Qual foi a importância do fóssil de Luzia para o conhecimento do povoamento humano da América?

As cinzas do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, consumido pelas chamas na noite do �ltimo domingo, s�o mais do que restos de f�sseis, cer�micas e esp�cimes raros. O museu abrigava entre suas mais de 20 milh�es de pe�as os esqueletos com as respostas para perguntas que ainda n�o haviam sido respondidas —ou sequer feitas— por pesquisadores brasileiros. E pode ter calado para sempre palavras e cantos ind�genas ancestrais, de l�nguas que n�o existem mais no mundo.
 

Uma das maiores preocupa��es � com o material coletado no s�tio arqueol�gico de Lagoa Santa, no Estado de Minas Gerais, considerado de fundamental import�ncia para entender as origens dos povos americanos pr�-hist�ricos. O museu abrigava o maior acervo do mundo coletado no Estado: s�o cerca de 200 indiv�duos fossilizados que integram o que os pesquisadores chamam de “o grupo de Luzia”, em refer�ncia ao nome dado ao mais antigo esqueleto j� encontrado nas Am�ricas, descoberto em 1974, e com idade aproximada de 11.500 anos.

A ci�ncia perdida no inc�ndio do Museu Nacional (Adaptado) https://brasil.elpais.com/brasil/2018/09/05/politica/1536160858_009887.html - Acessado em 15/09/2018


Sobre o inc�ndio que destruiu o Museu Nacional e a import�ncia do f�ssil Luzia, � correto afirmar que

a)

a maior parte do acervo foi destru�da de forma irrecuper�vel, assim, apaga-se uma parte da hist�ria brasileira. Luzia, f�ssil humano mais antigo da Am�rica, possibilitou a constru��o de uma teoria alternativa para o povoamento do continente, pois apresenta tra�os negroides e aponta para a possibilidade de duas correntes migrat�rias vindas pelo estreito de Bering.

b)

a destrui��o do acervo foi parcial e muito provavelmente ser� recuperada ao longo dos pr�ximos anos. Luzia, f�ssil humano mais antigo da Am�rica, possibilitou a constru��o de uma teoria alternativa para o povoamento do continente, pois apresenta tra�os negroides e aponta para a possibilidade de duas correntes migrat�rias vindas pelo estreito de Bering.

c)

a maior parte do acervo foi destru�da de forma irrecuper�vel, assim, apaga-se uma parte da hist�ria brasileira. Luzia, f�ssil humano mais antigo do mundo, possibilitou a constru��o de uma teoria alternativa para o povoamento do continente, pois apresenta tra�os mongoloides e aponta para a possibilidade de duas correntes migrat�rias vindas pelo estreito de Bering.

d)

cerca de 90 % do acervo foi totalmente destru�do, inviabilizando o avan�o de pesquisas sobre parte da hist�ria brasileira. Walter Neves, bi�logo da USP que pesquisou o f�ssil Luzia, desenvolveu uma nova teoria do povoamento da Am�rica onde indica uma �nica corrente migrat�ria com popula��es de tra�os negroides.

e)

cerca de 90 % do acervo, mesmo com um inc�ndio de tal propor��o, foi salvo ou recuperado. Assim, a pesquisa sobre o passado brasileiro n�o ser� prejudicada. Walter Neves, bi�logo da USP, que pesquisou o f�ssil Luzia, desenvolveu uma nova teoria do povoamento da Am�rica onde indica duas correntes migrat�rias vindas pelo estreito de Bering, uma de popula��es com tra�os negroides e outra com tra�os mongoloides.

A teoria de que o povoamento das Américas teria se dado por duas levas migratórias vindas do nordeste da Ásia – com população de traços africanos e australianos – e outra de ameríndios semelhantes aos indígenas atuais acaba de ser desmontada.

Qual foi a importância do fóssil de Luzia para o conhecimento do povoamento humano da América?
Qual foi a importância do fóssil de Luzia para o conhecimento do povoamento humano da América?

Um estudo feito a partir de DNA fóssil, com amostras dos mais antigos esqueletos encontrados no continente, confirmou a existência de um único grupo populacional ancestral de todas as etnias da América.

Qual foi a importância do fóssil de Luzia para o conhecimento do povoamento humano da América?

