Como era a vida das pessoas que trabalharam na construção de Brasília?

Ainda nos anos de 1950, quando ficou decidido o início da construção de Brasília, a futura capital do país passou a receber centenas de operários em busca de trabalho. Com os pioneiros, vieram as famílias, que se instalaram em vilas provisórias e acampamentos de lona na cidade.

Foi então, que em 1956, o solo árido do Cerrado se tornou o piso da casa dos primeiros candangos. De início, as chamadas "expedições geográficas" trouxeram 250 trabalhadores. Em julho de 1957, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), já eram 12,2 mil candangos.

A Cidade Livre, idealizada por Bernardo Sayão – um dos diretores da Novacap – se destacou como um desses núcleos de apoio. O local era o ponto de chegada dos trabalhadores que, quando conseguiam emprego nas construtoras, instalavam dormitórios provisórios nas empresas ou se ajeitavam em barracos precários, as chamadas "invasões".

Caminhão transporta operários para obra em Brasília — Foto: Arquivo Público do DF/Fundo Novacap/Divulgação

A região recebeu o nome de "Cidade Livre" porque, na época, os administradores ofereciam a isenção de impostos para donos de empresas e negócio, como forma de estimular a vinda de comerciantes para Brasília.

As fotografias e documentos sobre os acampamentos e vilas de operários fazem parte do acervo do Arquivo Público do Distrito Federal. O material integra uma exposição virtual do órgão, em homenagem aos 61 anos de Brasília. No G1, uma série de reportagens conta fatos históricos e curiosidades desde antes da inauguração da capital. Confira:

Rua movimentada da Cidade Livre, em Brasília — Foto: Arquivo Público do DF/Fundo Novacap/Divulgação

'Zona livre'

Em tempos atuais, a Cidade Livre compreende as regiões administrativas do Núcleo Bandeirante, parte do Parkway, Candangolândia, e do Riacho Fundo.

Segundo documentos e fotografias históricas, a região era uma mistura de "cenário de velho oeste coberto de terra vermelha e construções de madeira". Pelas ruas, comércios serviam de ponto de encontro de moradores de todos os acampamentos que se formaram.

Era lá que se encontravam os serviços especializados, como oficinas mecânicas, marcenaria, estúdio fotográfico, agência bancária e a região boêmia, com bares e a chamada "zona de tolerância", como era chamada a região dos prostíbulos.

Na Cidade Livre, também funcionou o primeiro cinema da cidade, o Cine Bandeirante. O Cine Brasília, projetado por Oscar Niemeyer e construído na Asa Sul, viria anos depois.

Operários tomam café da manhã em Brasília — Foto: Arquivo Público do DF/Divulgação

Vista da Cidade Livre, em Brasília; em imagem de arquivo — Foto: Arquivo Público do DF/Fundo Novacap/Divulgação

Apesar da efervescência da área, em abril de 1960, começaram a surgir os boatos de desmontagem da Cidade Livre, por causa da inauguração da capital. Foi então que os moradores se organizaram e deram origem ao Movimento Pró-Fixação e Urbanização do Núcleo Bandeirante (MPFUNB).

Mesmo assim, ainda segundo informações do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1971, mais de 80 mil moradores das vilas próximas à Cidade Livre foram realocados para as cidades satélites, principalmente para Ceilândia.

'Lonalândia', hoje, Candangolândia

Já a "Lonalândia" foi erguida para abrigar os funcionários da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), criada em 1956. A empresa foi criada com o objetivo de planejar e executar o serviço de localização, urbanização e construção de Brasília, e que contava com cerca de 30 mil funcionários.

Acampamento da Novacap na 'Lonalândia', hoje, Candangolândia — Foto: Arquivo Público do DF/Divulgação

Com o passar dos anos, as barracas de lona – que deram origem ao nome – foram substituídas por casas de madeira e serviam de residência aos engenheiros e técnicos da empresa. A partir de então, passou a ser chamada de Vila Operária, ou Vila dos Candangos, hoje, Candangolândia.

Na região também havia um caixa-forte, um posto de saúde, hospital, posto policial, dois restaurantes, e uma escola. O comércio, no entanto, era proibido nesse acampamento. Os moradores tinham que se deslocar até a Cidade Livre para realizar as compras.

Motorista de caminhão em Brasília; em imagem de arquivo — Foto: Arquivo Público-DF/Divulgação

Em documentos do Arquivo Público do DF, consta como o presidente Juscelino Kubistchek descreveu o nascimento da Lonalândia.

"O General Lott, Ministro da Guerra, me emprestou 20 barracas do exército. Eu as instalei lá no planalto para abrigar os primeiros operários que iam abrir o campo de aviação."

Em 1959, a sede da Novacap foi transferida para o Plano Piloto de Brasília. As casas foram ocupadas por outros moradores, e a Vila Operária passou a ser chamada de Velhacap. O nome Candangolândia viria só mais tarde, para homenagear os operários da construção de Brasília.

Leia mais notícias sobre a região no G1 DF.

Como era a vida das pessoas que trabalhavam na construção de Brasília?

O cotidiano dos trabalhadores de Brasília era duro. Os operários trabalhavam das 6 horas da manhã até o meio-dia, faziam um intervalo de uma hora e depois encaravam novo turno até as 18 horas. Em alguns casos, trabalhavam 14, 15, 16 horas por dia.

Como era a vida dos candangos na construção de Brasília?

Os candangos trabalhavam sem qualquer proteção, e os acidentes de trabalho (alguns resultando em morte) eram muito comuns, especialmente as quedas dos prédios em construção.

Onde passaram a viver os trabalhadores que construíram Brasília?

Grande parte dessa população vivia em acampamentos da construção dos primeiros prédios de Brasília e a maioria na faixa etária de 20 a 40 anos. A origem predominante dos candangos era dos estados mais próximos: Goiás (23,3%), Minas Gerais (20,3%) e Bahia (13,5%).

Como eram conhecidos os trabalhadores que construíram Brasília?

Atualmente a palavra candango é utilizada para designar os trabalhadores que participaram da construção de Brasília e, por consequência, nomeia, também, os primeiros habitantes da cidade. No entanto, nem sempre a palavra teve esse significado, pois durante muito tempo foi utilizada de maneira depreciativa.