegais. Em S�o Paulo, nas �ltimas duas d�cadas, metade das moradias foi produzida fora da lei (Maricato, 2000).

A contrapelo deste processo, movimentos populares reivindicando melhorias das condi��es de vida urbana passaram a ocorrer de modo significativo na metr�pole a partir dos anos setenta, lutando por moradia, �gua e sa�de. Sua organiza��o fortaleceu-se nos anos seguintes, encontrando resson�ncia num clima pol�tico ent�o voltado para a retomada da democracia e fim da ditadura militar. Nesse momento, assessorias t�cnicas passaram a trabalhar junto aos movimentos de moradia, contribuindo para a discuss�o e experimenta��o de novas formas de projeto participativo. Este trabalho foi diretamente incorporado pela primeira gest�o municipal do Partido dos Trabalhadores, entre 1989-1992, abrindo espa�os de a��o pol�tica e implementando novos paradigmas para a quest�o da moradia, como autogest�o de mutir�es e responsabilidade local.

Estes referenciais, naquele momento, estavam em conson�ncia com os novos termos da rec�m aprovada Constitui��o Federal (1988), que consistiu num avan�o parra a implementa��o de pol�ticas de interesse social. Nela incorporou-se o princ�pio da fun��o social da propriedade urbana, o qual foi regulamentado por uma lei federal, em 2001, intitulada Estatuto da Cidade. A aprova��o desta lei coincidiu com a chegada ao poder de governos mais comprometidos com quest�es sociais urbanas, do que resultaram pol�ticas de interven��o em �reas carentes da cidade, em sintonia com as reivindica��es dos movimentos sociais por moradia.

Em rela��o aos anos sessenta e setenta, uma das mudan�as mais patentes no trato pol�tico com a habita��o de baixa renda refere-se � proposta de urbaniza��o de favelas, que tornou-se agora predominante, superando o antigo modelo de constru��o de grandes conjuntos habitacionais isolados da cidade. A partir de 2003, com a cria��o do Minist�rio das Cidades, novos rumos t�m sido tomados em rela��o � pol�tica nacional de habita��o, que incluem o objetivo de ampliar o acesso ao financiamento para camadas mais pobres, com subs�dios escalonados, incentivos e um complexo de medidas fundi�rias e legais, de modo a viabilizar o produto do solo urbanizado a setores mais amplos. Defende-se a considera��o da moradia de modo integrado � cidade, aos servi�os urbanos, transportes e espa�os p�blicos.

Na regi�o central de S�o Paulo, que tem por n�cleo o Centro Hist�rico e seu patrim�nio arquitet�nico, uma s�rie de interven��es t�m sido executadas no sentido de reverter seu processo de degrada��o ambiental, esvaziamento econ�mico e perda de prest�gio urbano. Embora seja uma regi�o bem acess�vel, dotada de infra-estrutura e seus distritos respondam por cerca de 28,8% dos empregos formais do munic�pio, boa parte da popula��o a� residente possui baixos rendimentos, habitando em condi��es prec�rias: nestas �reas concentra-se cerca de 20% da popula��o encorti�ada da metr�pole, al�m de moradores de rua[3].

O Programa Morar no Centro (2002), uma das iniciativas da administra��o municipal destinadas � requalifica��o da �rea, tem por objetivo n�o s� melhorar as condi��es de vida dos seus moradores, como tamb�m atrair novos residentes. Consiste em uma interven��o de longa dura��o e de amplo espectro, atuando em 13 distritos, com resultados esperados a m�dio prazo. Trabalha com habita��o de interesse social englobando cinco modalidades de a��o: loca��o social, arrendamento residencial, cartas de cr�dito, moradia transit�ria e sub-programa de corti�os. A implementa��o destas modalidades pode ter por alvo terrenos ou edif�cios isolados � a serem reciclados visando adapt�-los para moradia � ou ser direcionada para certas �reas criteriosamente delimitadas, chamadas Per�metros de Reabilita��o Integrada do Habitat (PRIHs). A palavra habitat, definida como lugar da vida, envolve a exist�ncia e a necessidade de um espa�o que vai al�m do plano individual ou familiar, estendendo-se � vida associativa, � esfera p�blica. Seu significado relaciona-se com a no��o de um lugar em que se vive de um modo integrado.

Cada PRIH compreende um conjunto espec�fico de quarteir�es caracterizados por alta concentra��o de moradias prec�rias, escassez ou aus~encia de espa�os p�blicos e rarefeitos equipamentos coletivos. Durante a fase inicial de implanta��o deste programa foram definidos pela Prefeitura seis Per�metros de interven��o, os quais foram classificados como Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS), No Plano Diretor Estrat�gico de S�o Paulo. As ZEIS s�o destinadas, prioritariamente, � recupera��o urban�stica, � regulariza��o fundi�ria e � produ��o de habita��es de interesse social, � recupera��o de im�veis degradados e � provis�o de equipamentos sociais e culturais, espa�os p�blicos, servi�o e com�rcio de car�ter local[4].

