A soja, sendo uma Leguminosa, também é uma planta nodulífera, pois as raízes, além de exercerem as funções normais de ancoragem física, absorção de água e nutrientes, podem estabelecer relação simbiótica com espécies de bactérias capazes de fixar o nitrogênio (N2) presente no ar do solo. Show Estima-se que o processo biológico contribua com cerca de 65% de todas as entradas de nitrogênio, sendo o maior provedor desse nutriente para a manutenção de vida na Terra. No caso da soja, o processo de fixação biológica do N2 ocorre pelo estabelecimento de uma relação simbiótica, principalmente com bactérias que estão classificadas no gênero Bradyrhizobium e nas espécies Bradyrhizobium japonicum e Bradyrhizobium elkanii. Além disso, existe grande variabilidade dentro de cada uma dessas duas espécies, com diferentes propriedades morfológicas, fisiológicas e genéticas, que passam a ser classificadas como estirpes (ou cepas) distintas, o que, em termos comparativos, equivaleria a variedades/cultivares de plantas, ou raças de animais, ou raças de patógenos. Formação do nóduloA formação de um simples nódulo resulta de um processo altamente complexo, envolvendo múltiplas etapas. Ocorre então um verdadeiro diálogo entre a bactéria e a planta hospedeira, envolvendo a ativação de vários genes e desencadeando processos específicos que permitem, à bactéria, penetrar na raíz até resultar na formação de uma estrutura específica na planta, o nódulo, cuja função é alojar a bactéria e permitir que ela realize, em condições adequadas, o processo de fixação biológica do N2. (A) Eventos envolvidos na iniciação do nódulo: (1) excreção de substâncias pela raízes; (2) essas substâncias atraem os rizóbios e os estimulam a produzir fatores de divisão celular; (3) as células no córtex da raiz se dividem para formar o meristema do nódulo primário. (B) Estágios de infecção e formação de nódulos: (4) bactérias se fixam no pêlo radicular; (5) células no periciclo próximo aos pólos do xilema são estimuladas a se dividir; (6) o filamento de infecção se forma e se estende para dentro à medida que o meristema do nódulo primário e o periciclo continuam a se dividir; (7) as duas massas de células em divisão se fundem em um único aglomerado enquanto o fio de infecção continua a crescer; (8) o nódulo se alonga e se diferencia, incluindo a conexão vascular com o estelo radicular. Os bacteróides são liberados nas células centrais. – Fonte: Taiz e Zeiger, 2017 Entretanto, têm surgido questionamentos quanto à capacidade da FBN em atender às exigências de nitrogênio (N) para altas produtividades agrícolas da cultura da soja no Brasil, induzindo-se ao raciocínio errôneo de que a soja deve receber adubação nitrogenada mineral suplementar, visando suprir a suposta deficiência do sistema FBN. Mas será que essa suposta deficiência da FBN não é resultado de várias e complexas interações, tais como deficiências dos sistemas de produção, deficiência hídrica, de manejo, de falta de tempo para inocular devido à dimensão da escala de plantio e até mesmo, deficiência de conhecimento? Ver a plantação “verde” é uma das principais preocupações do produtor logo após a implantação da lavoura de soja, e por muitos anos, a recomendação de uma “dose de arranque” de N, de 10 a 30 kg de N ha-1 foi estimulada. A aplicação de uma pequena dose de N mineral no momento da semeadura é suficiente para que uma “mensagem” seja enviada à planta, de que “não precisa se preocupar em fazer mais nódulos, pois aqui há N suficiente para o seu crescimento”. Assim, a soja não tem como saber que aquele N é apenas temporário e, então, desacelera o processo de formação de novos nódulos. Quando a planta “percebe” que o N acabou, reinicia a formação de nódulos, mas isso pode demorar alguns dias, trazendo prejuízos ao desenvolvimento da cultura. Além disso, as raízes da soja crescem rapidamente e somente os segmentos radiculares novos são suscetíveis à formação de nódulos, e por apenas um período de poucas horas. Desse modo, a presença de N mineral, ou de qualquer fator inibitório da nodulação resultará, irreversivelmente, na falta de nodulação no segmento radicular fisiologicamente apto naquele momento. Esquema de como ocorre a fixação biológica – Fonte: CropLife Brasil Considerações finaisVários fatores são responsáveis pela formação eficiente de todo mecanismo de FBN, por isso o produtor precisa estar atento e seguir todas as orientações técnicas em relação à utilização da inoculação na sua lavoura de soja. Além do mais, o inoculante é um insumo barato, e com a globalização do mercado, a diferença entre agricultores bem ou mal sucedidos estará em pequenos incrementos no rendimento e na redução do custo da produção. Além disso, para se manter no mercado e preservar o valor de sua terra, o agricultor não pode ser imediatista. Assim, poderá ser retirado N do solo durante algumas safras mas, com o empobrecimento do solo, as produtividades cairão. A longo prazo, evitando o uso indiscriminado de fertilizantes nitrogenados, o agricultor estará contribuindo para a preservação do solo em sua propriedade. Para ajudar na tomada de decisão e aumentar a sua rentabilidade, conheça a DigiFarmz. Nosso propósito é contribuir significativamente no aumento da produção agrícola, com redução de custos e do impacto ambiental, através da inteligência de dados. Referências BibliográficasCÂMARA, G. M. S. Fixação biológica de nitrogênio em soja. Informações agronômicas, n. 147, p. 1-9, 2014. HUNGRIA, Mariangela; CAMPO, Rubens José; MENDES, I. de C. Fixação biológica do nitrogênio na cultura da soja. Embrapa Soja-Circular Técnica (INFOTECA-E), 2001. REIS, Veronica Massena; TEIXEIRA, KR dos S. Fixação biológica de nitrogênio-estado da arte. Processos biológicos no sistema solo-planta: ferramentas para uma agricultura sustentável. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, v. 28, p. 350-68, 2005. DÖBEREINER, Johanna. A importância da fixação biológica de nitrogênio para a agricultura sustentável. Biotecnologia Ciência, p. 2-3, 1997. BOHRER, Temis Regina Jacques; HUNGRIA, Mariangela. Avaliação de cultivares de soja quanto à fixação biológica do nitrogênio. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 33, n. 6, p. 937-952, 1998. HUNGRIA, Mariangela; NOGUEIRA, Marco Antonio. Fixação biológica de nitrogênio. Embrapa Soja-Capítulo em livro científico (ALICE), 2020. O que é o processo de fixação do nitrogênio?O que é fixação biológica de nitrogênio (FBN)
É o processo por meio do qual o nitrogênio (N2) presente na atmosfera é convertido em formas que podem ser utilizadas pelas plantas. A reação é catalisada pela enzima nitrogenase, que é encontrada em todas as bactérias fixadoras.
Quem faz a fixação do nitrogênio?O nitrogênio atmosférico deve passar por um processo natural chamado fixação biológica de nitrogênio, realizado por bactérias. As mais famosas e utilizadas são as dos gêneros Rhizobium e Bradyrhizobium, que transformam o N em uma forma que pode ser usada na nutrição das plantas.
Onde ocorre a fixação do nitrogênio?A Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) é um processo natural que ocorre em associações de plantas com bactérias diazotróficas.
Como é feita a fixação industrial do nitrogênio?Fixação Industrial. Sob alta temperatura e pressão, ocorre a ligação entre nitrogênio e hidrogênio, formando a amônia (NH3). Este processo é conhecido como Haber-Bosch, ponto de partida para a fabricação de diversos produtos para agricultura e indústria.
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