Qual e a diferença entre polissemia e homonímia?

O que distingue polissemia de homonímia? Tenho procurado em diferentes sítios, mas não parece haver uma distinção nítida entre o que é uma e o que é a outra.

Cláudia Pinto — Lisboa

Minha prezada Cláudia: os dois conceitos são bem distintos; contudo, quem nem sempre colabora docilmente é o material a que eles se aplicam— as palavras, as infinitas e misteriosas palavras. Pensa no vocábulo manga: existe alguma relação entre a fruta e a manga da camisa? Ou seja, trata-se de um só vocábulo com dois sentidos, ou são dois vocábulos diferentes com a mesma forma? Quando um vocábulo possui mais de um significado, chamamos isso de polissemia. Quando dois vocábulos diferentes, de origens e significados diversos, terminam convergindo para a mesma configuração fonológica e ortográfica, chamamos de homonímia.

Um bom exemplo de vocábulo polissêmico (do Grego poli, “muitos”, e sema, “significado”) é LETRA, que tem no mínimo três significados bem conhecidos: (1) um dos sinais gráficos do alfabeto; (2) o texto de uma canção; (3) um título de crédito. Para a maioria dos falantes não parece difícil ligar entre si esses três significados, já que todos eles estão relacionados pela idéia de escrita.

Quando, no entanto, não conseguimos estabelecer uma relação satisfatória entre os significados — como no caso da MANGA —, há forte probabilidade de que estejamos diante de um par de vocábulos homônimos. Uma rápida investigação no dicionário confirma nossa intuição: a fruta vem do Malaio manga, enquanto a parte da vestimenta vem do Latim manica.

Um bom dicionário deveria tentar distinguir os casos de homonímia dos casos de polissemia: manga mereceria dois verbetes diferentes, enquanto os vários significados de letra seriam relacionados no corpo do mesmo verbete. No entanto, como nem sempre é fácil decidir se estamos diante de um ou de outro caso (pensem nos cravos da florista, no cravo que faz par com a canela no doce, nos cravos que pregaram Cristo na cruz, na música de cravo de Bach e de Scarlatti e nos cravos da pele — como classificar?), a maioria dos dicionaristas limita-se a relacionar e definir cada um dos significados: cravo (1) flor…; (2) prego…; (3) instrumento… — e assim por diante, porque eles sabem que essa informação basta para o usuário comum.

Lamento que seja essa a prática mais difundida nos dicionários nacionais, pois ela termina favorecendo a falsa ligação entre termos de origens distintas e deixando solta a criatividade do leitor para imaginar famílias etimológicas sem fundamento algum, como vem acontecendo, por exemplo, com coito e coitado (vê o que escrevi no artigo Atravessando o Canal da Manga). Nota que a tarefa não é das mais árduas: enquanto a polissemia está presente em quase todos os verbetes (os lexicógrafos dizem que vocábulos que só têm um significado são raríssimos, geralmente referindo-se a aspectos muito particulares da realidade — lembro de glabro, “sem barba ou sem pêlos“, ou de acusma, “alucinação auditiva”), os homônimos não existem em grande número e poderiam ser listados exaustivamente.

Depois de ter errado infrutiferamente pelos caminhos tortuosos da internet, espero que finalmente tenhas encontrado tua resposta. Abraço. Prof. Moreno

Depois  do Acordo:

idéia > ideia

pêlos > pelos

POLISSEMIA E HOMON�MIA: UMA AN�LISE COMPARATIVA� LUZ DA LING��STICA MODERNA

Tadeu Luciano Siqueira Andrade (UNEB)

Dedico este trabalho aos alunos do 1� semestre do Curso de Direito � Universidade do Estado da Bahia � UNEB, porque, nas aulas de L�ngua Portuguesa, surgiram as diverg�ncias em rela��o aos conceitos de Homon�mia e Polissemia.

INTRODU��O

Apesar dos grandes avan�os nos estudos ling��sticos, o ensino de Portugu�s, nas escolas, permanece sendo caracteristicamente normativo, isto �, n�o s� ensino da l�ngua, como o ensino de modo geral.

A gram�tica ainda � o centro das atividades pedag�gicas. A vis�o reducionista da l�ngua, provinda desse ensino e respaldada no condicionamento, exige que o aluno decore classifica��es, estruturas e significados presentes nos manuais de gram�ticas para reproduzi-los nas atividades metaling��sticas.