Projetos de espa�os p�blicos / labparc

A proposi��o b�sica do trabalho desenvolvido pelo LABPARC nos Per�metros em que foi chamado a atuar � Luz e Glic�rio - � que as interven��es sobre os espa�os p�blicos sejam substanciais e n�o apenas acess�rias ou paliativas, mesmo que a aus�ncia de propostas de grande vulto leve a crer o contr�rio.

De fato, as interven��es sugeridas limitam-se deliberadamente �s situa��es espaciais em que se verificam condi��es de a��o imediata ou a curto prazo. Mas antes de ser um fator limitante esta � uma condi��o de grande import�ncia para atingir o principal alvo do trabalho que � favorecer o envolvimento das pessoas que moram, trabalham, estudam, enfim, que vivem nestes Per�metros, com o espa�o coletivo, com a dimens�o do bem p�blico. N�o �, portanto, necess�rio que a a��o seja fisicamente grandiosa, basta que seja significativa no �mbito do lugar, isto �, que provoque o interesse e promova a identifica��o das pessoas para com o espa�o de interven��o e que seus efeitos sejam duradouros gra�as � experi�ncia do fazer coletivo, ainda que este coletivo esteja impregnado de contradi��es e diverg�ncias. � intr�nseca � atua��o do LABPARC trabalhar em prol da qualidade e significado urbano do projeto dos espa�os p�blicos em que interv�m. Procura, para isto, estimular a participa��o dos moradores e demais freq�entadores dos Per�metros nas decis�es n�o s� do programa, mas tamb�m do partido formal de seus projetos. Esta conduta se desenvolve num terreno inst�vel, exigindo a constante revis�o e proposi��o de procedimentos metodol�gicos de modo a balancear entre as necessidades, desejos e percep��es dos moradores e o ponto de vista profissional.

Operar de um modo pr�ximo aos que vivem nestes Per�metros �, pois, um princ�pio norteador do trabalho deste Laborat�rio. Nem sempre, no entanto, as oportunidades de interven��o se oferecem abertamente, seja pela inexist�ncia ou exig�idade dos espa�os p�blicos, seja porque os pr�prios moradores n�o manifestam interesse quanto a estes espa�os, at� mesmo por n�o identific�-los como p�blicos e n�o reconhecer neles as oportunidades que se abrem � sua efetiva apropria��o.

Per�metro de Reabilita��o Integrada do Habitat na regi�o da Luz (PRIH-Luz)

O bairro da Luz � relativamente antigo. Hoje pertence � �rea central da cidade, no entanto, na �poca em que as primeiras constru��es foram erguidas nesta regi�o, no final do s�culo XVIII, ele ocupava uma posi��o perif�rica, abrigando fun��es como jardim bot�nico, quartel de pol�cia, semin�rio de religiosos. Mais tarde ali instalou-se a esta��o da estrada de ferro, o que fez crescer o fluxo entre a Luz e o centro da cidade. A partir de ent�o a urbaniza��o se processou rapidamente. Dado o v�nculo estreito entre industrializa��o e estrada de ferro, constru�ram-se ali v�rios conjuntos de casas para oper�rios, al�m de armaz�ns e galp�es industriais. Para as proximidades da Luz tamb�m foi atra�do o com�rcio especializado e mais popular - ferragens, produtos agropecu�rios e tamb�m trajes para casamentos - resultando nas fei��es que hoje o bairro apresenta.

Devido sua proximidade ao centro, o PRIH-Luz conta com boa rede de infra-estrutura, sobretudo de transportes. Mas a presen�a da estrada de ferro e de largas vias de tr�fego intenso e pesado, a exist�ncia de fun��es industriais, a concentra��o de popula��o de baixa renda e as caracter�sticas gerais do com�rcio n�o o tornaram atraente para os investidores imobili�rios. Como resultado, a �rea n�o recebe h� muito tempo investimentos nem do setor p�blico (com exce��o do metr�) nem do privado. Tornou-se um bols�o pobre no centro da cidade, com grande parte das habita��es transformadas em corti�os com p�ssimas condi��es de habitabilidade. N�o possui equipamentos suficientes para atender �s necessidades cotidianas de seus moradores e muito menos espa�os livres p�blicos adequados ao lazer e ao encontro da popula��o.

As transformações urbanas em são paulo foram motivadas por quais interesses

Em todo o Per�metro, que se estende entre a Av. Tiradentes, R. Jo�o Teodoro, Av. do Estado e a Estrada de Ferro RFFSA (28 hectares), h� apenas uma pequena �rea � no.8 no mapa - de mais ou menos 1.000 m2, destinada ao uso coletivo para atividades ao ar livre, ou seja, pouco mais de 0,35% do total. N�o bastasse a dimens�o �nfima, esta �rea est� encravada num conjunto de casas constru�das no come�o do s�culo XX, denominado Vila Economizadora, que se constitui num espa�o dotado de certa autonomia em rela��o ao restante do Per�metro. Na pr�tica, ela �pertence� aos moradores da Vila Economizadora, o que faz com que todos os demais n�o disponham, no seu cotidiano, de �reas livres p�blicas apropriadas ao encontro ou ao lazer de um modo geral.

