Meu filho corre de um lado para outro

É possível identificar alguns traços dos distúrbios do espectro já em bebês

Muitos pais se preocupam com alguns pontos do desenvolvimento da criança e com o aumento da incidência do Transtorno do Espectro Autista, que já afeta 70 milhões de pessoas em todo o mundo. Mas o diagnóstico do TEA é algo delicado porque o distúrbio se manifesta em diferente níveis de intensidade em cada portador. Além disso, alguns sintomas tipicamente associados ao autismo podem ser vistos em crianças com outras desordens de desenvolvimento.

Abaixo, listamos alguns comportamentos que são indícios importantes de serem observados. Alguns destes traços se manifestam nos primeiros meses de vida, e no geral é possível fazer um primeiro diagnóstico em bebês de 18 meses. No entanto, vale lembrar que, em caso de suspeita de autismo, é importante que a criança seja avaliada por uma equipe médica multidisciplinar para averiguar o caso e estabelecer o tratamento adequado.

O autismo provoca alterações no comportamento e nas habilidade sociais e de comunicação

Alterações sociais

  • Resiste aos carinhos; vira-se de costas ou se afasta;
  • Faz pouco ou nenhum contato com o olhar;
  • Mostra pouca ou nenhuma expressão em resposta ao sorriso da mãe ou do pai;
  • Pode evitar seguir o olhar ou acompanhar o dedo de um adulto que está pai está apontando;
  • Não aponta para objetos ou eventos para mostrar ou chamar a atenção dos pais;
  • Raramente traz objetos para mostrar com o intuito de compartilhar o seu interesse;
  • Raramente mostra expressões faciais apropriadas à situação vivenciada;
  • Dificuldade em reconhecer o que os outros podem estar pensando ou sentindo ao ver as suas expressões faciais;
  • Menos propensos a demonstrar preocupação (empatia) com os outros;
  • Dificuldade em estabelecer e manter amizades.

Alterações de Comunicação

  • Demora para iniciar a falar. Aos 18 meses, uma criança com TEA pode não fazer tentativa alguma para compensar o atraso da fala (com gestos ou expressões faciais) ou pode se recusar a falar;
  • Pode repetir exatamente o que os outros dizem, mas sem compreender o seu significado (repetição ou ecolalia);
  • Responde aos sons (como uma buzina de carro ou miado de um gato), mas são menos propensos a responder quando chamado pelo nome;
  • Pode referir-se a si mesmo como “você” e aos outros como “eu” (inversão pronominal);
  • Raramente inicia ou mantém uma conversa;
  • Menos propensos a usar brinquedos ou outros objetos para representar pessoas ou a vida real em brincadeiras;
  • Pode ter uma boa memória, especialmente com os números, músicas, jingles de TV, ou um tópico específico.

Alterações Comportamentais (Estereotipados, repetitivos e padrões restritos)

  • Pode balançar o tronco, fazer rotação, girar os dedos, ou bater as mãos (comportamento estereotipado);
  • Gosta de rotinas, ordem e rituais;
  • Pode ser obcecado com algumas atividades, fazendo-as repetidamente durante o dia;
  • O mais provável é que brinque com partes de brinquedos em vez de usar o brinquedo todo (por exemplo, rodas de um carrinho);
  • Pode ter habilidades dissidentes, como a capacidade de ler em uma idade precoce, mas muitas vezes sem entender o que isso significa;
  • Não chora quando sente dor ou parece não ter qualquer medo;
  • Pode ser muito sensível ou insensível a estímulos sensoriais: cheiros, sons, luzes, texturas e toque;
  • Pode fazer uso incomum da visão, como por exemplo, olhar para os objetos a partir de ângulos incomuns;
  • Pode ter interesses incomuns ou intensos, mas restritos.

Para entender mais sobre as características do autismo, veja a nossa cartilha. E se você precisa de ajuda profissional especializada, consulte a nossa lista de Instituições de Apoio em todo Brasil.

Normalmente as famílias me procuram porque seus filhos estão apresentando alguma dificuldade com sua alimentação. Em muitos casos essa “dificuldade” faz parte de um quadro bem maior, que envolve todo o desenvolvimento da criança.

Um dos aspectos bastante frequentes e que costuma interferir em toda a rotina e bem estar da criança e da sua família são as alterações no Processamento Sensorial.

Embora frequente na criança com dificuldade alimentar, poucos profissionais sabem identificar precocemente, o que dificulta ainda mais o diagnóstico e tratamento, agravando ainda mais o problema. Muitas crianças são rotuladas como “birrentas”, difíceis ou “mimadas” e impossíveis de serem controladas. Muitas famílias restringem seu convívio social por não conseguirem controlar os comportamentos inadequados dos seus filhos. Muito desses comportamentos tido como incontroláveis, a agitação ou apatia frente a determinadas situações da vida diária, podem ser sinais de alteração do processamento sensorial.

Pontuamos 10 sinais e sintomas que consideramos importantes serem observados quando se suspeita de uma dificuldade sensorial.

1. Dificuldade com tarefas de cuidados pessoais, mais especificamente como escovar os dentes, cortar o cabelo, as unhas, lavar os cabelos e o corpo. Estou falando aqui de realmente não gostar, uma aversão significativa… tamanha que podem ser necessários vários adultos para segurar uma criança para que suas unhas sejam cortadas. A família pode até ter parado de tentar cortar os cabelos da criança ou dar um banho de banheira, porque a criança nesses casos tem seu comportamento muito alterado, ficando nervosa, agitada e muitas vezes incontrolável quando exposta a essas situações.

