Como era praticada à escravidão na África o que mudou com a chegada dos europeus?

O Continente Africano

5. A Cartografia das Áfricas Antes e Após o Tratado de Berlim

A partilha da África entre os países da Europa e a implantação de atividades econômicas voltadas para o abastecimento europeu transformaram a organização política, econômica e cultural da maioria dos povos africanos.

5.1 A África Pré-colonial E O Início Da Colonização

Para entendermos a paisagem africana que vemos hoje é necessário compreender como ela foi formada numa análise histórica a partir das observações dos caminhos percorridos e ocupados no passado. A noção de paisagem está presente na memória do ser humano antes mesmo da elaboração do conceito. “A idéia embrionária já existia, baseada na observação do meio”. (MAXIMIANO, 2004). Assim, este conceito tem uma definição mais ampla do que simplesmente aquilo que nossa vista alcança.

[...] paisagem é uma certa porção do espaço que resulta da combinação dinâmica dos elementos físicos, biológicos e antrópicos, os quais interagindo dialeticamente uns sobre os outros formam um conjunto único e indissociável em perpétua evolução. (BERTRAND, 1968, p.2).

As relações sociais que compõem as paisagens são dinâmicas, neste contexto, a sociedade altera o meio, se apropriando dos bens naturais de acordo com suas necessidades. A fim de conquistar um bem-estar elevado, o homem busca novas técnicas que, por sua vez, transformam o seu modo de vida em função das tecnologias, que vencem as distâncias, ultrapassam fronteiras e instituem outra noção de tempo.

Os colonizadores impuseram aos africanos um modelo de sociedade típico dos povos europeus, desestruturando a organização original desses povos. Muitas sociedades africanas eram nômades e se deslocavam periodicamente para caçar, pescar e coletar vegetais. Com a origem da agricultura, surgiram agrupamentos sedentários que se estabeleciam em locais de água farta e terra fértil, onde podiam plantar e produzir objetos de cerâmica. Nessa forma de organização da sociedade, formaram-se clãs familiares e importantes reinos exploradores de minérios, como o ouro.

Quando os europeus chegaram à África já encontraram ali sociedades organizadas e produtivas.

Sabemos, por exemplo, que a base da agricultura para os homens do Neolítico era o trigo, a cevada e o milhete, na Ásia, na Europa e na África, e o milho, na América. Mas como identificar os sistemas agrícolas iniciais, que surgiram há tanto tempo? O que permitiria distinguir uma população de predadores sedentários de uma de agricultores? Como e quando a domesticação das plantas se difundiu nos diversos continentes? Quanto a isso, a tradição oral e a mitologia prestam apenas uma pequena ajuda. Unicamente a arqueologia e os métodos paleobotânicos podem dar uma resposta válida a tais questões importantes, relativas a essa inestimável herança neolítica que é a agricultura. (KI ZERBO, 2010, p. 63).

A dominação europeia na África teve início no século XV, como consequência da expansão marítima - comercial empreendida naquela época pelos países europeus, que foram se apropriando do território africano. Dessa forma, de acordo com Adas e Adas (2011, p. 225), "O comércio de escravos africanos já era praticado por árabes. Porém, com a chegada dos europeus, nos séculos XV e XVI, essa atividade se intensificou, pois a mão de obra escrava foi utilizada na agricultura e a exploração mineral nas colônias americanas”.

Os portugueses, espanhóis, ingleses, franceses, holandeses e belgas estabeleceram entrepostos comerciais e várias feitorias (mapa 6), que serviram como pontos de embarque de escravos africanos que substituíram a mão de obra indígena empregada em suas colônias na América.

Com o desenvolvimento do capitalismo industrial na Europa, o papel da África mudou, pois a Inglaterra, berço da Revolução Industrial, passou a condenar a escravidão, uma vez que a mão de obra não remunerada não participava do mercado consumidor dos produtos industrializados.

É certo que, a partir do último milênio, o comércio do ouro e do minério de ferro atraiu os árabes à África oriental. Por outro lado, inicialmente seduzidos pelas riquezas minerais da América Latina, os europeus, no decorrer dos últimos séculos, concentraram-se na África, transformando-a em reservatório colonial de minérios brutos para alimentar o crescimento das indústrias europeias. (KI ZERBO, 2010, p. 369).

Portanto, a conquista europeia traduziu-se pela busca incessante por novas matérias primas no interior do continente africano para expansão do processo produtivo europeu. Neste contexto, acirrava-se a competição entre as potências europeias pelo controle de fontes de abastecimento de minérios para a indústria. Dessa forma, os países colonialistas europeus convocaram a Conferência de Berlim para regulamentar a partilha da África.