Por ser anterior � decreta��o das leis que obrigam os empreendedores imobili�rios a reservar uma porcentagem do terreno loteado para �reas verdes e institucionais, o Per�metro em quest�o, excetuado o caso acima citado, n�o possui uma pra�a sequer. Por ser um bairro popular, os lotes s�o de pequenas dimens�es e ocupados em quase sua totalidade, n�o restando praticamente nenhum espa�o livre dentro deles. Enfim, pela transforma��o do uso do solo que, entre outras coisas, fez os im�veis antes de uso industrial passarem a abrigar fun��es de baixa vitalidade (como estacionamentos voltados a um com�rcio n�o diretamente ligado �s necessidades dos moradores), s�o raras as express�es de vida coletiva e p�blica no PRIH-Luz.

De fato, n�o se percebe de um modo expl�cito o uso do espa�o p�blico para fins de encontro ou de lazer. Foi necess�rio tamb�m um esfor�o especial para detectar �reas onde eventualmente tal uso pudesse ter lugar. Os espa�os que se mostraram mais pr�prios para isto foram trechos de ruas sem sa�da, conseq��ncias do bloqueio imposto pela estrada de ferro. Por um lado, apresentam a vantagem de estarem livres da circula��o de ve�culos de passagem; por outro a desvantagem de serem �reas esquecidas, desprezadas. No entanto, devidamente equipadas, poderiam ser apropriadas pela popula��o moradora.

S�o tr�s as ruas nestas condi��es: No.s 5, 6 e 7. Uma delas, a Djalma Dutra � no.5 - despertou maior interesse por ali convergirem algumas condi��es favor�veis: predomin�ncia de uso residencial, em casas t�picas das primeiras d�cadas do s�culo XX, ainda em bom estado de conserva��o, e ocorr�ncia de institui��es que atendem aos moradores, como creche e igreja. Prop�s-se ali uma �rea de lazer para crian�as, com brinquedos especialmente projetados, bem como mesas e bancos que pudessem atrair pessoas de diversas idades. A hip�tese de sua transforma��o em espa�o de lazer foi trabalhada com os moradores, por meio de oficinas, onde buscou-se atingir uma maior n�mero de pessoas a fim de identificar desejos e necessidades com rela��o ao espa�o a ser proposto. Depois de elaborado o projeto, este foi apresentado em uma reuni�o aberta na qual compareceram, al�m dos moradores anteriormente envolvidos, outros que n�o haviam participado do processo. Nessa ocasi�o, estabeleceu-se um conflito aberto entre essas duas partes: de um lado, as pessoas j� engajadas no projeto e que demandavam t�o somente a inclus�o de alguns ajustes a este; do outro, um pequeno grupo nitidamente interessado em inviabilizar o processo, na medida em que manifestava uma recusa em dialogar sobre os temas envolvidos. Os arquitetos do LABPARC e da Prefeitura empenharam-se, a partir de ent�o, na media��o entre as partes, propondo estabelecer, na negocia��o, pontos convergentes e divergentes, objetivando uma concilia��o entre os interesses conflitantes e estimulando ambas as partes � cess�o de algumas convic��es. N�o foi poss�vel chegar a um acordo uma vez que o referido pequeno grupo sequer queria negociar; a rigor, na sua percep��o, as melhorias propostas (sobretudo brinquedos e mobili�rio urbano) �atrairiam popula��o de rua e de corti�os causando problemas�, numa postura reveladora de arraigados preconceitos e micro-poderes que orientam as a��es de alguns moradores da regi�o, os quais, no cotidiano, j� convivem com essas camadas da popula��o (h� um albergue e v�rios corti�os na pr�pria rua).

Uma vez que n�o foi poss�vel estabelecer um di�logo edificante, optou-se, subseq�entemente, por uma consulta popular atingindo, indistintamente, a todos os moradores daquela rua. Em s�ntese � com base nos dados de projeto - indagou-se � popula��o sobre quais propostas gostariam que permanecessem e quais deveriam ser descartadas. O resultado foi amplamente satisfat�rio e sugeriu poucos ajustes ao projeto. Constatou-se ent�o que aquelas pessoas que manifestaram amplas diverg�ncias n�o se configuravam como um grupo que pensava diferente e podia contribuir com aspectos n�o antes detectados, mas como pessoas inflex�veis que se recusavam a enfrentar mudan�as, n�o possuindo uma vis�o coletiva dos processos em curso nem acreditando numa vis�o mais democr�tica de cidade. Esta negocia��o culminou com a apresenta��o aos moradores da Rua Djalma Dutra dos resultados da consulta popular. O n�vel de satisfa��o no que se refere � condu��o de todo o processo foi bastante alto e nessa reuni�o aberta, que realizou-se no meio da referida rua, foi criado um mini-conselho gestor que mostrou-se bastante motivado e comprometido com as quest�es do lugar.

