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Império Medo

Média

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678 a.C.550 a.C. 
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Mapa hipotético do Império Medo em sua extensão máxima

Região
  • Oriente Médio
  • Ásia Ocidental
  • Pérsia
Capital Ecbátana
Países atuais
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Irã
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Turquia
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Síria
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Iraque
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Azerbaijão
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Armênia
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Geórgia
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Turquemenistão
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Afeganistão
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Paquistão

Línguas oficiais meda
Religião antiga religião iraniana (aparentada ao mitraísmo e ao antigo zoroastrismo)

Forma de governo Monarquia
Rei
•  700–678 a.C.   Déjoces
•  678–625 a.C.   Fraortes ou Castariti
•  625–585 a.C.   Ciaxares
•  585–550 a.C.   Astíages

Período histórico Idade do Ferro
•  678 a.C.   Adesão de Fraortes ao trono[a]
•  671 a.C.   Os medos se revoltam contra os assírios e declaram independência
•  c. 640 a.C.   Fraortes conquista a Pérsia
•  612 a.C.   Medos e babilônios conquistam Nínive
•  585 a.C.   Batalha do Hális
•  553-550 a.C.   Revolta Persa
•  550 a.C.   Conquistado por Ciro, o Grande

Área
 • 585 a.C.   [b]2,800,000 km²

O Império Medo[c] ou simplesmente Média (em persa antigo: Māda; em grego: Mēdía; em acádio: Mādāya[1]) foi uma entidade política que do final do século VII a.C. até meados do século VI a.C. dominava todo o planalto iraniano, precedendo o poderoso Império Aquemênida. Antes de seu estabelecimento, os povos iranianos viviam em comunidades tribais menores e não havia hierarquia de governo, mas as guerras constantes com os invasores assírios os levaram à unificação, isto é, à criação de uma monarquia.

De acordo com os historiadores gregos após o colapso da Assíria, a Média emergiu como uma das grandes potências do Oriente Médio. As fronteiras do país foram estendidas para leste e oeste com a subjugação dos povos vizinhos, como os partas e armênios. Dessa forma, a Média se tornou o primeiro império iraniano, que em seu auge, cobria quase metade do Oriente Médio, se tornando uma das mais fortes potências econômicas, políticas e militares do seu tempo, juntamente com a Babilônia, Lídia e Egito. No apogeu da sua extensão territorial, exercia autoridade sobre mais de dois milhões de quilômetros quadrados, estendendo-se das margens orientais do rio Hális até o leste do Irã e sendo um dos maiores impérios da história.

No entanto não existem evidências arqueológicas que mostrem a existência de um importante estado medo e isso encoraja a maioria dos estudiosos considerar que o Império Medo nunca existiu e que era uma federação tribal instável. Apesar disso alguns estudiosos aderiram a uma visão maximalista, considerando o estado medo um poderoso e estruturado império que teria influenciado o Império Aquemênida e sua cultura.

Etimologia[editar | editar código-fonte]

A fonte original de seu nome e pátria é um nome geográfico iraniano antigo transmitido diretamente, que é atestado como o persa antigo "Māda".[5] O significado desta palavra não é conhecido com precisão.[6] No entanto, o linguista Wojciech Skalmowski propõe uma relação com a palavra proto-indo-europeia "med (h)-", que significa “central, adequado ao meio”, referindo-se ao antigo índico "Madhya-" e ao antigo iraniano "Maidiia", ambas têm o mesmo significado. O latim médio, o grego méso e o alemão mittel são derivados da mesma forma.[5]

Os eruditos gregos durante a antiguidade baseavam conclusões etnológicas nas lendas gregas e nas semelhanças de nomes. De acordo com o historiador grego Heródoto (440 a.C.):[5]

Os medos eram anteriormente chamados por todos de arianos, mas quando a mulher colca Medeia, filha de Eetes, governante da Cólquida, veio de Atenas aos arianos, eles mudaram de nome, como os persas [fizeram após Perses, filho de Perseu e Andrômeda].[7]

Fontes históricas[editar | editar código-fonte]

A Média representa um problema para os estudiosos que tentam descrever esse antigo estado, pois as evidências não são confiáveis. Além disso, os medos não deixaram nenhuma fonte textual para lançar luz sobre sua história ou sociedade. A falta de registros medos é compensada por registros de outros povos, que consiste em vários textos cuneiformes assírios e babilônicos, registros persas e gregos, bem como alguns capítulos da Bíblia. O problema é que o registro arqueológico não é claro, e os registros contemporâneos oferecem pouca informação, além disso os textos dos autores gregos não são confiáveis e os textos bíblicos parecem ter sido influenciados pelos autores gregos.[8] Apesar dessas fontes esclarecem alguma coisa da história meda, quase tudo que sabemos sobre o estado medo vem das informações de dois historiadores gregos, Heródoto e Ctésias, que escreveram muito depois de sua queda.[9]

Heródoto nasceu em Halicarnasso, na província da Cária, por volta de 484 a.C. Sua obra Histórias, embora contenha algumas informações imprecisas ou exageradas, é considerada uma fonte confiável pela maioria dos historiadores. Apesar de ter sido muito criticado pelos antigos historiadores, Heródoto melhorou sua reputação drasticamente desde que os numerosos achados arqueológicos confirmaram muitas de suas histórias e nos dias de hoje ele é considerado o "Pai da História".[10] Ctésias nasceu na cidade de Cnido, também na província de Cária. Ele trabalhou como médico à serviço do rei persa Artaxerxes II, a quem seguiu durante sua marcha contra seu irmão rebelde Ciro, o Jovem. Ctésias escreveu sobre o Império Aquemênida e a Assíria em sua obra Pérsica, que consiste em 23 livros, supostamente baseados em arquivos reais persas. Ctésias segue Heródoto e também relata que houve um longo período em que os medos governaram um vasto império asiático, no entanto suas obras não são muito confiáveis e muitas vezes são contraditórias à coleção Histórias de Heródoto. Diferente das obras de Heródoto, os trabalhos de Ctésias foram preservados somente em um resumo compilado pelo patriarca Fócio de Constantinopla.[11][12]

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Imagem do mundo segundo Heródoto, século V a.C.

Heródoto e Ctésias diferem tanto que suas declarações são, em grande parte, mutuamente exclusivas. No entanto, uma análise cuidadosa mostrou que muitas das declarações de Ctésias repousam na mesma base que as de Heródoto. Na verdade, sem Heródoto e a tradição grega, muitos estudiosos modernos provavelmente não postulariam a existência de um Império Medo.[9] Visto que nenhum registro medo foi descoberto, questões fundamentais sobre medos e sua história continuam sem respostas satisfatórias: sua língua, cultura, economia e estrutura social é desconhecida e é apenas conjecturada pelos estudiosos.[13][9] Assim, o Império Medo ainda não é um fato arqueológico, mas existe apenas como algo mencionado por Heródoto e textos baseados (direta ou indiretamente).[14]

A história sobre os medos, conforme relatada por Heródoto, deixaram uma imagem de um povo poderoso, que teria formado um império no início do século VII a.C. que durou até 550 a.C., desempenhando um papel decisivo na queda do Império Neoassírio e competindo com as poderosas potências do oeste, Lídia e Babilônia. No entanto, uma recente reavaliação das fontes contemporâneas mudou a percepção que os pesquisadores têm do “Império Medo”. Esse estado permanece difícil de ser percebido na documentação, o que deixa muitas dúvidas sobre o assunto, alguns especialistas até sugerem que nunca houve um poderoso Império Medo.[15] De qualquer forma, parece que após a conquista do país pelos persas, a Média se tornou uma província importante e valorizada pelos impérios que a dominaram sucessivamente (aquemênidas, selêucidas e partas).[16]

História[editar | editar código-fonte]

Expansão assíria nos Zagros[editar | editar código-fonte]

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Mapa do Império Neoassírio

Os medos vieram da Ásia Central, provavelmente ao mesmo tempo que os seus parentes, os persas. Eles começaram a se estabelecer no noroeste do atual Irã nos últimos séculos do II milênio a.C., logo após o final da Idade do Bronze.[17] As primeiras referências que temos aos medos são as fontes assírias, onde eles são mencionados pela primeira vez nos anais do rei Salmanaser III (r. 859–824 a.C.), que em 834 a.C., lidera uma campanha na região ocidental dos Zagros.[1] Os medos parecem ter se constituído em numerosos pequenos reinos sob chefes tribais, e os jactanciosos relatos dos imperadores assírios referem-se às suas vitórias sobre certos chefes de cidade da distante terra dos medos.[18] Embora os assírios conseguissem subjugar vários chefes medos, eles nunca conseguiram dominar todo território medo.[8]

Em 815 a.C., Samsiadade V (r. 823–811 a.C.) marchou contra Saguebita, a "cidade real" do chefe medo Hanasiruca, e a conquistou. Segundo a inscrição assíria, 2.300 medos foram mortos e Saguebita, assim como 1.200 assentamentos localizados em suas proximidades, foram destruídos. Essa campanha foi de grande importância, pois a partir de então a Assíria impunha tributo regular às tribos medas em cavalos, gado e produtos artesanais. Agora os assírios transferiram a direção principal de seus ataques para a Média. Os assírios não conseguiram garantir os resultados das campanhas travadas contra os medos por Adadenirari III (r. 810–781 a.C.) e, posteriormente, uma longa crise política começou a se desenvolver na Assíria. Mais tarde, durante o reinado de Tiglate-Pileser III (r. 745–728 a.C.), a Assíria começou a organizar províncias em países conquistados, o que garantiu uma fonte regular de renda e também serviu de base para a conquista de territórios vizinhos. A leste de seu país, os assírios criaram mais duas províncias, onde foram instalados governadores e guarnições assírias. Em 737 a.C., Tiglate-Pileser invadiu a Média, e desta vez os assírios alcançaram as partes mais remotas do país e exigiram tributo dos "governantes da cidade" dos medos, até o deserto de sal e o monte Bicni. Em um relato dessa campanha, Tiglate-Pileser menciona "as províncias dos poderosos medos" e também afirma que ele deportou 6.500 pessoas do noroeste do Irã para a Síria e a Fenícia.[1]

Assim, no final do século VIII a.C., os primeiros grandes sindicatos e estados baseados em confederações tribais começaram a surgir no oeste do território iraniano, chefiado por chefes locais. Os medos ainda não estavam unidos, mas tinham muitos governantes. O rei Sargão II (r. 722–705 a.C.) juntou as fronteiras das províncias assírias no leste com a Média, uma conquista que Tiglate-Pileser não foi capaz de realizar. Em 716 a.C., ele construiu os centros das novas províncias assírias, acrescentando-lhes alguns outros territórios da Média Ocidental, incluindo Saguebita. Em 713 a.C., ele alcançou os limites distantes da Média nas montanhas Bicni. Durante essa campanha, ele recebeu tributo de 45 chefes de cidade. Sargão II realizou outra expedição à Média em 708 a.C., mas foi incapaz de realizar seu objetivo de conquistar todas as terras medas e estabelecer um controle estável sobre elas. Posteriormente, Sargão e seu sucessor Senaqueribe (r. 705–681 a.C.) entraram em guerra com os babilônios. Além disso, as tribos do planalto iraniano que se opunham à predominância assíria consolidaram seus esforços contra ela.[1]

É provável que os assírios tenham sido responsáveis pela unificação das tribos medas. Os repetitivos ataques assírios forçaram os vários habitantes dos Zagros e do país a cooperar e desenvolver uma liderança mais eficaz. Os assírios também apreciavam produtos do leste, como lápis-lazúli, e a rota leste-oeste através da Média se tornava cada vez mais importante. Os chefes tribais ao longo da estrada poderiam obter lucros substanciais se estivessem dispostos a abandonar seu modo de vida nômade e se instalar em residências mais permanentes. O comércio pode explicar a ascensão de Ecbátana como a cidade central da Média e pode ter sido o gatilho que iniciou o processo de unificação.[8]