As palavras surgem a cada momento, umas entram em desuso; outras voltam a serem usadas com um novo conceito e assim o l�xico torna-se din�mico.

As atividades de sem�ntica, vistas nas aulas e nos livros de L�ngua Portuguesa, est�o voltadas para a defini��o de polissemia, homon�mia, sinon�mia e anton�mia.

S�o dadas listas de palavras com seus respectivos significados, em algumas ocasi�es, havendo palavras repetidas tanto nos exemplos de polissemia como nos exemplos de homon�mia e.g. manga e cravo. Para alguns autores, tais palavras s�o exemplos de homon�mia; para outros constituem exemplos de polissemia.

A dificuldade est� no fato de que a sem�ntica n�o est� lado a lado com a morfologia e nem com a sintaxe. Ao contr�rio, ela � vista como um ap�ndice nos diversos manuais gramaticais.

� necess�rio que a sem�ntica seja inserida nas gram�ticas e que o estudo dos lexemas1[1][2] n�o fique preso somente ao campo gramatical, mas fa�a uma abordagem l�xico-sem�ntica.

Dessa forma, verificar-se-� a necessidade de um estudo mais aprofundado e fundamentado na hist�ria do l�xico, uma vez que as palavras tamb�m sofrem influ�ncia do processo hist�rico.

A PESQUISA

Para fundamentar a problem�tica referida neste artigo, foi realizado um estudo em dez manuais de Gram�tica da L�ngua Portuguesa, procurando responder �s seguintes quest�es:

1.Como os manuais de gram�tica abordam a sem�ntica?

2.Como s�o trabalhadas a polissemia e a homon�mia?

3.Que atividades s�o exploradas acerca da polissemia e da homon�mia?

Os autores, cujas gram�ticas foram analisadas, s�o os mais trabalhados nas escolas de 2� e 3� graus. A seguir, ser�o transcritos alguns trechos inerentes ao conte�do:

1.Domingos Pascoal Cegalla (1994: 284 / 285):

Hom�nimas s�o palavras que t�m a mesma pron�ncia e, �s vezes, a mesma grafia, mas significa��o diferente.

Polissemia uma palavra pode ter mais de um significado. A esse fato ling��stico, d� � se o nome de polissemia.�

2.Ernani Terra(1995:22):

Hom�nimas palavras que t�m a mesma pron�ncia, mas significados diferentes.

3.Evanildo Bechara (1999: 402/ 403):

Homon�mia propriedade de duas ou mais formas, inteiramente distintas pela significa��o ou fun��o, terem a mesma estrutura fonol�gica e os mesmos fonemas dispostos na mesma ordem e subordinados ao mesmo tipo de acentua��o.

Polissemia � o fato de haver mais uma s� forma (significante) com mais de um significado unit�rio pertencentes a campos sem�nticos diferentes(...) A polissemia � um conjunto de significados, cada um unit�rio, relacionados com uma mesma forma.

4.Faraco & Moura (1998):nada consta, nesta gram�tica, referente � polissemia e � homon�mia.

5.Jo�o Domingues Maia (1994: 297):

Homon�mia palavras foneticamente iguais que possuem sentidos diferentes.

Polissemia uma palavra pode apresentar mais de um significado como nos indicam os dicion�rios de tal modo que somente o contexto determina seu significado.

6.Luiz Antonio Saconni (1995: 431 e 433):

Homon�mia(...) duas ou mais palavras s�o hom�nimas quando apresentam identidade de sons ou de forma, mas diversidade de significado.

A polissemia � a propriedade de uma palavra adquirir multiplicidade de sentidos que s� se explica dentro de um contexto, trata � se de uma �nica palavra que abarca grande n�meros de acep��es dentro de seu pr�prio campo sem�ntico.

7.Mauro Ferreira (1994: 192):

Hom�nimos s�o palavras escritas ou pronunciadas da mesma maneira, mas com significados diferentes.

8.Roberto Melo Mesquita (1997:89)

Hom�nimos palavras que se assemelham na forma (pron�ncia ou grafia) que t�m significados diferentes.

