Como o assistente social pode identificar o problema e propor uma solução?

“O Serviço Social passou de paliativo e curativo para preventivo;
de atendimento a determinados grupos para uma clientela mais diversificada;
de atendimento de massa para a individualização e vice-versa;
de uma prática empírica para uma melhor qualidade de serviço;
da benevolência para a democracia;
da intuição para o método científico”
(Sand; citado em Vieira; 1982:209)

Quadro síntese dos Modelos de Intervenção do Serviço Social

O vocábulo “modelo” deriva do latim modulus, que significa “quantidade que serve de medida, tipo de comparação em determinados cálculos” (Hernández e Juárez; 2005: 62), sendo que, em termos científicos, a sua origem surge de uma lógica matemática, tendo sido ao longo do tempo adoptada por outras disciplinas. Nas ciências sociais a sua utilização surge em 1942, no entanto, foi apenas na década de setenta, pelo trabalho do Professor Werner Lutz, da Universidade de Connecticut, dos Estados Unidos da América, quando este publicou a sua obra “Emerging Models of Social Casework Practice”, que este conceito foi aplicado em contexto de intervenção social (Viscarret; 2007: 65 e Hernández e Juárez; 2005: 62).

Este conceito surge num período de crise do modelo tradicional e consequentemente dos métodos do Serviço Social, a conjuntura sócio-politica que estava na base da institucionalização do Serviço Social entra em crise a partir dos anos 60, obrigando a profissão a reflectir sobre a sua actuação e questionar-se sobre os alicerces que sustentavam os princípios basilares do Serviço Social, e, é nesse período, que nascem os «Modelos para o Serviço Social» (Lutz; cit. in Viscarret; 2007: 65), que Lutz descreveu como algo simbólico que integra na sua génese os fenómenos a que se dirige, os princípios que deverão nortear a sua acção, bem como os métodos e as técnicas a ser utilizados na intervenção (Viscarrei; 2007: 66).

Neste seguimento poder-se-á descrever e definir um “modelo” como um “conjunto de princípios relativos a um campo definido por fenómenos ou experiências. De acordo com um esquema referencial para aplicar na prática, supõe uma representação simplificada e esquematizada da realidade, que surge de uma teoria, que pode ser aferida na prática” (Caparrós; 1998:129).

Através desta definição, conclui-se que “modelo” e “teoria” se encontram intrinsecamente ligados. Este facto leva-nos, desde logo, a referir que estes dois vocábulos enunciam diferentes abordagens e significados. De um modo simplista um “modelo” encaminha-nos e orienta-nos para uma explicação e para a prática, a “teoria” explica-nos um conjunto de fenómenos de uma disciplina, concebendo um modelo como um referencial para guiar a prática (Caparrós; 1998:122). Esta concepção encerra um facto irrevogável: “podem existir teorias sem modelos, mas não há modelos sem teorias” (Hernández e Juárez; 2005:63).

Isto significa que, qualquer modelo tem a sua génese em diferentes teorias, mas são os modelos que possibilitam uma leitura, uma visão sobre o modo de actuação em determinada realidade, permitindo saber como “recolher os dados, elaborar as hipóteses, eleger os objectivos, estratégias e técnicas que se adequam a determinados problemas” (Du Ranquet, 1996:4), possibilitam interpretar, estruturar a realidade, bem como, o modo de actuação.

Existe um conjunto diversificado de modelos teóricos para a prática do Serviço Social, modelos integrados em diferentes métodos da profissão – individual/ familiar; grupal e comunitário – porém não se pode identificar, nem evidenciar qual ou quais os modelos com maior eficácia e eficiência, isto porque como refere Ponticelli (1998:19) não há “o modelo”, aquele que é capaz de suprimir, de se adequar a todas as situações. Todos eles acarretam um esquema conceptual, mas este não é adaptável, maleável, flexível a todas as realidades. Por esse motivo, a escolha quando recai sobre um determinado modelo nunca poderá ser feita arbitrariamente, de um modo indistinto, sem ter em conta um conjunto de determinantes, de variáveis que influenciam a sua boa utilização.