Uma outra situa��o a ser destacada refere-se ao pequeno parque situado na Vila Economizadora �no.8 -, que tamb�m foi alvo de um trabalho conjunto com a popula��o do entorno. Para tratar deste espa�o realizou-se uma �oficina� (workshop) com os moradores da Vila. O objetivo desta �oficina� era captar os problemas espec�ficos daquele espa�o e as aspira��es da vizinhan�a quanto a ele, de modo a fornecer subs�dios para uma interven��o imediata da municipalidade no local. O LABPARC, juntamente com o Escrit�rio Antena[5] e com o Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos, participou da prepara��o e do desenvolvimento deste encontro propondo e acompanhando as atividades dos participantes, que eram em torno de quarenta pessoas e inclu�am adultos, adolescentes e crian�as de ambos os sexos.

Cada um dos participantes recebeu uma folha de papel com a planta do �parquinho� e sobre ela expressaram individualmente, num primeiro momento, atrav�s de desenhos, as suas expectativas. Em seguida, formaram-se pequenos grupos em que, de in�cio, cada participante expunha suas propostas. Uma vez colocadas as contribui��es individuais partiu-se para a formula��o de uma proposi��o conjunta. Neste momento emergiram alguns problemas concretos, tanto relativos � administra��o do espa�o quanto �s vis�es divergentes entre os moradores, e tamb�m entre estes e o poder p�blico. As entidades envolvidas (LABPARC, Escrit�rio Antena e Centro Gaspar Garcia) atuaram como mediadoras junto aos moradores, buscando compatibilizar as diferentes demandas e ajust�-las �s realidades or�ament�rias, discutindo alternativas para viabilizar as propostas.

No referente � gest�o do espa�o, surgiram posi��es antag�nicas: de um lado os moradores, que queriam um espa�o com acesso controlado, ou seja, cercado e com port�o de entrada, alegando problemas de seguran�a, que realmente existem. Do outro lado, do ponto de vista institucional, ou seja, o da administra��o p�blica local (Sub-Prefeitura), que arcaria com a constru��o da obra e talvez com a administra��o do espa�o, n�o era l�cito utilizar verbas p�blicas para implantar e administrar um espa�o cercado, que seria apropriado por um n�mero restrito de mun�cipes (os moradores da Vila Economizadora). O argumento de que os parques p�blicos municipais tamb�m s�o cercados, sujeitos a hor�rios de abertura e fechamento e nem por isso deixam de ser p�blicos, esbarrava com outro argumento por parte da Sub-Prefeitura: n�o havia recursos financeiros para manter um funcion�rio no local todos os dias para abrir e fechar o �parquinho� e vigi�-lo. A solu��o que se apresentava era entregar a gest�o da �rea aos moradores, o que levantou novas quest�es: quem faria isto? Quem teria tempo e disposi��o para faz�-lo? A Prefeitura consideraria o �parquinho� um espa�o p�blico para efeito de manuten��o, uma vez que a �rea teria uma apropria��o restrita? O caso est� ainda em processo, mas o que ocorreu at� o momento j� � bastante positivo na medida em que o projeto desta �rea de lazer motivou as pessoas a participarem dos destinos de um espa�o p�blico no seu bairro e a discutirem formas de organiza��o para administr�-lo.

Outro exemplo significativo, envolvendo n�o os moradores, mas os comerciantes do bairro, � o da rua S�o Caetano � no.3. Esta rua, conhecida como a �Rua das Noivas�, concentra um grande n�mero de lojas que vendem trajes de casamento. Trata-se de um com�rcio tradicional, voltado �s camadas m�dias ou m�dias-baixas da popula��o. Por isso, e por estar localizado numa �rea n�o muito prestigiada da cidade, ele n�o gera lucros suficientes para que os comerciantes custeiem por conta pr�pria o processo de requalifica��o da paisagem da rua.

Inicialmente optou-se, entre os espa�os p�blicos a serem tratados no PRIH-Luz, por trabalhar o primeiro quarteir�o da rua, justamente o de maior exposi��o p�blica. Para ele estaria reservada uma verba dentro de um empr�stimo que a Prefeitura negociou com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Como n�o havia uma associa��o dos comerciantes organizada e atuante, o projeto n�o contou, para a sua elabora��o, com a participa��o dos eventuais interessados. Ainda assim foi apresentado � comunidade do PRIH-Luz, juntamente com os demais projetos. Tratava-se de um simples alargamento das cal�adas, com a conseq�ente desativa��o de faixas de estacionamento ao longo do meio fio, numa extens�o de aproximadamente 60 metros. Isto permitiria a arboriza��o dos passeios e a coloca��o de bancos, lixeiras, telefones p�blicos, etc.

A apresenta��o desta proposta foi suficiente para que os comerciantes passassem a se preocupar com a sua rua. Em pouco tempo reativaram sua associa��o e passaram a comandar um processo com o objetivo de estender a requalifica��o para toda a via. Come�aram a participar ativamente das reuni�es em que se discutiam as quest�es gerais do PRIH-Luz e acertaram com a prefeitura a elabora��o de um estudo preliminar de tratamento da rua, efetuado pelo LABPARC. Para a elabora��o deste estudo preliminar foram realizadas v�rias reuni�es com os lojistas. De in�cio levantaram-se suas necessidades e aspira��es. Pretendiam valorizar os im�veis com algum interesse arquitet�nico, melhorar as condi��es da pavimenta��o das cal�adas, arborizar e equipar a rua com mobili�rio que desse conforto aos pedestres. Ocorre que as cal�adas s�o estreitas e congestionadas pela presen�a de muitos objetos dispostos sem crit�rio: vasos para plantas, postes que suportam diversos tipos de placas e a fia��o el�trica, etc. Para atender �s solicita��es era necess�rio �criar� espa�o e a possibilidade que se apresentava era a de avan�ar sobre o leito carro��vel, eliminando algumas vagas de estacionamento, repetindo-se, com um determinado ritmo, a solu��o proposta para o trecho inicial da rua. Haveria ent�o, a cada 60 ou 70m, aproximadamente, o estreitamento da pista e o conseq�ente alargamento das cal�adas proporcionando as condi��es para implantar nestes �n�cleos verdes� os itens demandados: �rvores, bancos, lixeiras, telefones, etc.

