Qual a relação entre a falta de saneamento básico e a transmissão de doenças pela água?

Promover a saúde humana, preservar o meio ambiente e os recursos naturais são ações essenciais que estão entre os principais objetivos do estabelecimento de uma política efetiva de saneamento básico. Sem infraestrutura, a população fica sujeita a doenças causadas por falta de saneamento básico, o que interfere em sua qualidade de vida, renda e educação, entre outros.

No Brasil, no entanto, a universalização do acesso à água potável e ao tratamento de esgoto ainda é um sonho distante. Esse cenário traz graves consequências para o desenvolvimento urbano, comprometendo a saúde das pessoas (o que sobrecarrega os serviços de saúde pública), sua educação e sua força de trabalho.

Os reflexos da precariedade dos serviços se estendem a vários setores e afetam a economia. Quer entender melhor essa relação? Então, continue conosco para saber mais sobre o assunto!

Fique por dentro dos indicadores

De acordo com o Ranking do Saneamento 2020, do Instituto Trata Brasil, 16,38% dos brasileiros (quase 35 milhões de pessoas) não têm acesso ao abastecimento de água. Esse índice é bastante semelhante ao de 2016 (publicado no ranking de 2018), o que mostra que houve pouco avanço nesse setor.

Quando o assunto é esgoto, os números são ainda mais preocupantes. Nas 100 maiores cidades do nosso país, o acesso à coleta de esgoto é restrito a 73,30% dos habitantes. Para piorar a situação, o esgoto coletado nem sempre é tratado. Acredite: quase metade da população do Brasil, o que corresponde a cerca de 46%, não têm acesso ao tratamento de esgoto. Tudo isso faz com que inúmeros cidadãos sejam continuamente expostos a doenças causadas por falta de saneamento básico.

Em diversas partes do mundo, o saneamento básico é um privilégio da população mais rica. Em 2019, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 2,1 bilhões de pessoas em todo o planeta não tinham acesso à água potável em casa.

Além disso, são 4,4 bilhões de pessoas sem acesso a saneamento gerenciado de forma segura, enquanto outros 2,3 bilhões ainda não possuem sequer serviços básicos de saneamento.

Entenda a relação entre saneamento básico, saúde e economia

Em associação a outros riscos, como a subnutrição e problemas de higiene, a falta de saneamento facilita a propagação de doenças, sobretudo entre aqueles que apresentam uma saúde mais fragilizada. Para se ter uma ideia, a diarreia causa, anualmente, em todo o mundo, a morte de 361 mil crianças com menos de 5 anos. 

O detalhe é que a coleta e o tratamento de esgoto e o acesso à água potável poderiam evitar 88% dessas mortes. Assim, fica clara e existência de uma relação entre o saneamento básico, a saúde pública e a economia.

A fragilidade do saneamento básico, aliás, é uma das principais causas de graves problemas de saúde que afetam a população. Afinal, sem recursos para promover obras de infraestrutura que possam garantir água potável e coleta e tratamento de esgotos, vários municípios brasileiros não oferecem condições mínimas de saúde aos seus habitantes.

Carência de infraestrutura afeta a educação

Um exemplo da relação entre economia e saúde é o desempenho das crianças que sofrem com Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado (DRSAI), que apresentam saúde debilitada e têm, como consequência, sua educação prejudicada em razão de aulas perdidas, por exemplo.

De acordo com uma análise de dados coletados entre 2000 e 2010, o aumento de uma unidade percentual no acesso ao saneamento está associado a:

  • elevação de 0,11% na taxa de frequência escolar;
  • queda de 0,31% na taxa de distorção idade-série (ou seja, o número de crianças com atraso escolar);
  • redução de 0,12% na taxa de abandono escolar.

Ausência de saneamento sobrecarrega a saúde pública

No entanto, não são apenas as crianças que são afetadas pela falta de saneamento adequado. As infecções gastrointestinais também fazem com que os adultos se afastem de suas atividades laborais, o que gera custos para as empresas e perda de desempenho por parte dos profissionais.

Além disso, tais situações elevam os gastos com saúde pública, em função de atendimentos médicos e internações, especialmente nos casos de crianças, de adultos com saúde frágil e de idosos.

Outra questão bastante séria é que, para trabalhadores autônomos, como comerciantes informais e diaristas, a renda familiar mensal acaba sendo diretamente afetada pelo afastamento do trabalho, uma vez que um dia sem trabalhar representa um dia sem ganhar dinheiro, diferentemente daqueles que têm carteira assinada.

Dessa forma, não é nada surpreendente, portanto, que o trabalhador que vive em regiões com ampla cobertura sanitária produza mais e receba salários maiores.