Novo rosto de Luzia  (Divulgação/Fapesp/Direitos Reservados)

Com isso, o rosto com traços marcadamente africanos de Luzia – como foi batizado o crânio da jovem paleoamericana descoberto na década de 1970 – foi redesenhado. Esta é a nova face de Luzia.

O trabalho foi desenvolvido por 72 pesquisadores de oito países, pertencentes a instituições como a Universidade de São Paulo (USP), Harvard University, nos Estados Unidos, e Instituto Max Planck, na Alemanha.

Os dados arqueogenéticos – que mesclam conhecimentos de arqueologia e genética – mostram que todas as populações da América descendem de uma única população que chegou ao Novo Mundo pelo estreito de Bering há cerca de 20 mil anos.

Pelo DNA, é possível confirmar a afinidade dessa corrente migratória com os povos da Sibéria e do norte da China. Os resultados da pesquisa foram publicados hoje (8) da revista científica Cell.

Reconstrução facial

A primeira reconstrução facial de Luzia, uma mulher que viveu em Lagoa Santa (MG) há 12.500 anos, foi feita na década de 1990 pelo especialista britânico Richard Neave.

As formas tiveram como base a teoria do professor Walter Neves, da USP, segundo o qual o povo de Luzia, que se refere ao conjunto fóssil encontrado em Minas Gerais no século 19, teria chegado à América antes dos ancestrais dos povos indígenas atuais.

A primeira leva, portanto, teria características africanas ou dos aborígenes australianos. A teoria usava como base de comparação a morfologia craniana que indicava que esse povo era muito diferente dos nativos atuais.

O arqueólogo André Menezes Strauss, do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP, que coordenou a parte brasileira do estudo, explica que a contribuição de Neves permitiu saber que havia diferenças entre os habitantes ancestrais e os indígenas recentes, mas os estudos genéticos – com as tecnologias atuais – desmontam a tese dele de que essa diferença se deu no processo migratório entre continentes.

“Essa conexão com essa população anterior da África não existiu. A diferença entre Lagoa Santa e os nativos atuais tem origem dentro da própria América”, disse.

O novo rosto de Luzia foi feito por Caroline Wilkinson, da Liverpool John Moores University, na Inglaterra, especialista em reconstrução forense e discípula de Neave.

Os descendentes da corrente migratória ancestral que chegou pela América do Norte se diversificaram em duas linhagens há cerca de 16 mil anos.

Os integrantes de uma das linhagens cruzaram o istmo (pequena porção de terra) do Panamá e povoaram a América do Sul em três levas consecutivas e distintas.

A primeira leva ocorreu entre 15 mil e 11 mil anos atrás, e a segunda se deu há, no máximo, 9 mil anos. O estudo aponta a presença de DNA fóssil das duas migrações em todo o continente sul-americano. A terceira leva é mais recente – cerca de 4,2 mil anos – e se fixou de forma concentrada nos Andes centrais.

Os dados genéticos mostram que o povo de Luzia tem forte conexão com a cultura Clóvis, uma linhagem de humanos que fez o trajeto norte-sul há cerca de 16 mil anos.

Não se sabia até então que esse grupo havia migrado para o sul. Essa população, no entanto, não perdurou por muito tempo.

“A partir de cerca de 9 mil anos atrás ela desaparece, sendo substituída pelos ancestrais diretos dos grupos indígenas que habitavam o Brasil durante o período colonial”, indica o estudo. Não são conhecidos os motivos que levaram ao desaparecimento dos grupos Clóvis.

Contribuição

Strauss explica que a nova técnica de arqueogenética traz informações que até então não eram acessíveis aos arqueólogos.

“Ela abre um mundo de possibilidades analíticas, não só de relações de ancestralidade, miscigenação, determinação de sexo, estabelecer relações de parentesco, investigar o fenótipo, investigar doenças, investigar o metagenoma, é uma infinidade de tipos de estudo e informações que a gente passa a poder tirar”, apontou.

Ele explica que esses avanços tecnológicos se deram aproximadamente nos últimos dez anos, especialmente pela atuação do Instituto Max Planck, e estão revolucionando os estudos arqueológicos.

No caso dos fósseis de Lagoa Santa, uma das dificuldades foi a extração do DNA, tendo em vista o clima tropical que deteriora mais rapidamente o material genético.

