Por que o uso irracional de antibacterianos afeta a saúde individual e coletiva?

Uma das maiores ameaças à saúde global atualmente, a resistência de microrganismos aos antibióticos coloca em risco a saúde humana e animal. O aumento de bactérias resistentes está diretamente relacionado ao uso excessivo e incorreto dos medicamentos disponíveis. A ampliação do problema poderá dificultar o tratamento de um número cada vez maior de doenças infecciosas que podem se espalhar rapidamente. O alerta é da Organização Mundial da Saúde (OMS), que promove, entre os dias 18 e 24 de novembro, a Semana Mundial do Uso Consciente de Antibióticos (World Antibiotic Awareness Week). A campanha tem como objetivo conscientizar a população, profissionais de saúde e gestores públicos sobre os impactos de dimensões sociais, econômicas e ambientais causados pela resistência. 

“O uso indiscriminado de antibióticos por instituições de saúde, pela população e em práticas agropecuárias tem contribuído para o aumento da resistência a esses medicamentos”, ressalta a bacteriologista Ana Paula Assef, chefe do Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). “A lavagem correta das mãos e dos alimentos, por exemplo, são práticas eficazes que devem ser estimuladas para a prevenção da transmissão de bactérias. Além disso, é importante cumprir as recomendações médicas sobre os antibióticos, evitando o uso por conta própria e a interrupção do tratamento antes do prazo estabelecido pelo médico”, enfatiza.

Por que o uso irracional de antibacterianos afeta a saúde individual e coletiva?

Ana Paula lembrou a importância de não se automedicar e de cumprir integralmente o tratamento recomendado por médicos (Foto: Gutemberg Brito)

Reforço da vigilância

Segundo a OMS, a cada ano, cerca de 700 mil pessoas morrem, em todo o mundo, devido a infecções resistentes aos antimicrobianos. Doenças comuns, como infecções respiratórias, urinárias e infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) poderão se tornar intratáveis com os medicamentos disponíveis.

Frente a este cenário, o Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar do IOC atua como Centro Colaborador da Rede de Monitoramento da Resistência Microbiana Hospitalar (Rede RM), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Os pesquisadores realizam análises de amostras bacterianas de diversos estados para o esclarecimento dos principais mecanismos de resistência circulantes no país e de possíveis casos de surto.

“A vigilância da resistência antimicrobiana é um mecanismo fundamental para o rastreamento de mudanças nas populações microbianas. A estratégia permite a detecção precoce de cepas resistentes de importância para a saúde pública e o apoio à pronta notificação e investigação de surtos”, ressalta Assef. Os resultados da vigilância são necessários para definir terapias clínicas, orientar as recomendações de políticas públicas e avaliar o impacto das intervenções de contenção da resistência. A equipe também desenvolve pesquisas voltadas para a elaboração de protótipos de kits para o diagnóstico e detecção de genes associados à resistência de bactérias aos antibióticos, além de estudos para o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas.
 

Estratégia nacional de enfrentamento ao problema

Lançado em 2018, o Plano Nacional de Prevenção e Controle de Resistência aos Antimicrobianos é uma das ações para fazer frente ao problema. A estratégia tem como objetivo central garantir a capacidade de tratar e prevenir doenças infecciosas com medicamentos seguros e eficazes, que sejam de qualidade assegurada e utilizados de forma responsável e acessível.

Segundo a pesquisadora do IOC, o documento é baseado em cinco eixos estratégicos. Os objetivos incluem o aumento da conscientização a respeito da resistência aos antimicrobianos e o fortalecimento da base científica por meio da vigilância e pesquisa. Também fazem parte do escopo a redução da incidência de infecções por meio de medidas eficazes de saneamento, higiene e prevenção, a otimização no uso de medicamentos antimicrobianos na saúde humana e animal e o aumento do investimento em novas terapias para o tratamento de infecções bacterianas, métodos de diagnóstico e vacinas.

O conteúdo foi elaborado em convergência com as diretrizes da Organização Mundial de Saúde (OMS), da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) sobre o tema. A estratégia tem vigência de cinco anos (2018-2022) e envolve, além do Ministério da Saúde, diversos órgãos federais, como a Anvisa e os ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).

Por que a resistência aos antibacterianos é um problema de saúde pública?

Pacientes com infecções causadas por bactérias resistentes a drogas correm maior risco de ter piores desfechos clínicos e morrer. Além disso, eles consomem mais recursos de saúde do que aqueles infectados por cepas não resistentes da mesma bactéria.

Qual o impacto na saúde pública de uma doença causada por uma bactéria resistente a medicamentos?

Impacto sobre as infecções adquiridas nos hospitais Os patógenos multirresistentes são responsáveis ​​pelo aumento da morbimortalidade dos pacientes internados em hospitais e ocasionam um grande aumento nos gastos com saúde devido à prescrição de medicamentos mais caros e ao longo período de internação.

Por que não deve abusar do uso de antimicrobianos?

O uso em excesso faz com que as bactérias sofram alterações e os antibióticos perdem o poder de ação sobre elas. Isso também pode causar o surgimento de “superbactérias”, que são resistentes a vários antibióticos e têm poucas opções de medicamentos para o tratamento.

Como a terapia antimicrobiana pode interferir no quadro de infecção hospitalar?

Entre o impacto e as conseqüências do uso indiscriminado dos antibióticos destacam-se: seleção de cepas de bactérias resistentes, implicações ecológicas e epidemiológicas, risco de super infecções, maior incidência de efeitos colaterais, e, o mais importante, o elevado número de óbitos resultantes daquelas infecções.