Qual foi a maneira como as oligarquias da República Velha se valeram da política dos governadores para se manter no poder e garantir o controle do governo federal?

Após a sucessão presidencial de 1894 e um governo de transição dos militares para os civis, executado pelo governo Prudente de Morais (1894-1896), a oligarquia rural brasileira conseguiu consolidar definitivamente seu poder político no Estado brasileiro com o governo de Campos Salles (1896-1902). Para isso foram instituídos três mecanismos de poder: a política do café com leite, a política dos governadores e a Comissão Verificadora dos Poderes.

A oligarquia cafeeira paulista detinha o poder econômico do país e havia conseguido também se fortalecer politicamente com o apoio a Floriano Peixoto contra seus opositores. Mas a defesa de uma República nos moldes liberais necessitava de apoios mais amplos nos outros estados, para garantir votos para os cargos eletivos e não causar instabilidade política com possíveis disputas regionais.

A política do café-com-leite foi a forma encontrada para garantir o controle na ocupação da presidência da República. Aliando seu poder econômico, proveniente do café, com a força política dos mineiros, estado com o maior número de eleitores, os paulistas conseguiram manter a alternância entre os políticos dos dois estados até 1930, com pouquíssimas exceções. Essa aliança garantiu a alternância do poder sem que houvesse disputas que colocassem em jogo a estabilidade política, necessária para o bom andamento dos negócios.

Porém, era necessário que as oligarquias dos demais estados concordassem com esse acordo. As condições para esse acordo foram costuradas durante o governo do presidente Campo Salles, que ficaram conhecidas como política dos governadores. Nela, os governadores apoiariam as medidas propostas pelo presidente da República no Congresso Nacional através de seus deputados e senadores, principalmente os acordos com o capitalismo internacional. Em troca, o presidente manteria a autonomia dos estados, sem interferir nas disputas políticas internas de cada um deles.

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Para que isso se tornasse possível, foi criada a Comissão Verificadora de Poderes, instância responsável pela diplomação dos candidatos eleitos nos estados para os cargos de deputados e senadores. Na prática, funcionava como uma barreira para os opositores dos oligarcas regionais aliados à política do café com leite. Caso esses opositores vencessem as eleições estaduais, a Comissão Verificadora de Poderes impediria sua diplomação e posse, afirmando haver fraude eleitoral. Com essa “degola” de opositores, termo usado à época, senadores e deputados coniventes com a política dominante eram eleitos, mantendo a estabilidade política do regime.

Com essa forma autoritária de governar, as oligarquias brasileiras mantinham as estruturas políticas necessárias para manter o desenvolvimento e fortalecimento de suas práticas econômicas.

*Créditos da Imagem: irisphoto1 e Shutterstock.com

Com a proclamação da República, em 1889, inaugurou-se um novo período na história política do Brasil: o poder político passou a ser controlado pelas oligarquias rurais, principalmente as oligarquias cafeeiras. Entretanto, o controle político exercido pelas oligarquias não aconteceu logo em seguida à proclamação da República – os dois primeiros governos (1889-1894) corresponderam à chamada República da Espada, ou seja, o Brasil esteve sob o comando do exército. Marechal Deodoro da Fonseca liderou o país durante o Governo Provisório (1889-1891). Após a saída de Deodoro, o Marechal Floriano Peixoto esteve à frente do governo brasileiro até 1894.

No ano de 1894, os grupos oligárquicos, principalmente a oligarquia cafeeira paulista, estavam articulando para assumir o poder e controlar a República. Os paulistas apoiaram Floriano Peixoto. Dessa aliança surgiu o candidato eleito nas eleições de março de 1894, Prudente de Morais, filiado ao Partido Republicano Paulista (PRP). A partir de então, o poder político brasileiro ficou restrito às oligarquias agrárias paulista e mineira, de 1894 a 1930, período conhecido como República Oligárquica. Assim, o domínio político presidencial durante esse intervalo de tempo prevaleceu entre São Paulo e Minas Gerais, efetivando a política do café-com-leite.

