Quais os fatores que promoveram o salto que o Brasil deu na produção agrícola nos últimos anos?

O último Censo Agropecuário do IBGE (2006) identificou uma forte mudança na composição do produto bruto da produção agropecuária brasileira em relação ao Censo anterior (1995/1996): o valor da produção de grãos e demais lavouras, incluindo a silvicultura, cresceu 363% no período (saltando de R$ 23,3 bilhões para R$ 108 bilhões), enquanto a pecuária teve incremento de 55% (de R$ 18,3 bilhões para R$ 28,8 bilhões) em valores correntes. O forte avanço elevou de 45% para 75% a participação do segmento “lavoura” na composição do Valor Bruto da Produção (VBP) da agropecuária brasileira, enquanto a importância da pecuária passou de 35% para 20%.

O Censo indica que a pecuária também cresceu, mas perdeu espaço diante do notável crescimento das lavouras no período. Os maiores destaques foram os segmentos de grãos, cana-de-açúcar e algodão. A produção física de grãos nos últimos 10 anos teve um salto decorrente, sobretudo, dos ganhos de produtividade. Segundo os levantamentos da Conab, entre as safras 1999/2000 e 2009/10, a produção de grãos cresceu à taxa média anual de 5,9%, saltando de 83 milhões de toneladas para 147 milhões de toneladas, enquanto a taxa de crescimento da área foi de 2,3% ao ano (de 37 milhões de hectares para 47 milhões de hectares). Esses dados apontam que a produtividade média cresceu continuadamente à taxa de 3,5% ano ao longo da década, o que é um desempenho impressionante.

Na dimensão regional, os estados do Sudeste e do Sul foram as que mais se destacaram no crescimento da produtividade, com taxas médias anuais de 4,6% e 4,1%, respectivamente, na produtividade média dos grãos. O Centro-Oeste foi a região com maior crescimento da produção (taxa média de 7,3% ano) e contou também com expansão importante da área (5,4% ao ano), mas teve o menor crescimento da produtividade (1,7% ao ano), que já era mais alta no início da década em relação às outras regiões.

Milho em destaque

Entre os produtos, impressiona o caso do milho, cuja área plantada em nível nacional não mudou entre as safras 1999/2000 e 2009/2010, ao passo que a produção saltou de 31 milhões de toneladas para 53 milhões de toneladas –crescimento de 5,4% ao ano. Para isso, contribuiu o desempenho da safrinha que, hoje, em alguns estados, atinge quantidade equivalente à produzida na safra de verão.

Com a área estagnada, todo o ganho de produção de milho se deveu ao aumento sem precedentes na produtividade. Sul e Sudeste foram novamente os maiores destaques. No Sul, a produtividade saltou de 2.794 kg/ha para 5.530 kg/ha, praticamente dobrando em 10 anos, sustentando um crescimento médio de 7,1% ao ano na década. Destaque também para a soja, cuja taxa média de crescimento da produtividade - de 2% ao ano na década - é um resultado auspicioso para uma oleaginosa.

A evolução da safra de grãos nos anos 2000 contrasta com o que se observava na década anterior: entre 1990 e 2000, a produção de grãos crescia à taxa anual de 3,6%, passando de 58 milhões de toneladas para 83 milhões de toneladas no final do período, e a área mantinha-se inalterada e até com tendência de queda - ao redor de 37 milhões de hectares. Essa taxa média é quase a metade da observada na década atual. Mesmo assim, o crescimento da produtividade foi, sozinho, responsável pelo aumento da produção, indicando que o salto qualitativo já vinha acontecendo.

Fatores de crescimento

O quadro apresentado não deixa qualquer dúvida de que houve um verdadeiro boom no setor. Quais teriam sido os fatores responsáveis por essa verdadeira revolução no desempenho do setor? Vamos dividir essa discussão entre os fatores mais distantes e os recentes, pois há efeitos em cadeia que não podem ser desprezados.

Sem dúvida, a abertura comercial em 1990, seguida da criação da zona de livre comércio do Mercosul (1996) foram marcos decisivos para a agricultura brasileira. Ou o setor se ajustava para competir ou sofreria a invasão de produtos agrícolas importados, ajudados pelo Real valorizado. Milho, trigo e arroz produzidos pelos novos parceiros comerciais passaram a entrar no país com tarifa zero, a preços muito competitivos. Por outro lado, o Real valorizado facilitava a entrada de importações de países que subsidiam suas exportações agrícolas. Havia sido dado o alerta para os agricultores ajustarem seus custos e ganharem eficiência ou haveriam de perder espaço no mercado interno. Esse foi o primeiro desafio a ser vencido após a abertura ampla e irrestrita.

