Qual um dos maiores desafios no Brasil nos dias atuais na agricultura familiar?

28/01/2020

Estima-se que 77% dos estabelecimentos da agricultura tem enquadramento familiar e, dentro desse contexto, podemos afirmar que a maioria dos alimentos coloridos que chegam às nossas mesas são provenientes deste tipo estabelecimento. Em linhas gerais, é correto afirmar que são pequenas propriedades cujos proprietários são chefe de famílias responsáveis por cultivar frutas, verduras e legumes, amplamente conhecidos por hortifruti, e que muitas vezes não tem estrutura suficiente para manter o negócio girando e rendendo lucros médios. O suficiente para a subsistência da família.

No Brasil, o censo agropecuário de 2006 revela que o total de estabelecimentos da agricultura familiar foi de uma área de 32% do total de áreas de produção. Já em 2017 o percentual diminuiu e caiu para 23%. São diversos fatores que podem contribuir para essa queda, tais como a dificuldade em manutenção dos descendentes no mesmo negócio, comercialização da produção - que inclui a logística para escoamento do produto aos centros compradores e dificuldade em entender os requisitos legais e de clientes.

O pequeno agricultor muitas vezes se caracteriza pela atividade rural familiar, e uma das dificuldades nesse enquadramento é a manutenção dos descendentes no mesmo negócio. Esse é um obstáculo vivido pelos agricultores mais velhos porque tendem a se esforçar mais para manter as melhores condições de estudo para os filhos. O cenário é muito comum àqueles que querem oferecer uma situação mais confortável do que a vivida pelos pais. Não são poucas as vezes que ouvimos do produtor frases de auto desmerecimento.

Entendemos que a atividade de produção agrícola, praticada na sua maioria por pequenos agricultores, deveria ser um grande motivo de orgulho, não só pelo dono do negócio como também pelos seus filhos, já que existem poucas atividades mais nobres que alimentar o próximo.

Outro ponto importante é desmitificar a comercialização de produtos oriundos da agricultura familiar, que normalmente é feita através de intermediários que realizam a operação e vendem para grandes mercados. Sendo assim, o pequeno produtor fica refém de uma situação na qual não há empoderamento para gerar opções comerciais distintas. Isso gera necessariamente um conformismo em relação à situação e muitas vezes uma tomada de decisão no sentido de não acreditar que o esforço no campo pode ser recompensado.

Em um país com dimensões continentais e grande problemas em seus trajetos, bem como alto custo por quilômetro rodado, o escoamento da produção nem sempre é viável para os pequenos agricultores e o mercado comprador dos maiores volumes não consegue receber os pequenos, aliás nem chegar a fazer qualquer tipo de aproximação para vender seus alfaces, por exemplo.

Outras questões importantes são os diplomas legais e os requisitos dos comparadores. Como atender exigências de certificações reconhecidas internacionalmente se cerca de 20% dos agricultores familiares ainda são analfabetos? Não são poucas as vezes que ouvimos dos produtores de hortifruti a frase: "desse jeito fica melhor desistir da produção mesmo". Não é o caso! Como ressaltei anteriormente, o trabalho de pequeno produtor é ainda muito importante para a nossa agricultura. É preciso orientar de forma didática com ferramentas acessíveis ao entendimento deles.

Recentemente, entrou em vigor a Instrução normativa INC 02/2018, que nada mais é que um diploma legal criado pela Anvisa e pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que trata de rastreabilidade de vegetais. Em nenhum momento pensou-se nas dúvidas que iriam surgir e, por isso, fica sempre a mesma questão, "como atender essa nova legislação?" São inúmeras empresas mostrando caminhos e órgãos públicos, algumas vezes, trazendo informações controversas.

A maioria das ferramentas que auxiliam na rastreabilidade são incompletas para o produtor rural, tratando apenas da identificação por meio de etiquetas ou possuem elevado custo e necessidade de pessoal dedicado ao preenchimento. Neste cenário existem empresas que têm o propósito de atender o pequeno agricultor e oferecer uma ferramenta acessível em termos de custo, completa para a rastreabilidade do produtor e que permite a geração de dados que podem ser compartilhados automaticamente com o comprador, gerando confiança para o produto e informações para a gestão de toda a cadeia de produção.

Por Bárbara Mangiaterra, especialista em consultoria para agronegócio e CEO da CompartVeg, empresa que conta com uma equipe de especialistas capacitam, fazem auditorias e promovem consultorias para pequenos agricultores

É só ir a qualquer cidade do interior e você, provavelmente, verá muitas plantações. A agricultura familiar no Brasil tem importância histórica — e já responde por mais de 50% da alimentação consumida no país.

Apesar disso, ainda há muita possibilidade de crescer. Desde a implantação da Lei 11.326/2006 — que formulou as diretrizes para a agricultura familiar e empreendimentos que se enquadram nesse conceito —, muito mudou. Em 2018, o total de estabelecimentos nesse modelo chegava a 84,4%, mas a área total representava 24,3%, de acordo com o Censo Agropecuário.