Estabelecimento do Reino[editar | editar código-fonte]

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Território original dos medos antes de sua expansão

As condições exatas da fundação do reino medo permanecem inacessíveis no estado atual da documentação disponível sobre esse assunto. De acordo com Ctésias, a Média era uma província do Império Assírio e o medo Arbaces era um dos generais de Sardanápalo, rei da Assíria. Arbaces teria liderado uma rebelião contra Sardanápalo em aliança com os persas, babilônios e árabes, e após sua vitória, ele teria se tornado o primeiro rei da Média e governaria por 28 anos. Mas isso não é confirmado por outras fontes históricas, e provavelmente foi uma história inventada pelo próprio Ctésias.[19] Segundo Heródoto, o unificador dos medos foi Déjoces, um líder tribal, que consegue astuciosamente ser proclamado rei de seu povo e funda um grande reino organizado no início do século VII a.C., tendo Ecbátana, supostamente fundada por ele, como capital.[20] No entanto, isso não é indicado em fontes textuais da época, nem em achados arqueológicos. Déjoces tem sido associado com um “rei” iraniano chamado Daiucu, que é mencionado nas fontes textuais neoassírias como um dos cativos deportados para Assíria por Sargão II em 715 a.C.; no entanto essa associação é altamente improvável e sem dúvida não se trata do mesmo rei mencionado por Heródoto, pois os fatos mencionados estariam localizados ao redor do lago Úrmia e não no território medo.[21][20] A julgar pelas fontes contemporâneas, nenhum reino medo unificado como Heródoto descreve existia no início do século VII a.C. e seu relato é obviamente uma lenda meda sobre a fundação de seu reino.[22][23]

Após anexarem a Babilônia como uma província comum em 689 a.C., os assírios voltaram a concentrar sua atenção nas províncias medas que estavam sujeitas a eles. O rei assírio Assaradão (r. 680–669 a.C.) empreendeu várias expedições ao território iraniano, mas a situação na região tornou-se gradualmente mais tensa e as expedições assírias para coletar tributos às vezes terminavam malsucedidas. Assaradão se esforçou para anexar províncias na Média, e em 672 a.C. concluiu um acordo de paz com alguns chefes medos. No entanto, no mesmo ano ou no ano seguinte, uma revolta aberta contra a Assíria eclodiu nas províncias do leste. A rebelião provavelmente se espalhou para várias províncias assírias orientais na primavera de 671 a.C.[24] Entre os três chefes medos que lideraram a revolta, Castariti desempenhou o papel principal e começou gradualmente a unir as tribos medas. A revolta foi bem-sucedida e os medos alcançaram a independência, embora seu estado ainda não incluísse todas as províncias e tribos medas, e algumas áreas no oeste do Irã ainda estavam sob o domínio assírio.[1] As fontes assírias cessam antes 650 a.C. sem mencionar a fundação do reino medo centralizado, mas tudo indica que o surgimento do império foi após 650 a.C.[25] O unificador de todas as tribos medas em um único reino deve ter sido o filho de Déjoces, Fraortes,[26] que provavelmente é a mesma pessoa que Castariti mencionado acima.[27] Também é possível que o estado medo unificado só tenha surgido durante o reinado de Ciaxares, filho de Fraortes.[28]

Em meados do século VII a.C., Urartu, assim como a Assíria, representava uma séria ameaça para a Média e na primeira metade do século VII a.C. continuou sua atividade militar no leste, penetrando em território iraniano. Por volta de 640 a.C., no entanto, todas as fortalezas na parte oriental de Urartu foram destruídas e abandonadas. Isso poderia ser resultado apenas da expansão meda, pois naquela época não existia nenhum outro poder na região que fosse capaz de destruir Urartu. Provavelmente, os medos não apenas atacaram a parte oriental do país, mas também penetraram no interior de Urartu, que assim deixou de existir como um estado independente. Após a queda de Urartu, os medos começaram a conquistar a Pérsia. Mas, de acordo com Heródoto, que aparentemente não sabia nada sobre Urartu e Elão, a Pérsia foi a primeira nação a ser conquistada pelos medos. Acredita-se que a conquista da Pérsia tenha acontecido apenas algum tempo depois de 641 a.C., quando Ciro I, governante persa de Ansã, se tornou um tributário assírio após uma vitória decisiva dos assírios sobre o Elão.[1] Que um rei medo nesse período exerceu controle político e militar sobre a Pérsia é inteiramente razoável, embora não possa ser provado.[22] Segundo Heródoto, o rei Fraortes liderou um ataque contra a Assíria, mas o rei assírio conseguiu repelir a invasão e o próprio Fraortes, juntamente com grande parte de seu exército, teria morrido na batalha.[29] É pouco provável que o ataque fracassado de Fraortes tenha ocorrido durante o reinado de Assurbanípal (r. 668–631 a.C.). Somente após a morte de Assurbanípal é que tal ataque é pensável.[30]

Interregno cita[editar | editar código-fonte]

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Nos tempos antigos, as extensas áreas ao norte do Mar Negro e do Cáspio eram habitadas pelos citas. Etnicamente, esse povo parece ter sido conectado com muitos povos meridionais, como os partas e os ibéricos.[31] No final do século VIII a.C. e início do século VII a.C., grupos de guerreiros nômades entraram no oeste do Irã. Entre os grupos dominantes estavam os citas, e sua entrada nos assuntos do planalto ocidental durante o século VII a.C. talvez possa marcar um dos pontos de virada mais importantes na história da Idade do Ferro. Heródoto fala com alguns detalhes de um período de domínio cita, o chamado interregno cita na dinastia meda. A datação desse evento permanece incerta, mas tradicionalmente é vista como ocorrendo entre os reinados de Fraortes e Ciaxares.[22] O iranologista russo Edvin Grantovski data esse evento como ocorrendo entre 635 a.C. e 615 a.C., enquanto o historiador George Cameron data entre 653 a.C. e 625 a.C.[1]

Heródoto relata que Ciaxares queria vingar a morte de seu pai, Fraortes, e levantou um grande exército para derrotar os assírios. Ciaxares derrotou os assírios na batalha e cercava Nínive, a capital assíria, quando de repente foi atacado por um grande exército de citas.[32] É possível que os citas tenham se interessado na batalha dos medos ou o fato dos medos terem subjugados os citas do sul levou a uma grande invasão de citas da região transcaucasiana. Os exércitos meda e cita não eram incompatíveis: ambos eram guerreiros resistentes, tinham cavalaria e o arco como sua principal arma. Os medos certamente eram mais disciplinados e tinham uma maior variedade de armas e soldados, mas os citas tinham a vantagem numérica, além de ousadia imprudente e táticas difíceis. Os citas, liderados por Mádies, obtiveram a vitória e Ciaxares admitiu a suserania dos citas concordando em pagar um tributo anual. O jugo cita deve ter sido muito insuportável, caracterizado pela brutalidade, injustiça e altos impostos. A condição da Média e dos países circunvizinhos durante o domínio cita é desconhecida, mas parece os invasores não estabeleceram lugares fixos. Eles certamente ocuparam poucos lugares no vasto território que haviam subjugado e, consequentemente, não havia muito contato entre eles e os povos conquistados. Conforme o tempo passava, os citas se espalhavam gradualmente por um espaço cada vez mais amplo, invadindo a Mesopotâmia, Síria, Palestina, Armênia e Capadócia, tornando-se cada vez mais fracos. Diante da situação favorável, os medos se prepararam para recuperar sua independência. Segundo Heródoto, Ciaxares convidou os líderes citas para um banquete e os induziu a beber até que estivessem totalmente bêbados, atacou-os e os matou facilmente. Consequentemente teria se sucedido uma guerra, cuja duração e circunstâncias são desconhecidas. Segundo Ctésias, os partas se aliaram aos citas e a guerra teria durado muitos anos; e a paz foi finalmente concluída sem que nenhum lado ganhasse a vantagem. Mas essa história dificilmente pode ser aceita como tendo qualquer fundamento histórico. A única certeza é que o resultado da guerra foi a derrota dos citas, que perderam sua posição de preeminência na Média e nos países adjacentes.[31] No entanto, é mais provável que, nessa época, os citas se retirassem voluntariamente do oeste do Irã e fossem saquear em outros lugares ou fossem simplesmente absorvidos por uma confederação em rápido desenvolvimento sob a hegemonia meda.[22]

Heródoto acreditava que desde a vitória cita sobre os medos até o assassinato dos líderes citas foi um período de exatamente 28 anos, mas essa cronologia está aberta a grandes objeções.[31] É muito improvável que os citas tenham dominado os medos por vinte oito anos, os citas eram nômades da Ucrânia moderna e, embora fossem guerreiros ferozes, eram incapazes de governar grandes territórios por um longo período.[32] Se 28 dos 40 anos de reinado atribuídos a Ciaxares forem considerados anos de inação, todas as suas grandes façanhas, seus cercos à Nínive, a conquista dos países ao norte e oeste da Média, e sua guerra de cinco anos contra a Lídia, seriam aglomerados de forma muito improvável num curto espaço de tempo. Essas e outras razões levam à conclusão que a dominação cita foi de muito mais curta. Não pode ter se passado muito tempo depois do ataque cita para que os medos começassem a se recuperar e limpar seus territórios dos citas. Se a invasão ocorreu no reinado de Ciaxares, e não no reinado de Fraortes, onde Eusébio a coloca, devemos supor que oito anos após sua ocorrência os medos estavam fortes para retomar seus antigos projetos e, pela segunda vez, levar um exército para a Assíria.[31] Embora não seja implausível, exceto pela duração da invasão cita,[32] a história da dominação cita tem um caráter lendário e não é confiável, uma vez que não pode ser reconciliada com a verdadeira história da Média no século VII a.C. e com todo o resto do antigo Oriente Próximo.[1] Apesar da historicidade do interregno cita ser duvidosa, os citas são mencionados nas fontes assírias no mesmo período do suposto interregno.[33]

Queda do Império Assírio[editar | editar código-fonte]

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Mapa do Império Neoassírio

As fontes assírias mantêm silêncio sobre os iranianos durante o reinado de Assurbanípal (r. 668–631 a.C.), o que pode ou não indicar que a Assíria estava menos preocupada com eles do que durante o reinado de Assaradão.[30] No entanto, tudo parece indicar que os assírios estão gradualmente perdendo o controle sobre as províncias estabelecidas nos Zagros, enquanto suas ofensivas militares prejudicaram várias entidades políticas na região, principalmente Manai e Ellipi. Isso poderia ter ajudado a deixar espaço para o desenvolvimento de um reino medo unificado, que nunca é mencionado nas fontes assírias, que não documentam essa região nos anos que seriam os da ascensão de Ciaxares.[34] Após a morte de Assurbanípal em 631 a.C., o Império Assírio entrou num período de instabilidade política e começou a se desfazer.[35] Em 626 a.C., os babilônios se rebelaram contra a dominação assíria. Nabopolassar, governador das regiões do sul e líder da revolta, foi logo reconhecido como rei da Babilônia, e em 616 a.C. ele estava no controle total de todo o território babilônico; então ele marchou contra a Assíria.[1]