9.Rocha Lima (1994 : 485 / 487):

Hom�nimos a rigor, s� deveriam ser consideradas como tais aquelas palavras que, tendo origem diversa, apresentassem a mesma forma, em virtude de uma coincid�ncia na evolu��o fon�tica (...) costuma � se entender essa designa��o todas as palavras que, possuindo forma id�ntica, designem coisas distintas.

Polissemia � no �mbito puro da denota��o, � preciso levar em conta a polissemia � vale dizer a multiplicidade de sentidos imanentes em toda palavra(...).

10.William Roberto Cereja & Tereza Cochar Magalh�es (1999: 386 e 423):

Polissemia � a propriedade de uma palavra apresentar v�rios sentidos.

Hom�nimas � apresentam diferen�a na escrita e semelhan�as na pron�ncias.

RESULTADOS DA AN�LISE

Ap�s a an�lise dos manuais, concluiu � se que os autores, � exce��o de Evanildo Bechara, Luiz Antonio Saconni e Rocha Lima, apresentam quase a mesma fundamenta��o no que se refere aos processos sem�nticos, tendo os seguintes itens:

a.A homon�mia e a polissemia s�o trabalhadas, em alguns autores, no cap�tulo de ortografia;

b.As listas de palavras soltas, sem contextualiz�-las, para exemplificarem os conte�dos;

c.Exerc�cios repetidos com os processos sem�nticos;[3]

d.A polissemia e a homon�mia fazem parte do cap�tulo Sem�ntica, o qual, em algumas gram�ticas constitui um ap�ndice

e.divis�o da homon�mia[4]

BECHARA (1999), em sua obra, fundamenta as altera��es sem�nticas no crit�rio hist�rico, mostra uma diferen�a mais clara da homon�mia e da polissemia (c.f. o autor � p 403).

Rocha Lima (1994) aponta a homon�mia tanto no aspecto hist�rico, como nos aspectos f�nico e m�rfico, fazendo uma an�lise dos processos sem�nticos.

SACONNI (1995: 433) embora trate da homon�mia e da polissemia na vis�o tradicional, traz uma observa��o veemente para os dois processos:

No campo diacr�nico4[5] ou hist�rico cumpre distinguir a homon�mia da polissemia. Diacronicamente s� h� homon�mia quando a palavra resulta de voc�bulos distintos.

Uma observa��o que merece uma reflex�o foi o fato de os gram�ticos estudados neste artigo questionarem mais a homon�mia que a polissemia, excetuando Faraco & Moura que nada apresentam em rela��o aos dois processos sem�nticos estudados.

FUNDAMENTA��O TE�RICA

Analisadas as gram�ticas citadas, procedeu-se a um estudo da homon�mia e da polissemia, confrontando a abordagem de conte�do pela Gram�tica Tradicional � luz da Ling��stica Moderna, tendo como elemento norteador as diverg�ncias na defini��o de polissemia e homon�mia.

Para LYONS (1987: 143) �a �nica forma de resolver ou talvez de delimitar o problema tradicional da homon�mia e polissemia � abandonar totalmente os crit�rios sem�nticos na defini��o do lexema, contando apenas com os crit�rios sint�ticos e morfol�gicos.�

Preocupar-se com a defini��o dos processos sem�nticos, sem uma an�lise mais profunda do lexema, n�o interessa � l�ngua, uma vez que os processos sem�nticos v�o al�m do que os manuais gramaticais definem.

� preciso analisar a homon�mia e a polissemia, partindo de uma descri��o sem�ntica mais profunda, pois h� uma quest�o hist�rica nos significados das palavras, o que torna a quest�o mais complexa v.g. a palavra pedagogo5, que hoje constitui uma nova interpreta��o do lexema.

A diferen�a entre a homon�mia e a polissemia n�o deve ficar restrita ao que definem as gram�ticas.

Mattoso C�mara (1984) define homon�mia como duas formas e a polissemia uma s� forma, apontando dois crit�rios: o diacr�nico6[6]que considera as formas convergentes7[7] e o sincr�nico8[8] que considera homon�mia as formas logicamente iguais, cujas significa��es n�o conseguem associar um campo sem�ntico.

A polissemia e a homon�mia n�o est�o presentes apenas no campo da sem�ntica, elas v�o al�m, chegando aos campos de significa��ogramatical ou interna9[9] como tamb�m na significa��o externa10[10].

