Como podemos conciliar o trabalho é a preservação da natureza?

Desenvolver uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, garantir a democratização das informações ambientais, estimular e fortalecer uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social, e incentivar a participação individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente. Estes são apenas alguns dos objetivos instituídos pela Política Nacional de Educação Ambiental, ações cada dia mais importantes devido ao avanço social.

Nesta semana, o g1 Presidente Prudente e Região traz uma série especial com seis reportagens exclusivas sobre a urbanização e os impactos ao meio ambiente, com dados referentes a aumento de imóveis; a integração entre natureza e população; educação ambiental; ocorrências envolvendo animais silvestres; compensação ambiental; e considerações do setor imobiliário.

Três fontes foram ouvidas pela reportagem sobre o tema da educação ambiental:

  • José Mariano Caccia Gouveia, professor doutor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Presidente Prudente, e especialista em sustentabilidade e biogeografia;
  • Júlio César Cacciari de Moura, capitão que responde pela 3ª Companhia da Polícia Militar Ambiental, com sede em Presidente Prudente; e
  • Laís Olbrick Rodrigues Menossi, engenheira florestal da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semea) de Presidente Prudente.

Os profissionais discorreram sobre a importância do conhecimento alinhado à preservação, da conciliação entre a preservação da natureza e a necessidade da sociedade, sustentabilidade e comportamento. Veja abaixo, em ordem alfabética, as considerações:

Professor doutor José Mariano Caccia Gouveia, da Unesp, é especialista em sustentabilidade e biogeografia — Foto: Stephanie Fonseca/g1

Somos parte de tudo

Voltar-se ao próprio quintal, à própria cidade. O professor doutor José Mariano Caccia Gouveia, da Unesp, que é especialista em sustentabilidade e biogeografia, destacou que deve haver preocupação com os problemas globais, mas é necessário também olhar para a realidade local.

“Percebe-se, sim, que em alguns nichos da sociedade existe um apelo para se pensar problemas globais. Então, é o aquecimento global, é o panda, é o mico-leão-dourado, mas a gente não enxerga a questão ambiental dentro do nosso quintal, na rua onde a gente mora”, comentou ao g1.

O especialista comentou que a consciência não deve ficar tranquila somente com doações a entidades ambientais, não uso de canudos plásticos e produção de bichinhos de garrafa pet, e salientou que, enquanto for feita uma educação ambiental “que nos coloca como alheios a tudo o que está acontecendo e não como parte de tudo o que está acontecendo, e aí é uma leitura pessoal, eu não acredito que possa se mudar radicalmente alguma coisa”.

“Por exemplo, vamos supor que seu vizinho jogue um tubo de televisor antigo dentro de um canal fluvial, que descarte lixo em qualquer esquina, você está favorecendo populações de organismos nocivos e descontrolados. Então, acho que falta uma prática mais eficaz. O potencial é grande, mas acho que inclusive é uma autocrítica. A educação, o que inclui universidades, mas também todos os níveis, está desperdiçando esse potencial todo, enquanto aceita passivamente essa visão simplista de um ambiente aonde uma pequena ação individual, é claro que é importante, mas enquanto a gente não focar no xis da questão, na forma como a gente está organizado em sociedade, na lógica do consumo, em volumes crescentes, a gente não resolve o problema ambiental, pelo contrário”, discorreu o professor doutor.

Pessoas jogam resíduos e lixos diversos em locais com área verde, que podem chegar a canais fluviais — Foto: Stephanie Fonseca/g1

Vontade política

No âmbito municipal, para ocorrer melhorias no setor, Gouveia acredita que o principal aspecto, de forma mais imediata e a “curtíssimo prazo”, é que haja um “despertar da vontade política”, tanto do Poder Executivo quanto do Poder Legislativo, para as questões ambientais.

“Pensar num zoneamento, num plano gestor que considere os problemas ambientais atuais, que prevejam os impactos futuros, que façam prognósticos, e que se antecipem em termos de orientar o uso da terra de uma forma mais adequada. Isso seria o mais urgente”, comentou.

Em termos de educação ambiental, o especialista acredita que “o primeiro passo seria a informação”.