De in�cio, esta proposta dividiu as opini�es dos lojistas: alguns consideravam vantajoso que suas lojas abrissem para estes �n�cleos verdes�; outros achavam que seriam prejudicados pela elimina��o das vagas de estacionamento em frente �s suas lojas. Embora presentes, n�o foi necess�rio que os t�cnicos entrassem na discuss�o, pois os pr�prios comerciantes favor�veis � id�ia argumentaram com seus pares sobre as vantagens que todos poderiam ter com a melhoria da paisagem da rua. Conseguiu-se assim a ades�o da quase totalidade dos comerciantes para a reforma das cal�adas, condi��o necess�ria para os lojistas poderem usufruir de um outro programa da Prefeitura, denominado �Ruas Comerciais�, em que esta contrata e administra os projetos, sendo a execu��o parcialmente rateada entre os comerciantes. Foram, em seguida, realizadas reuni�es com t�cnicos da Prefeitura para compatibilizar a proposta com as exig�ncias relativas �s redes de infra-estrutura, � acessibilidade de pessoas portadoras de defici�ncias e ao tr�fego e estacionamento de ve�culos. Finalmente, no in�cio deste ano, foi assinado um contrato entre a associa��o dos comerciantes e a prefeitura para a execu��o do projeto.

Per�metro de Reabilita��o Integrada do Habitat na regi�o do Glic�rio (PRIH-Glic�rio)

O PRIH-Glic�rio est� demarcado numa regi�o cuja urbaniza��o data do in�cio do s�culo XX. Sua ocupa��o foi evitada at� aquele momento por se tratar de �rea sujeita �s inunda��es do rio Tamanduate�. Por esta peculiaridade sempre foi uma �rea popular, com habita��es para oper�rios, mas sem ind�strias, pois n�o contava com estrada de ferro. A zona de contato com o centro passou a se verticalizar em meados do s�culo XX de modo que hoje encontram-se no Per�metro tanto pequenos conjuntos de casas populares como edif�cios de apartamentos, ambos com alto �ndice de encorti�amento. Como a Luz, por se tratar de bairro antigo, o Glic�rio � carente de espa�os p�blicos abertos � pra�as e parques - para atender �s necessidades de lazer e encontro da popula��o. Pesa sobre a regi�o o agravante de ter sido cortada por vias elevadas de tr�fego expresso, que prejudicaram ainda mais as condi��es de vida do bairro. Sob os viadutos se abrigam pessoas sem teto, o que torna esses lugares ainda mais segregados. Sendo �rea adjacente ao centro, portanto muito pr�xima dos escrit�rios e do com�rcio, concentram-se ali muitos catadores de papel e de lixo recicl�vel, cuja triagem e estocagem se faz, em regra, sob os viadutos, ou ent�o em im�veis bastante deteriorados.

Por tudo isso, encontrar sinais de vida p�blica no Glic�rio foi ainda mais dif�cil que na regi�o da Luz. As interven��es parecem ser necess�rias mais pelo alto grau de degrada��o do espa�o do que por uma demanda expl�cita dos moradores. Neste caso, o trabalho com a popula��o do Per�metro n�o se baseou, logo de in�cio, na discuss�o de propostas de interven��o. Buscou-se antes conhecer os valores que os moradores do Glic�rio atribuem ao espa�o p�blico e, ainda, as pr�ticas de espa�o[6] que ali ocorrem. Para isto optou-se por realizar uma pesquisa qualitativa, que se efetivou por meio de quatro oficinas, cada uma com a participa��o de um n�mero pequeno de pessoas (em torno de seis), de modo que todos pudessem se expressar � vontade, seja verbalmente, seja por meio de desenhos ou de maquetes. Eram todos residentes no bairro; uns moravam em casas normais, outros em corti�os ou pens�es (hot�is muito baratos), outros em albergues.

Os relatos verbais foram os mais ricos em informa��o. Eles n�o revelaram propriamente as �pr�ticas de espa�o� que est�vamos interessados em conhecer, mas sim as dificuldades daquelas pessoas em assumir o espa�o p�blico (que neste Per�metro se limita praticamente �s ruas). Evitam-no pois o consideram inseguro e palco de viol�ncia. A princ�pio, durante a oficina, n�o conseguiram sequer expressar suas aspira��es ou expectativas. Com muita dificuldade passaram a expor seus sonhos que, muitas vezes, se remetiam a clich�s de pra�as interioranas.

