Quais foram os fatores que levaram a queda do impérioromano do Ocidente?

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O processo que levou à queda o Império Romano do Ocidente foi longo e complexo. Para compreender este acontecimento é preciso compreender o contexto de ameaças de invasões e crises pelo qual passava o Império.

Crise do Terceiro Século

Após um longo período de estabilidade, conhecido como o período da Pax Romana, no qual o Império se expandiu ao máximo, chegando ao seu maior tamanho territorial, houve uma intensa crise, ocorrida justamente pela dificuldade em manter um império tão vasto em segurança e estabilidade. O envio de tropas às diferentes regiões custava caro e necessitava de infraestrutura. Com a crise do terceiro século defender o território que sofria constantes ameaças de invasão tornava-se difícil e dispendioso. O envio de soldados às regiões distantes de Roma tornava-se mais difícil e assim, a conquista de novos escravos também não ocorria. Neste cenário foram surgindo diversos problemas a serem enfrentados diretamente.

Suas fronteiras eram constantemente ameaçadas por povos bárbaros – aqueles que não falavam nem o grego nem o latim – e foi preciso uma forte mobilização, de pessoal, mas também financeira – para lutar contra os invasores. Para dar conta dessas demandas o Império passou a cobrar cada vez mais impostos, especialmente nas cidades, tornando a vida no espaço urbano difícil e onerosa, e causando assim um movimento migratório de diversas famílias para o interior das províncias. Ainda assim, as famílias mais pobres sofreram com a crise financeira. Trabalhando em sistemas de colonato, onde deveriam devolver parte do que produziam para o proprietário da terra em forma de pagamento, e não podendo adquirir bens em seu nome, a mobilidade social era praticamente impossível. Com as péssimas condições de vida no interior, esses colonos também se rebelaram contra o império, promovendo rebeliões que precisavam ser contidas, gerando mais gastos para o Império, que repreendia os movimentos com rigor.

Dominato e a Tetrarquia de Diocleciano

Durante o terceiro século o Império Romano viu a crise fugir de seu controle. Foram muitas as tentativas de manter o império vivo. Dentre as principais medidas destacam-se as propostas de Diocleciano. Para melhor controle do vasto território o Imperador propôs uma divisão do império. Ele seria dividido em quatro partes, cabendo a cada uma delas o seu próprio imperador. Era uma tetrarquia, estabelecida com vistas a restabelecer a ordem e retomar o controle do território romano. Na tetrarquia o regime de governo ficou conhecido como dominato, um regime monárquico, despótico e militarizado. A construção da imagem do imperador passou a ser uma questão central para o Império: ele deveria passar a mensagem de força e união e, para isso, passou a carregar símbolos visíveis da sua condição de imperador: coroas, mantos e tudo o que pudesse destacar sua imagem. No entanto o novo modelo de governo proposto por Diocleciano não atingiu os resultados esperados, pois os imperadores de cada uma das regiões entraram em disputas entre si, com vistas ao poder central. O envio de funcionários da administração, do Imperador e a construção de moradias nas cidades sedes de cada um dos imperadores também custou caro aos cofres, não resolvendo, portanto, o problema da crise conforme se pretendia. Diocleciano deixou de ser imperador em 305, quando abdicou de seu cargo.

Invasões de povos bárbaros

As ameaças de povos bárbaros eram muito comuns à época. É preciso lembrar que os territórios do mundo antigo foram disputados por diversos povos. Além disso, grupos não romanos tinham interesse não só em tomar o poder dos romanos, mas também nas suas terras, que eram férteis e nelas se podia produzir muita coisa. Assim, suas fronteiras encontravam-se em constante ameaça, especialmente por parte dos povos germânicos, tais como os francos, os visigodos, os vândalos e os anglo-saxões. As guerras contra os povos bárbaros também mexiam com as finanças do Império, afinal, custavam caro aos cofres públicos, que gastava com o envio do exército e com obras estruturais. Para dar conta de tantas demandas mais uma vez o Império tratou de aumentar a arrecadação de impostos, fazendo com que a população sofresse diariamente com as invasões bárbaras. Mas, não somente as terras causavam preocupações ao Império. A difusão de novas culturas a partir das invasões bárbaras era uma das maiores preocupações do Império Romano, pois, afinal de contas, pretendia-se único, sem dissonâncias. Com vistas a resolver o problema foi proposto, inicialmente, um acordo com alguns povos bárbaros: enquanto eles se instalavam nas terras do Império com a sua autorização, deveriam fornecer a defesa das fronteiras. Assim, os gastos do Império Romano diminuiriam sensivelmente.

Embora a proposta tenha sido aceita, os povos bárbaros continuavam a representar ameaça aos romanos. Isso porque, já instalados nas terras do império, passaram a planejar tomar o poder, cada um em sua região. Essa era uma nova forma de ameaça, que, somada à crise econômica, modificou o contexto do Império Romano. Inúmeras foram as invasões bárbaras nessa época e cabe destacar as mais contundentes: os vândalos ocuparam a região norte da África; os visigodos a Península Ibérica; os francos tomaram parte da Gália e os anglo-saxões tomaram a Bretanha. Essa tomada de poder por parte dos povos bárbaros enfraqueceu mais ainda o Império Romano.