2. Criança seletiva para comer. Recusar certas comidas pela textura (cremosa / crocante/ com grumos) ou resistir a certos sabores e temperaturas. Infelizmente, este ponto pode ser difícil, porque muitas crianças são seletivas. Mas mais uma vez, estamos falando de dificuldades significativas para comer, do tipo que faz com que a rotina da família e/ou a nutrição da criança seja(m) afetada(s). Podemos ver uma criança só querendo comidas crocantes (biscoitos, chips…) ou que não come comidas com várias texturas diferentes, como um pão com patê. Às vezes, algumas crianças têm a tendência a só aceitar alimentos de uma determinada cor, ou marca e/ou formato específico. Outras crianças podem resistir a certas temperaturas (só aceitam o alimento a uma determinada temperatura, ou quente ou frio, ou ainda apenas em temperatura ambiente).

3. Extrema dificuldade em ter o rosto ou as mãos sujas durante brincadeiras ou durante o momento da alimentação. Ouço pais dizerem “Se ele suja as mãos de comida, ele fica reclamando e chacoalhando as mãos até que eu as limpe”. Essas crianças também podem resistir a aceitar alimentos na forma de purê ou cremosa.

4. Não gostar de brincar com areia, de passar loções na pele ou usar roupas feitas com certos tipos de tecido. Frequentemente, crianças com sensibilidade tátil ou defensividade tátil, evitam atividades onde substâncias/coisas fiquem grudadas às suas mãos. Essas atividades (pintura com dedo, brincar na areia ou com creme de barbear) geram inputs táteis, que são mais difíceis de serem interpretados pela criança com dificuldade sensorial.

5. Demonstrar medo quando são movimentadas para trás em atividades diárias e ou lúdicas. Estes comportamentos podem ser indicadores que estas crianças não entendem sua relação com a gravidade como resultado de um processamento vestibular ineficiente. Frequentemente, essas crianças têm um histórico de relutar para trocar a fralda, enxaguar o cabelo no banho e/ou brincar no parque com determinados brinquedos.

6. Demonstrar medo ao ter os pés retirados do chão (brincar no balanço, de cavalinho, descer do meio-fio). Mais uma vez, estes são comportamentos que podem indicar que a criança não está processando adequadamente os inputs de movimento vestibular e que ela não entende a diferença de estar em um degrau de 10 cm e uma trava olímpica de 120 cm de altura.

7. Escalar/ pular/ cair constantemente a ponto de a criança ter dificuldade em ficar parada para completar uma atividade simples e apropriada para sua idade. Este ponto também pode ser difícil de interpretar porque é esperado que crianças mais novas ainda estejam aprendendo a parar e realizar atividades recreativas simples. Então, o que estamos buscando ver, é uma criança que procura tanto se movimentar que ela tem uma dificuldade significativa em realizar uma atividade sentada por mais de 1 ou 2 minutos. Nós também estamos buscando ver se essa criança tem dificuldade em permanecer sentada à mesa no momento da refeição, se ela se afasta da família com frequência quando em lugares públicos e sobe/escala móveis da casa demasiadamente.

8. Procurar girar, balançar ou realizar outras atividades se movimentando excessivamente. Estes tipos de comportamento podem indicar que a criança tem um input de processamento vestibular ineficiente e como resultado, tem uma necessidade extra de se movimentar para tentar modular seu nível de agitação. Perceba se a criança gosta de ficar girando em círculos, ficar correndo no tapete da sala ou dirigindo ao redor de algo com brinquedos, com uma “motoquinha”, por exemplo.

9. A criança apresenta dificuldade para permanecer sentada por longos períodos de tempo. Crianças com processamento vestibular ineficiente muitas vezes possuem baixo tônus muscular. Nós descrevemos estas crianças como tendo aparência hipotônica e parecem movimentar suas articulações além do normal.

10. Dificuldade com transições e com o sono, às vezes podem ter relação com processamento sensorial ineficiente. Essas crianças podem ter problemas em filtrar todas as informações sensoriais recebidas do ambiente, assim como dos seus próprios corpos. Nós chamamos esta habilidade de autoregular nosso nível de agitação, de “modulação”. Crianças com dificuldade de modulação frequentemente têm dificuldade de se acalmar, têm acessos de birra/raiva , têm dificuldade de permanecerem adormecidos e têm dificuldade em transacionar entre tarefas e atividades.

Texto adaptado pela Fga. Patrícia Junqueira (CRfa. 5567), publicado originalmente aqui.

Quando descartar o autismo?

Atrasos na fala, problemas auditivos ou outros atrasos no desenvolvimento, como dificuldades de linguagem, fala ou audição podem ser confundidos com autismo. Assim como dificuldades motoras finas, de interação social e habilidades de pensamento prejudicadas também podem.

O que um bebê com autismo não faz?

Bebê não emite nenhum som comunicativo: O autismo tem como base a dificuldade na comunicação, e desde o início os bebês com TEA podem ter essa dificuldade de troca, seja através do olhar, balbulcios, gestos e palavras.