Ainda assim, as informa��es recolhidas foram valiosas para a compreens�o dos limites e potencialidades de a��o sobre os espa�os livres p�blicos urbanos. Permitiram constatar a car�ncia sofrida pelos moradores do Glic�rio no referente �s oportunidades de lazer de um modo geral, e o seu interesse em ver o bairro equipado com espa�os livres destinados � recrea��o. � importante ainda registrar a vontade manifestada pelos participantes, nas diversas sess�es, de ter as cal�adas do bairro mais bem cuidadas, ou seja, sem lixo, com pavimenta��o adequada e arborizadas. Parte destas aspira��es foram colhidas nos pr�prios relatos, e parte em outras atividades que os participantes se dispuseram a executar durante as sess�es, expressando-se atrav�s de desenhos, modelos tridimensionais, etc.

Com base nas informa��es provenientes das oficinas e nas oportunidades divisadas pela equipe do LABPARC nas diversas visitas �in loco�, levantaram-se algumas possibilidades de interven��o nos limites do PRIH-Glic�rio. Estas possibilidades devem ser submetidas ao crivo dos moradores de modo a aferir sua validade. Trata-se, quase sempre, de interven��es que requerem pequeno investimento, localizadas em �reas que j� s�o p�blicas, mas que n�o s�o apropriadas como tais, ou que n�o t�m todo seu potencial realizado

As transformações urbanas em são paulo foram motivadas por quais interesses

Na parte do Glic�rio situada ao norte das vias elevadas que seccionam o bairro, o conjunto de propostas incui:

  • no. 15: a valoriza��o da escadaria que conecta as ruas Conde de Sarzedas e Anita Ferraz;
  • no. 13 e no. 16: a requalifica��o de uma pequena �rea de lazer situada numa das esquinas da rua Anita Ferraz
  • no. 19: tratamento da faixa de �rea verde junto � rua Dr. Lund, que separa as ruas locais do tr�nsito de passagem junto ao viaduto. Esta faixa, embora estreita, parece ser estrat�gica para a delimita��o do espa�o do bairro e para a sua ambienta��o, al�m de registrar-se ali uma apropria��o incipiente.
Na parte ao sul, algumas das propostas compreendem:
  • no. 11: anexa��o de uma faixa de rolamento da rua Junqueira Freire, sub utilizada, ao passeio de pedestres, integrando-se ao espa�o j� apropriado pelo p�blico, junto a um bar, numa das esquinas da rua;
  • no. 4: implanta��o de �rea de lazer no trecho sem sa�da da rua Ces�rio Ramalho
  • no. 5: amplia��o e arboriza��o do passeio da rua Teixeira Mendes, junto ao P�lo da Terceira Idade, que � uma importante refer�ncia no bairro
  • reformula��o das pra�as Jos� Lu�s de Mello Malheiros e Nina Rodrigues, hoje praticamente inacess�veis aos moradores por estarem ilhadas pelo tr�fego de veh�culos
Por fim, aventou-se uma poss�vel integra��o espacial dos setores norte e sul do Glic�rio atuando-se justamente nas vias que os separam. Assim, os mesmos elementos que causaram a dr�stica divis�o podem vir a ser pe�as chaves para a reintegra��o das partes. Atualmente, os baixos da avenida Radial Leste-Oeste e do viaduto do Glic�rio, que lhe d� continuidade, formam um espa�o segregado, mal mantido, inseguro, evitado pelos moradores do PRIH-Glic�rio e pelas pessoas que por ali transitam, de um modo geral. Esse espa�o � no. 18 - poderia ser alvo de projeto que o reabilitasse atrav�s de pisos, pintura (que poderia incluir murais e outros recursos art�sticos), ilumina��o, etc., tornando-se de fato um espa�o de liga��o entre os dois setores.

As interven��es propostas nas pra�as Jos� Lu�s de Mello Malheiros e Nina Rodrigues, a que j� se fez men��o, poder�o auxiliar na forma��o de um �tecido conectivo�, adequado ao uso pelos pedestres, interligando os espa�os ao sul e ao norte da avenida Radial Leste-Oeste. Vislumbra-se assim a possibilidade de constitui��o de um percurso paisagisticamente qualificado, tendo a escadaria da rua Anita Ferraz como um dos pontos extremos, passando pelos espa�os livres tratados ao longo da rua Dr. Lund, prosseguindo pelos baixos da avenida Radial Leste-Oeste e do viaduto do Glic�rio, devidamente recuperados, at� atingir as pra�as Jos� Lu�s de Mello Malheiros e Nina Rodrigues.

Coment�rios sobre a experiencia

A experi�ncia de desenvolvimento de pesquisas e projetos de espa�os p�blicos nos referidos �Per�metros� evidenciou a insipi�ncia de �reas livres coletivas, tanto do ponto de vista quantitativo quanto qualitativo, na regi�o central da metr�pole paulistana. Por outro lado, revelou in�ditas oportunidades quanto � promo��o de lugares que transcendem categorias mais tradicionais de espa�os destinados � recrea��o, ao lazer e � conviv�ncia das comunidades envolvidas. Considerando essa perspectiva de espa�o p�blico como um grande e pervasivo tecido que acomoda a diversidade das atividades e fun��es do cotidiano, foi poss�vel identificar v�rias oportunidades, � primeira vista pouco percept�veis, mesmo em setores degradados e compactados, sinalizando para a necessidade de um aprofundamento conceitual e metodol�gico capaz de fazer frente ao encaminhamento dessas novas abordagens.