Por esse motivo Lutz (citado em Viscaret; 2007:66), define oito variáveis como os elementos que limitam a escolha de um modelo para a prática do Serviço Social, sendo elas:

  • O tipo de situação com que intervêm: pretende-se identificar quais as problemáticas a que o modelo se dirige.
  • Conteúdo conceptual: a análise recai sobre o conteúdo conceptual utilizado para descrever os problemas, estudá-los, determinar os objectivos da acção e os princípios de ajuda. Este conhecimento pode ser realizado de acordo com diversas categorias:
    1. estudo de todos os sistemas teóricos ou partes de teorias referentes ao Homem e às dimensões físicas, biológicas, psicológicas, sociais, culturais, económicas ou políticas;
    2. pontos de vista e perspectivas, teorias, proposições ou hipóteses oriundas de estudos históricos, filosóficos ou teológicos em seus aspectos tanto éticos, como metodológicos;
    3. enunciados sistemáticos relativos à natureza do Homem e aos meios de influenciá-lo, fornecidos pela experiência da prática profissional.
  • Natureza da intervenção: esta deverá ter em linha de conta as seguintes dimensões:
    1. os diferentes objectivos que se pretendem alcançar tanto a curto, como a longo prazo e tanto em termos teóricos, como operacionais;
    2. os princípios de acção que caracterizam o modelo e os seus procedimentos, métodos e técnicas; os princípios e procedimentos que idealmente deveriam articular-se com o intuito de exercerem uma influência positiva sobre os aspectos problemáticos em estudo e considerados pelo modelo como relevantes.
  • Natureza da instituição: é onde o modelo será aplicado. Este aspecto deve ser analisado em relação ao seguinte:
    1. as características organizacionais exigidas pelo modelo;
    2. as características ambientais onde o modelo será utilizado e as dificuldades que poderão ser encontradas.
  • «Sociologia» contida na prática do modelo: refere-se à visão do status e do exercício da profissão tanto na perspectiva dos assistentes sociais, como de outros profissionais.
  • Os valores e a ética subjacente ao modelo.
  • A concepção da pessoa que sofre do problema: Esta variável determina as diversas concepções, segundo as quais se determinam as causas dos problemas (natureza humana; circunstâncias exteriores à pessoa; interacção entre os seus elementos externos e internos). Pretendendo esta dimensão, também, identificar a natureza e a força das capacidades da pessoa para fazer frente aos seus problemas.
  • A natureza da relação entre o Assistente Social e o Cidadão.

Continuar a ler

Modelo Centrado na Resolução de Problemas

No modelo centrado na resolução de problemas, encontramos uma base teórica onde se integra a psicologia do “eu”, as noções de papéis sociais e a teoria geral dos sistemas, bem como a clara influência da escola funcionalista, principalmente, a importância conferida à relação.

Este modelo defende “a concepção de uma existência que se desenvolve por fases e por crises que se apoia nas forças utilizadas e desenvolvidas durante uma crise para resolver a seguinte” (Ranquet; 1996: 144). Assim, o tratamento visa resolver o problema do cidadão e capacitá-lo com um conjunto de ferramentas que o possibilite desenvolver e crescer. O objectivo não é encaminhar o cidadão para o equilíbrio definitivo, mas sim ao longo do processo terapêutico promover um conjunto de aprendizagens sociais e comportamentais, capazes de apoiar e resolver os seus problemas.

Assim, a sua acção centra-se numa terapia que privilegia o diagnóstico, transforma-o e organiza-o em dois momentos: o primeiro, prende-se com a “apreciação contínua do motivo, das capacidades e dos recursos que permitem ao cliente trabalhar para resolver o seu problema” (Perlman in Ranquet; 1996: 136); e o segundo momento destina-se a descobrir e a avaliar os “factos que influenciam negativamente esta motivação, capacidades e recursos” (Perlman in Ranquet; 1996: 136).