Divisão do Império Romano

Ao final do século IV Teodósio, em 395, propôs a divisão do Império Romano em duas partes: o Império Romano do Ocidente e o Império Romano do Oriente. O primeiro tinha sede em Ravena, que depois seria transferida para Milão, e o segundo tinha sede no Bizâncio.

Durante as invasões bárbaras o que mais ocasionou desestabilização foram os saques a Roma. Roma já havia sido saqueada em outras ocasiões e, em sua história, seria saqueada novamente tempos mais tarde. No entanto, três saques marcaram esse período de declínio do Império Romano. O primeiro deles foi feito pelos visigodos, em 410 d.C., acontecimento que marca o início do processo de queda e desintegração do Império Romano. O segundo foi efetivado pelos vândalos, e ocorrido no ano de 455. As fontes do período indicam que este foi o mais violento dos saques. Mas, foi o terceiro, efetuado pelos hérulos, em 476, que foi o golpe definitivo que pôs fim ao Império Romano do Ocidente. Foram os hérulos que invadiram, saquearam e derrubaram Rômulo Augusto, o último Imperador Romano com aquela formulação. Enquanto o Império do Ocidente caiu, o Império Romano no Oriente manteve-se fortalecido, durando até o ano de 1453.

O ano de 476 é o marco do fim do que conhecemos como Idade Antiga, dando início ao período que costumamos chamar de Medieval, que será marcado pela formação do Império Bizantino e pela propagação do cristianismo. Embora esses marcos estejam presentes na historiografia até os nossos dias é preciso destacar que esse modelo que estabelecer uma linha do tempo sucessória de acontecimentos é baseado na experiência europeia e na sua historiografia. Portanto, ao falar de outras sociedades, localizadas e baseadas em diferentes partes do globo, é difícil manter os mesmos referenciais. Ainda assim, de acordo com a historiografia, pode-se entender o ano de 476 como um ano chave para a compreensão da queda do Império Romano do Ocidente e para o fim da Antiguidade.

Assim, a queda do Império Romano do Ocidente foi um processo complexo e longo de declínio do Império Romano, e não aconteceu da noite para o dia, repentinamente. Ocorreu devido a diversos fatores, quando não foi mais possível manter um Império unificado, perdendo forças e território.

Resumo

Há diversos fatores que explicam o declínio do Império Romano, podendo-se destacar a dificuldade em manter um exército que custava caro aos cofres imperiais; as pestes que assolavam a população romana ocasionando em doenças e consequentemente em um alto número de mortes; a crise financeira que assolou não só a administração imperial como toda a população, tendo em vista que para sustentar o Império em crise os Imperadores passavam a cobrar mais impostos do povo; as reformas propostas pelos Imperadores, especialmente por Diocleciano, que não surtiram os efeitos desejados e geraram mais instabilidade; a ascensão de uma nova religião e as tentativas de combate-la, com perseguições.

Ainda assim, embora a parte Ocidental tenha sido desintegrada, há aqueles que defendem que o Império Romano existiu até o ano de 1453, quando o Império Bizantino caiu, tendo a cidade de Constantinopla sido tomada pelos turcos otomanos. Há quem defenda essa versão porque, ainda assim, este império continuou sendo reconhecido como Império Romano, e ocupava parte de um território que compunha o Império Romano. Além disso, os homens e mulheres que lá viviam reconheciam-se também como romanos. Mas, eles não utilizavam o latim como língua oficial.

Por fim cabe destacar que o processo que levou à queda do Império Romano do Ocidente iniciou-se com a crise do terceiro século e as sucessivas tentativas de manter um império tão vasto, com a maior extensão de terras do mundo antigo, de forma unificada, estável e coesa. As propostas que se seguiram por parte de seus Imperadores não resolveram as crises, e o Império precisou lidar com diversas outras questões, sendo as mais contundentes as invasões bárbaras e os saques a Roma, que levaram, por fim, à desintegração do Império Romano do Ocidente.

Referências:

FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. São Paulo: Contexto, 2002.

GIBBON, Edward. Declínio e Queda do Império Romano. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

GIORDANI, Mario Curtis. História de Roma: A antiguidade Clássica II. Petrópolis, Ed. Vozes, 2001.

Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/historia/queda-do-imperio-romano-do-ocidente/

Que fatores levaram à queda do Império Romano Ocidental?

Síntese: A extensão do Império romano, o enfraquecimento do poder militar, problemas económicos, corrupção e instabilidade política e social e as invasões bárbaras, foram as principais causas da queda do Império Romano do Ocidente. O império romano foi substituído por uma nova realidade política, económica e social.

Quais fatores levaram ao enfraquecimento do império?

Ao lado da decadência da economia escravista e da desestruturação militar, as invasões bárbaras foram apontadas por historiadores como um dos principais processos que levaram ao fim do maior império da Antiguidade, em 476 d.C.

Quais os motivos que levaram a divisão do Império Romano?

Enfrentando uma crise financeira e de defesa do território, o Império Romano precisou pensar em alternativas para sua manutenção e sustentação. Diocleciano tentou salvar o Império Romano a partir da sua divisão em quatro regiões, que seriam comandadas por quatro imperadores.

Quando ocorreu a queda do Império Romano?

4 de setembro de 476 d.C.Queda do Império Romano do Ocidente / Data de inícionull