Ciaxares (r. 625–585 a.C.), filho de Fraortes, é uma figura totalmente histórica sendo mencionado nas fontes cuneiformes. Os anos de sua suposta ascensão no poder não são documentados pelas fontes assírias, que nunca deixaram nada além da imagem de um país politicamente fragmentado.[36] O historiador Heródoto fala de como ele reorganizou o exército medo em unidades por tipo de armamento, dividindo-o em lanceiros, arqueiros e cavalaria no lugar das antigas levas estruturados por princípios tribais. Os eventos subsequentes da história meda são bem conhecidos a partir de fontes babilônicas, e seus vários episódios são descritos por Heródoto. Os medos unificados e reorganizados eram páreo para os assírios, a força político-militar mais poderosa da região. Liderados por seu rei Ciaxares, os medos também decidiram guerrear contra os assírios e em novembro de 615 a.C. atacaram uma das importantes cidades fronteiriças assírias, Arrapa (atual Quircuque) e anexaram o território de seu ex-aliado, Manai. Em 614 a.C., os medos apreenderam Tarbisu, localizada ao longo do rio Tigre, ao norte de Nínive, a capital da Assíria. Eles também cercaram Nínive, mas não conseguiram capturá-la, e, em vez disso, tomaram com sucesso o centro religioso assírio, Assur.[1] O rei Nabopolassar foi com seu exército ao campo de batalha para ajudar os medos na conquista de Assur, porém, quando chegaram, a cidade já havia sido conquistada. A partir deste momento Ciaxares e Nabopolassar uniram forças e atacaram o Império Assírio em duas frentes. O historiador babilônico Beroso menciona que essa aliança entre a Babilônia e a Média foi selada com o casamento da neta de Ciaxares, Amitis, com o filho de Nabopolassar, Nabucodonosor II. Mas é impossível que Amitis seja neta de Ciaxares, pois Astíages, o filho dele, era muito jovem; e com toda a probabilidade, Amitis era filha do próprio Ciaxares e portanto, irmã de Astíages.[32] Em agosto de 612 a.C., após três meses de cerco, as forças militares medas e babilônicas unidas finalmente entraram em Nínive e a conquistaram. O rei assírio Sinsariscum foi morto, mas parte do exército assírio conseguiu romper as linhas do cerco a Nínive e fugir para Harã, na Alta Mesopotâmia, onde, sob comando de Assurubalite II, continuaram a guerra. Nesse ínterim, os medos voltaram para sua terra com a parte dos despojos, deixando os babilônios para terminar a guerra com os assírios. O faraó egípcio Neco II enviou ajuda ao exército assírio que havia se entrincheirado em Harã. Então Nabopolassar parece ter pedido ajuda aos medos.[24] Em novembro de 610 a.C., os medos retornaram a Mesopotâmia em assistência aos babilônios e suas forças unidas marcharam para Harã; ao se aproximarem, os assírios e egípcios recuaram para Carquemis, uma cidade no Alto Eufrates. Os medos saquearam Harã e retornaram para sua terra. Em 605 a.C., os babilônios marcharam para Carquemis e a conquistaram, derrotando totalmente os assírios e egípcios. Não está claro se os medos também participaram dessa derrota final dos assírios,[1] mas é provável que eles tenham auxiliado os babilônios.[31] A questão, é claro, era como dividir o território assírio entre a Média e a Babilônia. As fontes cuneiformes são comparativamente silenciosas[22] e há controvérsias sobre onde ficava a fronteira entre os dois países. Fontes gregas diretas implicam ocupação meda, fontes cuneiformes não negam isso, mas não impõe uma visão da Assíria e do norte da Mesopotâmia como parte do Império Medo.[25] Até recentemente, era uma opinião comum que, como resultado da queda da Assíria, os medos tomaram posse das terras assírias a leste do rio Tigre, bem como da região de Harã. Esta visão foi revisada e acredita-se que o núcleo assírio estava sob o domínio babilônico. Em qualquer caso, nenhum conflito direto entre a Média e a Babilônia pela fronteira foi registrado, mas as relações entre os dois países se deterioraram claramente desde a queda da Assíria. Os limites ocidentais da Média ficaram perto das planícies mesopotâmicas[1] tendo os medos tomado posse das áreas montanhosas ao norte da Mesopotâmia e as províncias assírias na Ásia Menor.[22] Assim, dois impérios consideráveis surgiram ao mesmo tempo — o Império Babilônico em direção ao sul e sudoeste, estendeu-se do Golfo Pérsico às fronteiras do Egito, e o Império Medo ao norte, alcançando desde o deserto de Cavir até o Alto Eufrates.[31] De fato, a razão para a ascensão da Média sob Ciaxares e um colapso tão rápido da Assíria permanecem inexplicáveis devido à falta de fontes assírias desta época.[15]

Expansão[editar | editar código-fonte]

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O período de expansão das fronteiras medas não é mencionado nos registros assírios e, uma vez que não há registro dos próprios medos, sua história não pode ser restaurada por materiais históricos contemporâneos.[37]

Após a conquista da Assíria, Ciaxares teria continuado a expandir as fronteiras de seu império subjugando os países vizinhos. As evidências indiretas posteriores parecem sugerir que os medos podem ter expandido suas fonteiras para as terras ao leste do Irã, mas tal extensão para o leste é muito questionável.[25] Ciaxares parece ter obtido sucesso na conquista da Hircânia e Pártia.[1] Os medos também podem ter subjugado Sagárcia,[38] Ária[39] e Drangiana.[40] A autoridade meda até parece estar implícita sobre a Báctria - por Ctésias, relacionando sua submissão a Ciro, o Grande devido à sua aparente legitimidade no trono medo. Qualquer que seja o papel político dos medos no leste, a representação de uma embaixada indiana na corte de Ciaxares (Xenofonte, Ciropédia 2.4.1) parece um resultado plausível de contatos comerciais e até mesmo de tributo pago pelos indianos a oeste do Indo parece possível (Arriano, Ind. 1.3).[38]

Ciaxares teria avançado progressivamente para o noroeste, anexando Urartu[d] e a Capadócia. Os povos que estavam sob o jugo da Assíria foram libertados após sua queda, e certamente usariam a oportunidade para reestabelecer sua independência, caso não lhes fosse mostrado o mais rápido possível que um novo poder político de força similar havia ocupado o lugar dos assírios e estavam prontos para reivindicar sua herança. Em poucas palavras, Heródoto nos diz que Ciaxares subjugou toda a Ásia à leste do rio Hális. Não é possível determinar quanto território pode ser incluído nesta expressão, mas, prima facie, pelo menos parece sugerir que ele se envolveu numa sequência de batalhas com várias tribos e nações da região e conseguiu impor seu jugo sobre elas. Urartu resistiu por séculos aos esforços assírios para trazê-la aos seus domínios, porém, após um período de declínio, o país se tornou dependente da Assíria.[31] Sabe-se muito pouco sobre o fim de Urartu pois as fontes escritas termina após 640 a.C. e embora os citas e os medos serem postulados como responsáveis pelo fim de Urartu, o consenso geral é de que Urartu foi destruído pelos medos no final do século VII a.C. Uma razão particular para esta visão é a afirmação de Heródoto de que os medos expandiram suas fronteiras até o rio Hális. A fronteira meda até o Hális é geralmente aceita como um fato histórico, sendo os medos de alguma forma capazes de estender seu domínio para o oeste.[25] Se os medos não avançaram tanto para o oeste, consequentemente, não haveria conquista e Urartu.[15] A Capadócia estava mais distante das fronteiras assírias e ainda não tinha colidido com nenhuma das grandes potências asiáticas. No início do século VII a.C., os cimérios invadiram o Cáucaso e a Anatólia. Enquanto os cimérios se estabeleciam nas planícies da Capadócia, emergia na Anatólia um reino em rápido desenvolvimento, a Lídia, com capital em Sardes. Os governantes lídios repeliram a invasão ciméria e iniciaram uma ofensiva para o leste, aproximando-se gradualmente da Capadócia.[41] O poder cimério — outrora grande e significativo na Capadócia também entrou em colapso, quase ao mesmo tempo que Urartu. Havia espaço para os medos, que após anexar Urartu, entraram na Ásia Menor subjugando a Capadócia.[25]

Outras tribos que viviam nesta região eram os ibenanos, colcos, macronos, moscos, marres, mossínecos e tibarenos. A afirmação de Heródoto, de que os medos avançaram até o Hális, parece implicar que todas essas tribos, com exceção dos colcos, foram subjugadas por Ciaxares, que assim estendeu seu império ao Cáucaso e ao Mar Negro até o rio Hális (atual Quizil-Irmaque). Pode ser que a subjugação desses territórios não tenha sido uma conquista, e sim, uma submissão espontânea dos habitantes ao país que aparentava ser suficientemente forte para libertá-los da opressiva dominação dos citas, que provavelmente ainda estavam na Ásia Ocidental. Segundo o geógrafo Estrabão, a Armênia e a Capadócia foram as regiões mais severamente devastadas pelos citas. Tanto os armênios quanto os capadócios devem ter achado a dominação cita tão insuportável que a trocaram alegremente para a dependência de uma nação igualmente civilizada. Uma causa semelhante exerceu uma influência unificadora na Ásia Menor, a necessidade de unir forças contra os invasores cimérios fez com que as tribos que habitavam a oeste do rio Hális se estabelecessem sobre a supremacia dos lídios. Evidentemente, é provável que opressiva dominação cita tenha disposto os povos da margem oriental do rio a adotar o mesmo remédio, pois os medos já haviam demonstrado sua força, primeiramente expulsando os citas de seu país e posteriormente derrotando os assírios.[31]

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Expansão do território medo para o oeste

Outra causa que também poderia ter facilitado a conquista meda foi um influxo ariano nos países situados entre o Cáspio e o Hális. Durante o período assírio as tribos turanianas eram predominantes na região, mas na segunda metade do século VII a.C. essas tribos parecem ter cedido a supremacia aos arianos. A difusão dos arianos na Armênia e na Capadócia teria contribuído para facilitar a supremacia meda, pois as tribos arianas não se incomodariam muito em entregar sua independência nas mãos de um povo próximo.[31] Além de Heródoto, não temos nenhuma outra fonte que possa lançar luz sobre a expansão meda para o oeste. As escassas informações fornecidas pelas fontes cuneiformes não mostram a dominação ou influência meda no leste da Anatólia.[25] A expansão meda para o oeste ainda permanece em debate e na ausência de evidências concretas, o historiador Robert Rollinger sugeriu que a Ásia Menor nunca esteve sob controle direto e estável dos medos.[42]

Conflitos com a Lídia[editar | editar código-fonte]

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Lídia (em amarelo) no mapa

O avanço de sua fronteira ocidental até o rio Hális, colocou os medos em contato com um novo poder político — a Lídia, que se tornara um dos países mais ricos e poderosos da época, e era o poder político dominante na Ásia Menor. A Lídia, em comparação com a Média, era apenas um estado pequeno, mas seus recursos não eram inferiores. Assim, mesmo sozinha, a Lídia não era um inimigo desprezível; mas é pouco provável que ela teria sido páreo para a Média sem a ajuda de aliados. Quando Ciaxares terminou de conquistar a Capadócia deve ter olhado para as terras a oeste do rio Hális e visto uma região de grandes planícies férteis, que parecia convide um invasor e um pretexto para um ataque logo aconteceria. Um grupo de citas nômades havia prestado serviço aos medos sob o comando de Ciaxares, e por algum tempo serviu-o fielmente, principalmente como caçadores. Uma causa de disputa, entretanto, surgiu depois de um tempo; e os citas, não gostando de sua posição ou desconfiando das intenções de seu soberano em relação a eles, abandonaram o território medo e fugiram para a Lídia. Ciaxares enviou uma embaixada à corte de Sardes para exigir a extradição dos fugitivos, mas o monarca lídio, Alíates, recusou-se a atender seu pedido e, como resultado, o rei medo marchou contra a Lídia com um enorme exército, levando a uma guerra que durou por cinco anos. Ciaxares cruzou o Hális, mas ele só poderia chegar a Lídia através dos territórios de outras nações, que evidentemente pretendia conquistar. Durante o período de domínio assírio, desenvolveu-se entre as tribos asiáticas uma tendência de se unir em ligas para resistir ao inimigo e as circunstâncias exigiam que tal liga fosse formada. Concluir-se, portanto, que os reis da Ásia Menor resolveram fazer causa comum, e que, já tendo atuado sob Lídia na expulsão dos cimérios de seus territórios, eles naturalmente a colocaram à frente quando se uniram pela segunda vez. Ciaxares deve ter solicitado e obtido um contingente do rei babilônico, Nabucodonosor II, e provavelmente recebeu a ajuda de outros aliados também. Não existe um relato detalhado da guerra, mas, de acordo com Heródoto, Ciaxares encontrou uma resistência muito forte; nos cinco anos de guerra que se sucederam numerosos combates foram travados; às vezes os medos derrotavam seus adversários; e outras vezes, os lídios e seus aliados obtiveram vitórias decisivas sobre os medos.[31] A guerra de cinco anos pode até se assemelhar às ações medas contra os assírios entre 615 e 610 a.C. — incursões intermitentes, deixando um legado de alarme sobre os inimigos que aparecem através de uma fronteira oriental. Na verdade, o tipo de horror que os medos causaram é aludido em Isaías 13:17-18 em que os medos são descritos como um povo que não se importam com ouro e prata e massacram rapazes, crianças e bebês sem piedade pode ser uma evidência positiva a favor de tal cenário.[25]

