Primeiro transplante de coração de porco para um ser humano realizado nos EUA

De  Rodrigo Barbosa  com Lusa  •  Últimas notícias: 12/01/2022

Primeiro transplante de coração de porco para um ser humano realizado nos EUA

Direitos de autor  AP/AP

É uma estreia mundial: um norte-americano de 57 anos recebeu um transplante de um coração proveniente de um porco geneticamente modificado.

A operação foi realizada por uma equipa do Centro Médico da Universidade de Maryland, que recebeu uma autorização especial da agência reguladora norte-americana, face ao caráter terminal do paciente, David Bennett.

Em comunicado, Bennett disse que decidiu submeter-se à cirurgia pois a alternativa era morrer e "era a [sua] última hipótese", já que ele não era elegível para o transplante de um coração humano.

Bartley Griffith, cirurgião do Centro Médico da Universidade de Maryland:"É significativo porque não uma fonte de substitutos para orgãos humanos. [...] Há pessoas que, devido à escassez de corações humanos, não são incluídas nas listas de transplantes, devido à idade e outras razões."

A operação, que durou sete horas, foi realizada na passada sexta-feira.

Apesar de não ter havido rejeição imediata e do paciente estar, segundo os médicos, a recuperar bem, será preciso ainda esperar antes de declarar a cirurgia como um sucesso que, poderá assim, mudar e salvar vidas no futuro em todo o mundo.

David Bennett, de 57 anos, passa bem, segundo os médicos, três dias após o procedimento experimental de sete horas.

O cirurgião Bartley Griffith com o paciente David Bennett no início de janeiro — Foto: University of Maryland School of Medicine via BBC

David Bennett, de 57 anos, passa bem, segundo os médicos, três dias após o procedimento experimental de sete horas em Baltimore.

O transplante foi considerado a última esperança de salvar a vida de Bennett, embora ainda não esteja claro quais são suas chances de sobrevivência a longo prazo.

"Era morrer ou fazer esse transplante", explicou Bennett um dia antes da cirurgia. "Eu sei que é um tiro no escuro, mas é minha última escolha."

Na foto, de 7 de janeiro, o cirurgião Muhammad M. Mohiuddin segura o coração de porco geneticamente modificado que seria colocado em David Bennett, um paciente de 57 anos com doença cardíaca terminal, no centro médico da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos. — Foto: Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland (UMSOM) (via Reuters)

Médicos do Centro Médico da Universidade de Maryland receberam uma licença especial do regulador médico dos EUA para realizar o procedimento, com base no fato de que Bennett teria morrido sem ele.

Ele foi considerado inelegível para um transplante humano – decisão que costuma ser tomada quando o paciente está com a saúde muito debilitada.

Para a equipe médica que realizou o transplante, o procedimento inédito é o ápice de anos de pesquisa e poderá mudar vidas em todo o mundo.

'Um passo mais perto'

Cirurgiões realizam transplante de coração em David Bennett no Centro Médico da Universidade de Maryland, em Baltimore, em foto de 7 de janeiro — Foto: University of Maryland School of Medicine (UMSOM)/Handout via Reuters

O cirurgião Bartley Griffith disse que a cirurgia deixa o mundo "um passo mais perto de resolver a crise de escassez de órgãos", segundo comunicado da Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland.

Hoje, 17 pessoas morrem por dia nos EUA à espera de um transplante, com mais de 100 mil na lista de espera.

A possibilidade de usar órgãos de animais para o chamado xenotransplante (transplante de células, tecidos ou órgãos de uma espécie para outra) para atender a demanda por transplantes é uma possibilidade estudada há anos. O uso de válvulas cardíacas de porco já é comum.

Cirurgiões fazem transplante de coração de porco em humano em Baltimore, Maryland, no dia 7 de janeiro. — Foto: Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland (UMSOM)/Divulgação via Reuters

Em outubro de 2021, cirurgiões em Nova York anunciaram que haviam transplantado com sucesso um rim de porco em uma pessoa. Na época, a operação era o experimento mais avançado feito até então. No entanto, o destinatário naquela ocasião estava com morte cerebral e sem esperança de recuperação.

Bennett espera que seu transplante permita que ele continue vivendo. Ele ficou de cama por seis semanas antes da cirurgia e ligado a uma máquina que o manteve vivo depois que ele foi diagnosticado com doença cardíaca terminal.

"Não vejo a hora de sair da cama depois que me recuperar", disse ele na semana passada.

Na segunda-feira (10/1), foi relatado que Bennett já respirava sozinho. Mas não está claro exatamente o que acontecerá a partir de agora.

O porco usado no transplante foi geneticamente modificado para eliminar vários genes que teriam levado o órgão a ser rejeitado pelo corpo de Bennett, informou a agência de notícias AFP.

David Bennett Jr, filho do paciente, disse à Associated Press que a família está em "território desconhecido neste momento". Mas acrescentou: "Ele percebe a magnitude do que foi feito e realmente percebe a importância disso".

"Nós nunca havíamos feito isso em um humano e eu gosto de pensar que nós demos a ele uma opção melhor do que continuar sua terapia", disse o cirurgião Bartley Griffith. "Mas se [ele viverá] um dia, semana, mês, ano, eu não sei dizer."

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O que aconteceu com o homem que fez transplante de coração de porco?

David Bennett, de 57 anos, morreu no último mês de março. O coração do homem que recebeu o órgão geneticamente modificado de um porco estava com um vírus suíno, o porcine cytomegalovirus, segundo o médico que realizou o transplante inédito no mundo.

Onde foi feito o primeiro transplante de coração de porco?

O procedimento foi feito no dia 7 de janeiro deste ano por uma equipe da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos.

Quem fez transplante de coração de porco?

David Bennett, de 57 anos, fez o transplante de coração em 7 de janeiro deste ano e morreu no dia 9 de março.

Qual foi o primeiro transplante de coração no mundo?

BREVE HISTÓRIA DO PRIMEIRO TRANSPLANTE CARDÍACO: Em 1964, o cirurgião americano James Hardy realizou o primeiro transplante cardíaco ao transplantar o coração de um chimpanzé (isso mesmo! A primeira tentativa de transplante cardíaco do mundo foi através de um doador que se tratava de um chimpanzé.