A mesma pisada marcou este chao canta morena

RESUMO As discussões sobre o Nordeste e a política de regionalização do país fazem parte dos percursos instituidores das dinâmicas da história, configurando-se enquanto debates que perpassam por todos os discursos e esferas de poder, tanto do ponto de vista acadêmico, político e artístico como do ponto de vista literário. Esse contexto forneceu elementos estruturantes do que se pode chamar de invenção ou reinvenção de identidades, a espacial, a de lugar, a da região Nordeste e a de nordestino. O presente trabalho discorre sobre a produção musical e a trajetória artística de Luiz Gonzaga, precisamente sobre a invenção do baião e os outros gêneros apropriados pelo sanfoneiro, os quais serviram como discursos fundantes dos referidos marcadores identitários. Verifica-se que as músicas (letras e ritmos) e a performance do autor serviram como táticas discursivas para a construção de um imaginário de Nordeste. O baião e outros gêneros tocados pelo trio musical – organização performática de palco – forjaram uma prática de música que entrou nos processos de negociação identitária com o seu público/ouvinte. A tradução discursiva de Nordeste e de nordestino foi engendrada também por imagens e símbolos a partir de uma indumentária retirada das tradições regionais (cangaceiros e vaqueiros) e ressignificada pelo artista dentro de um contexto social urbano. A musicalidade de Gonzaga foi construída no entre-lugar sertão nordestino/ terras civilizadas. Sua produção de sons, temáticas e de cultura acústica, artisticamente combinados, foi vinculada ao regionalismo nordestino. A sonoridade gonzagueana teve a capacidade de expressar um sentimento de nordestinidade que reverberou e encontrou ressonância em seus ouvintes/receptores. As análises das músicas foram sistematizadas procurando-se observar os temas que demonstraram e corroboraram os marcos identitários nos aspectos da territorialidade nordestina. Deve-se salientar que o emprego de tais temáticas se relacionou com experiências sociais vividas e a musicalidade de Gonzaga; assim, os temas que se apresentaram em seu repertório foram: seca, sofrimento, saudade, baião, sertão, aboio, vaqueiros, entre outros. Trata-se de uma dissertação desenvolvida na perspectiva da História Cultural, abordando em seus aspectos teóricos as categorias conceituais de identidade, tradições, cultura acústica, imaginário, performance, campo/cidade, território, imagens, resistência cultural, nacional-popular, hibridação e ritmos, categorias estas abordadas sob a óptica dos modos de vida, dos valores simbólicos, dos costumes e da arte musical. Enfim, este trabalho se constrói numa relação da história com a música e suas formas de interpretação.