No que diz respeito ao processo participativo propriamente dito, evidenciou-se a import�ncia de se trabalhar com abordagens democr�ticas dessa natureza, no que conferem � popula��o envolvida uma medida de inger�ncia sobre os des�gnios que lhes dizem respeito, al�m, evidentemente, de uma maior chance de apropria��o otimizada dos espa�os projetados. Uma primeira avalia��o do trabalho realizado permitiu identificar uma s�rie de aspectos pass�veis de impulsionar futuras pesquisas:

  • O terreno do trabalho com comunidades �, via de regra, o da contradi��o (como no caso da Rua Djalma Dutra). � preciso aperfei�oar formas de enfrentamento de situa��es nas quais o dissenso se estabelece, garantindo uma participa��o equilibrada dos sujeitos envolvidos, atuando na media��o dos conflitos sem que se busquem sa�das mais f�ceis de legitima��o da maioria e buscando-se garantir pr�ticas mais inclusivas, capazes de dar voz �s minorias locais. Por outro lado, � preciso identificar com muita precis�o situa��es onde o grupo minorit�rio n�o � o que tem uma vis�o diferente do processo em curso, podendo inclusive contribuir com percep��es muito especiais dos problemas, mas � aquele que participa tumultuando o processo de andamento do projeto ou se posiciona de uma forma estritamente pessoal em detrimento dos benef�cios coletivos.
  • As chamadas �lideran�as� locais nem sempre s�o mesmo l�deres (n�o t�m �liderados�); por vezes s�o pessoas mais eloq�entes que, em rela��o a seus pares, expressam-se com mais facilidade no coletivo. � fundamental fazer com que n�o apenas os �representantes� se manifestem em nome da comunidade mas, igualmente os �representados�; em determinadas situa��es, � importante buscar ainda os �representativos�, aqueles indiv�duos que s�o emblem�ticos de percep��es de determinadas inst�ncias tais como faixa et�ria, classe social, g�nero, entre outras.
  • Em algumas situa��es onde o processo participativo se estabelece, conta-se com uma popula��o organizada e/ou motivada para reivindica��o dos seus interesses. Entretanto, em muitos outros casos, � o pr�prio desenvolvimento do projeto que estimula essa movimenta��o, no que permite � comunidade ter uma maior consci�ncia acerca dos problemas bem como vislumbrar perspectivas ainda n�o imaginadas. No caso da Rua S�o Caetano, a Associa��o de comerciantes se reorganizou quando percebeu o impacto positivo que o projeto teria na regi�o e como o espa�o proposto ia ao encontro de seus interesses comerciais, tornando ainda mais amena a vida cotidiana dos que ali trabalham.
  • Quanto � comunica��o entre as partes envolvidas, � fundamental, por parte dos t�cnicos envolvidos no processo, o desenvolvimento de uma linguagem que possibilite fluidez, evitando-se excessos de voc�bulos t�cnicos e sofisticados. Por outro lado, soa falso e prosaico buscar uma linguagem excessivamente coloquial, subestimando a capacidade de entendimento da popula��o: � importante ampliar o seu repert�rio fazendo com que ela se aproprie de outros saberes, instrumentando-se para a argumenta��o. No que diz respeito ainda � express�o das comunidades envolvidas, � preciso entender que, n�o raro, estas possuem fragilidades no tocante � organiza��o de um racioc�nio articulado, capaz de formular id�ias ou defender em p�blico seus pontos de vista. A quest�o da comunica��o �, evidentemente, uma via de m�o dupla na qual os t�cnicos t�m papel capital na detec��o dos problemas e proposi��o de respostas.
  • O debate acerca da gest�o dos espa�os p�blicos tem buscado sa�das para problemas ligados � sua sustentabilidade. At� pouco tempo atr�s tal empreendimento era atribui��o praticamente exclusiva de �rg�os p�blicos (envolvendo manuten��o, fiscaliza��o e ajustes de projeto). � popula��o cabia manifestar desejos e reivindicar demandas, assumindo uma posi��o de certa forma c�moda, por vezes portando-se como �cliente�. Na atualidade � poss�vel identificar, em muitas situa��es em que se trabalha com comunidades, a vontade da popula��o de atuar na gest�o dos espa�os p�blicos, participando dela ativamente Essa motiva��o � estimulada em parte pela constata��o de que o poder p�blico n�o consegue fazer frente sozinho a esse problema, como tamb�m pela exist�ncia de novos instrumentos legais - como o Estatuto da Cidade � que definem melhores condi��es para a efetiva participa��o da popula��o em encaminhamentos que lhe dizem respeito. No caso da Rua Djalma Dutra, o processo participativo motivou a cria��o de um pequeno conselho gestor, com representantes de v�rias faixas et�rias. Entretanto, essa quest�o apresenta tamb�m suas susceptibilidades. Nem sempre se consegue um efetivo engajamento da comunidade nesse processo; o �parquinho� da Vila Economizadora, por exemplo, embora tenha envolvido a participa��o dos moradores em oficinas, n�o obteve ainda, efetivamente, um compromisso dos mesmos em rela��o � sua manuten��o. Neste campo, � importante pesquisar os meios pelos quais essa rela��o uso-responsabilidade possa se consolidar.
A tem�tica da cria��o coletiva da paisagem � um f�rtil e complexo campo de investiga��o ainda pouco explorado, com muitas quest�es em aberto. � evidente que o suporte de v�rias �reas do conhecimento ser� imprescind�vel se de fato almejarmos avan�ar no entendimento desses problemas e proposi��es para a resolu��o dos mesmos. No que diz respeito aos espa�os livres p�blicos � inequ�voco seu potencial de participa��o na constru��o de melhores condi��es s�cio-ambientais urbanas, implicando desde aspectos de regula��o microclim�tica e permeabilidade do solo (entre muitas fun��es no ecossistema urbano), at� a acomoda��o das pr�ticas sociais do cotidiano associadas � estimula��o da escala greg�ria da cidade e � consolida��o de uma abordagem mais equ�nime e, portanto, democr�tica de cidade.