“Informação no seu sentido amplo mesmo. Contextualizar por que essa prática é mais adequada a um ambiente mais equilibrado, à manutenção da vida e da biodiversidade, do que essa outra prática. Por que a biodiversidade é importante? Por que a impermeabilização do solo é ruim? Acho que o primeiro passo é a informação para depois se pensar, não com receitinhas prontas, não com bichinho feito de pet, não com sacolinha de supermercado; tudo isso são intervenções importantes, mas elas arranham a questão”, explicou.

Para o doutor da Unesp, a educação ambiental deveria ter um caráter “mais revolucionário” “em relação à forma como a nossa sociedade se relaciona com o ambiente que dá suporte à vida dessa sociedade, não só recursos financeiros, não só possibilidade de produzir e circular mercadorias, mas a própria vida, esse ar que a gente está respirando aqui”.

“‘Ah, mas a culpa é do homem que se relaciona com a natureza’. Não! Isso é individualizar uma responsabilidade. Nós interferimos no ambiente enquanto sociedade, e essa sociedade está organizada, segundo determinados parâmetros, que não consideram o ambiente nada além de uma fonte inesgotável de matéria-prima, o que é uma falácia, um engano terrível. Há de se mudar o olhar”, frisou ao g1.

Descarte irregular de lixo e de resíduos diversos é problema em Presidente Prudente — Foto: Stephanie Fonseca/g1

Intervenções

Sobre possibilidades de melhorias, Gouveia exemplificou que, em relação à gestão municipal, há intervenções simples, mas eficientes, que podem ser feitas para a redução do impacto ambiental e até mesmo de custos.

“Uma delas, por exemplo, é a questão da coleta seletiva. Completo 10 anos de moradia em Presidente Prudente e nunca presenciei uma campanha de conscientização, de educação, para a coleta seletiva. Quando existe essa prática, é muito por iniciativa dos próprios moradores, que quando chegam num bairro descobrem: ‘Ah, aqui a coleta seletiva passa no dia tal’, mas que informação? O que eu posso separar? Como tratar os resíduos que eu posso encaminhar para a reciclagem?”, comentou.

Outra sugestão de Gouveia é um sistema de coleta seletiva também para resíduos orgânicos. “Eu posso obter energia disso por compostagem, posso obter insumos para usar nas praças públicas para fertilização. E por que isso pode desonerar o município? Se eu tiver uma carga menor para mandar a 60 quilômetros de distância os resíduos aqui pagando por tonelada, isso vai desonerar talvez o suficiente para compensar essas campanhas de educação”, pontuou.

“No entanto, às vezes muda-se o dia da coleta sem qualquer comunicação à população, e é muito difícil você criar o hábito de alguém em casa ficar separando o lixo limpo do lixo orgânico, e é muito fácil perder essa prática. Então, você tem de conquistar os munícipes, os moradores, o que é difícil para criar o hábito pra separar, afinal de contas, dá um pouquinho de trabalho a mais, e é muito fácil perder esse aliado, é só você deixar duas, três semanas deixando acumular resíduos na casa da pessoa", disse.

De acordo com o especialista, “tem coisas que são simples”. “Claro que existe também uma questão de orientação, não apenas em termos de educação, mas também em termos de legislação e fiscalização”, destacou ao g1.

Descarte irregular de lixo e de resíduos diversos é problema em Presidente Prudente (SP) — Foto: Stephanie Fonseca/g1

Gouveia também lembrou os problemas com resíduos de obras de construção. “Quantos [resíduos] são largados aí nos terrenos baldios e melhoram as condições do paraíso dos escorpiões?”, questionou.

“Essa questão da impermeabilização do solo, do incentivo a pequenos pomares pra quem tiver espaço pra isso. São práticas que tornariam mais salubre o ambiente, a redução da ilha de calor, e tudo o que a gente falou aqui. Então, em relação ao poder público, sim, existem iniciativas. E nós temos outros municípios para entender como eles tratam a educação ambiental e tirar dali ideias que possam aplicar pro nosso. Não precisa criar nada novo, mas, se criar, é ótimo, é sempre bem-vindo”, argumentou.