Durante o governo do presidente Campo Sales (1898-1902), a República Oligárquica efetivou o que marcou fundamentalmente a Primeira República: a chamada política dos governadores, que se baseava nos acordos e alianças entre o presidente da República e os governadores de estado, que foram denominados Presidentes de estado. Estes sempre apoiariam os candidatos fiéis ao governo federal; em troca, o governo federal nunca interferiria nas eleições locais (estaduais).

Mas, afinal, como era efetivado o apoio aos candidatos à presidência da República do governo federal pelos governadores dos estados? Esse apoio ficou conhecido como coronelismo: o título de coronel surgiu no período imperial, mas com a proclamação da República os coronéis continuaram com o prestígio social, político e econômico que exerciam nas vizinhanças das localidades de suas propriedades rurais. Eles eram os chefes políticos locais e exerciam o mandonismo sobre a população.

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Os coronéis sempre exerceram a política de troca de favores, mantinham sob sua proteção uma enorme quantidade de afilhados políticos, em troca de obediência rígida. Geralmente, sob a tutela dos coronéis, os afilhados eram as principais articulações políticas. Nas áreas próximas à sua propriedade rural, o coronel controlava todos os votos eleitorais a seu favor (esses locais ficaram conhecidos como “currais eleitorais”).

Nos momentos de eleições, todos os afilhados (dependentes) dos coronéis votavam no candidato que o seu padrinho (coronel) apoiava. Esse controle dos votos políticos ficou conhecido como voto de cabresto, presente durante toda a Primeira República, e foi o que manteve as oligarquias rurais no poder.

Durante a Primeira República, o mercado tinha o caráter agroexportador e o principal produto da economia brasileira era o café. No ano de 1929, com a queda da Bolsa de Valores de Nova York, a economia cafeeira brasileira enfrentou uma enorme crise, pois as grandes estocagens de café fizeram com que o preço do produto sofresse uma redução acentuada, o que ocasionou a maior crise financeira brasileira durante a Primeira República.

Na Revolução de 1930, Getúlio Vargas assumiu o poder após um golpe político que liderou juntamente com os militares brasileiros. Os motivos do golpe foram as eleições manipuladas para presidência da República, as quais o candidato paulista Júlio Prestes havia ganhado, de forma obscura, em relação ao outro candidato, o gaúcho Getúlio Vargas, que, não aceitando a situação posta, efetivou o golpe político, acabando de vez com a República Oligárquica e com a supremacia política da oligarquia paulista e mineira.

Leandro Carvalho
Mestre em História

Qual foi a maneira como as oligarquias da República Velha se valeram da política dos governadores para se manter no poder e garantir o controle pelo governo federal *?

Dessa forma, a troca de favores era clara: o governo federal concedia poder e liberdade política e ainda benefícios econômicos para as oligarquias estaduais. Em troca, favoreciam a escolha dos candidatos por meio do voto aberto, comandadas e manipulada pelos coronéis, os quais representavam a força local.

Como funcionava a política dos governadores na República oligárquica?

Denominada "política dos governadores", significou, na prática, que o governo central deveria respeitar as decisões dos partidos que mantinham o poder em cada estado, desde que estes elegessem bancadas no Congresso absolutamente fiéis ao presidente da República.

Como a oligarquia se manteve no poder?

Assim, por meio de alianças e trocas de favores que uniam municípios, estados e governo federal, as oligarquias mantiveram-se no poder durante a maior parte da Primeira República.

Quais eram as estratégias utilizadas pela oligarquia agroexportadora para se manter no poder durante a República Velha?

Assim, o controle de votos foi chamado de “voto do cabresto”. O coronéis usavam dessa estratégia, pois sabiam que esse povo era a única chance que eles tinham de manipular a política no país. Essa prática, portanto, manteve as oligarquias rurais no poder durante quase 40 anos.