5.2 Nova Etapa Na Colonização

A expansão europeia, a ocupação colonial e a partilha da África por meio da Conferência de Berlim (figura 11), entre 1884 e 1885, modificaram significativamente a cartografia do continente africano. Na luta pelo território, sugiram conflitos e disputas por terras entre as potências europeias.

Proposta pelos portugueses, que almejavam áreas cada vez maiores do continente africano, essa conferência foi realizada pelo alemão Otto Von Bismarck. Portugal reivindicava o território entre Angola a Moçambique, para facilitar a comunicação entre as duas colônias, facilitando o comércio e o transporte de mercadorias, no que foi denominado o mapa cor-de-rosa.

Portugal desejava assumir que se prolongava de Sudão até ao Cabo pelo interior da África, portanto, organizou uma subscrição permanente para manter estações civilizadoras na zona de influência portuguesa do interior do continente, definida num mapa como uma ampla faixa da costa à contra-costa, ligando Angola a Moçambique. Nascia assim, ainda sem sanção oficial, o chamado mapa cor-de-rosa. (CHARLES e MARQUES DE SÁ, 2011, p. 8).

Contudo, os interesses portugueses entraram em colisão com as pretensões inglesas e Portugal teve que desistir do projeto para não entrar em guerra com os britânicos.

Nessa conferência, essas grandes potências fizeram um novo mapa da África, (mapa 7) atendendo aos seus próprios interesses, sem a participação do povo africano, como se o continente fosse desabitado, numa divisão que não respeitou, nem a história, nem as relações étnicas do povo nativo. 

A conferência, que, inicialmente, não tinha por objetivo a partilha da África, terminou por distribuir territórios e aprovar resoluções sobre a livre navegação no Níger, no Benue e seus afluentes, e ainda por estabelecer as “regras a serem observadas no futuro em matéria de ocupação de territórios nas costas africanas. Por força do artigo 34 do Ato de Berlim, documento assinado pelos participantes da conferência, toda nação europeia que, daí em diante, tomasse posse de um território nas costas africanas ou assumisse aí um “protetorado”, deveria informá-lo aos membros signatários do Ato, para que suas pretensões fossem ratificadas. (BOAHEN, 2010, p. 33).

Essa forma de organização misturava culturas e línguas diferentes e separava povos que tinha grande identidade cultural, o que contribuiu para que ocorressem guerras e disputas violentas entre os próprios africanos, das quais algumas se prolongariam até hoje.

Assim, as formas tradicionais de organização em clãs familiares, monarquias e grupos étnicos, foram substituídas por Estados organizados com fronteiras, forças policiais, regras e leis impostas pelos europeus.

Ao observar detalhadamente o mapa atual da África, verifica-se que muitas de suas fronteiras, são retilíneas, fruto de uma divisão decidida fora dos seus domínios. como consequência, etnias irmãs foram separadas e etnias inimigas acabaram reunidas num mesmo território. (MOREIRA, 2012, p. 238).

Houve, portanto, uma reorganização do espaço africano pelos colonizadores europeus. Além disso, as atividades econômicas tradicionais foram substituídas por novos modelos produtivos, onde a mão de obra africana foi utilizada pelas empresas europeias na mineração e, principalmente, em atividades agrícolas denominadas plantation que, conforme Vesentini e Vlach (2009, p. 187), eram "grandes plantações, onde se cultivava apenas um gênero agrícola, como amendoim, cacau, algodão, café, cana de açúcar, etc.".

Essas plantações utilizavam intensamente a mão de obra africana mal remunerada e esses produtos eram cultivados nos melhores solos para abastecimento do mercado internacional, ficando os piores solos para cultivo de alimentos para a população local.

Assim, houve resistência por parte dos chefes africanos que não aceitaram os acordos desfavoráveis às suas comunidades, então, os europeus partiram para a conquista militar e dominação territorial.

Como era a escravidão na África após a chegada dos europeus?

A principal diferença era que a escravidão na África não tinha o caráter comercial adotado após o desenvolvimento do tráfico de escravos através do oceano Atlântico. Um dos sistemas que existiam na África negra era o jonya, difundido no Sudão ocidental, no Níger e no Chade.

Como era praticada à escravidão na África antes da chegada dos europeus?

As pessoas se tornavam escravas na África principalmente em razão das guerras: membros de tribos rivais eram reduzidos à condição de cativos, ou seja, escravos. As guerras se davam entre os diversos reinos africanos e, também, por meio dos conflitos que ocorriam entre as diferentes etnias africanas.

Como era a vida dos africanos na África?

Muitas relações de escravos na África giravam em torno da escravidão doméstica, onde escravos trabalhariam primariamente na casa do mestre, mas reter algumas liberdades. Escravos domésticos poderiam ser considerados parte do vínculo doméstico do mestre e não seriam vendidos a outros sem causa extrema.