Mas a responsabilidade não é só do Poder Público, a população também deve agir.

“Uma árvore na frente da sua casa não é sujeira, folha no chão não é sujeira, sujeira é, sim, a bituca de cigarro, a embalagem do refrigerante, a sacolinha plástica. Por quê? Porque folhas se decompõem, elas alimentam uma cadeia alimentar complexa. No entanto, a gente vê inclusive em locais do próprio Poder Público arborização sendo suprimida. ‘Ah, mas foi reposta’… Bom, temos de pensar também nas espécies, algumas são nocivas, haveria necessidade de educação, de um corpo técnico na Secretaria Municipal de Meio Ambiente que orientasse também os munícipes quando fossem pedir uma muda”, ponderou.

“Talvez uma ação mais no âmbito coletivo de comunidade, de associações de bairro, divulgarem mais a questão ambiental, buscarem problemas, buscarem soluções, pressionarem o poder público pra resolver problemas ambientais que são pontuais, e cada bairro, cada distrito vai ter sua individualidade”, comentou.

É possível melhorar fragmentos florestais em Presidente Prudente (SP), segundo o professor doutor — Foto: Maycon Morano/M2 Comunicação

Fragmentos

O professor destacou que é possível e deve-se acreditar que é possível melhorar os fragmentos florestais.

“Aqui na universidade a gente tem vários grupos, inclusive o meu, trabalhando com restauração florestal em áreas degradadas com o intuito justamente de melhorar a biodiversidade, de recuperar serviços ecológicos que estão afetando vários atributos do meio, desenvolvendo metodologias para melhorar a velocidade com que a regeneração acontece e isso já tem mostrado alguns resultados”, explicou.

Segundo Gouveia, algo “interessante no município, e isso deve ser ressaltado”, é a existência “de várias áreas de proteção ao longo dos cursos d’água que estão cercadas, que têm uma vegetação preservada, e eu acho que esse é um caminho”. “Isso, inclusive, talvez facilite a entrada desses organismos silvestres que vêm por essas áreas protegidas e acabam extrapolando esses limites”, disse.

Mata no campus da Unesp, em Presidente Prudente (SP), é estudada e restaurada por grupo transdisciplinar, que envolve professores de vários cursos — Foto: Stephanie Fonseca/g1

E, para o doutor, é possível reverter degradações. O especialista lembrou que na Unesp há um projeto de um grupo transdisciplinar, que envolve professores de vários cursos, para fazer um diagnóstico mais preciso da mata localizada no campus e identificar ameaças.

“A gente já tem um bom levantamento sobre isso e a ideia é já neste ano intervir no sentido de melhorar a velocidade com que esse fragmento está se regenerando, aumentando a diversidade, tanto de espécies vegetais, mas procurando atrair fauna, inclusive, aproveitando essa tendência da chegada de organismos silvestres”, esclareceu ao g1.

Existem alternativas variadas para o meio ambiente, “mas infelizmente elas ainda são poucas, pontuais, e raramente existem recursos financeiros para isso”. “Não há subsídios para essas políticas da mesma forma que há subsídios para o desenvolvimento de atividades predatórias. Essas têm subsídios, independentemente de quais sejam”, relatou.

“O agir enquanto indivíduo é importante. Fique claro que cada pequena atitude é importante. Esse mês a gente deve estar chegando a um total de 8 bilhões de terráqueos. Se você pegar um papel de bala pra cada um, são 8 bilhões de papéis de bala que não vão pro chão, que vão virar microplástico, que não vão contaminar leite materno; faz uma diferença. Mas é claro que a petrolífera que produziu esse plástico, que produziu a matéria-prima pra isso, gerou uma quantidade de resíduos muito maior”, salientou.

Conforme acrescentou ao g1 o professor doutor, “ações individuais são boas pelo que elas representam em termos de economia de energia, de recurso, de redução do impacto, mas talvez sejam mais importantes como exemplo”.