“Em 2012, começamos as primeiras tentativas, ainda um pouco tímidas. No começo não estava dando certo, então levou pelo menos dois anos para a gente aprender como era um protocolo de extração de DNA que funcionasse para Lagoa Santa”, relatou.

O instituto alemão, no entanto, já tinha conseguido extrair DNA neandertal em 2010. Dos 49 indivíduos pesquisados, sete esqueletos com idade entre 10,1 mil e 9,1 mil anos são provenientes de Lapa do Santo, abrigo rochoso em Lagoa Santa.

Além do Brasil, foram utilizados fósseis da Argentina, Belize, Chile e Peru, totalizando 15 sítios arqueológicos.

Strauss destaca que os próximos passos da pesquisa envolvem o aumento da amostragem de DNA para entender com mais detalhes o processo de ocupação da América.

“Encontrar outras populações, outros sítios arqueológicos e esqueletos, que a gente possa extrair o material genético para entender quando exatamente que essa população chega, qual a relação deles com outras populações”, explicou.

Um laboratório de arqueogenética deve ser montado no Brasil, na USP, em 2019. “A gente espera virar um centro que atraia os colegas latino-americanos para realizar as análises aqui, sempre em colaboração com os colegas da Europa e dos Estados Unidos”, disse o arqueólogo.

Crânio de Luzia

Quase uma centena de crânios escavados por Neves e Strauss nos últimos 15 anos se encontram atualmente na USP.

Muitas das campanhas de escavação tiveram financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Outros fósseis estão guardados na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Qual foi a importância do fóssil de Luzia para o conhecimento do povoamento humano da América?

Crânio de Luzia estava no Museu Nacional, no Rio, mas acervo foi destruído por incêndio em setembro deste ano    (Ricardo Moraes/Reuters/direitos reservados)

De acordo com a fundação, no entanto, a grande maioria desse acervo arqueológico estava depositada no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, o qual foi consumido por um incêndio no dia 2 de setembro deste ano.

O crânio de Luzia estava exposto no museu carioca ao lado do busto com suas feições feito por Neave. A representação do rosto original perdeu-se no fogo, mas há cópias. Felizmente, fragmentos do crânio foram encontrados nos escombros.

Trata-se de um dos mais antigos fósseis já encontrados no continente americano. “É natural que se estenda o que foi observado para os 12 esqueletos analisados agora, o que é bastante. Praticamente todos eles apontam na mesma direção, a gente assume que a Luzia também seja. Claro, não tem como ter certeza sem analisar o fóssil”, explicou Strauss.

Ele informou que deve ser extraído DNA dos fragmentos do crânio de Luzia, recuperados do incêndio, a partir da liberação do material pela curadoria do Museu Nacional.

“O material foi exposto a temperaturas altíssimas e se tem uma coisa que o DNA não gosta é de calor, porque ele fragmenta o material. Temos que manter as expectativas em níveis comedidos”, finalizou.

Qual a importância do fóssil de Luzia para o conhecimento do povoamento humano da América?

O fóssil da mulher de olhos grandes serviu de base para o bioantropólogo Walter Neves, da USP, propor, no final da década de 1980, que os primeiros habitantes do continente tinham a morfologia craniana diferente dos habitantes atuais da América.

Qual é a importância do fóssil de Luzia?

Luzia apresentou uma datação relativa entre 11 mil e 11,5 mil anos, o que faz do crânio um dos mais antigos do Brasil e também de todo o continente americano. Luzia é uma das peças mais importantes da história natural da América porque representou uma revolução nos estudos sobre o povoamento do continente americano.

Qual é o impacto da descoberta e do estudo do fóssil de Luzia para as teorias do povoamento do continente americano?

Um estudo feito a partir de DNA fóssil, com amostras dos mais antigos esqueletos encontrados no continente, confirmou a existência de um único grupo populacional ancestral de todas as etnias da América.

Como o estudo do crânio de Luzia afetou o debate sobre o povoamento da América?

A ideia surgiu porque os pesquisadores estudaram as medidas do crânio de Luzia e acharam que ele era mais largo do que os dos indígenas e mais parecido com o dos africanos. Mas o resultado do estudo mostrou que a Luzia vai precisar de um rosto novo.