Precariedade de serviços afeta vários segmentos

A geração de renda e de novos empregos também é afetada nas áreas em que não há coleta e tratamento de esgoto. O turismo, por exemplo, é um setor fortemente impactado pela falta de saneamento básico. Imagine uma bela praia com água imprópria para banho, com o esgoto escoando diretamente para o mar sem tratamento algum. Péssimo, não é mesmo?

Outro reflexo de uma boa estrutura sanitária é a valorização dos imóveis. Regiões com coleta e tratamento de esgoto, oferta de água potável e meio ambiente preservado são mais atrativas, o que gera maior demanda por casas e apartamentos, além de fortalecer o comércio local.

Universalizar o acesso à água potável e ao tratamento de esgoto representaria, portanto, a criação de novos postos de trabalho e a movimentação da economia. Até mesmo a arrecadação de impostos seria alavancada, favorecendo os governos locais.

É preciso entender que a aplicação de dinheiro em saneamento básico não é despesa, mas sim investimento. Aliás, o retorno pode ser visto nos números a seguir:

  • cada real aplicado em saneamento gera 4 reais de economia em saúde;
  • o custo de uma internação por infecção gastrointestinal é de 355,71 reais por paciente no SUS;
  • a coleta universal de esgoto representaria 74,6 mil internações a menos em nosso país;
  • 14 milhões de pessoas são afastadas do trabalho anualmente por diarreia ou vômito, ficando, em média, 3,32 dias longe das atividades;
  • a universalização do saneamento tem potencial para criar 50 mil postos de trabalho, injetando 7,2 bilhões de reais em salários na economia.

Conheça as principais doenças causadas por falta de saneamento básico

A destinação inadequada do esgoto e a falta de tratamento da água que consumimos são causas de diversas doenças provocadas por organismos patogênicos, que se desenvolvem em ambientes insalubres. Além disso, a falta de saneamento contribui para o agravamento de epidemias, deixando a população mais exposta a vírus e bactérias que desencadeiam enfermidades potencialmente fatais.

A maioria das doenças frequentemente associadas à precariedade nos sistemas de coleta e de tratamento de esgoto, bem como no acesso à água potável, é causada por cistos, larvas ou parasitas provenientes de fezes e fluidos humanos, aos quais a população sem acesso ao saneamento está constantemente em contato.

Conheça algumas das principais doenças causadas por falta de saneamento básico e veja como evitá-las!

1. Diarreia por Escherichia coli

Essa bactéria, normalmente encontrada em nossos intestinos, é eliminada naturalmente nas fezes. Algumas linhagens, no entanto, são capazes de causar diarreia, sobretudo em crianças e bebês. A contaminação se dá a partir da ingestão de alimentos ou água contendo as bactérias (transmissão fecal-oral).

A doença pode ser evitada com a adoção de alguns cuidados:

  • higienização ou cozimento de frutas, verduras, legumes e carnes;
  • fervura da água;
  • adoção de bons hábitos de higiene.

2. Disenteria bacteriana

Causada pela bactéria Shigella, essa doença tem a diarreia como principal sintoma. Os casos mais leves regridem espontaneamente, mas é preciso ter atenção à desidratação. Medidas de higiene na cozinha e ao usar o banheiro são fundamentais para prevenir a disenteria. Evitar o contato com águas não tratadas é essencial.

3. Febre Tifóide

Essa doença é causada pelo consumo de água ou alimentos contaminados com a bactéria Salmonella entérica sorotipo Typhi. Seus sintomas mais comuns são mal-estar, dor de cabeça, dores abdominais, vômitos e diarreia com sangue.

Em casos extremos, pode ocorrer a perfuração do intestino, levando a óbito. Muitos pacientes se tornam portadores crônicos da bactéria, eliminando microrganismos nas fezes e na urina sem apresentar sintomas, o que contribui para a disseminação da doença.

4. Cólera

Causada pela bactéria Vibrio cholerae, a Cólera é caracterizada por uma intensa diarreia na forma de água de arroz. Se não controlada, a intensa desidratação pode levar à morte. A contaminação se dá pelo consumo de água ou alimentos contaminados com o microrganismo.

5. Leptospirose

Causada pela bactéria Leptospira, essa doença infecciosa é transmitida ao homem pela urina de roedores.

Sua propagação normalmente ocorre em enchentes, quando a urina dos animais presente nos esgotos se mistura com a enxurrada. O contágio se dá pelo contato da água contaminada com a pele, causando sintomas como febre, dores no corpo, vômitos, diarreia, icterícia e alterações urinárias.

6. Hepatite A

A Hepatite A é uma doença viral transmitida pela via fecal-oral. Em alguns casos, a infecção sequer produz sintomas. Outras vezes, os sinais são tão leves que a doença nem é diagnosticada.