“Não é questão do ‘minha parte eu estou fazendo e dane-se o resto’. A questão é ‘minha parte eu estou fazendo e talvez tenham pessoas que estejam percebendo isso e que também queiram fazer a sua parte’. Incentivo. E fazer com que essas pessoas percebam que não estão sozinhas, porque tem um pouco disso também, a gente se sente um pouco isolado nas nossas iniciativas. Essa é minha parte otimista. Acho que há, sim, uma tendência, a criação de uma consciência coletiva, porque se for pra esperar do estado, do sistema, uma revolução nisso, não vai acontecer” finalizou.

Capitão Júlio César Cacciari de Moura, que responde pela 3ª Companhia da Polícia Militar Ambiental — Foto: Stephanie Fonseca/g1

Mudança de comportamento

A educação ambiental é dever de todos, mas principalmente dos órgãos públicos relativos à proteção ambiental, conforme declarou ao g1 o capitão Júlio César Cacciari de Moura, que responde pela 3ª Companhia da Polícia Militar Ambiental, com sede em Presidente Prudente.

“Hoje, com legislações específicas em nível federal ou estadual sobre políticas públicas relativas à educação ambiental, isso passou a ser uma imposição de política governamental para que os entes públicos realizem atividades de educação ambiental. Não é uma faculdade, não é uma possibilidade do órgão público em realizar atividade de educação ambiental, é um dever”, destacou o oficial.

O capitão ainda salientou que tenta sempre colocar nas atividades uma vertente de educação que é básica, e que carrega em sua vida: “Educação ambiental é mudança de comportamento”. “Se quiser ter uma atividade de educação ambiental, tem de ter mudança de comportamento, de curto prazo, médio e longo prazo”, destacou.

Atividades de educação ambiental contam com animais taxidermizados — Foto: Polícia Ambiental

Moura comentou que a Polícia Militar Ambiental, em Presidente Prudente e na região, realiza atividades educativas. As ações contam com um trailer com materiais relativos ao tema e há previsão de que uma embarcação também seja utilizada para a finalidade, bem como parcerias com universidades para exposição dos animais taxidermizados.

“Quando nós trazemos uma criança para verificar um animal empalhado, ou vamos até uma escola e realizamos uma exposição, nós tentamos explicar para aquela criança que aquele animal morreu vítima de caça, que aquele animal morreu vítima de atropelamento por não seguir uma norma que determina a velocidade em que se deve trafegar por uma via, tentamos colocar todas essas situações”, contou.

Polícia Ambiental leva orientações e informações sobre fauna e flora para crianças, adolescentes e adultos — Foto: Polícia Ambiental

Mas o foco não é somente a fauna. “Tentamos explicar que aquele xaxim que a avó dele tinha, onde ela plantou uma samambaia, aquele vaso é o tronco de uma árvore e ele foi segmentado e utilizado, e que essa árvore, por ser tão utilizada para fabricação de xaxim, levou à extinção esse exemplar. Então, hoje, vender xaxim, comercializar xaxim configura crime, porque as pessoas não souberam preservar”, acrescentou ao g1.

A corporação busca fazer com que crianças, adolescentes e adultos que participam das atividades saiam da conversa “com uma mudança de comportamento”. “Isso para nós significa educação ambiental”, disse.

“Nós podemos dizer sobre vários aspectos sobre cuidar da vida. Cuidar da vida é, sem dúvida, algo fantástico. Mas, quando a gente trata de cuidado com o meio ambiente, a gente trata de cuidado com a existência, e nós observamos que a falta desse cuidado com a existência do ser causa impactos muito significativos, e muitas vezes esses impactos são sentidos por comunidades às vezes de baixa renda, áreas mais isoladas”, frisou o capitão.

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Urbanização, preservação e educação

O oficial expôs que “questões relativas a avanço social vão continuar, não vão ser freadas, mas a preservação também é possível não ser freada”. “É possível caminhar junto nisso, sem dúvida!”, afirmou.