No sexto ano de guerra uma circunstância notável a levou ao fim. Os dois exércitos mais uma vez se encontraram e estavam lutando, quando, no meio do conflito, uma escuridão assombrosa caiu sobre os combatentes e os encheu de temor supersticioso. O sol foi eclipsado, total ou pelo menos consideravelmente, de modo que a atenção dos dois exércitos foi atraída para ele; e, interrompendo a luta. No Antigo Oriente, a ocorrência de eclipse era vista com muito pavor. Convencidos de que a ira dos deuses caíra sobre eles, as duas nações agora estavam dispostas a concluir um tratado de paz, mediado por Labineto da Babilônia (possivelmente Nabucodonosor II) e Sienésis I da Cilícia. O tratado e os termos de paz foi aceito por ambos os lados. Uma vez que nada é dito sobre os citas, presumir-se que Alíates os reteve. É claro que ele e seus aliados preservaram sem redução seus territórios e sua independência. A base territorial do tratado era portanto, o que na linguagem diplomática moderna é chamado de status quo; em outras palavras, as coisas voltaram à posição em que estavam antes do início da guerra. A única diferença é que Ciaxares ganhou um aliado; visto que os dois reis deveriam jurar amizade, e que, para selar o acordo, Alíates deveria dar sua filha Arienis em casamento a Astíages, filho de Ciaxares.[31] Assim, um novo equilíbrio de poder foi estabelecido no Oriente Médio entre medos, lídios, babilônios e, muito mais ao sul, egípcios.[22] Como as datas dos eclipses podem ser determinadas astronomicamente, a Batalha do Hális deve ter ocorrido em 28 de maio de 585 a.C.[32]

Período de prosperidade[editar | editar código-fonte]

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Mapa do Império Medo em sua extensão máxima

Com o acordo estabelecido entre Ciaxares e Alíates, as três grandes potências da época — Média, Lídia e Babilônia — foram colocadas em termos de amizade e de parentesco consanguíneo. Os príncipes herdeiros dos três países se tornaram parentes. Do Mar Egeu ao planalto iraniano, a Ásia Ocidental estava governada por dinastias interconectadas, obrigadas a respeitar os direitos umas das outras e talvez a prestar ajuda mútua em conjunturas importantes. Após séculos de guerra e devastação quase constantes, a antiga monarquia da Assíria entrou em declínio dando espaço para o novo Império Medo erguer-se em seu lugar, e, consequentemente, esta parte do continente asiático entrou num período de paz nunca antes experimentado. Desde o acordo entre os medos e lídios, as três potências da época permaneceram aliadas por quase meio século, seguindo seus caminhos sem disputas ou colisões, e assim as nações dentro de seus respectivos domínios também desfrutaram de um período de paz.[31] Ciaxares morreu em 585 a.C., quase imediatamente após o acordo de paz com os lídios, após um reinado que durou quarenta anos, deixando o trono para seu filho Astíages. Devido ao seu casamento com Arienis, Astíages se tornou cunhado do futuro rei Creso; e graças ao casamento de sua irmã, Amitis, com o rei babilônico, Nabucodonosor II, ele se tornou cunhado deste último também.[32] A filha de Astíages, Mandane, se casa com o vassalo governante persa Cambises I, com quem teria um filho, Ciro, o Grande, conectando a dinastia meda a dinastia aquemênida.[43]

Aparentemente, o longo reinado de Astíages foi relativamente imperturbado até pouco antes de seu encerramento, por guerras. Eusébio relata que Astíages conduziu a grande competição lídia; e Moisés de Corene declara que travou uma longa luta com um rei armênio chamado Tigranes. Mas pouco crédito pode ser atribuído a essas declarações, a primeira contradiz Heródoto, enquanto a última não tem o apoio de nenhum outro escritor. Algumas razões levam a acreditar, que sob Astíages, os medos conseguiram estender rapidamente os limites de seu império para alguma direção. Na fronteira nordeste vivia os cadúsios, uma poderosa tribo de origem ariana, que mantinha sua independência. Parece que os cadúsios se submeteram aos medos, sem qualquer luta hostil.[31]

Durante seu reinado que durou trinta e cinco anos, Astíages se absteve quase totalmente de empreendimentos militares e as classes superiores e inferiores prosperaram muito nesse período de paz.[31] É possível caracterizar o reinado de Astíages, que prestou grande atenção ao progresso do país, fortalecendo a situação econômica e social, como um período de desenvolvimento de vários campos da cultura meda.[44]

Queda do Império[editar | editar código-fonte]

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Relevo mostrando Ciro, o Grande, fundador do Império Aquemênida

A Pérsia era um reino vassalo dos medos desde o final do século VII a.C.[43] Em 553 a.C., os persas se revoltaram contra o domínio medo. De acordo com Heródoto, Ciro, sendo neto de Astíages e seu vassalo, rebelou-se contra ele. As fontes babilônicas não afirmam que ele era neto de Astíages e seu vassalo; eles se referem a ele apenas como "o rei de Ansã" (ou seja, da Pérsia), enquanto Astíages é chamado de "rei dos medos". Como visto nas fontes babilônicas, a guerra entre a Média e a Pérsia começou no terceiro ano do reinado de Nabonido, ou seja, em 553 a.C., e a data da derrota da Média no sexto ano de Nabonido (isto é, 550 a.C.). Segundo Heródoto, o general meda Hárpago organizou uma conspiração contra Astíages e durante uma batalha ele desertou com grande parte das tropas para o lado de Ciro. Então o próprio Astíages comandou o exército na batalha, mas os medos foram derrotados e seu rei foi feito prisioneiro. Esta afirmação de Heródoto é apoiada em esboço pela Crônica de Nabonido, que afirma que, no sexto ano do reinado de Nabonido, Astíages convocou suas tropas e marchou contra Ciro. Em seguida, acrescenta que as tropas de Astíages se revoltaram, o fizeram prisioneiro e o entregaram a Ciro.[1] A captura de Astíages marcou o fim da monarquia meda. Evidentemente, Astíages não tinha um filho homem para sucedê-lo e dá continuidade a luta. De qualquer forma, a captura do soberano possivelmente causaria a submissão imediata de seu povo. No Antigo Oriente, o rei era tão associado ao seu reino que a posse deste era considerada como uma transição do poder ao possuidor.[31] É possível que a causa mais profunda da rebelião do exército medo tenha sido a insatisfação com a política de Astíages. No século VI a.C., as tribos iranianas se tornaram cada vez mais estabelecidas, e seus chefes não eram mais como os primeiros chefes tribais, mas começaram a se comportar como reis. Quando Astíages começou a punir alguns desses chefes tribais, a revolta foi inevitável.[43]

De acordo com a Crônica de Nabonido, após a captura de Astíages, Ciro marchou para Ecbátana e levou os objetos de valor da cidade para Ansã.[1] Parece que Ciro não precisou sitiar Ecbátana, pois todo o estado medo, juntamente com seus países súditos, imediatamente se submeteram aos persas, ao saber do ocorrido. De fato, a Média não recebeu auxílio dos países com que havia feito alianças tão estreitas — Lídia e Babilônia. A Lídia era um país muito distante do cenário do conflito, de modo que não pode dar uma ajuda eficiente, enquanto certos ocorridos na Babilônia tornaram esse país hostil aos medos. Se Nabucodonosor II estivesse no trono, certamente teria vindo em assistência ao seu cunhado, Astíages. No entanto, Nabucodonosor morreu em 562 a.C. Seu filho, Evil-Merodaque, provavelmente manteria as alianças de seu pai, mas ele foi assassinado em 560 a.C. por Neriglissar, que assumiu o trono babilônico e reinou até 556 a.C. Naturalmente, este não teria boas relações com os medos e é possível que ele teria muito prazer em ver a ruína do Império Medo.[31] Após sua morte, Neriglissar foi sucedido por seu filho, Labasi-Marduque, que reinou apenas alguns meses antes de ser assassinado em um golpe palaciano. Seu sucessor, Nabonido, evidentemente também não manteve boas relações com os medos.[45][46]

Assumir o controle do Império Medo vagamente organizado também implicava assumir o controle de vários países súditos: Armênia, Capadócia, Pártia, e talvez Ária.[8] De acordo com Heródoto, o pai de Ciro, Cambises I, foi casado com Mandane, filha de Astíages. Isso explicaria por que os medos aceitaram o reinado de Ciro. Os casamentos diplomáticos eram comuns, mas também é possível que a história do casamento de Cambises com Mandane tenha sido inventada para justificar o governo de Ciro sobre os medos.[47] Segundo o historiador Ctésias, Astíages tinha uma filha chamada Amitis, que era casada com Espitamas, um nobre meda, que assim se tornou o suposto sucessor de seu sogro. Após subjugar os medos e matar Espitamas, Ciro teria se casado com Amitis para obter legitimidade. Embora a autenticidade do relato de Ctésias seja questionável, é muito provável que Ciro tenha se casado com uma filha do rei medo.[48]

Ecbátana tornou-se uma das capitais do recém-estabelecido Império Aquemênida.[1] A derrota de Astíages não foi o fim da guerra, entretanto, porque seu cunhado Creso, rei da Lídia, iniciou um confronto contra Ciro na esperança de vingar a derrota de seu cunhado e expandir suas fronteiras para o leste. Essa batalha terminou numa derrota catastrófica para os lídios, que em c. 547 a.C., viram seu país ser conquistado pelos persas.[43] Oito anos depois, Ciro conquistou a Babilônia, pondo fim aos três estados mais poderosos de todo o Oriente Próximo: Média, Lídia e Babilônia, em apenas uma década.[46]

Domínio aquemênida[editar | editar código-fonte]

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Baixo-relevo aquemênida do século V a.C. que mostra um soldado medo atrás de um soldado persa

Parece que Ciro não aboliu o reino medo. O que ocorreu foi uma transição do poder real de uma dinastia para outra. De qualquer forma, Ciro e seus sucessores aquemênidas adotaram os títulos oficiais dos reis medos e seu sistema de administração estatal. No Império Aquemênida, a Média manteve sua posição privilegiada, ocupando o segundo lugar, depois da própria Pérsia. A Média era uma província grande, e sua capital, Ecbátana, se tornou uma das capitais aquemênidas e a residência de verão dos reis persas.[1] O domínio persa na Média foi abalado por uma grande revolta no início do reinado de Dario, o Grande. Ele toma o poder após assassinar o usurpador Gaumata. Esse evento foi seguido por uma série de rebeliões que ocorreram na Babilônia e Elão. Quando Dario suprimiu essas rebeliões e ficou na Babilônia, um certo Fraortes (ou Castariti) fez sua tentativa de conquistar o poder e restaurar a independência meda. Ele afirmou ser descendente de Ciaxares e assumiu o trono com o nome de Khshathrita; ele conseguiu apreender Ecbátana, a capital da Média, em dezembro de 522 a.C. Mais ou menos ao mesmo tempo, houve uma nova rebelião em Elão e houve rebeliões em províncias adjacentes, como Armênia, Assíria e Pártia. Na primavera, o líder persa invadiu a Média pelo oeste e, em maio de 521 a.C., derrotou Fraortes. A vitória persa foi completa, e Fraortes fugiu para a Pártia, mas foi capturado em Rages (atual Teerã). Posteriormente, o rei rebelde foi torturado e crucificado em Ecbátana. Após sua vitória, Dario poderia enviar tropas para a Armênia e para a Pártia, onde seus generais conseguiram derrotar os rebeldes restantes.[49]