Em conclusão, podemos salientar que o caminho traçado pelo modelo centrado na resolução de problemas visa definir o problema, a partir do ponto de vista do utente e do assistente social, e juntos delinearem objectivos que ao longo da terapia promovam a sua concretização, capacitando o utente para que este consiga fazer frente àquele ou a outros problemas/ dificuldades que surjam.

Modelo de Intervenção em Crise

O modelo de intervenção em crise foi adaptado para o Serviço Social com base nos estudos, que foram sendo desenvolvidos por Linderman e Caplan, sobre desastres naturais (Ranquet; 1996: 179). Esta teoria sustenta-se na psicologia psicodinâmica do ego e com as teorias do stress e assentando a sua acção em terapias breves, tendo como objectivo o restabelecimento do funcionamento social e a estimulação da capacidade adaptativa do sujeito às situações de crise.

De acordo com Caplan (in Caparrós, 1998:134) poder-se-á definir a crise como uma “perturbação de uma situação estável, que (…) surge de forma repentina e inesperada, provocada por uma situação stressante ou um acontecimento precipitante, afectando uma pessoa ou um grupo, que até então terá tido um adequado nível de funcionamento, mas que esta situação lhe provoca um desequilíbrio”.

Ressalta-se que, neste tipo de situações, os sujeitos confrontam-se com um problema face ao qual se sentem incapazes de resolver sem ajuda, progredindo esta situação para uma crise. Os problemas que poderão despoletar uma crise são parte integrante da vida humana. A evolução ou a resolução de uma crise é que já norteia outros pressupostos, pois depende das defesas e dos recursos internos, bem como dos valores e das normas que estão presentes na vida pessoal e social de cada indivíduo. São estes, a par da estrutura da personalidade do utente, dos seus mecanismos de adaptação, a natureza dos estímulos e o potencial da pessoa para respostas adaptativas, que determinam a resposta à crise.

A intervenção numa primeira instância, recaí sobre os factores psicossociais que desencadeiam a crise e, posteriormente, na detecção e mobilização dos recursos internos da pessoa ou família afectada, para assim conseguirem suprimir os seus problemas, alcançando novos mecanismos de reajuste e adaptação, atingindo o seu equilíbrio e uma maior maturação psicológica.

A intervenção do assistente social fica assente essencialmente na técnica de apoio ao longo das entrevistas. Judith Nelson (citado em Caparrós; 1998: 142) definiu quatro classes de apoio, essenciais à condução da intervenção, para que esta consiga alcançar os pressupostos deste modelo: protecção (orientar e aconselhar o utente, ajudando-o a estruturar as situações mais complexas); aceitação (conseguir que os clientes compreendam que o Assistente Social está com eles e com os seus problemas); validação (apoiar valorizando, dar esperanças, elogiar, reforçar condutas); educação (ensinar os clientes a relacionarem-se afectivamente, a socializarem e a adquirirem mais auto-conhecimento de si mesmos).

Em síntese, a matriz do modelo de intervenção em crise, assenta a sua acção nas dificuldades de cada indivíduo, tentando colmatá-las e promovendo a sua capacitação. É uma acção casuística, de curta duração, centrada numa situação específica.

Modelo Centrado na Tarefa

O modelo centrado na tarefa tem a sua origem nos estudos realizados por Reid e Epstein, sendo que a sua concepção sofreu profundas influências tanto do modelo de intervenção em crise, como dos trabalhos desenvolvidos por Perlman em relação ao modelo centrado na resolução de problemas. Assim, também a sua sustentação teórica é apoiada por diversos campos teóricos, como a teoria geral dos sistemas, teoria da comunicação, a teoria da aprendizagem, a teoria dos papeis sociais, a teoria psicanalítica e, em particular, nos estudos recentes sobre a psicologia do “eu”.

Este modelo propõe tratar isoladamente cada problema identificado pela pessoa, sendo que só são susceptíveis de intervenção os problemas que se encontram bem limitados e precisos, que o utente reconheça explicitamente a situação a intervir como um problema, que deseje resolvê-lo e que o problema seja acessível à acção do utente (Ranquet; 1996: 215).