Em todas as gram�ticas analisadas, percebe-se a problem�tica na defini��o da polissemia e da homon�mia. Todas elas apontam quase o mesmo conceito, mudando apenas alguns exemplos.

Os ling�istas modernos propuseram acabar com o conflito gerado pelas defini��es da homon�mia e da polissemia: adotar um caso de homon�mia e n�o de polissemia.

LYONS (1987: 143) critica tal proposta, afirmando que�est� na pr�pria ess�ncia das l�nguas naturais o fato de os significados lexicais se mesclarem uns com os outros adv�m de lexemas serem indeterminadamente ampli�veis.�

N�o abordar a polissemia como um processo ling��stico � sem�ntico � considerar a l�ngua como um organismo morto e est�tico; analisar a homon�mia sem um processo hist�rico � considerar que as palavras n�o sofreram nenhuma transforma��o na sua constitui��o sem�ntica. (grifo meu)

Em que aspecto pode-se diferenciar a homon�mia da polissemia?

�Na polissemia, o escritor alarga as acep��es de uma �nica palavra, enquanto na homon�mia, ele distingue v�rias palavras� (ANDRADE & DAMI�O � 1999: 44)

Segundo BORBA (1982: 94),�a linguagem � naturalmente poliss�mica porque o signo, tendo o car�ter arbitr�rio, n�o tem significa��o fixa(...)�

Assim, � imposs�vel imaginar uma l�ngua sem polissemia.

A gram�tica tradicional considera polissemia apenas na linguagem figurada ou nas v�rias faces que os lexemas apresentam.

Em parte, essa afirma��o � aceita, mas � preciso considerar outros pontos.

Analisando ULLMANN, encontram-se, al�m do contexto e da conota��o, outras fontes da polissemia:

1.Mudan�a de aplica��o: � o contexto que vai definir o significado do lexema, fonte mais comum da polissemia;

2.Especializa��o num meio social: as palavras, nas profiss�es, adquirem um sentido especial presente na mente de cada um, a exemplo tem � se a palavra a��o que recebe conota��es diferentes nos campos jur�dico, militar e teatral;

3-- Linguagem figurada: a palavra, conservando o car�ter poliss�mico, apresenta as v�rias faces.

ULLMANN, nesse caso, chama a aten��o para a meton�mia, tamb�m outro caso de polissemia, considerando as rela��es apresentadas pelos termos, como por exemplo: a palavra lanterninha nas senten�as: Ele � o lanterninha do cinema. O Guarda usava sua lanterninha11[11].

Nesse exemplo de meton�mia, verifica � se a aquisi��o de outros significados, devido a uma rela��o de implic�ncia.

4-Hom�nimos reinterpretados: nesta fonte, consideram � se as palavras, cuja etimologia o escritor desconhece. Assim, ele associa rela��es psicol�gicas, e.g. a palavraem�rito que apresenta dois significados:

1- jubilado; 2 - muito versado em uma ci�ncia ou arte; s�bio insigne�(AUR�LIO � 1986: 634).O lexema outrora apresentava um significado, verbete 01; hoje, apresenta um novo conceito, verbete 02.

5 - Influ�ncia estrangeira: s�o os empr�stimos sem�nticos, ou seja, o sentido importado � abolido ou passar� a conviver com ele, estabelecendo assim a polissemia.

No fragmento abaixo, percebe-se a nova acep��o dada ao lexema IMPEACHMENT:

(...) E esse tal de imp�xima, dot�, que t�o querendo bot� pra cima dele? � alguma mandinga?

- N�o F�lix, Impeachment quer dizer impedimento, como no futebol.

- E por que ficam chamando impedimento de imp�xima?. Tudo hoje � imp�xima. Imp�xima pra l�. Imp�xima pra c�. Todo mundo s� fala nisso(...) . O vizinho disse que a mulher de meu primo tinha passado l� cedo e deu uma imp�xima nele... fui na vendinha tomei umas duas. Deu vontade de ir no banheiro, mas n�o pude porque o banheiro tava cheio de imp�xima at� a boca(...)

(AYRES, Carlos Eug�nio Junqueira. O Imp�xima. In. A Tarde.Salvador, 05/09/92.)