REFERENCES

BRUNO, E. da S. Hist�rias e tradi��es da cidade de S�o Paulo. Rio de Janeiro, Jos� Olympio, 1954. (2a ed.).

CERTEAU, M. de. The practive of everyday life. Trad. Steven Rendall. Berkeley, Univeristy of California Press, 1984.

MARICATO, Erm�nia. (2000). �Habita��o social em �reas centrais�. �culum Ensaios, vol 1, 2000, pp.14-24.

MARTINS, M. L. R. R.; RONCONI, R. L. N. (2003). �Habita��o e cidade � qual a quest�o?� P�S � Revista do Programa de P�s-Gradua��o da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de S�o Paulo. 2003, no.13, pp.10-23.

Prefeitura de S�o Paulo. Secretaria de Planejamento Urbano (SEMPLA). Plano Diretor Estrat�gico do Munic�pio de S�o Paulo. S�o Paulo, 2002, s.n.

Prefeitura de S�o Paulo. Secretaria de Habita��o e Desenvolvimento Urbano. Programa �Morar no Centro�, S�o Paulo, 2002.

NOTES

1. A produ��o em massa foi associada � via tradicional de constru��o e n�o � sua industrializa��o (que absorveria menores contingentes de m�o de obra).

2. A depress�o econ�mica que atingiu o Brasil nos anos setenta � para a qual tamb�m colaborou a crise internacional do petr�leo � tornou-se ainda mais grave nos anos oitenta, que s�o considerados por te�ricos brasileiros como a d�cada perdida. Um lento e inst�vel movimento de recupera��o passou a ser esbo�ado quando da passagem do s�culo, por�m com �ndices ainda intimidados por uma poss�vel retomada da infla��o.

3. Em levantamento feito pela funda��o Instituto Pesquisas Econ�micas (FIPE), em 2000, 50% dos moradores de rua de S�o Paulo (cerca de 4.600 pessoas) espalham-se pelas ruas e albergues da regi�o. In: Programa Morar no Centro � Secretaria Municipal de Habita��o e Desenvolvimento, 2002.

4. Plano Diretor Estrat�gico de S�o Paulo, ART. 51 (2002).

5. Programa Morar no Centro, 2002.

6. Na defini��o dos Per�metros de Reabilita��o foram articuladas �s propostas da Prefeitura, aquelas advindas das assessorias t�cnicas e dos movimentos populares por moradia atuantes na �rea central.


(*) Vladimir Bartalini, Catharina Pinheiro C. S. Lima, Vera Pallamin. Professores Doutores da Faculdade de Arquitectura e Urbanismo. Universidade de Sao Paulo, Brasil

O que motivou a transformação na cidade de São Paulo?

A introdução da cafeicultura em terras paulistas e a chegada de milhares de imigrantes na cidade foram decisivas para alterar esse panorama. São diversas as iniciativas que marcam as mudanças da São Paulo de 1890, que possuía 65 mil habitantes, para a de 1940, com 1,3 milhão de pessoas.

Quais os principais aspectos da transformação da cidade de São Paulo?

O desenvolvimento da cidade levou a população a ocupar as terras que ficavam além do Tamanduateí, Anhangabaú, Pinheiros e Tietê. O avanço para o interior e o crescimento de aldeias e povoações exigiu a criação de pontes a fim de facilitar o deslocamento dos morado- res dessas regiões para o centro da cidade.

Quais foram as principais transformações urbanas?

São eles: segurança pública; olhar intergeracional e equidade social; mudança do clima; transformação digital; e o desenvolvimento econômico.

Qual era o objetivo das reformas urbanas?

A Reforma Urbana é, basicamente, a promoção de uma série de políticas públicas para reordenar a lógica das cidades, democratizando suas estruturas e garantindo o seu acesso para as camadas economicamente inferiores da sociedade.