Um sagárcio chamado Tritantecmes, que também afirmava ser descendente de Ciaxares, deu continuidade a rebelião, mas também foi derrotado. A supressão desta última rebelião encerra as histórias de eventos que se relacionam pelo menos em parte ao antigo Império Medo. Após a conquista e a pacificação desta revolta, a Média continua sendo uma satrapia do Império Aquemênida. Nos primeiros anos após o golpe de Dario, o general persa Hidarnes I foi sátrapa da Média. Depois disso, o país mais ou menos desaparece dos registros históricos.[16]

Política e administração[editar | editar código-fonte]

Gerenciamento administrativo[editar | editar código-fonte]

Estado medo antes de suas fronteiras serem expandidas (laranja) e após sua expansão (amarelo)

Atualmente, não temos informações diretas sobre sua estrutura política, econômica e social. Aparentemente, em muitos aspectos o sistema administrativo medo se assemelhava ao da Assíria, sob cujos auspícios os medos está há muitos anos.[1] Acredita-se que a estrutura administrativa do estado medo mais tarde tenha se tornado uma forma mais desenvolvida no sistema administrativo do Império Aquemênida.[50]

O Império Medo provavelmente era dividido em várias satrapias governados por sátrapas (“protetores do reino”).[51] Os “olhos do rei”, às vezes chamado de “olhos e ouvidos do rei”, foram designados pelo soberano para informá-lo sobre o que estava acontecendo no império. Eles supervisionavam o pagamento dos tributos e possíveis planos de conspiração relatando suas informações ao rei. Mesmo quando o monarca não estava presente, as pessoas sabiam que ele seria informado de suas ações.[52] O Império Medo parece ter sido um aglomerado de reinos, cada um governado por um rei nativo. Os medos apenas reivindicaram suserania direta sobre as nações imediatamente após sua fronteiras; nações mais distantes eram colocadas sob o domínio das nações próximas, e era esperado que estes últimos coletassem e remetesse o imposto das nações remotas. O Império Medo era vagamente organizado e que sua falta de organização foi o que levou a sua queda.[31] O historiador János Harmatta defende outra opinião e, com base em evidências linguísticas, afirma que os medos tinham um sistema burocrático altamente desenvolvido, que posteriormente foi adotada também pelos aquemênidas.[1] Também é possível que a autoridade sobre os vários povos, iranianos e não-iranianos, fosse exercida na forma de uma confederação, como está implícito no antigo título real iraniano, “rei dos reis”.[22]

Segundo a geografia armênia, a Média era dividida em onze distritos, mas em geral os geógrafos modernos preferem a divisão evidente e reconhecem nas partes constituintes do país apenas Média Atropatene (atual Azerbaijão) e Média Magna, uma divisão que quase corresponde as províncias iranianas de Iraque persa e Ardelan. É provável que essa divisão fosse antiga, Atropatene sendo o território original dos medos, e Média Magna um território conquistado posteriormente; mas devido a obscuridade da história do país ainda é incerto se essa divisão existia no período do império. Atropatene era um distrito localizado no extremo norte da Média, estando logo ao sul do Mar Cáspio e compreendendo toda a bacia do lago Úrmia.[31]

Corte real[editar | editar código-fonte]

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Representação artística de nobres medos

As informações disponíveis sobre a corte imperial meda são muito limitadas e não totalmente confiáveis. Em sua descrição encantadora da juventude de Ciro, o Grande, o historiador Heródoto sugere que a corte meda tinha vários cortesãos, sendo eles guarda-costas, mensageiros, o "olho do rei" (uma espécie de agente secreto) e construtores. Quando Ciro conquistou o Império Medo ele provavelmente continuou a organização e as práticas da corte meda, incluindo formas de etiqueta, cerimonial e protocolo diplomático que os medos, por sua vez, herdaram da Assíria. De acordo com Ctésias, um dos cargos da corte meda era o de copeiro real.[53] Entre outras posições na corte dos medos estariam o mordomo real, servos, porteiros e varredores.[31]

De acordo com Heródoto, assim que assumiu o trono, Déjoces ordenou que uma cidade-fortaleza fosse construída para ser sua capital; toda a autoridade governamental estava centralizada nesta cidade, Ecbátana. Para a sua corte ele criou um cerimonial judicial regulamentado, para que as pessoas o considerassem como “de uma espécie diferente”.[20] Em circunstâncias normais, o monarca se mantinha isolado em seu palácio e ninguém poderia vê-lo, a menos que ele formalmente solicitasse uma audiência e fosse apresentado à presença real por um oficial. Ele estava cercado por guarda-costas para sua segurança pessoal e raramente deixava seu palácio, contentando-se com os relatórios do estado de seu império que eram transmitidos a ele de vez em quando por seus oficiais.[31] Ninguém poderia rir ou cuspir diante da presença real, bem como na presença de qualquer outra pessoa, pois tal ato era considerado indigno e vergonhoso. Consolidada a autoridade real, Déjoces pôs-se a fazer justiça com toda severidade. Os processos lhe eram enviados por escrito; ele os julgava e os devolvia com a sentença. Ele impôs a lei e a ordem ao colocar observadores e ouvintes em todo o seu reino, os chamados "olhos do rei", vigiando as ações dos súditos reais.[54][20] Do mesmo modo como outros governantes orientais, o monarca medo tinha várias esposas e concubinas; e era comumente praticada a poligamia entre as classes mais ricas e proeminentes. As principais características da corte meda não parecem ter diferido muito da corte assíria.[31]

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Os magos, segundo Heródoto, era uma casta sacerdotal muito influente na corte dos medos. Considerados como pessoas honradas, tanto pelo rei, quanto pelo povo, eles atuavam como intérpretes de sonhos, feiticeiros e conselheiros sobre diversos assuntos, inclusive os assuntos da política imperial. Obviamente, o cerimonial religioso estava sob sua responsabilidade; e provavelmente altos cargos de estado foram concedidos a eles. Os magos eram os únicos que tinham uma verdadeira influência sobre o monarca.[31]

A principal diversão da corte, da qual o rei raramente participava, era a caça, que frequentemente ocorria em uma floresta nas proximidades da capital. Às vezes o rei e seus cortesãos saíam em uma grande caça em campo aberto, onde poderiam se encontrar leões, leopardos, ursos, javalis, jumentos selvagens, antílopes, gazelas, asnos selvagens e veados. Como de costume, esses animais eram perseguidos a cavalo e miravam-se neles com arco ou dardo. Enquanto o soberano ficava admirando o esporte de seus cortesãos, mas não participando ativamente da caça. Caçadas como essas são mostradas nas esculturas dos partas, que alguns séculos mais tarde dominaram essa mesma região.[31]

Exército[editar | editar código-fonte]

Relevo aquemênida de um soldado medo, encontrado em Persépolis

Sabe-se pouco sobre o exército medo, mas certamente ele desempenhou um papel importante na história meda,[31] uma vez que os medos viviam em constante conflito com nações vizinhas, como assírios, citas, lídios e persas. O tradicional exército medo era baseado na cavalaria, uma característica não apenas dos povos iranianos, mas também de muitos outros povos do Oriente Médio.[55] No final do século VII a.C., os medos alcançaram notável progresso militar sob o rei Ciaxares, que, segundo Heródoto, foi o primeiro governante a dividir o exército em unidades especiais; soldados de infantaria, lanceiros, arqueiros e cavaleiros. Porque os gêneros mistos anteriores levaram a confusão do exército no campo de batalha. Esse testemunho mostra que antes de Ciaxares, os medos entraram em guerra em organização tribal - cada chefe trazendo e liderando sua infantaria e tropas montadas - e que o rei treinou as forças em um exército dividido em grupos táticos com armas unificadas; ele complementou isso com um batalhão de máquinas de cerco, e tendo-o suplementado com arqueiros sacas. Seu país montanhoso e natureza guerreira contribuíram para o desenvolvimento de um traje adequado para cavalaria: calças justas geralmente feitas de couro com um cinto extra para colocar uma espada curta; uma túnica longa e justa de couro e um elmo redondo de feltro com abas nas bochechas e protetor de pescoço, que também pode cobrir a boca; e um manto longo variegado jogado sobre os ombros e preso ao peito com mangas vazias suspensas nas laterais.[56]

O exército medo teve uma grande influência na formação do exército persa, como evidenciado pelas obras de Heródoto e pelos relevos de Persépolis, bem como pelo fato de que muitos generais medos, como Hárpago, Mazares e Dátis, serviram no exército persa.[56] Segundo Heródoto, durante as guerras greco-persas os soldados medos não diferiram muito dos persas. Ambos lutavam a cavalo e também a pé usando lanças, arcos e adagas, grandes escudos de vime e carregando as aljavas nas costas. As características do exército medo original, conforme indicado nas Escrituras Hebraicas e por Xenofonte, é mais simplista que a descrição de Heródoto. O exército medo aparenta ter sido baseado na arquearia a cavalo. Treinados desde a infância numa diversidade de exercícios equestres e no uso do arco, os medos procederam contra seus inimigos montados a cavalo, semelhante aos citas, e obteram suas vitórias sobretudo por sua destreza ao disparar flechas enquanto avançavam ou recuavam. Eles também usavam espada e lança, cujo emprego era comum em quase todo Oriente, mas evidentemente o terror que os medos inspiravam surgiu de sua habilidade excepcional na arquearia.[31]

Cidades[editar | editar código-fonte]

A cidade mais importante do império era a capital, Ecbátana — conhecida pelos medos e persas como Hagmatan. De acordo com Políbio e Diodoro, esta cidade estava situada no sopé do Monte Orontes (atual Monte Alvand), a leste dos Zagros. Diodoro atribui a capital meda uma circunferência de duzentos e cinquenta estádios, uma área equivalente a quase cinquenta milhas quadradas, mais do que o dobro da de Londres. É improvável que a capital meda tenha sido em seu auge uma cidade maior que Nínive, a capital do Império Neoassírio. Também é incerto se a cidade foi em algum momento cercada por muralhas. Políbio afirma que em seus dias Ecbátana era uma cidade sem muralhas e existem evidências para suspeitar que sempre esteve nessa condição. Como consequência, a cidade jamais teria resistido a um cerco. Quando os medos foram derrotados no campo de batalha, Ecbátana (ao contrário de Nínive e Babilônia) se submeteu aos persas sem qualquer luta hostil. É possível que a principal cidade no norte do país, que em tempos posteriores tinha o nome de Ganzaca, também se chamava Ecbátana e às vezes era confundida pelos gregos com a capital ao sul. Outra cidade muito importante era Rages, nas proximidades do Mar Cáspio, nos limites orientais do país. A posição que ocupa nos livros de Tobias e Judite indica sua importância na época do império. A cidade era o centro religioso do país e estava localizada em um distrito homônimo, que compreendia a estreita faixa de território fértil entre o Elburz e o deserto.[31]