Por esse motivo, o assistente social, ao guiar a sua acção através da aplicação deste modelo, vê o seu papel reajustar-se a um elemento facilitador da acção: defende-se que o técnico encaminhe o cidadão, ajudando-o a identificar o problema que requer de intervenção, de acordo com as motivações, os recursos e os meios internos e externos ao utente. A sua primeira acção assenta na necessidade de identificar qual o problema que poderá requerer a intervenção, na elaboração de um contrato onde determine a formulação precisa do problema, das tarefas do utente, dos objectivos a alcançar, bem como do tempo necessário para a intervenção. Pois esta é uma acção breve, pautada por um conjunto de tarefas que são determinantes para a resolução do problema, sobre as quais incide um limite temporal que é previamente delimitado.

De acordo com esta orientação prática, uma intervenção, pautada por este modelo, procura essencialmente ajudar os utentes a encontrar uma solução para o seu problema, não pretende uma mudança na personalidade, nas atitudes ou nas condutas, mas sim uma mudança no problema (Ranquet; 1996: 256) que o cidadão reconhece e deseja resolver. Ou seja, o modelo centrado na tarefa concebe a sua intervenção com mais preocupação com o problema, do que propriamente com as causalidades do mesmo.

Modelo Sistémico e Ecológico

O modelo sistémico e o ecológico encontram-se estreitamente unidos, pois de acordo com Payne (2002a: 197), estes modelos representam duas formas distintas da teoria dos sistemas no Serviço Social. Esta teoria surge no Serviço Social a partir dos anos 70, abarcando sobre si elementos teóricos, onde patenteia a teoria geral de sistemas, a cibernética, a teoria dos tipos lógicos de Russell, a teoria da comunicação e a teoria do jogo. Contudo, a conjugação de diferentes princípios teóricos produzem um paradigma totalizador e generalista dos eixos sociais, passando do particular para o geral e defendendo uma visão circular e interactiva (Hernández e Juárez; 2005: 86 e Caparrós; 1998: 178).

Isto porque, na perspectiva da teoria dos sistemas, estamos todos conectados, interdependentes de um conjunto de sistemas que nos constituem (família; trabalho; bairro; religião; país…). Sendo que se pode entender como sistemas: “Conjuntos de elementos em interacção, em que todas as modificações ocorridas num dos seus elementos, provoca uma modificação no todo” (Bertalanffy, in Ranquet, 1996: 19).

Ambos os modelos partem destes pressupostos, que representam a sua sustentação, no entanto cada modelo apresenta um manancial teórico individual que os diferencia.

O Modelo Sistémico determina que um sistema não é a sua composição, mas sim o tipo de relações com os restantes elementos do sistema. Nesta óptica, deixa-se de “considerar a patologia como conflito do indivíduo (…) [e passa-se a privilegiar] como conflito a patologia de uma relação” (Caparrós; 1998: 204). Logo, qualquer problema encontra-se mergulhado na inter-relação dos sistemas em que muitas das vezes está patente uma dificuldade de comunicação entre eles, colocando em perigo o sistema no seu todo (Caparrós; 1998: 204).

Ou seja, este modelo “orienta-se no sentido de que as pessoas dependem de sistemas no seu ambiente social imediato para conseguirem ter uma vida satisfatória” por esse motivo, Payne (2002a:200) considera que um assistente social deva concentrar a sua prática nesses sistemas – sistemas informais ou naturais (ex.: família; amigos), sistemas formais (ex.: grupos comunitários; comunidade), sistemas societais (ex.: hospitais, escolas), agindo sobre eles, com o intuito de os equilibrar, promovendo uma relação benéfica entre todo o sistema.

O Modelo Ecológico, também designado por “modelo da vida”, orienta os seus pressupostos para a pessoa que terá de ser vista e compreendida como um sujeito que vive dentro de um ambiente específico, que ela constrói, modela, modifica ou destrói. Porém, não está imune à influência desse ambiente, que tem o poder de interferir nas suas ideias e costumes, na sua maneira de pensar e de viver.

