A estrela de belém existiu mesmo

Nem na época das festas de fim de ano o mundo astrológico pára. Pela primeira vez desde 1226 se poderá observar a ‘Estrela de Belém’ no Natal, nome dado ao fenômeno para quando Júpiter e Saturno ficam alinhados no céu da Terra.

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A estrela de belém existiu mesmo

Representação gráfica de um alinhamento entre Júpiter, Saturno e Lua

A rara conjunção astronômica acontece a cada 400 anos. A última vez que foi registrada foi no século 17, em 1623, mas segundo apontam os cálculos, não foi na época do Natal. Agora, na noite do dia 21 todos os povos da Terra poderão observar os dois maiores planetas do sistema solar em uma linha reta na direção do pôr do sol.

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“Esse efeito, essa conjunção ocorre a cada 400 e poucos anos. Século 13, século 17 e agora 21. Encontros semelhantes podem acontecer mais frequentemente, mas as máximas aproximações no céu são bem raras e demoram mais tempo para ocorrer”, afirma Felipe Navarete, pesquisador do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, ao G1.

O pesquisador recomenda que a observação do raríssimo alinhamento entre os planetas seja feito em um local alto e com vista para o pôr do sol limpo, pois os planetas ficarão bem próximos da linha do horizonte. Não é necessário observar o evento: ele estará no céu entre o dia 16 e dia 21, com maior chance de ser observado no último dia.

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“Ao longo dos dias a distância entre os pontos vai diminuir. No dia 21 será a distancia mínima. A olho nu você consegue separar os planetas: Júpiter e Saturno. Júpiter será mais brilhante. A olho nu vai dar para ver, embora não dê para enxergar os detalhes. Com binóculo pequeno você já consegue começar a ver melhor os detalhes”, concluiu Felipe Navarete.

postado em 21/12/2020 19:41 / atualizado em 21/12/2020 20:02

A estrela de belém existiu mesmo

Astrônomos vêm discutindo há décadas uma explicação para a Estrela de Belém

Pode parecer blasfemo questionar uma imagem tão forte do Natal como a estrela de Belém, mas sua possível existência vem sendo objeto de um acalorado debate astronômico por décadas.

Seria possível que algum evento cósmico real pudesse ter direcionado os Três Reis Magos, como relata a tradição cristã, ao local onde Jesus nasceu?

Esse debate requer uma grande premissa - de que a história da estrela e da viagem sejam verdadeiras.

O astrônomo David Hughes, da Universidade de Sheffield, publicou seu primeiro trabalho com a revisão de teorias sobre a famosa estrela nos anos 1970.

Após passar muitos anos estudando as explicações astronômicas e revisando histórias bíblicas associadas, ele é hoje um especialista no assunto.

Os três reis seriam sábios religiosos de um grupo de astrônomos e astrólogos reverenciados na Babilônia antiga. Eles estudavam as estrelas e os planetas e interpretavam o significado por trás de eventos cósmicos.

Qualquer coisa muito rara era considerada um presságio, então a estrela deveria ter sido tanto rara quanto visualmente espetacular. Além disso, diz Hughes, ela teria uma mensagem muito clara para os Magos.

Isso leva o astrônomo a concluir que a estrela de Belém provavelmente não era uma estrela e que provavelmente o fenômeno estava relacionado a mais do que um único evento.

Conjunção tripla

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Representações mais comuns dos Três Reis Magos mostram estrela de Belém como cometa

"Se você ler a Bíblia com cuidado", diz Hughes, "os Magos viram algo quando estavam em seu próprio país - provavelmente a Babilônia -, então viajaram até Jerusalém e foram falar com o rei Herodes."

Segundo a história, os Magos contaram a Herodes sobre o sinal que tinham visto e, segundo Hughes, "quando saíram de Jerusalém para Belém, eles viram algo de novo".

A melhor explicação de Hughes para essa série de eventos é algo conhecido como conjunção tripla entre Júpiter e Saturno - com os dois planetas aparecendo próximos no céu por três vezes em um curto período.

"Isso acontece quando você tem um alinhamento entre o Sol, a Terra, Júpiter e Saturno", explica Hughes.

Tim O'Brien, diretor-associado do Observatório Jodrell Bank, em Cheshire, sugere que isso teria parecido fora do comum. "É incrível o quanto nossa atenção é atraída quando vemos dois objetos muito brilhantes se juntando no céu", explica.

E uma vez que os planetas se alinhem em suas órbitas, a Terra "ultrapassa" os outros, o que significa que Júpiter e Saturno pareceriam então mudar de direção no céu da noite.

"Naquela época, as pessoas se guiavam muito pelos movimentos dos planetas", diz O'Brien.

O que é ainda mais significativo é que o evento teria ocorrido na constelação de Peixes, que representa um dos signos do zodíaco.

"Você somente teria uma conjunção tripla como essa a cada 900 anos", diz ele, então para os astrônomos da Babilônia há 2.000 anos isso teria sido o sinal de algo muito significativo.