Outras cidades medas, cuja localização pode ser determinada com grande probabilidade, estavam na parte ocidental da Média, na região de Zagros. Bagistana, Adrapana, Cancobar e Aspadana são algumas delas. Segundo Isidoro, Bagistana é uma “cidade situada em uma colina, onde havia um pilar e uma estátua de Semíramis”. A descrição de Isidoro e Diodoro identificam o lugar com a atual Beistum. Entre Bagistana e Ecbátana está situada a cidade de Adrapana. Segundo Isidoro, nesta cidade havia um palácio, que fora destruído por um rei armênio. É provável que Adrapana seja a atual vila de Artiman, localizada ao sul do Monte Alvand e bem adaptada para uma residência real. Durante o rigoroso inverno a capital e as regiões circunvizinhas ficam cobertas de neve, mas em Adrapana encontrar-se um clima quente e ensolarado; e no verão o lugar fica bem irrigado por vários riachos, permitindo que bosques cresçam abundantemente. Naturalmente este lugar seria escolhido para construir um palácio, aonde a corte real poderia se estabelecer, evitando assim o calor intenso do verão ou o frio e a poeira do inverno que tornam enfadonha a residência em Ecbátana. A cidade de Aspadana (moderna Isfahan), localizada no território da tribo meda dos paratacênios, é mencionada somente por Ptolemeu. É duvidoso se tal cidade existia na época do império. Se existisse, era, na melhor das hipóteses, uma cidade periférica sem grande importância no extremo sul do país, onde fazia fronteira com a Pérsia.[31]

Concluir-se que as cidades medas eram poucas, pois os medos preferiam espalhar-se em aldeias por seu vasto e variado território. A proteção das muralhas, que era necessária para os habitantes das terras baixas, não era necessária para um povo cujo país era repleto de fortalezas naturais. Com exceção de Ecbátana, Ganzaca e Rages, as cidades medas eram sem grande importância. Mesmo essas cidades eram provavelmente de tamanhos moderados e tinham pouco esplendor arquitetônico, diferentemente das cidades mesopotâmicas.[31]

Economia[editar | editar código-fonte]

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A criação de cavalos foi um dos principais ramos da economia meda

Os medos, assim como outros povos iranianos que se estabeleceram no planalto iraniano, viviam um estilo de vida pastoral. Sua principal atividade econômica era a criação de animais, como cavalos, gado, ovelhas e cabras domésticas.[57] A evidência arqueológica mostra que os medos possuíam hábeis trabalhadores em bronze e ouro. Os textos cuneiformes que relatam as incursões assírias na Média mostram que a excelente raça de cavalos criada pelos medos era um dos principais prêmios procurados pelos invasores. Em relevos assírios, os medos são às vezes representados usando o que parece serem capas de pele de ovelhas sobre as túnicas, e com botas altas com cordões, equipamento para o trabalho pastoril nos planaltos, onde os invernos traziam neves e frio intenso.[18]

O rico material arqueológico de Tepe Nus-i Jã, Godin Tepe e outros locais antigos, bem como relevos assírios, demonstram que na primeira metade do primeiro milênio antes de Cristo existiram assentamentos do tipo urbano em várias regiões da Média, que eram centros de produção de artesanato e de uma economia agrícola e pecuária sedentária. A julgar pelas fontes assírias, as ocupações econômicas básicas da população meda eram a criação de cavalos e a produção de artesanato. Dos distritos medos, os assírios receberam tributo a cavalos, gado, ovelhas nativas, camelos bactrianos, lápis-lazúli, bronze, ouro, prata e outros metais, além de tecidos de linho e lã.[1] Partes da Média eram ricas e produtivas, mas também havia muitas terras áridas. Embora o caráter geral do país seja a esterilidade natural, algumas regiões são mais favorecidas, como o Zagros e o Azerbaijão, onde o solo é quase todo cultivável e, se arado e semeado, produzirá uma excelente safra de grãos.[31] A agricultura era possível apenas nas partes leste e oeste do planalto iraniano. A parte central era um deserto, quase desprovido de vegetação, onde a agricultura estava restrita a poucos oásis. As partes oeste e leste estavam ligadas ao norte por uma estreita faixa de solo fértil ao sul do Cáspio, onde a terra é coberta por uma densa floresta[18] que proporciona uma madeira de excelente qualidade. O país é rico em metais, tais como ferro, cobre e aço. Também é rico em produtos minerais, como o quartzo, bem abundante no Curdistão. Entre todos os produtos minerais, nenhum é mais abundante do que o sal. Ao lado do deserto, na foz do rio Aji Chay, perto de Tabriz, existem extensas planícies que fornecem o sal em grande abundância. Na Média há inúmeras nascentes e riachos salinos, de onde o sal é obtido por evaporação. O país também fornece outros produtos importantes, como o salitre, enxofre, nafta e gesso.[31][58] A criação de cavalos acima mencionada teve um papel importante na economia local, no comércio e nas forças armadas, uma vez que os medos eram conhecidos por sua cavalaria.[57] A economia das aldeias se baseava em culturas como cevada, pão de trigo, ervilhas, lentilhas e uvas. As montanhas generosamente arborizadas proporcionavam uma extensa gama de caça, mas a criação de animais continuava nobre; a amostra de ossos domésticos em Nus-i Jã inclui nove espécies, sendo as mais comuns ovelhas, cabras, porcos e gado.[59]

O Império Medo provavelmente foi dividido em satrapias governadas por governantes provinciais, supõe-se que os povos subjugados como armênios, partas, arianos, drangianos e persas pagassem o imposto prescrito.[47] A importância do tráfego da Média está principalmente relacionada ao controle de grande parte da estrada leste-oeste que era conhecida na Idade Média como Rota da Seda. Essa estrada ligava os mundos oriental e ocidental, e conectava a Média com a Babilônia, Assíria, Armênia e o Mediterrâneo no oeste, e com a Pártia, Ária, Báctria, Sogdiana e China no leste. Outra estrada importante conectava Ecbátana com as capitais da Pérsia, Persépolis e Pasárgada. Além de controlar o comércio leste-oeste, a Média também era rica em produtos agrícolas. Os vales dos Zagros são férteis, e a Média era bem conhecida por suas plantas, ovelhas e cabras. O país poderia alimentar uma grande população e ostentava muitas aldeias e algumas cidades como Rages e Gabas.[8] A partir dos dados de Heródoto sabemos que, exceto durante alguns anos em que o Egito era uma província assíria, os recursos da Média ultrapassavam os da Assíria.[31]

Cultura[editar | editar código-fonte]

Sociedade[editar | editar código-fonte]

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Relevo em pedra de um homem medo

Antes da ascensão dos aquemênidas sob Ciro, o Grande, a Média obviamente era o foco do desenvolvimento do material iraniano e da cultura intelectual.[1] A quase completa falta de material escrito torna difícil saber como os medos concebiam sua sociedade. De acordo com Heródoto, a sociedade persa durante o reinado de Ciro, o Grande era composta de "numerosas tribos" (génea), e cada tribo foi dividida em “clãs” (phrātría). Este esboço geral do historiador grego reflete o conceito de que os grupos sociais aos quais os indivíduos pertencem são a família, o clã, a tribo e o país. Nas inscrições reais, a Pérsia é considerada o melhor país; o rei obtém "bons homens" e "bons cavalos" dele e busca a proteção de Aúra-Masda para ele por meio de suas orações. Dario, o Grande se descreve como persa, filho de persa e aquemênida. Embora as afiliações de clã ou conexões tribais de indivíduos importantes raramente sejam mencionadas em textos do período aquemênida, não pode haver dúvida de que os persas ainda se identificavam por suas relações com a família (nome do pai), clã e tribo. É bem provável que os medos também o tivessem feito, porque, de acordo com Heródoto, sua nação também era composta de tribos (génēa).[60]

Heródoto menciona seis tribos medas, mas quase não temos informações sobre essas tribos.[1] A vida familiar dos medos era baseada na autoridade patriarcal e a poligamia era permitida. Estrabão (Geograf. XI, 13.11) menciona uma lei estranha aplicada a todos os medos - uma lei que obrigava todo homem não ter menos que cinco esposas. É muito improvável que tal fardo fosse realmente obrigatório para alguém: muito provavelmente cinco esposas legítimas, e não mais, eram permitidas pela lei mencionada, assim como quatro esposas, e não mais, são legais para os muçulmanos.[31]

Os medos são retratados nos relevos de Persépolis. Esses relevos datam de 515 a.C., ou seja, apenas trinta e cinco anos após a queda do Império Medo, o que indica que essas representações podem ser relevantes no contexto da representação da aparência e das vestes medas. Os relevos representando os medos aparecem em três lugares, mostrando guardas, nobres e suas delegações. A razão para sua frequente representação reside no fato de que os medos tinham um status privilegiado no Império Aquemênida. O primeiro relevo mostra quatro medos e lanceiros persas. Nesse relevo, os medos usam casacos curtos, calças e gorros redondos, sob os quais parecem com cabelos crespos.[61] Até o presente momento não foram encontradas representações das mulheres medas em esculturas, mas de acordo com Xenofonte elas eram notáveis por sua estatura e beleza. As mesmas qualidades eram observáveis nas mulheres persas, conforme é dito por Plutarco e outros.[31]

Religião[editar | editar código-fonte]

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As informações sobre a religião dos medos são muito escassas. Entre 1967 e 1977, David Stronach escavou um edifício que havia sido construído por volta de 750 a.C. e parece ter caráter principalmente religioso. Esse edifício está localizada em Tepe Nus-i Jã, cerca de 60 km ao sul de Hamadã. O edifício foi erguido sobre uma rocha com cerca de 30 metros de altura e inclui um “Santuário Central”, “Santuário Ocidental”, “Fortaleza” e “Salão Colunado”, que eram cercados por uma parede de suporte circular de tijolos. O Santuário Central tinha uma forma de torre com um altar interno triangular. Seu espaço é de 11×7 metros e as paredes têm oito metros de altura. Perto do canto oeste do altar, foi descoberto um altar de fogo escalonado, construído com tijolos de barro. Como se sabe, o culto ao fogo era um legado indo-iraniano comum.[1]

O restante de nossas informações sobre a religião meda baseia-se principalmente nas Histórias de Heródoto. De acordo com o que ele relata os medos têm uma casta sacerdotal, os magos, que seriam uma das tribos deste povo. Eles tinham o direito ou privilégio de servir como sacerdotes não apenas para os medos, mas também para os persas. Assim, eles constituíam uma casta sacerdotal que passava suas funções de pai para filho. Na corte do rei Astíages, os magos atuavam como conselheiros, feiticeiros, intérpretes de sonhos e adivinhos. Assim, aparentemente, os magos tiveram um papel significativo na corte dos últimos reis medos. Os nomes pessoais dos indivíduos medos também são uma fonte de informação a respeito da religião meda. Os textos assírios dos séculos IX e VIII a.C. contém exemplos nos quais o primeiro elemento é familiar tanto do antigo persa quanto do avéstico: a palavra indo-iraniana arta- (lit. verdade) ou nomes teofóricos com Masdacu e até o nome do deus Aúra-Masda. A religião que os magos promoveram poderia ser algum tipo de pré-zoroastrismo ou o próprio zoroastrismo. Este é um tópico controverso sobre o qual os estudiosos ainda não concordaram. Os autores clássicos consideravam por unanimidade os magos como sacerdotes zoroastrianos. O orientalista Igor Diakonoff supôs que Astíages e talvez até Ciaxares já haviam adotado uma religião derivada dos ensinamentos de Zoroastro (embora certamente não seja idênticos à sua doutrina). A maioria dos estudiosos, no entanto, não compartilha dessa opinião. Mary Boyce chegou a argumentar que a existência dos magos na Média com suas próprias tradições e formas de culto era um obstáculo para o proselitismo zoroastriano ali. Com toda a probabilidade, desde o século VIII a.C., prevaleceu na Média um tipo de masdaísmo com tradições indo-iranianas comuns, para o qual características específicas do zoroastrismo eram estranhas, enquanto a religião reformada por Zoroastro começou a se espalhar no oeste do Irã apenas na primeira metade do século VI a.C., sob os últimos reis medos.[1][62] Também é sugerido que os medos podem ter praticado o mitraísmo e tiveram Mitra como sua divindade suprema.[63]