Assim, a filosofia deste modelo fundamenta-se na premissa de que as pessoas estão em “constante adaptação num intercâmbio com muitos aspectos diferentes do seu ambiente. Ambos mudam e são mudados pelo ambiente, diz-se então que há uma adaptação recíproca” (Payne; 2002a: 205). Mas é neste intercâmbio transaccional que ocorrem falhas, pois sempre que nas transacções entre pessoa e ambiente não está patente uma boa relação, reduz-se a possibilidade de uma boa adaptação, emergindo um conjunto de necessidades e problemas.

Contudo, este modelo visa uma abordagem holística, propondo a “totalidade de interacções [entre] todos os elementos internos e externos da situação problema, partindo da unidade da pessoa com o seu mundo, em constante mudança” (Payne; 2002a: 205), com o intuito de maximizar o crescimento e o desenvolvimento da pessoa, bem como melhorar o seu ambiente.

Modelo Radical

O modelo radical surge com maior veemência nos anos 70, sob influência de diferentes correntes como o marxismo ou o feminismo, entre muitas outras. Este modelo defende que a maioria dos problemas individuais têm causas estruturais. Assim, o assistente social analisa todas as condições individuais como um prolongamento dos factores estruturais da sociedade, considerando que a solução não deve patentear a esfera individual, mas sim as transformações que ocorrem no mundo social, onde sucedem graves injustiças e problemas sociais.

Ao defender esta perspectiva, o modelo radical coloca em causa os modelos tradicionais que direccionam o seu enfoque de acção, para as “explicações psicológicas dos problemas sociais, assim como (…) [tomam] por garantia a ordem social” (Payne; 2002a: 300).

Logo, ao falarmos de um Serviço Social onde se evidencia uma prática tutelada por este modelo, confrontamo-nos com um Assistente Social que orienta a sua acção para a transformação assente em práticas que promovem, nomeadamente, a consciência, a capacitação e o empowerment dos indivíduos, favorece a sua participação, denuncia as injustiças, procura neutralizar o enfoque patológico entre muitas outras acções diferenciadas, sendo que na maioria delas o assistente social enfatiza a educação politica, sendo esta a sua maior e global acção de intervenção. O profissional procura “não só compreender como é que os recursos são inadequados para ir de encontro às necessidades, como também em encontrar formas de enfrentar esta realidade no quadro de um contexto politico” (Payne; 2002a: 299), sendo este o significado que espelha o sentido do modelo radical.

Modelo de Modificação de Comportamento

O modelo de modificação do comportamento é dos modelos mais recentes na prática do Serviço Social, surgindo a partir dos trabalhos do professor Edwin Thomas da Universidade de Michigan, nos EUA, com jovens delinquentes (Caparrós; 1998: 221).Este modelo apoia-se na teoria da aprendizagem, tendo a sua origem na corrente behaviorosta de Watson e nas noções de condicionamento estudadas por Pavlov e a escola russa (Ranquet; 1996: 146).

Este modelo acredita que a maioria das condutas do ser humano, até mesmo as instintivas, é aprendida, através de um processo de interacção entre o Homem e o reforço do seu acto. Assim, este modelo defende a premissa de que toda a conduta apreendida pode ser modificada, se alterarmos os estímulos que a produziram. Por esse motivo a acção do Serviço Social assenta no apoio à mudança, centrando-se numa só conduta, da qual o técnico pode desempenhar dois papéis diferentes: por um lado pode tornar-se o agente directo da modificação, ensinando ao cidadão como actuar sobre as variáveis que condicionam a conduta que previamente estabelecem; por outro lado pode assumir o papel de instigador da modificação, ou seja, não actua directamente, declinando essa função nos “mediadores” (pessoas significativas para o cidadão).

O modelo de modificação do comportamento é fundamentalmente prático, operacionalizando-se através de diferentes técnicas que podem incidir no controlo dos estímulos (condicionamento clássico) ou no controlo de respostas (condicionamento operante), Contudo, vários autores, nomeadamente Matilde du Ranquet (1996) chama a atenção para a utilização deste modelo mais em casos de prevenção que em casos de correcção, referindo ainda que se deve evitar a utilização exclusiva deste modelo.