“Vivemos num planeta capitalista e ter lucro é a ferramenta, talvez, ou o objetivo mais importante de qualquer negociação, de qualquer existência, mas a preservação tem de caminhar nesse sentido, e cabe aos órgãos públicos levar pra esse pessoal, pra toda essa sociedade, a consciência de educação, da importância disso ser colocado, mas também conciliar ela com esse avanço financeiro, capitalista, ocupacional, populacional, de necessidade humana. Nós trabalhamos com a necessidade da natureza, mas ela deve ser a todo tempo combinada e conciliada com a necessidade humana. As pessoas têm necessidades”, ressaltou.

Ao entrar no aspecto da urbanização, o oficial lembrou que há uma necessidade de um bom planejamento para que não ocorram situações como a de Petrópolis, no Rio Janeiro. Desde o último mês de fevereiro, inundações, desabamentos e quedas de barreiras já provocaram mais de 200 mortes e deixaram várias áreas da cidade destruídas.

“É um erro de urbanização, são áreas que naturalmente sofrem processos de deslizamento, e ali não é local pra construção habitacional. Como se diz na gíria: a conta vai chegar. A conta vai chegar porque é uma ocupação ilegal, uma falta de saneamento, uma falta de estrutura; quando ocorre uma catástrofe, as dificuldades aparecem todas, aquilo tudo que estava numa aparente tranquilidade se torna, em questão de segundos, um caos. Você tem rios que não suportam a quantidade de vazão hídrica, você tem uma coleta de lixo que não é suficiente, você tem um projeto de urbanização que não contempla áreas para permear águas de chuva; de repente, vem uma enchente, tudo isso que estava escondido ou que era apenas um detalhe passa a ser um problema gigantesco”, comentou.

Polícia Ambiental realiza atividades diversas para mudança de comportamento em relação à natureza e suas formas de vida — Foto: Stephanie Fonseca/g1

Contato produtivo

Atualmente, segundo o capitão, a Polícia Ambiental consegue levar para dentro das escolas palestras e atividades de educação ambiental através de projetos de inclusão de crianças, adolescentes e adultos.

Além dos animais taxidermizados, a corporação reúne animais que são apreendidos nas atividades de Polícia Ambiental e os leva até as crianças, que talvez tenham tido o primeiro contato com um animal silvestre num ato de apreensão.

“A criança nos conta que já teve passarinho, então, o primeiro contato que ela teve foi uma atividade degradadora da natureza. Agora a gente tenta levar até ela uma atividade em que ela vai fazer uma soltura de um animal. Então, esse próximo contato que ela vai ter vai ser um contato produtivo, um contato de incremento nas questões de proteção ambiental, seja soltura de animal, plantio de árvores, soltura de alevinos”, argumentou ao g1.

“Todas essas atividades que lhe possibilitem ter uma nova visão sobre aquela ideia inicial de que da natureza podia tirar tudo”, frisou.

Aves apreendidas pela Polícia Ambiental são levadas para solturas junto a crianças — Foto: Stephanie Fonseca/g1

Com a atual quantidade de pessoas que vivem no planeta, “o extrativismo não é mais possível, nós não conseguimos viver apenas extraindo da natureza”. “Então, tem de cultuar esses hábitos de pesca e soltura, os hábitos relativos a animais em cativeiro, todos esses hábitos nós temos de tentar relembrar a toda a população e fazer essa mudança de comportamento”, afirmou ao g1.

“O primeiro fator que nós vamos ver nisso, o fator imediato, é aquela mudança clássica de não jogar um lixo na rua, de não armar o alçapão, uma armadilha para pegar um animal. A segunda, a terceira, que são as medidas de longo e médio prazos, vamos sentir com o longo do tempo”, comentou.

Atividades de educação ambiental realizadas pela corporação visam a conscientização e mudança de comportamento — Foto: Polícia Ambiental

Entre as mudanças a longo prazo, estão a possibilidade de observar bandos de papagaios voando em área urbana, assim como canários-da-terra, coleirinhos e sabiás, entre outras espécies.

“É algo que há 20, 30 anos não presenciávamos aqui na região de Presidente Prudente. Então, não podemos entender isso somente como um animal ocupando a área urbana, mas, sim, muitas vezes, inúmeras delas, esses animais vêm aumentando a sua quantidade”, explicou ao g1.

