Quais os fatores que levaram Portugal a sair na frente nas Grandes Navegações?

Atualizado em 18/09/2013, às 14h26

As nações ibéricas foram pioneiras na corrida para o mar no século 14, que marcou o fim da Idade Média na Europa. Depois de Portugal, que ensaiava a expansão marítima, a Espanha também se lançou ao mar.

Os reis espanhóis também se dedicaram ao empreendimento das grandes navegações e possuíam embarcações capazes de igualar os feitos dos portugueses no mar. Enquanto Portugal buscou contornar a costa da África para chegar às Índias, a Espanha tinham planejado navegar a oeste no Atlântico.

Os espanhóis financiaram a expedição de Cristóvão Colombo que, em 12 de outubro de 1492, chegou à ilha de Guanaani, acreditando ter encontrado as Índias. Em seguida, uma nova expedição comandada por Américo Vespúcio explorou a mesma região e concluiu que Colombo havia descoberto um novo continente que mais tarde foi denominado de América.

A descoberta de novas terras a oeste do Atlântico pelos espanhóis fez aumentar a rivalidade entre Portugal e Espanha. O papa Alexandre VI viria a desempenhar um papel de arbítrio entre os dois reinos ao proclamar, em 1493, a bula "Intercoetera", que traçou uma linha imaginária a partir das ilhas de Cabo Verde, cerca de 100 léguas em direção ao Ocidente. A bula estipulava que as terras descobertas a oeste desta linha ficariam sob domínio espanhol, enquanto que as terras a leste pertenceriam a Portugal.
 

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Portugal foi pioneiro na expansão marítima por conjugar alguns fatores políticos, sociais, econômicos e técnicos que possibilitaram a procura por novas rotas de comércio com os mercados orientais. Além disso, sua posição geográfica privilegiada no continente europeu facilitava o acesso ao oceano Atlântico, um espaço marítimo desconhecido pela maioria dos demais povos europeus.

A grandiosidade da expansão marítima portuguesa resultou inclusive na produção de um dos maiores poemas épicos da Idade Moderna, os Lusíadas, escrito por Luís Vaz de Camões para retratar a saga de Vasco da Gama até chegar à cidade indiana de Calicute, em 1498.

Desde o início do lançamento ao Atlântico até a chegada à Índia foi necessário quase um século de expedições marítimas pela costa Africana. Mas as condições políticas para se realizar o feito remetem ao século XIV, quando Portugal se transformou em um reino independente do reino espanhol de Castela. Tal independência aconteceu com a Revolução de Avis, ocorrida entre 1383 e 1385, quando D. João I liderou as tropas portuguesas contra o rei D. Fernando I, de Castela, representante herdeiro da dinastia de Borgonha. A batalha de Aljubarrota selou a vitória contra Castela, criando a dinastia de Avis e transformando Portugal no primeiro Estado centralizado europeu.

Essa centralização estava ligada à supremacia do rei sobre os demais senhores feudais. E, no caso de Portugal, isso foi conseguido com o apoio da burguesia mercantil portuguesa. Essa burguesia estava se consolidando no comércio da região desde a terceira cruzada, sendo que Lisboa havia se transformado em um importante entreposto comercial entre o mar Mediterrâneo e o mar do Norte, gerando um afluxo muito grande de recursos financeiros à burguesia local. Esta burguesia estava ainda interessada no comércio de especiarias com o Oriente, devido aos enormes lucros que esse comércio proporcionava.

Esse enriquecimento possibilitou ao reino uma maior arrecadação de impostos e a utilização desses recursos financeiros no investimento do desenvolvimento técnico necessário para a navegação em alto mar. O infante português D. Henrique reuniu em Sagres, no sul de Portugal, uma série de renomados cartógrafos, cosmógrafos e navegadores com o objetivo de encontrar as formas de realizar a chegada à Índia, contornando o continente africano. O resultado foi a elaboração de mapas que iriam orientar as viagens, a criação de novas embarcações, como as caravelas, e o aperfeiçoamento de instrumentos de navegação como a bússola e o astrolábio.

O primeiro local conquistado foi Ceuta, em 1415. A partir daí os navegadores portugueses foram conquistando territórios ao longo da costa africana, em direção ao sul, formando feitorias, que consistiam em fortalezas contra os inimigos e em entrepostos comerciais, onde muitos produtos africanos eram adquiridos para serem vendidos na Europa. Com os lucros conseguidos com essas vendas, era possível continuar o financiamento das aventuras marítimas.

Mas havia várias dificuldades para realizar o périplo africano, o contorno do continente pelo sul para chegar ao Oriente. Uma das dificuldades era ultrapassar o Cabo Bojador, próximo ao trópico de capricórnio, o que foi realizado após 15 tentativas, por Gil Eanes, em 1434. Como eram lugares desconhecidos dos europeus, havia o mito de se tratar de uma zona inabitável devido ao calor e aos monstros lá existentes. Com a passagem por esse cabo foi possível continuar a empreitada. Outra dificuldade era ultrapassar o Cabo das Tormentas, no extremo sul da África, feito conseguido por Bartolomeu Dias, em 1488. Dez anos após a passagem pelo Cabo da Boa Esperança (novo nome do Cabo das Tormentas), foi possível a Vasco da Gama chegar às Índias, em 1498, realizando o périplo africano e abrindo uma nova rota marítima para o Oriente.

Os lucros foram fabulosos, o que estimulou novas expedições. A expedição posterior à de Vasco da Gama foi a de Pedro Álvares Cabral, que além de chegar novamente às Índias, deveria antes tentar encontrar novas terras no ocidente do oceano Atlântico. Com esse objetivo, em 1500, Cabral desembarcou no litoral do que seria futuramente o Brasil.

Além das feitorias e territórios na África e no Brasil, o Império Português conseguiu conquistar terras ao longo de litorais do oceano Índico e Pacífico, chegando até ao Japão.


Por Tales Pinto
Graduado em História


Aproveite para conferir nossa videoaula relacionada ao assunto:

Quais os fatores que levaram Portugal as grandes navegações?

- Localização geográfica privilegiada de Portugal, com presença de litoral atlântico que favoreceu a navegação. - Investimentos da burguesia portuguesa na navegação marítima, pois esta tinha interesses comerciais, principalmente voltados para o negócio lucrativo das especiarias.

Por que Portugal saiu na frente nas Grandes Navegações?

O primeiro motivo que levou os portugueses ao empreendimento das Grandes Navegações foi a progressiva participação lusitana no comércio europeu no século XV, em razão da ascensão de uma burguesia enriquecida que investiu nas navegações no intuito de comercializar com diferentes partes do mundo.