Os quadros mais comuns incluem fadiga, náuseas e vômitos, dor abdominal, febre e icterícia. Por mais que a cura seja espontânea na maioria das vezes, sua forma fulminante pode levar rapidamente à morte.

7. Verminoses

A infecção por vermes normalmente se dá pela ingestão de água ou de alimentos contaminados. No entanto, pode ocorrer também penetração do parasita por ferimentos na pele.

Os sintomas mais associados à presença de vermes no intestino são dores abdominais, enjoo, mudança do apetite, falta de disposição, fraqueza, diarreia e vômitos.

8. Giardíase

A Giardíase é uma infecção do intestino delgado, causada por um protozoário chamado Giardia lamblia. A doença causa diarreia crônica, cólicas abdominais, náusea, flatulência e fraqueza.

A contaminação ocorre pela ingestão de cistos do protozoário, que podem estar presentes em alimentos contaminados por fezes ou em águas não tratadas. Se não houver tratamento, a doença pode persistir no organismo por meses, provocando diarreia, que interfere na absorção de nutrientes. Em crianças, o risco é de que o seu desenvolvimento seja afetado.

9. Amebíase

A Amebíase é uma infecção do intestino grosso causada pela Entamoeba histolytica, uma ameba. Os sintomas são diarreia, constipação, dor abdominal, febre e sensibilidade no abdome. Em casos mais graves, o protozoário pode comprometer o fígado e outros órgãos.

A contaminação ocorre em locais onde o saneamento não é adequado, pela ingestão de alimentos ou água contaminada por fezes.

10. Arboviroses

As doenças transmitidas por insetos vetores são favorecidas pela presença de locais adequados para a procriação dos mosquitos.

No caso da Dengue, existem quatro tipos de vírus diferentes. Ela é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, que se prolifera na água parada. Seus sintomas incluem febre alta, dores musculares, falta de apetite, mal-estar e manchas vermelhas no corpo.

O vírus da Zika também é transmitido por mosquitos Aedes, que se reproduzem em águas paradas. Os sintomas são febre, dores nas articulações, conjuntivite e exantema. Em gestantes, a doença pode causar microcefalia ao feto, além de problemas oculares.

Também transmitida pelo Aedes, a Chikungunya causa febre aguda, seguida de poliartrite crônica, que pode persistir por vários meses.

Já a Febre Amarela pode ser urbana ou silvestre. A urbana também é transmitida pelo Aedes, enquanto a silvestre por mosquitos Haemagogus e Sabethes. A doença causa febre alta, calafrios, cefaleia e mialgia. Náuseas, vômitos e constipação intestinal também são comuns.

Em todos os casos de Arboviroses, a melhora da drenagem das águas pluviais, um dos pontos mais importantes da nossa Política Nacional de Saneamento Básico, exerce, portanto, papel fundamental na prevenção dessas enfermidades.

Saiba como é possível reduzir as doenças causadas por falta de saneamento básico

Como reduzir, simultaneamente, as doenças causadas por falta de saneamento básico? A resposta está no aumento do acesso à água potável, coleta e tratamento de esgotos, com a promoção da qualidade de vida e a geração de impactos significativos para a economia. Priorizar a saúde da população é um passo importante para uma sociedade mais equilibrada e produtiva. 

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Qual a relação entre a falta de saneamento básico e a transmissão de doenças pela água?

A carência de serviços de água potável, coleta e de tratamento de esgoto, cria um ambiente propício ao desenvolvimento de doenças graves, como a diarreia, hepatite A, verminose e outros. A maior parte das doenças relacionada à falta de saneamento básico se desenvolvem devido à água contaminada.

Qual a relação existente entre falta de saneamento básico e doenças?

Consequência da falta de saneamento básico: riscos à saúde da população. As doenças com maiores incidências devido a exposição a esses ambientes são: Leptospirose, Disenteria Bacteriana, Esquistossomose, Febre Tifóide, Cólera, Parasitóides, além do agravamento das epidemias tais como a Dengue.

Qual é a relação entre o saneamento básico e a água?

Por meio do acesso aos serviços de saneamento, como abastecimento com água tratada e coleta e tratamento de esgoto, é possível reduzir as internações por doenças de veiculação hídrica e proporcionar um ambiente mais saudável para as pessoas.

Qual a relação do saneamento básico com as doenças?

O saneamento básico, portanto, é fundamental na prevenção de doenças. Além disso, a conservação da limpeza dos ambientes, evitando resíduos sólidos em locais inadequados, por exemplo, também evita a proliferação de vetores de doenças como ratos e insetos que são responsáveis pela disseminação de algumas moléstias.