Para entender melhor a importância dessa prática e quais são as perspectivas para o futuro, criamos este artigo, que foi embasado em dados do mercado e na entrevista realizada com o Especialista de Produtos da Jacto, Iago Reis de Oliveira. Confira!

Panorama sobre agricultura familiar

A agricultura familiar há muito tempo deixou de ser uma atividade de subsistência. Hoje, é uma produção estruturada, com um faturamento anual de 55,2 bilhões de dólares no Brasil. A relevância desse trabalho é verificada nos censos agropecuários.

O levantamento realizado em 2018 mostrou que essa prática é responsável pela economia de 90% dos municípios com até 20 mil habitantes. Mais que isso, 40% da população economicamente ativa depende dessa atividade, assim como 70% dos brasileiros que vivem no campo.

Por isso, o Brasil ocupa a 8ª posição entre os países que mais produzem alimentos, quando é considerada somente a agricultura familiar. Se for somada toda a produção, chega à 5ª colocação.

Por que isso acontece? Um dos motivos é a tradição da escolha da marca como a preferida, que passa de uma geração a outra. Assim, é preciso desmitificar a visão errônea de que a agricultura familiar no Brasil é simples e composta por pequenas propriedades voltadas para a subsistência.

Na verdade, existem grandes propriedades comandadas por famílias e outras com alto valor agregado, principalmente hortaliças e flores. No mundo, dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) mostram que a representatividade dessa atividade chega a 98% das propriedades.

Conceito de agricultura familiar

Essa prática consiste na produção de alimentos tradicionais e uma grande variedade de produtos — situação que a difere da agricultura industrial. Hoje, o Brasil é o maior produtor de soja do mundo e um dos maiores quando levamos em consideração os grãos. Nesse contexto, a atividade familiar tem uma representatividade de 40%, mesmo a área de cultivo sendo de apenas 25% do total.

Porém, o que compreende a agricultura familiar? No Brasil, a legislação determina que é preciso atender a quatro requisitos:

  • ter área de até quatro módulos fiscais;
  • utilizar mão de obra da própria família, de maneira predominante;
  • ter percentual mínimo de 50% da renda familiar derivada da atividade realizada no campo;
  • administrar o empreendimento com a família.

Importância da agricultura familiar

Essa prática tem grande relevância para a produção de alimentos, tanto no que se refere à quantidade quanto no relativo à variedade e base para a sustentação das famílias brasileiras. De quebra, ainda tem importante papel na geração de empregos, especialmente na zona rural, e na renda e estruturação familiar.

Quando a relacionamos à indústria agropecuária, a agricultura realizada pelas famílias ainda é um grande fornecedor de matéria-prima, por exemplo, de leite para laticínios, hortifrúti para supermercados e fábricas de sucos etc. O importante é entender que esse trabalho em menor escala atende a nichos mais específicos, especialmente produtos fabricados e manufaturados na própria unidade rural.

Nesses casos, os itens são vendidos na região e, em algumas situações, servem até para comercialização nacional e exportação. Alguns exemplos são doces, salgados, queijos, cafés, sucos e mais. Esses produtos são derivados de regiões específicas, por exemplo, o sul de Minas Gerais fornece café, queijo e doce de leite. Por sua vez, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, principalmente, abastecem o mercado com salames, embutidos e vinhos.

Deixa de ser um exagero, portanto, dizer que esse tipo de agricultura é o carro-chefe da economia brasileira. Essa atividade agrupa cerca de 4,4 milhões de famílias, que aproveitam as diversidades climática e do solo, bem como os biomas do Brasil para produzir desde palma forrageira a morango de altitude.

Peso da agricultura familiar na produção de alimentos no Brasil

Segundo dados do Censo Agropecuário de 2018, o crescimento do Brasil depende de forma direta das propriedades que exercem essa atividade. A produção representa:

  • 70% do feijão;
  • 34% do arroz;
  • 87% da mandioca;
  • 46% do milho;
  • 38% do café;
  • 21% do trigo;
  • 60% do leite;
  • 59% do rebanho suíno;
  • 50% das aves;
  • 30% dos bovinos.

Devido a todo esse impacto positivo, a agricultura exercida pelas famílias é responsável por 38% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, conforme a Embrapa. No mundo, essa atividade representa 80% de toda a produção mundial de alimentos. O cultivo está distribuído em 500 milhões de produtores rurais, que ocupam 90% das propriedades agrícolas existentes.

Benefícios da agricultura familiar

Os dados citados até aqui já evidenciam os benefícios desse tipo de agricultura. No entanto, ainda podemos citar outras vantagens. Conheça algumas delas!

Diminuição do êxodo rural

O êxodo rural, que se intensificou nas décadas de 1980 e 1990, vem diminuindo devido à qualidade de vida no campo e a possibilidade de produzir com qualidade e em alta quantidade. Essa característica contribui para a dieta básica da família brasileira, além de terem empresas focadas em desenvolver soluções para agricultores pequenos, médios e grandes.

Obtenção de políticas públicas

A União, bem como os estados e municípios, oferece diferentes vantagens para quem atua com a agricultura familiar. Entre as possibilidades estão programas de crédito, seguros de produção, aquisição de terras, incentivo à comercialização e custeio de safras.