Dentre essas fontes arroladas, ULLMANN considera a mudan�a de aplica��o, a especializa��o num meio social e a linguagem figurada as mais importantes no campo da polissemia.

Referindo-se � homon�mia, as gram�ticas analisadas consideram-na apenas no plano grafof�nico, n�o consideram a etimologia dos lexemas, chegando a definirem os hom�nimos perfeitos, ou seja, aqueles que s�o iguais em tudo. (c.f. as gram�ticas citadas nesta pesquisa).

�A diferen�a de significados decorre de etimologias diferentes que convergem, por acidentes fon�ticos, para uma forma vocabular.� (Z�lio Santos apud. ANDRADE: 1999: 73)

N�o se pode falar em homon�mia apenas no que se refere � grafia e a � fonia, como os o gram�ticos o fazem.

� preciso considerar o processo pelo qual os lexemas chegaram � l�ngua.

N�o se est� querendo transformar as gram�ticas em manuais de Filologia, no entanto, urge que o escritor, neste caso, tenha um conhecimento sobre a forma��o da l�ngua da qual ele � usu�rio.

ULLMANN, em seu livro de Sem�ntica, aponta tr�s fontes prov�veis de homon�mia:

1.Converg�ncia Fon�tica � neste processo, encontram-se as formas convergentes, a exemplo a palavra rio nas ora��es: �O rio S�o Francisco vai bater no meio do mar�. (Z� Dantas). Eu rio com as brigas no Congresso.12[12]

2.Diverg�ncia Sem�ntica: ocorre quando dois ou mais significados de uma palavra se difere de tal forma que acaba por ocorrer uma plena ruptura entre eles, e. g. escudo (s�mbolo oficial) e escudo(moeda de Portugal);

Canto (lugar) e Canto (melodia, por exemplo, o canto do sabi�).

Refletindo sobre este processo de homon�mia, encontra-se uma semelhan�a com a polissemia. Para compreender tal processo, � preciso uma reconstitui��o hist�rica das palavras.

3. Influ�ncia estrangeira: os empr�stimos13[13] s�o incorporados ao sistema fon�tico da l�ngua acabam coincidindo com voc�bulos j� existentes, s�o tamb�m considerados formas convergentes, como podem-se citar: mangaparte do vestu�rio e mangafruta. Cabochefe e cabo14[14]- ponta de terra que entra pelo mar�. (AUR�LIO � 1986: 302).

Os processos poliss�micos e hom�nimos, �s vezes, apresentam igualdades, como o j� citado exemplo de influ�ncia estrangeira, por isso nem sempre as diferen�as apontadas pelos ling�istas d�o explica��es coerentes.

Para encerrar, ser�o apontadas as seguintes diferen�as no que se refere aos processos estudados:

�Homon�mia � a identidade f�nica (homofonia) ou a identidade gr�fica(homografia) de dois ou mais morfemas que n�o t�m o mesmo sentido de um modo geral�. (DUBOIS: 1978: 326).

�Polissemia � a situa��o em que uma palavra assume significados vari�veis de acordo com o contexto, mas cuja origem � �nica com rela��o � polissemia, os dicion�rios, via de regra, apresentam uma entrada.�(SILVEIRA & ZILBERKNOP � 1994 : 43)

�Homon�mia � a situa��o em que uma palavra assume duas ou mais significa��es diferentes, mas cuja origem admite voc�bulos heterog�neos, com rela��o � homon�mia, os dicion�rios, via de regra, apresentam mais de um verbete (entrada)�(Ibidem)

Se se observarem as defini��es apontadas, pode-se chegar �s seguintes conclus�es:

A homon�mia apresenta lexema com a mesma forma, mas h� uma diferen�a no significado. Na polissemia, h� apenas um lexema para v�rios significados.

Considerando a dificuldade de se distinguir a polissemia da homon�mia, BECHARA (1999: 403), aponta alguns crit�rios para aclarar:

...se trata de uma mesma palavra com dois ou mais significados diferentes (polissemia) ou de duas palavras distintas com id�nticos fonemas (homon�mia):

Crit�rio hist�rico � etimol�gico � � o que fazem, em geral, os nossos dicion�rios;

A consci�ncia ling��stica do falante;

Crit�rio das rela��es associativas;

Crit�rio dos campos l�xicos.�

Embora as diferen�as apontadas n�o resolvam totalmente o problema da homon�mia e da polissemia, tais dificuldades servir�o de ponto de partida para um estudo mais detalhado dos processos sem�nticos.

