Carta a mãe que vai deixar o filho na escola

Uma dose de fofura tomou conta das redes sociais nas últimas horas. Uma criança pediu que a mãe fosse liberada para comparecer a um evento de Dia das Mães na escola. O chefe dela, Nayron Toledo, advogado e diretor jurídico do Procon Goiânia, então, falou que só autorizaria se existisse um pedido formal da pequena. Em seguida, recebeu uma linda cartinha:

"Doutor Nayron, quero te pedir para deixar a minha mãe ir na apresentação da minha escola. Obrigada. Com atenção, Olívia."

Carta escrita pela criança ao chefe da mãe.(Imagem: Reprodução)

Diante do pedido por escrito, o advogado respondeu a criança de 8 anos em forma de "despacho", autorizando a ida da mãe dela ao evento, desde que se cumpra um requisito: uma visita e um abraço.

"Prezada senhorita, é com muito prazer que informo que recebi sua notificação escrita solicitando a liberação de sua mãe para comparecer no grandioso evento que ocorrerá em sua escola. Tendo em vista que se trata de um pedido justificável e razoável, concedo a liberação da servidora Patrícia Finotti na data e hora indicada para comparecer na apresentação escolar, condicionada esta autorização a posterior visita da senhorita Olívia para dar um abraço neste advogado. Atenciosamente."

Resposta do advogado à garotinha.(Imagem: Reprodução)

Veja a postagem do advogado no Instagram:

Querida escola,

Na era de Convid -19, muitas de nós mães estamos trabalhando sob pressão.

Vocês e professores estão fazendo seu trabalho bem feito, com videoaula em horários marcados, enviando lições completas todos os dias para serem concluídas. Os pais também tem ajudado muito enviando links extras sobre artes, leitura, e muitas, muitas ideias de exercícios, como a dança congelada, meditação para crianças, fantasias caseiras. Tudo com a melhor das intenções.

Mas quero dizer que eu não consigo!

A realidade é que eu preciso trabalhar, meu marido e eu temos que trabalhar em casa e tivemos que dispensar a nossa babá. Então eu não tenho tempo para ensinar e brincar com as crianças, cuidar da casa e do meu trabalho. Não tenho como ensinar e concluir tarefa dos meus filhos de 4 e 8 anos e conferir se o de 13 está cumprindo todos os prazos estipulados.

Além de ensinar ainda tem a coisa toda de postar nos aplicativos, enviar ideias adicionais e no dia seguinte fazer tudo de novo.

Hoje na nossa casa a minha vitória é conseguir tirar meus filhos da cama e fazer com que tirem o pijama, escovem os dentes e sentem-se em silêncio à mesa do café. Enquanto isso eu e o pai deles lutamos com uma pilha de e-mail que precisam ser enviados logo pela manhã.

Portanto, eu sinceramente não sei se meus filhos estão aprendendo como deveriam, e meu grande medo é que eles possam desaprender tudo que vocês conseguiram com tanto afinco ensinar. Tenho medo que esqueçam de como segurar o lápis, escrever seus nomes, a beber água no copo sem derramar e peço a Deus que não desaprendam como ir ao banheiro e tirar suas roupas sozinhos

Resolvi dizer hoje o que sei:

Sei que não posso obrigá-los a fazer todas as tarefas designadas para o dia:

Se eles terminarem uma tarefa completa tudo bem, se fizerem parte de uma e parte de outra tudo bem também! Sei que tudo que está sendo colocado são totalmente importantes para eles, mas não consigo fazer como vocês fazem.

Não posso manter o horário de rotina escolar em casa:

Porque não? A hora da soneca desapareceu por aqui, nem sempre o almoço sai às 12:00, o tempo de desenvolver habilidades para a vida se tornaram em Netflix por mais de uma hora, e a atividade com bola virou brincar de chute aos “bichos de pelúcia” e… Eles não estão na escola com seus amigos e professores. Assim como para nós o normal deles desapareceu e estão em busca de um novo normal.

Não me sinto culpada por não participar com louvor daquela atividade do  dia do trabalho, dia do índio, dia da família, dia amarelo, dia maluco das meias coloridas ou daquele feriado fora de época que foi antecipado.

Sei da importância de cada uma dessas brincadeiras, atividades e comemorações e acreditem, comemoro cada uma delas que consigo fazer, mas não me sinto culpada quando não funciona para mim e deixo que eles usem a criatividade e façam “como quiserem”.

Queria sugerir o dia do pijama, isso seria bem legal e com certeza eu teria uma ótima foto para compartilhar sem precisar me desesperar. Com sorte meus filhos irão trocar o pijama para o “dia do pijama”

Aqui está o que sei…

Meu marido e eu continuamos trabalhando e a empresa que trabalho não considerou turnos reduzidos para brincar e fazer atividade com os filhos. Meu marido e eu continuaremos por aqui trabalhando, lendo para eles, alternando entre trabalho e caretas de bichos engraçados, vamos assistir Netflix jutos e alternar entre um filme e outro uma atividade escolar. Vamos almoçar juntos e “descansar o almoço” lutando no chão, e quando cansar fazer um passeio pelo parque imaginário desenhado e colado na parede. Vamos nos abraçar, dizer boa noite e contar mais histórias para que durmam em paz, enquanto mandamos o de 13 sair do vídeo game e das chamas online. 

Eu e meu marido, iremos respirar, sentar um pouco, terminar o trabalho e dormir para começar tudo no dia seguinte.

Portanto, não me sentirei culpada se quando eles voltarem para vocês não saibam tanto mais do que quando saíram daí. Estamos no “modo sobrevivência” e tentando fazer disso o melhor possível.

E se quando tudo voltar ao normal, não for tão normal quanto esperamos tudo bem. Talvez o de 4 precise repetir a série e o de 13 de uma ajuda extra numa banca. Sei que iremos sobreviver.

Quanto a você escola, gostaria de dizer que nunca fui tão grata ao trabalho que faz, e agora percebi que é mais difícil do que parece e que o que me conforta é que quando isso passar você ainda estará aí para ensinar o que eu não posso enquanto trabalho.

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