A aplicação do modelo de modificação de comportamento não é consensual, é dos modelos que mais tem sofrido um questionamento sobre as suas implicações éticas. Se todos os modelos exigem ao assistente social uma reflexão sobre as variáveis que determinam a sua escolha e as consequências da sua aplicabilidade. Ao modelo de modificação de comportamento é reforçado essa recomendação, aconselha-se que antes da sua utilização cada assistente social repense os seus valores e princípios pessoais e profissionais, pois a aplicação destes modelos enverga uma premissa à qual não podemos ficar indiferentes, e sobre a qual Matilde du Ranquet (1996: 174) propõe uma reflexão: “nós condicionamos os outros e somos condicionados por ele; ao tomar consciência disto, chegamos a perguntar em que sentido devemos actuar”.

Modelo de Organização Comunitária de Rothmam

Os modelos de organização comunitária de Rothman (1995) como o próprio nome indica, assentam a sua matriz no trabalho comunitário. Para serem utilizados, obrigatoriamente, teremos que estar a intervir nesse contexto e apropriados dos princípios que caracterizam a intervenção comunitária.

Relembramos mais uma vez, que para além da abordagem aqui apresentada, existem mais modelos, assim como existem mais modelos de intervenção comunitária, tais como as abordagens de Taylor e Roberts (1985), de Weil e Gamble (1995; 2005) e Popple (1995). Como anteriormente justificámos as escolhas aqui apresentadas têm como critérios os modelos que têm maior reconhecimento e utilização por parte dos Assistentes Sociais.

Rothmam (1995) apresenta três modelos de intervenção – Planeamento Social; Desenvolvimento Local; Acção Social/ Política – para os quais definiu 12 variáveis que ajudam a caracterizar e a diferenciar cada modelo: Objectivos/ finalidade da acção comunitária; Postulado sobre a estrutura comunitária e a problemática; Estratégias de mudança; Técnicas de mudança; Papel do assistente social; Meios que assegurem a mudança; Atitude fase às estruturas de poder; Relação sistema-indivíduo; Postulados relativos aos interesses dos sub-grupos da comunidade; Concepção dos beneficiários; Abordagem do empowerment. Vejamos cada modelo.

Desenvolvimento Local

A intervenção é realizada com o envolvimento da comunidade, baseada na ajuda mútua (self-help), sendo para isso essencial centrar a intervenção na construção de relações entre os vários actores (população, técnicos, decisores, organizações…), pois todos eles assumem um papel determinante no processo de desenvolvimento da comunidade, ou seja, a mudança só é efectivada através do envolvimento e participação de todos os actores, quer na definição de problemas, quer na procura e implementação de soluções. Defende-se que só consciencializando as pessoas para importância dos seus actos, implicando-as nas suas escolhas, atribuindo-lhes significado, só assim é possível promover a melhoria das competências da comunidade local na resolução dos seus problemas.

Planeamento Social

A finalidade do modelo de planeamento social assenta na elaboração de planos, programas, serviços e políticas com o objectivo de melhorar as condições sociais e a qualidade dos serviços prestados nas comunidades, ou seja, este modelo focaliza-se no processo técnico de resolução de problemas sociais implementados por peritos. Salienta-se que esse processo decorre de uma análise de dados objectivos sobre o problema, onde posteriormente o técnico elabora uma solução com base em planos formais, enquadramentos políticos assentes numa decisão racional. Tendo em conta estas características, a participação comunitária não é o elemento central de importância neste modelo, esta pode existir, mas varia de acordo com os problemas e os contextos em que estão inseridos.

 Acção Social e Política

 O modelo de acção social e política estrutura a sua intervenção na resolução de problemas em comunidades ou grupos desfavorecidos e excluídos. Defende mudanças na comunidade ao nível da redistribuição de poder, dos recursos e da tomada de decisão pelos grupos excluídos. Assim maximiza a participação dos cidadãos, promove acções colectivas na defesa dos direitos e mudanças na acção social, jurídica e política, negoceia soluções com autoridades locais e centrais. Tudo isto com o intuito de atingir o seu objectivo: a mudança na estrutura de poder.