CONSIDERA��ES FINAIS

Definir polissemia e a homon�mia, fundamentando-se nos par�metros ling��sticos, n�o � t�o f�cil. Embora haja preocupa��es nesse aspecto, at� hoje n�o se conhece uma forma precisa de diferenciar esses dois processos.

Sabe-se que uma palavra pode apresentar v�rios sentidos. Assim o lexema penapode ser sofrimento, d�, pluma, comina��o legal imposta pelo Estado, autor escritor. �Ele � uma pena inspirada.� (apud. Ronaldo Xavier).

Observando o rol dos significados, pode-se considerar pena como uma �nica palavra ou v�rias palavras.

Caso se observe que s�o v�rias palavras as quais apresentam igualdade nos planos f�nico e gr�fico, o voc�bulo j� citado ser� classificado como homon�mia.

Se a considerar como um �nico significante com v�rios significados, ela ser� uma polissemia.

Como discernir se se trata de homon�mia ou de polissemia?

A tradi��o gramatical estabelece v�rios crit�rios para diferenciar se uma determinada palavra � polissemia ou homon�mia, embora, em alguns casos, a d�vida ainda persista.

Alguns ling�istas afirmam que duas ou mais palavras, considerando o processo etimol�gico, constituir�o a homon�mia, e.g. sanctu > s�o, sanu > s�o � sadio e sunt > s�o � verbo ser. Todas t�m a mesma origem, o latim.

DUBOIS & DUBOIS (apud. PERINI � 1997: 250) diz�que se distinguem duas ou mais palavras (dois itens l�xicos) quando h� uma mudan�a de classe de palavra ou quando h� uma diferen�a sem�ntica grande e n�tida�.

Uma s� palavra, apresentando mais de um significado ocorrer� a polissemia e.gponto. nas senten�as: marcavapontona casa de Tadeu. O pontoda prova foi f�cil. Estou �apontode bala�.

O problema est� em discernir uma diferen�a grande de uma pequena no aspecto sem�ntico. Qual ou quais os limites adotados?

Nesse ponto, concorda-se com PERINI (1997: 251) �Se n�o tivermos um crit�rio facilmente aplic�vel para estabelecer esse limite, a proposta tradicional para distinguir homon�mia da polissemia n�o ter� grande utilidade�.

Acredita-se que a preocupa��o de os gram�ticos analisarem mais a homon�mia do que a polissemia adv�m da proposta de os ling�istas modernos adotarem um caso de homon�mia e n�o de polissemia (c.f. LYONS � 1987: 143)

Ao contr�rio dos gram�ticos analisados, Bechara, Mattoso C�mara, Lyons, Borba e Perini fundamentam a import�ncia da polissemia para as l�nguas humanas, alegando que, sem ela, as l�nguas n�o funcionariam eficientemente.

Perlustrando as gram�ticas analisadas, verifica-se a contradi��o no que refere ao aspecto din�mico da l�ngua, uma vez que os gram�ticos d�o prioridade � homon�mia, e n�o � polissemia.

Assim, os gram�ticos n�o v�em a polissemia como um processo ling��stico, din�mico e respons�vel pela flexibilidade da l�ngua, j� que ela precisa da polissemia para exprimir os in�meros aspectos dos lexemas.

N�o se deve tirar o valor da homon�mia no estudo da sem�ntica, mas � preciso saber que �a homon�mia � poss�vel sem preju�zo da comunica��o em virtude do papel do contexto na significa��o de uma forma�. (C�MARA apud. BECHARA 1999: 403).

Considerando a pesquisa e a fundamenta��o te�rica deste artigo, adv�m a necessidade de os gram�ticos analisarem de forma cr�tica o papel da sem�ntica na l�ngua.

Conseq�entemente, reavaliar-se-� a homon�mia e a polissemia no uso efetivo da l�ngua, desligando-se das defini��es contradit�rias e listas de palavras para memoriza��o como o fazem os manuais gramaticais.

REFER�NCIAS BIBLIOGR�FICAS

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MARQUES, Maria Helena Duarte. Inicia��o � Sem�ntica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. 1996.