Ao mesmo tempo, o apoio da política de crédito para custeio das safras, até então principal tripé da política agrícola, começava a escassear em decorrência da disciplina orçamentária imposta pela estabilização a partir de 1994. O crédito rural, antes barato e abundante, sofreu cortes sem precedentes: de R$ 50 bilhões para R$ 12 bilhões em poucos anos. A taxa de juros do crédito se elevou acima da inflação, e os instrumentos tradicionais da comercialização – EGF (empréstimos) e AGF (aquisições) - perderam força diante da falta de recursos para implementar a política de preços mínimos do Governo Federal. Novos mecanismos menos onerosos foram criados (contratos de opção, PEP, VEP) para ajustar as políticas ao aperto orçamentário.

Se por um lado os recursos de apoio à comercialização minguaram, por outro, diminuiu muito a intervenção do governo no mercado por meio da acumulação e da venda de estoques volumosos, que elevava o risco de mercado. Com menor risco, os produtores se aventuraram a adotar novas tecnologias, a contratar assistência técnica privada, lançando mão de recursos próprios e de terceiros (sobretudo das grandes traders) para custear as lavouras. Em síntese, trocaram o apoio do crédito de custeio pela adoção de tecnologia moderna, propiciada pelo amadurecimento das pesquisas da Embrapa e do sistema privado de pesquisa agropecuária, que disponibilizavam ano a ano novas variedades mais produtivas, resistentes à seca, resistentes às pragas e de ciclo mais curto. Conhecidas como tecnologias biológicas, elas poupam terra, na medida em que impactam o crescimento da produção por hectare.

Foi, portanto, sob as pressões decorrentes do acirramento da competição externa, da redução do apoio das políticas setoriais e, ainda, sob a desproteção de um Real valorizado, que agricultores brasileiros deram os primeiros passos para dominar a tecnologia de produção nos trópicos, razão de seu salto de competitividade.

Mais recentemente, a desvalorização do Real (1999), a introdução da política de câmbio flexível e a elevação dos preços das commodities agrícolas no mercado mundial ocorreram quando o setor já havia feito o dever de casa e ajustado seus custos. A agricultura brasileira pode então ingressar em um novo ciclo de crescimento, caracterizado pela geração de grandes excedentes exportáveis de milho, soja, algodão e até arroz, assumindo posição de destaque no comércio mundial de commodities.

Hoje, o Brasil é visto como uma ameaça pelos países que até então dominavam o comércio mundial. A competitividade dos agricultores brasileiros abriu espaço no fluxo de comércio gerado pelo crescimento da demanda chinesa, o que assegura um caminho de prosperidade para a lavoura, que pode levar a novos saltos no futuro.

Ignez Guatimosim Vidigal Lopes e Daniela de Paula Rocha são pesquisadoras do Centro de Estudos Agrícolas do IBRE/ FGV. As autoras agradecem o apoio técnico de Rafael de Castro Bomfim.

Quais fatores deram esse salto na agricultura?

O desenvolvimento de novas variedades adaptadas ao solo e ao clima brasileiro está por trás do aumento da produção agrícola na última década. Também há pesquisas que mostram como aumentar a produtividade com mudanças no modelo adotado nas propriedades.

Quais os fatores que possibilitam o crescimento da produção agrícola brasileira nas últimas décadas?

A história mostra que os principais fatores de influência sobre a produção agrícola são crescimento da população, aumento da renda e comportamento dos preços, tanto nacionalmente, quanto em termos internacionais.

Que fatores tem influenciado no aumento de produtividade agrícola brasileira?

Os principais fatores impulsionadores do crescimento da produção agropecuária nacional são o mercado interno, a demanda internacional (exportações) e os ganhos de produtividade (Brasil, 2021).

O que explica o salto na agricultura brasileira?

A competitividade dos agricultores brasileiros abriu espaço no fluxo de comércio gerado pelo crescimento da demanda chinesa, o que assegura um caminho de prosperidade para a lavoura, que pode levar a novos saltos no futuro.