Outro exemplo que maravilha as pessoas são os tucanos, “animais que raramente eram vistos, por conta de predação, por conta de tráfico ilegal”.

“Essa preservação, esse aumento que possibilitou tudo isso. Para nós, é resultado de uma maior consciência e de uma maior educação, que, como reafirmo, educação é mudança de comportamento”, destacou.

Conciliação

“A Polícia Ambiental e toda a sociedade têm uma tarefa muito desafiadora, que é conciliar desenvolvimento com preservação e sustentabilidade”, afirmou Moura ao g1.

O oficial esclareceu que sustentabilidade não é uma palavra só relativa à natureza.

“Sustentabilidade é tornar algo que hoje é presente possível para as futuras e próximas gerações. Isso é sustentável, é tornar algo possível para que o outro possa ver. E é isso que toda a Polícia Ambiental, todo o serviço de proteção ambiental aqui na região vêm tentando buscar, fazer com que as próximas gerações tenham a oportunidade, o privilégio, o prazer de viver num ambiente saudável, com preservação, e possível de ser visto tudo aquilo que nós estamos hoje vivendo, e corrigindo aqueles erros que ocorreram no passado”, salientou.

Engenheira florestal Laís Olbrick Rodrigues Menossi, da Semea, defende a importância de conhecer os animais para auxílio na conservação — Foto: Arquivo Pessoal/Laís Menossi

Conhecer para conservar

Há quem veja a natureza como problema, e por isso as ações de educação ambiental são importantes, conforme contou a engenheira florestal Laís Olbrick Rodrigues Menossi, da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semea) de Presidente Prudente.

“A gente percebe que as pessoas não têm uma ligação muito forte com a natureza, elas veem mais como um intruso. ‘Ah, aquele fragmento é um intruso e está me causando problema’”, relatou ao g1.

A profissional relatou que a pasta ambiental do município recebe muitas reclamações de pessoas que residem em locais que foram urbanizados próximos de Áreas de Preservação Permanente (APPs). “As pessoas reclamam, elas veem como um problema a mata estar próxima e os animais da mata estarem interagindo um pouco”, disse.

“Tem uma divisão ‘eu aqui e a floresta lá’, não tem uma interligação, não vê como parte, [as pessoas] não se veem como parte da natureza, e isso é um problema”, acrescentou ao g1.

Produção de mudas de árvores nativas ocorre no Horto Florestal de Presidente Prudente (SP) — Foto: Stephanie Fonseca/g1

Sobre os incômodos com a mata e os animais, Laís ainda comentou que em alguns locais e ocasiões o descarte de lixo influencia.

“Vejo como muito importante um trabalho de aproximação das pessoas do elemento natural. Por exemplo, aqui a gente recebe ligação e já orienta e explica sobre as funções do morcego, porque ele é importante, pra polinizar, dispersar sementes… Então, trazer essa informação, ter essa proximidade, ter esse contato, é muito importante”, destacou.

Conforme exemplificou a engenheira florestal, ações de contato com os animais podem ser realizadas no Parque Ecológico da Cidade da Criança, onde as pessoas podem conhecer e ver animais silvestres. “Talvez conhecendo você tenha mais probabilidade de querer conservar, de querer cuidar daquilo que você já conhece”, falou.

“Então, é ‘conhecer para conservar’, a gente fala”, frisou.

Também há a Semea e o Horto Florestal, onde há o viveiro de mudas de árvores. Alunos de escolas da cidade fazem visitas ao espaço e são apresentados à vegetação e à produção de mudas, além de receberem informações sobre a fauna, interações, a importância da área verde para as aves e para os animais em geral.

Horto Florestal recebe escolas e orienta sobre flora e fauna — Foto: Maycon Morano/M2 Comunicação

"O mais importante é conhecer, ter esse conhecimento, essa informação, e ver [o animal] quando é possível. Quando a gente tem zoológicos e os animais mais próximos, para a criança principalmente, pra [ela] ver e entender que aquele animal precisa ser conservado e cuidado também”, explicou ao g1.