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ULLMANN, S. Sem�ntica : Uma Introdu��o � Ci�ncia do Significado. Lisboa : Funda��o Calouste Gulbenkian. 1977.

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DUBOIS, Jean et al. Dicion�rio de Ling��stica. S�o Paulo : Cultrix. 1978.

FERREIRA, Aur�lio Buarque de Holanda. Novo Dicion�rio. Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 1986.


1[2] Lexemas no decorrer deste artigo o termo lexema reportar � se � � � palavra no aspecto bio-social,correspondendo ao que Vendryes denominou de Semantema.

2[3] Processos sem�nticos referem � se � polissemia e � homon�mia, como tamb�m � sinon�mia, � anton�mia, entre outros.

3[4] Todos os autores aqui analisados apresentam a classifica��o dos hom�nimos: hom�grafos, hom�fonos e perfeitos.

4[5] O processo diacr�nico interessa `a sem�ntica hist�rica ou evolutiva, porque estuda todo o percurso hist�rico dos voc�bulos. Ex. Cess�o - Latim > cedere - Sess�o - latim > secione.

6[6] Diacr�nico estudo da l�ngua em evolu��o no eixo temporal, e.g. a Gram�tica Hist�rica.

7[7] S�o as palavras que apresentam a mesma forma, mas que vieram de etimologias diferentes, por exemplo a palavra sanctu > s�o: sagrado. Sanu > s�o : sadio e Sunt > s�o verbo ser.

8[8] Sincr�nico considera a l�ngua num determinado momento sem levar em conta o processo hist�rico e.g. a descri��o da Gram�tica Normativa.

9[9] Significa��o gramatical � aquela que vai marcar os aspectos gramaticais, ou seja, os processos de flex�o. Ex. o morfema S em andas � indicando a pessoa gramatical � (morfema n�mero � pessoal) e em casas � indicando a flex�o de n�mero (morfema nominal de n�mero)

10[10] Significa��o externa � mudan�a de significado que n�o est� subordinado � gram�tica, mas ao aspecto bio-social da palavra. Ex. a palavra PONTO em: Fazia ponto na casa da namorada. � O ponto � uma v�rgula sem rabo� (Luiz F.Ver�ssimo apud. Dilleta Silveira)

11[11] Rela��o de associa��o: o lanterninha: o funcion�rio , e lanterninha, o instrumento de trabalho.

12[12] Rio substantivo vem do latim RIVU e rio forma verbal vem do latim RIDEO, levando em conta as transforma��es que sofreram na passagem do latim para o portugu�s.

13[13] Palavras que, embora perten�am a outra l�ngua, � exce��o do latim, passam a fazer parte do l�xico, resultando um empr�stimo ling��stico.

14[14] Neste processo, observa-se a semelhan�a entre as palavras do l�xico, considerando as influ�ncias estrangeiras. Ex. manga de origem malaia � fruta. E manga de origem latina manica > parte do vestu�rio. Capu > Cabo : Chefe � influ�ncia do franc�s. Cabo � extremidade, acidente geogr�fico palavras criadas na pr�pria l�ngua.

Qual a diferença entre homonímia e polissemia?

Homonímia palavras foneticamente iguais que possuem sentidos diferentes. Polissemia uma palavra pode apresentar mais de um significado como nos indicam os dicionários de tal modo que somente o contexto determina seu significado. 6.

Qual é a diferença entre polissemia homonímia e Paronímia?

A paronímia se caracteriza pela mera semelhança (de escrita e som) entre palavras com significados diferentes. A homonímia diz respeito às palavras que são iguais em sua forma (escrita ou sonora), mas que apresentam significados diferentes. Homônimos perfeitos têm grafia e som iguais, mas significados diferentes.

O que é a homonímia?

É a relação entre duas ou mais palavras que, apesar de possuírem significados diferentes, possuem a mesma estrutura fonológica - HOMÔNIMOS.

O que é homonímia exemplos?

Homônimas homófonas: são palavras iguais na pronúncia, mas diferentes na grafia e no significado. Exemplo: “sessão” (período de tempo) e “seção” (departamento) / “cela” (substantivo) e “sela” (verbo). Homônimos perfeitos: são as palavras com a mesma grafia e pronúncia, mas com significados diferentes.