Língua[editar | editar código-fonte]

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Os medos falavam a língua meda, cuja origem e as características ainda são debatidas. No entanto, é claro que se trata de uma língua iraniana antiga, próxima do persa antigo, talvez ancestral do curdo.[64] Em sua Geografia, Estrabão menciona a afinidade da língua meda com outras línguas iranianas, afirmando que os povos iranianos falavam praticamente a mesma língua, mas com pequenas variações.[65]

Nenhum documento datado do período meda foi preservado, e não se sabe com qual escrita os textos produzidos por este povo eram feitos. Até agora apenas uma placa de bronze que data do período pré-aquemênida foi encontrada no território medo, um registro de uma escrita cuneiforme em acádio que data do século VIII a.C., mas não menciona nenhum nome medo. Uma inscrição cuneiforme em um pedaço de prata foi escavada na Média em Tepe Nus-i Jã, mas apenas o final de um sinal e o início do próximo foram preservados. Não se sabe se os medos usavam a escrita acadiana para escrever.[1] Alguns estudiosos modernos sugeriram que o linear elamita (ainda não decifrado) pode ter sido escrito na língua meda, assumindo que Kutik-Inshushinak poderia ter sido o nome iraniano original do rei Ciaxares, em vez do rei elamita muito anterior.[66]

Palavras de origem meda aparecem em vários outros dialetos iranianos, incluindo o persa antigo. Uma característica das inscrições do persa antigo é o grande número de palavras e nomes de outras línguas, e a língua meda leva a esse respeito um lugar especial por razões históricas. As palavras medas nos textos persas antigos, cuja origem meda pode ser estabelecida por critérios fonéticos, aparecem com mais frequência entre os títulos reais e entre os termos da chancelaria, assuntos militares e judiciais.[67][68] Na ausência de textos encontrados nesta língua e com apenas algumas palavras atribuídas à língua meda, sua gramática não pode ser reconstruída.[64]

Arte[editar | editar código-fonte]

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A arte meda permanece uma questão de especulação, e mesmo sua existência é negada por alguns estudiosos. Oscar Muscarella observa que “nenhum exemplo de arte e artefatos medos existem no registro arqueológico”. Ainda, outros estudiosos presumem que os sítios arqueológicos como Tepe Nus-i Jã e Godin Tepe localizados na Média e datados dos séculos VIII e VII a.C. são exemplos de se considerar a existência da arte meda. Embora Tepe Nus-i Jã não fosse uma capital, segundo David Stronach, tornou-se um elo importante em uma cadeia de evidências sobre a composição e o desenvolvimento da arquitetura meda, bem como na incorporação da cultura meda na antigas civilizações orientais. Na arquitetura de Tepe Nus-i Jã e Godin Tepe podem ser rastreados influência e empréstimos diretos de detalhes finos e formas arquitetônicas inteiras e design de edifícios que tiveram análogos precisos na arte assíria e urartiana. Os medos não apenas tomaram emprestado alguns elementos da arte estrangeira, mas também os utilizaram em formas com novas funções e significados, ou seja, em um novo contexto sem suas qualidades típicas e iniciais. Mais tarde, os aquemênidas emprestaram as conquistas culturais do antigo Oriente Próximo por intermédio dos medos.[1]

Heródoto faz uma descrição do palácio de Déjoces em Ecbátana, que, segundo ele, era um complexo arquitetônico construído em uma colina e cercado por sete círculos de paredes, de modo que as ameias de cada parede superavam as da parede seguinte fora dele. O próprio palácio e os tesouros reais estavam dentro do círculo mais interno. As ameias desses círculos foram pintadas com sete cores diferentes, o que atesta que os medos desenvolveram um rico policromado; e os dois círculos internos foram cobertos com prata e ouro, respectivamente. As contribuições artísticas dos ourives medos também são mencionadas nos registros persas.[1]

A arte pictórica até agora foi escavada em quantidades absurdamente pequenas e em qualidade um tanto decepcionante. As evidências mostram que a arte pictórica meda foi fortemente influenciada pelos babilônios, assírios, elamitas e, talvez, pela primeira fase do “estilo animal” do Oriente Próximo, mas nenhum traço de uma genuína arte meda. O artesanato local é indicado por jarros de bronze escavados. A pintura arquitetônica, atestada tanto em Baba Jan quanto em Nush-i Jan, pode ser comparada com o estilo geométrico não muito sofisticado encontrado em Tepe Sialk. R. D. Barnett argumentou que o chamado estilo cita, mais precisamente a fase mais antiga deste estilo, também fizesse parte da arte meda contemporânea (final do século VIII a.C.). Até agora, no entanto, essa teoria não foi provada nem refutada.[69]

Dinastia[editar | editar código-fonte]

Governante Período Nota
*Heródoto*George Cameron*Edvin A. Grantovski*I. M. Diakonoff
Déjoces 700−647 a.C. 728−675 a.C. 672−640 a.C. 700−678 a.C. Filho de Fraortes
Fraortes 647−625 a.C. 675−653 a.C. 640−620 a.C. 678−625 a.C. Filho de Déjoces
Mádies X 653−625 a.C. 635−615 a.C. X Governante interino cita
Ciaxares 625−585 a.C. 625−585 a.C. 620−584 a.C. 625−585 a.C. Filho de Fraortes
Astíages 585−550 a.C. 585−550 a.C. 584−550 a.C. 585−550 a.C. Filho de Ciaxares
Todas as estimativas cronológicas são da Enciclopédia Iranica (Média - Dinastia Meda)

Geografia[editar | editar código-fonte]

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Localização do Império Medo

A Média era principalmente um planalto montanhoso com a altitude média de 900 a 1.500 metros acima do nível do mar. Uma parte considerável desta terra é uma estepe árida, onde há pouca precipitação pluvial, embora haja planícies férteis muito produtivas. A maioria dos rios flui para o grande deserto central, onde suas águas se dissipam em brejos e pântanos que secam no verão quente e deixam depósitos de sal. As barreiras naturais tornavam a defesa relativamente fácil. A cordilheira de Zagros é a mais elevada, com numerosos picos de mais de 4.270 metros de altitude, mas o cume mais elevado, o Monte Damavand, que tem 5.771 metros, se encontra na cordilheira Elbruz, perto do Mar Cáspio.[18]

As fronteiras da Média mudaram gradualmente ao longo do tempo; portanto, sua extensão geográfica precisa permanece desconhecida para nós.[1] As mudanças nas fronteiras não eram grandes, e os limites naturais, em três lados pelo menos, podem ser estabelecidos com certa precisão. Ao norte, a Média parece ter sido limitada pelo rio Araxes até sua entrada na região baixa e pela cordilheira Elbruz localizada ao sul do Cáspio. Abaixo da bacia do Araxes encontra-se uma cadeia de montanhas que se junta a bacia do lago Úrmia. A oeste, a Média era limitada pela cordilheira de Zagros. Ao leste, a Média era limitada pelo contraforte rochoso que se estende desde o Elbruz até o deserto de Cavir. Ao sul não havia nenhum limite natural para determinar a fonteira, o que torna difícil afirmar com alguma exatidão quanto do planalto iraniano pertencia à Média e quanto à Pérsia. No entanto, se considerarmos a localização de Ecbátana, que sendo capital deveria ter sido toleravelmente central, e o relato geral sobre o tamanho da Média dado pelos historiadores e geógrafos, podemos colocar o limite sul com muita probabilidade na linha do 32ª paralelo.[31]

A região de Zagros, situada ao oeste, era habitada por várias tribos independentes que acabaram sendo absorvidas pelos medos. Inicialmente, apenas uma barreira natural que protegia os medos dos assírios, os Zagros tornou-se o principal centro do poder medo. O deserto de Cavir ao leste era intransitável para qualquer exército, sendo uma barreira que protegia efetivamente a Média ao longo da maior parte de sua fronteira oriental. Sendo protegida por uma cadeia montanhosa ao norte, a Média era vulnerável apenas no sul, onde fazia fronteira com um povo semelhante, os persas. Apesar de serem inimigos formidáveis, Urartu ao noroeste, Pérsia ao sul e a Assíria ao oeste, foram subjugadas ou absorvidas pela Média, que assim atingiu proporções imperiais.[31] Os medos também teriam subjugado a Capadócia, Hircânia, Pártia, Elão,[1] Sagárcia,[38] Drangiana,[40] Ária[39] e Báctria tornando-se um império que se estendia da Anatólia, no oeste, até a Ásia Central, no leste.[1][38] De acordo com a determinação desafiadora dos limites mais amplos deste império mapeados em dez estados modernos, a área do Império Medo cobrem um território de pouco mais de 2,8 milhões de km² tornando esse estado um dos maiores impérios da história.[3][70]

Controvérsia[editar | editar código-fonte]

Mapa do Império Medo como é geralmente concebido durante o período de sua extensão máxima, mas na realidade muito hipotético

Até o século XX acreditava-se que o estado medo era um vasto império que se estendia do rio Hális até a Ásia Central e que existiu de 612 a.C., quando Nínive foi destruída, até a vitória dos persas sobre os medos em 550 a.C. Isso é exatamente o que as fontes antigas preservaram sobre o estado medo. No entanto, no final do século XX, iniciou-se uma revisão dessas fontes, e os historiadores começaram a redesenhar o mapa do antigo Oriente Médio.[15] Em 1988, Heleen Sancisi-Weerdenburg negou com argumentos de peso considerável a existência de um Império Medo como uma entidade política com estruturas comparáveis ​​às dos impérios neoassírio, neobabilônico ou aquemênida.[25] Em termos sucintos, ela argumentou que a notável ausência de evidências para tal regime equivale à ausência de império. Embora as reações imediatas fossem céticas, seus argumentos foram agora examinados por assiriólogos, historiadores clássicos e arqueólogos e são amplamente aceitos pela maioria dos estudiosos.[71] Ernst Herzfeld considera o estado medo um poderoso império, que se estendia do norte da Mesopotâmia até Báctria e Índia. Por outro lado, H. Sancisi-Weerdenburg insiste em que não há evidências reais sobre a própria existência do Império Medo e que era uma formação estatal instável.[1] A ausência de inscrições reais medas, bem como a ausência até o momento de evidências arqueológicas que mostrem a existência de um importante estado medo, encoraja a ver no estado medo uma construção política indefinida. Portanto, permanece difícil postular a constituição de um poderoso estado medo estruturado por Ciaxares.[72] Estudos mais recentes adicionam mais dúvidas sobre a existência de um império medo,[25] Alguns estudiosos começaram a retirar de sua composição suas supostas províncias e reinos vassalos, como a Pérsia, Elão, Assíria, Armênia, Capadócia, Drangiana, Pártia e Ária. Assim, o estado medo começou a se transformar em uma formação de estado primitiva, cuja influência e contornos se limitaram ao território de Ecbátana com a região adjacente.[15] Há pouca dúvida, porém, de que os medos eram uma influente sociedade tribal no Irã e que exerciam alguma influência significativa na região dos séculos IX ao VI a.C. Tampouco se pode duvidar que os medos não tenham sido os responsáveis pela queda do Império Neoassírio, mas é difícil avaliar se os medos preencheram um vácuo de poder no mundo pós-assírio.[73] O chamado Império Medo parece ser uma concepção herodoteana, que simplifica os assuntos políticos mais complexos da primeira metade do século VI a.C.[74]