Laís esclareceu que, em grande parte das vezes, o foco é direcionado às crianças, pois é um público que recebe melhor as informações. A situação, segundo ela, é percebida por pessoas que trabalham com educação ambiental e a dimensão humana da ecologia.

“Tem até alguns estudos, na área de caça com onça, que eles perceberam que não adiantava muito conversar com as pessoas que estavam caçando e matando as onças, o que estava adiantando mais era conversar com as crianças, ensinar as crianças a serem amigos da onça, a não compactuarem com a caça, porque muitas vezes o adulto caça porque quer mostrar aquele troféu; então, quando ele não tem aprovação da família, dos filhos, ele vai começar a ver aquilo de uma forma diferente. É sempre mais fácil trabalhar com as crianças”, finalizou ao g1.

Horto Florestal recebe escolas e orienta sobre flora e fauna — Foto: Stephanie Fonseca/g1

Outro lado

Por meio de nota, a Companhia Prudentina de Desenvolvimento (Prudenco) informou ao g1 que frequentemente realiza ações de conscientização junto à população sobre a importância do descarte correto e adequado do lixo doméstico.

“Além dos benefícios ao meio ambiente, quem ganha também é a própria população, pois facilita as rotinas de coleta de lixo, podendo assim oferecer uma prestação de serviços mais eficaz”, disse.

“A população ajuda assim também os catadores e cooperados da Cooperlix [Cooperativa de Trabalhadores de Produtos Recicláveis de Presidente Prudente]”, acrescentou.

Ainda de acordo com a Prudenco, as ações são realizadas por meio de redes sociais, panfletagens e carros de som.

Entre as ações, a companhia citou o Projeto Reciclagem, lançado em 11 de março, com parceria entre a Prefeitura de Presidente Prudente e alguns condomínios residenciais. O projeto disponibiliza lixeiras ecológicas para o descarte de recicláveis, que posteriormente serão entregues à Cooperlix.

Quanto a datas e horários de coleta de lixo comum, a Prudenco informou que o cronograma está disponível no site.

Já a coleta seletiva é de responsabilidade da Cooperlix. Ao g1, a cooperativa informou que, “geralmente o cronograma não muda” e explicou que as datas são divididas por setores. “A coleta seletiva passa uma vez por semana nos bairros”, afirmou.

O cronograma pode ser conferido na internet.

“A gente só não faz a coleta quando é feriado e não vêm os caminhões da Prudenco. Aí a gente trabalha no barracão”, explicou a cooperativa.

Em relação a ações de conscientização e educação ambiental, a Cooperlix esclareceu que já foram realizadas em diversas ocasiões, mas estão suspensas em razão da pandemia da Covid-19. Há previsão de retorno, mas ainda sem data definida.

Conciliação entre natureza e sociedade é parte do processo de urbanização — Foto: Stephanie Fonseca

VÍDEOS: Tudo sobre a região de Presidente Prudente

Como podemos conciliar o trabalho e a preservação da natureza?

O Brasil tem de estimular uma agricultura sustentável, o incremento de ferrovias e hidrovias e o uso de energias alternativas como a eólica e a biocombustível. Além dessas medidas, é importante investir em saneamento básico, já que o esgoto sem tratamento é considerado um problema ambiental grave.

É possível conciliar consumo e preservação ambiental?

É possível e desejável termos simultaneamente crescimento econômico e preservação ambiental, como sugeriu o Presidente em Davos. Isso, aliás, é a essência da Economia, pois seu papel é equacionar nossas necessidades ilimitadas com a finitude dos recursos.

Como podemos conciliar as atividades humanas com a conservação de espécies?

É preciso internalizar o projeto e sentir os benefícios para querer mudar a forma de relação com a natureza. A aceitação das regras se dá quando a comunidade entende que a proteção de determinada área ou recurso natural pode garantir renda ao local e a ela diretamente.””

Por que é importante conciliar as atividades no campo com a conservação do meio ambiente?

Os ecossistemas simplificados e intensamente manejados das lavouras reduzem a diversidade ambiental e favorecem o desenvolvimento de pragas. A compreensão do efeito das atividades humanas nas populações de animais de uma maneira geral é ainda bastante superficial.