Seta sobre a Terra

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Posição do cometa pode fazer com que ele 'aponte' para a Terra como uma seta

A segunda explicação mais comum para a estrela de Belém é a de um cometa muito brilhante.

Apesar de serem certamente espetaculares e etéreos em suas aparições, eles são essencialmente "grandes e sujas bolas de neve" viajando pelo espaço.

"Quando eles chegam próximos do Sol, esse gelo derrete e os ventos solares sopram esse material para o espaço, então você tem a cauda de matéria saindo do cometa", explica O'Brien.

Essa cauda, que aponta para o lado oposto do Sol, é uma das coisas que tornou a ideia de um cometa como a estrela de Belém popular, explica Hughes.

"Muitas pessoas já disseram que os cometas parecem observar a Terra de cima, porque parecem às vezes como uma seta", diz Hughes.

O registro mais antigo de uma aparição foi a de um cometa brilhante que apareceu na constelação de Capricórnio no ano 5 a.C., registrada por astrônomos na China.

Outro candidato menos provável, mas mais famoso, é o cometa Halley, que esteve visível por volta do ano 12 a.C.

Aqueles que apostam nessa teoria argumentam que o cometa de 5 a.C estaria no hemisfério sul do céu visto de Jerusalém, com a cabeça do cometa próximo ao horizonte e a cauda apontando verticalmente para cima.

"Muitas pessoas gostaram da ideia do cometa, então ele aparece bastante nos cartões de Natal", observa Hughes.

"O problema é que eles não são tão raros. Eles também eram algo comumente associados a eventos como morte, doença e desastre", sugere. "Então, se ele contivesse uma mensagem, seria um mau presságio."

'Boa candidata'

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Estrela nova aparecida em 4 a.C. estaria posicionada diretamente sobre Jerusalém

Outra teoria é a de que a estrela era a luz do nascimento de uma nova estrela, ou nova.

Há registros - novamente de astrônomos do Extremo Oriente - de uma estrela nova na pequena constelação de Áquila em 4 a.C.

"As pessoas que gostam dessa teoria dizem que essa nova estrela estaria posicionada diretamente sobre Jerusalém", diz Hughes.

Robert Cockcroft, gerente do planetário McCallion, da Universidade McMaster, em Ontário, no Canadá, diz que uma estrela nova é "uma boa candidata" para a estrela de Belém.

"Ela pode 'aparecer' como uma nova estrela em uma constelação e apagar novamente nos meses seguintes", explica.

"Ela também não é muito brilhante, explicando por que não temos nenhum registro dela no Ocidente", diz.

Cockcroft sugere que isso também teria dado aos Três Reis Magos algo para seguir.

Enquanto outros "presságios" poderiam ser necessários para levar os Magos a viajar na direção oeste a Jerusalém, ele diz, eles levariam meses para chegar lá, "quando Áquila e a nova estrela teriam subido no céu para aparecer ao sul".

"Belém fica ao sul de Jerusalém, então os Magos poderiam ter 'seguido' a estrela até Belém", afirma.

Teorias improváveis

Outras teorias mais improváveis, mas divertidas, também foram propostas ao longo dos anos, comenta Hughes.

Uma que ele descreve como particularmente pouco provável foi sugerida em 1979 em um trabalho acadêmico do astrônomo grego George Banos. Ele propôs que a estrela de Belém era na verdade o planeta Urano.

Banos sugeriu que os Magos teriam descoberto o planeta quase 1.800 anos antes de o astrônomo William Hersche ter registrado formalmente a descoberta, em 1781.

"Sua ideia era de que os Magos descobriram Urano, que o planeta era a estrela de Belém e que eles então tentaram acobertar a descoberta", explica Hughes.

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Onde está a Estrela de Belém no céu?

Na Basílica da Natividade em Belém, uma estrela prateada com 14 raios ondulantes marca a localização tradicionalmente reivindicada como sendo a do nascimento.

O que a Bíblia diz sobre a Estrela de Belém?

Conta a história, através do Evangelho segundo Mateus, que quando Jesus nasceu uma estrela anunciou seu nascimento e guiou os três Reis Magos do ocidente até o local onde estava o Menino Jesus, Maria e José.

Qual estrela os Reis Magos viram?

A narrativa bíblica conta que Jesus nasceu em Belém. Com o nascimento de Cristo, alguns magos do Oriente viram uma estrela, a Estrela de Belém ou Estrela Guia e foram guiados por ela até o local onde estava o menino Jesus em sua manjedoura.

Quando a Estrela de Belém vai aparecer?

Nos últimos dias, um editor da Sky & Telescope, uma importante revista especializada em astronomia, trouxe à tona outra opção intrigante: a Estrela de Belém pode ter sido fruto de um trio de conjunções entre os planetas Vênus e Júpiter que aconteceu entre os anos 3 e 2 antes de Cristo.