Aos olhos de alguns estudiosos a teoria de Heródoto de um grande Império Medo é uma ficção total projetada para preencher uma lacuna em sua visão de uma sequência de impérios orientais. Alguns estudiosos aderiram a uma visão maximalista, considerando o estado medo um poderoso e estruturado império que teria influenciado o Império Aquemênida e sua cultura, em especial devido à importância que os medos parecem ter no período aquemênida. Mesmo os defensores da visão maximalista acreditam que a ascensão do reino medo não poderia começar antes de 615 a.C. No entanto, é difícil imaginar que os medos poderiam preparar forças para derrotar os assírios em poucos anos. Revisores atribuem o início da ascensão meda após a bem-sucedida revolta anti-assíria em 672 a.C. Dos anos 660 a 615 a.C., os medos foram capazes de se preparar para se opor à Assíria, aumentando seus recursos, subjugando países como Urartu e Pérsia, fortalecendo seu exército e conquistando aliados. Outros estudiosos mantêm uma visão minimalista, reduzindo o estado medo a um espaço insignificante em torno de Ecbátana. A visão mais radical considera que os medos nunca formaram um reino sólido, mas sempre permaneceram divididos, as incursões na Assíria nada mais são do que ataques em grande parte por medos mercenários pertencentes ao exército assírio e unidos para a ocasião. A visão mais aceita pela maioria dos estudiosos considera que o Império Medo não existiu e que era uma federação tribal instável. Segundo Robert Rollinger, o estado medo não poderia possuir e governar o vasto território que as fontes gregas o atribuem. Na verdade, esse estado parece ter sido uma espécie de unidade tribal sem estabilidade política. Rollinger exclui a Pérsia de suas posses, considerando a subjugação dos persas pelos medos uma ficção. Rollinger admite que os medos podem ter estado na Capadócia por um curto período de tempo. Uma união de tribos sob a liderança de Ciaxares poderia conduzir expedições militares no leste da Anatólia e ter algum tipo de contato com o oeste.[15]

O “Império Medo” seria, portanto, uma entidade política que permanece ilusória, de modo que a realidade de sua existência é negada por certos estudiosos. Nada se sabe sobre a organização dessa entidade política. Muitas vezes assumiu-se que as estruturas do reino medo foram amplamente dominadas por seus sucessores persas, mas isso permanece altamente especulativo, e a herança elamita agora é considerada mais decisiva na formação do Império Aquemênida.[75]

Legado[editar | editar código-fonte]

A formação do reino medo é um dos momentos decisivos da história iraniana. Foi o prenúncio da ascensão ariana ao poder dinástico, que continuou daí em diante, moldando a vida cultural e política no planalto iraniano e em outros territórios ocupados pelos iranianos.[76] Pela primeira vez na história, os povos iranianos se uniram, criando um contrapeso político as principais potências do oeste, Lídia e Babilônia. A vitória persa sob os medos constituiu um passo em direção à glória para Ciro, que então seguiu uma série de vitórias e funda o Império Aquemênida, o maior e mais poderoso estado iraniano da história, pois ele subjugou as grandes potências aliadas dos medos. É certo dizer que a evolução da sociedade tribal para um estado primitivo, que começou na Média, terminou na Pérsia.[8]

Os gregos tendiam a confundir medos e persas. A terminologia "medo" é frequentemente usada para se referir ao "persa". É a terminologia com a qual os gregos da Anatólia reagiram aos sucessores de Ciro, o Grande, mais tarde assumida por outros gregos, e é recorrente no conceito de medismo. É improvável que Ciro tenha se autodenominado como um rei medo, então a melhor explicação para esse fenômeno reside no caráter medo do território no qual Creso tão desastrosamente tentou conquistar e de sua desculpa para fazer isso, talvez reforçada por memórias do caráter temeroso dos medos com quem seu antecessor conseguira fazer um acordo.[25]

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Embora a existência de um Império Medo seja questionável, os textos bíblicos considera a Média como um poder significativo. O livro de Isaías mostra que os medos eram um inimigo potencial e viciosamente destrutivo da Babilônia. o livro de Jeremias em c. 595 a.C. especifica 'os reis da Média' (51:11) e 'os reis da Média, seus vice-reis, todos os seus governadores e todas as terras de seus domínios' (51:28). A pluralidade de "reis" é impressionante; se o fato de que Jeremias (25:25) também lista "todos os reis de Elão e Média" entre as nações condenadas mostra que o plural e o singular são simplesmente retoricamente intercambiáveis ​​é discutível. Antes dos medos, Jeremias 51:27 lista os reinos de Urartu, Manai e os Citas como inimigos da Babilônia. Alguns o lêem como sugerindo que os três reinos estavam dentro do domínio do(s) rei(s) medo(s).[25] O livro de Daniel menciona uma visão de quatro bestas, que representam as antigas monarquias do Velho Oriente que governaram a cidade de Babilônia:[77]

  1. O leão com asas de águia: Império Neobabilônico;
  2. O urso: Império Medo;
  3. O leopardo de quatro cabeças com asas: Império Aquemênida;
  4. A besta de dez chifres com dentes de ferro: Império Macedônio;

A interpretação que descreve o Império Neobabilônico está correta, pois essas representações são características da arte babilônica. Além disso, Alexandre, o Grande é frequentemente representado com os chifres de carneiro de seu pai mitológico Ámon. O problema da interpretação é precisamente o Império Medo, que, de acordo com todas as outras fontes históricas, nunca conquistou a Babilônia. O livro de Daniel menciona um governante chamado Dario, o Medo, que teria conquistado a Babilônia, mas essa figura é desconhecida em outras fontes históricas. Os estudiosos crêem que o livro de Daniel foi escrito por volta de 165 a.C. e supõe que seu autor tenha sido influenciado pela visão grega da história, e por isso é provável que a importância dada a Média seja exagerada. Outra explicação é que a interpretação da Média se refere ao usurpador medo Gaumata, que em 522 a.C., se declarou rei do Império Aquemênida em detrimento de Cambises II e governou o império por vários meses até que foi derrubado por Dario, o Grande.[16]

Na teoria da sucessão de impérios, a Média está após a Assíria e antes da Pérsia, ou seja, num período de entre 612 e 550 a.C. Na historiografia grega, esse esquema incluía o Império Assírio, Império Medo, Império Aquemênida e, mais tarde, o Império Selêucida foi incluído nele. Após a vitória de Pompeu sobre os selêucidas em 63 a.C., os historiadores romanos completaram o conceito dos quatro impérios, incluindo o Império Romano como o quinto e último. Os gregos consideravam o estado medo como um império universal, cujo modelo correspondia ao aquemênida e, em geral, ao modelo oriental de estado. Na tradição hebraica, o Império Babilônico ocupa o lugar do Império Assírio. Mas nem as tradições greco-romanas nem as hebraicas privaram a Média de seu papel proeminente na história. Somente na literatura judaica e cristã tardia que o segundo estado foi identificado como Império Medo-Persa, o que, privou os medos de um papel independente na história mundial.[15]

Cronologia[editar | editar código-fonte]

  • 700 a.C. - Déjoces se torna rei dos medos e começa à unificar algumas tribos medas.
  • 678 a.C. - Déjoces morre, e é sucedido por seu filho Fraortes.
  • 672 a.C. - Revolta contra os assírios liderada por Fraortes/Castariti.[1]
  • c. 640 a.C. - Fraortes subjuga a Pérsia.
  • c. 635 a.C. - Os citas, liderados por Mádies, subjugam os medos.
  • c. 615 a.C. - Após anos de dominação cita, Ciaxares lidera uma rebelião e derrota os citas.
  • 615 a.C. - Os medos conquistam a província assíria de Arrapa e o território de Manai.
  • 614 a.C. - Ciaxares conquista Tarbisu e Assur; casamento diplomático entre Nabucodonosor II e Amitis da Média.
  • 612 a.C. - Ciaxares e seu aliado babilônico, o rei Nabopolassar, conquistam Nínive, o que marcou o fim do Império Neoassírio.
  • 609 a.C. - Os medos conquistam Harã.
  • 609−605 a.C. - Nesse período, Ciaxares provavelmente anexa o reino de Urartu na Armênia.[8]
  • 605 a.C. - Vitória medo-babilônica na Batalha de Carquemis.
  • 585 a.C. - Após um eclipse que interrompe uma batalha entre medos e lídios, ambos os povos concluem um acordo de paz; Ciaxares morre e é sucedido por seu filho, Astíages.
  • 553 a.C. - Eclosão da Revolta Persa.[1]
  • 552 a.C. - Vitória dos persas na Batalha de Hirba.
  • 551 a.C. - Ciro resiste ao ataques dos medos na Batalha da Fronteira Persa.
  • 550 a.C. - Derrota do exército de Astíages no cerco da colina de Pasárgada; vitória persa na Batalha de Pasárgada; Ciro conquista Ecbátana e estabelece o Império Aquemênida.

Notas e referências

Notas

  1. As datas que Heródoto atribui aos quatro reis medos somadas dão 150 anos, no entanto segundo outro relato de Heródoto, os medos governaram a Ásia por 128 anos. Nesse caso, o início do Império Medo deveria ser datado no ano 678 a.C. É possível conciliar a aparente contradição dos dados de Heródoto. Heródoto atribui 53 anos de reinado para Déjoces e 22 anos para seu filho Fraortes. George Rawlinson propôs que Fraortes governasse por 53 anos e Déjoces por 22 anos. Com essa mudança obtém-se as datas entre 678 a 625 a.C. para o reinado de Fraortes. Assim, de acordo com Rawlinson, a soma dos reinados dos três reis (53+40+35) após Déjoces seria então os 128 anos que Heródoto mencionou. Fraortes derrubou o domínio assírio e, como afirma Heródoto, atacou as tribos persas e começou a subjugar toda a Ásia, um povo após o outro. Portanto, o ponto de partida do período de 128 anos de supremacia meda provavelmente é a adesão de Fraortes, que começou a governar alguns anos antes da bem-sucedida revolta contra a Assíria em 671 a.C. Quanto a Déjoces, pai de Fraortes, ele era apenas um chefe dos medos, que começou a consolidar a unidade das tribos medas.[1]
  2. Uma reavaliação mais recente das evidências históricas, tanto arqueológicas quanto textuais, levou estudiosos modernos a questionar noções anteriores sobre a extensão do reino dos medos e até mesmo sua existência como um estado unificado.[2] É possível que o Império Medo nunca tenha ultrapassado o tamanho do Império Neoassírio, que em seu auge cobria 1.400.000 km².[3]
  3. A palavra "medo" (sentimento) é escrita da mesma forma que a palavra "medo" (referindo-se a um habitante da Média, um antigo império). Porém estas duas palavras são pronunciadas de maneiras diferentes. Medo (sentimento) vem do latim "metu-" e pronuncia-se /mê-du/. Medo (habitante da Média) vem do latim "medu-" e se pronuncia /mé-du/.[4]
  4. Urartu pode ter sido conquistado por Fraortes na década de 640 a.C.[1] ou por Ciaxares por volta de 605 a.C.[8] A região passou a ser conhecida como Armênia no século VI a.C.

Referências

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Qual o país da atualidade corresponde o território onde se iniciou a sociedade persa?

Localizados entre o golfo Pérsico e o mar Cáspio, os persas estabeleceram uma das mais expressivas civilizações da Antiguidade no território que hoje corresponde ao Irã.

Onde era o Império Persa?

O Império Persa se desenvolveu na região do planalto iraniano, onde fica a atual República Islâmica do Irã, mas que, na Antiguidade, era a região vizinha da Mesopotâmia.

Qual é a origem do povo persa?

Os persas foram povos de uma antiga civilização que habitaram a região mesopotâmica, no planalto do Irã, próximo às margens do Golfo Pérsico. Descenderam de uma tribo nômade chamada parse, que migrou da Ásia Central para uma região no sul iraniano aproximadamente em 1000 a.C.

Qual é a sociedade dos persas?

A sociedade persa era dividida em rígidas camadas sociais. No topo da sociedade estava o rei, abaixo do rei estavam os aristocratas (sacerdotes, nobreza e os grandes comerciantes). Depois, a camada média da população (pequenos comerciantes, artesãos e soldados).