Após esta análise é possível compreender com maior clareza que nem todos os modelos se dirigem para os mesmos objectivos, todos apresentam características diferentes, privilegiam teorias diferentes, apoiam-se em hipóteses de trabalho e, consequentemente em intervenções distintas. É igualmente possível verificar que os modelos, embora sejam possuidores de uma matriz individual, não se encontram necessariamente em trilhos antagónicos.

Segue-se um quadro síntese que apresenta as características de cada modelo aqui enunciado, bem como algumas das variáveis que devemos ter em conta na sua escolha.

Este texto teve como apoio as referências bibliográficas abaixo citadas e que apresentamos como sugestão de leitura para um aprofundamento deste tema.

CAPARRÓS, Mª José Escartín (1998) Manual de Trabajo Social (Modelos de práctica profesional), Alicante: Aguaclara.
CARVALHO, Andreia A. Pereira (2010) Serviço Social: Teorias, Modelos e Reflexividade do Agir Profissional; Dissertação de Mestrado da Universidade Católica Portuguesa.
DU RANQUET, Mathilde (1996) Los Modelos en Trabajo Social Intervencíon con personas y famílias, 1ª Edição, Madrid: Siglo XXI.
HERNANDÉZ, Manuel Hernandéz; JUÁREZ, Asunción Cívicos (2008) “Teorias y modelos del Trabajo Social con casos, familiar y con otras universidades de convivência” in GARCÍA, Tomás Fernandes Trabajo Social con casos, Madrid: Alianza (pp. 59-105).
PAYNE, Malcolm (2002) Teoria do Trabalho Social Moderno, Coimbra: Quarteto.
PONTICELLI, Maria Dal Pra (1998) Modelos Teóricos del Trabajo Social, Buenos Aires: Lumen-Hvmanitas.
ROTHMAN, Jack (1995) “Approaches to Community Intervention” in COX F., ERLICH J., ROTHMAN J. and TROPMAN J., eds, Strategies of Community Organization, 5th ed, Itasca, IL: F. E. Peacock.
VIEIRA, Balbina Ottoni (1989) Introdução a Modelos Genéricos do Serviço Social, Rio de Janeiro: Agir.
VISCARRET, Juan Jesus (2007) Modelos y métodos de intervencíon en Trabajo Social, Madrid: Alianza.

Como deve ser a atuação do assistente social diante das questões sociais?

A atuação do assistente social faz-se desenvolvendo ou propondo políticas públicas que possam responder pelo acesso dos segmentos de populações aos serviços e benefícios construídos e conquistados socialmente, principalmente, aquelas da área da Seguridade Social.

Quais as formas de intervenção do assistente social?

A intervenção profissional do assistente social pode ser caracterizada pelo atendimento às demandas e necessidades sociais de seus usuários, que podem produzir resultados concretos, tanto nas dimensões materiais, quanto nas dimensões sociais, políticas e culturais da vida da população, viabilizando seu acesso às ...

Qual a proposta de atuação do serviço social?

O profissional de Serviço Social atua na formulação e implementação de propostas de intervenção que visem o exercício pleno da cidadania e a inserção criativa e propositiva dos/a usuários/as do Serviço Social no conjunto das relações sociais.

Qual e o objeto de intervenção do profissional assistente social enquanto profissional inserido na divisão sociotécnica do trabalho?

O SERVIÇO SOCIAL É UMA PROFISSÃO QUE SE CONSOLIDA NO INTERIOR DAS LUTAS DE CLASSE E QUE TEM, PORTANTO, ESSA REALIDADE SOCIAL ENQUANTO OBJETO DE INTERVENÇÃO PROFISSIONAL. DIVISÃO SOCIAL E TÉCNICA. SOCIOTÉCNICA – APLICAÇÃO DE DADOS PSICOSSOCIAIS A PROBLEMAS INDUSTRIAIS E COMERCIAIS, POR EXTENSÃO DA PSICOTÉCNICA.