Uma das principais iniciativas é o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Ainda existe a Política Nacional de Assistência Técnica Rural (ATER), que forma agentes para prestar serviços e capacitar os agricultores.

Certificação dos produtos

As instituições privadas, muitas vezes, oferecem certificações e selos que comprovam a qualidade, a padronização e a origem dos produtos. Esse reconhecimento incentiva a venda e se torna um benefício comercial para os produtores.

Desafios da agricultura familiar

O cenário favorável, e que está em vias de melhorar, é um ponto positivo, mas ainda há muitos desafios a enfrentar. Alguns deles são os que apresentamos abaixo. Confira!

Atração dos jovens para o campo

O êxodo rural ocorrido em anos anteriores — como já foi citado — dificultou a atração de mão de obra para o campo. Por isso, é preciso investir em equipamentos mais confortáveis para os operadores a fim de reduzir o esforço físico e melhorar a qualidade de vida e do trabalho.

Falta de extensão rural e de apoio governamental

As instituições governamentais já realizam esse trabalho de apoio necessário aos agricultores familiares. Entre eles estão o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER). Porém, o contexto ainda pode melhorar para aumentar o número de estabelecimentos e até de produtores.

Capilaridade e potencial de abrangência

Esses quesitos ainda precisam ser aperfeiçoados, já que são pequenos. Uma forma de alcançar esse objetivo é a capacitação dos produtores com o intuito de indicar como aumentar a produtividade e obter melhores resultados.

Cooperação entre agricultores

Esse aspecto é um trabalho feito, especialmente, pelas cooperativas. Por isso, elas devem focar as atividades mais a favor do agricultor, em vez de mirar o faturamento e a lucratividade.

Qualificação dos agricultores com a tecnologia

O conhecimento, o estudo e a familiaridade dos produtores com a tecnologia é indispensável. Essa é uma forma de aumentar a produtividade, desde que haja capacitação para trabalhar com as máquinas. Isso também impacta a administração da propriedade, já que existem muitos sistemas com essa finalidade e que facilitam todo o processo.

Novidades, tendências e novas tecnologias para agricultura familiar

Todas as tendências na área de agricultura familiar estão voltadas para a tecnologia. É por meio delas que será possível atrair os jovens ao campo e obter resultados mais expressivos, mesmo que a área continue a mesma.

Por isso, é essencial desenvolver equipamentos com alta tecnologia embarcada, que favoreçam o trabalho e a qualidade de vida no campo. Entre eles estão as máquinas conectadas, ou seja, aquelas que, além de realizarem a operação com mais ergonomia para o operador, focam sua qualidade e visam mais produtividade.

Ao mesmo tempo, é preciso gerar equipamentos que forneçam informações gerenciais e administrativas por meio de relatórios operacionais. Um exemplo é o DJB-20S, o primeiro pulverizador e dosador a bateria costal que se conecta a um celular e gera informações sobre a operação.

Outra tendência é a automação, que está em contínuo crescimento. Nesse caso, o benefício é retirar a carga de trabalho do operador e reduzir as tomadas de decisão frente a problemas críticos para o agricultor. Isso ocorre com a ajuda da inteligência artificial das máquinas, que determinam o que fazer a partir das informações e dos dados coletados por sensores.

Em suma, a agricultura familiar no Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer, mas o cenário é bastante positivo. A perspectiva para o futuro é de crescimento — e você também pode contribuir para chegar lá.

Como? Uma possibilidade é a sucessão familiar na agricultura. Entenda o que é e como fazer!

Qual um dos maiores desafios no Brasil nos dias atuais no contexto da agricultura familiar?

Desafios a superar Outro desafio que esses agricultores encontram é o êxodo rural: seus filhos buscam oportunidades melhores na cidade e o campo acaba ficando nas mãos de agricultores mais velhos, que têm experiência, mas já não têm mais tanta vitalidade nem acesso a novas informações.

Quais são os principais desafios da agricultura familiar no Brasil?

Esse segmento enfrenta problemas, como demanda irregular do mercado, alto preço de insumos, baixos preços de seus produtos, e, ainda desvalorização de sua cultura, baixo nível de escolaridade, baixa renda, envelhecimento da população, moradias precárias e pouca assistência médica hospitalar.

Quais são os maiores problemas enfrentados pela agricultura familiar?

Selecionamos cinco que constatamos nas nossas pesquisas e conversas com produtores:.
1 – Clima e degradação ambiental. ... .
2 – Poucas informações. ... .
3 – Metodo ineficaz. ... .
4 – O que não é medido não é gerenciado. ... .
5 – Desperdicio de Recursos..

Quais são as características e os problemas enfrentados pela agricultura familiar?

Apesar dos benefícios deste modelo agrícola, ainda existem algumas dificuldades. Não é sempre que os pequenos produtores, por exemplo, têm condições de mecanizar o cultivo. Além disso, a baixa renda, o pouco ou quase nenhum crédito e, muitas vezes, o baixíssimo índice de educação são alguns dos impeditivos.