Que navegador foi responsável pela viagem a Índia que conseguiu atravessar o Cabo da Boa Esperança?

Fernão de Magalhães foi um dos idealizadores da primeira viagem de circum-navegação do globo terrestre realizada no século XVI. Apesar de ter idealizado a expedição, o português não conseguiu chegar ao final dessa viagem financiada pelo rei da Espanha.

Nascido em Sabrosa, Vila Real, em 1480, Fernão de Magalhães se alistou aos 22 anos na Armada das Índias, inserindo-se na vida marítima da época e participando também de algumas batalhas, como a Batalha Naval de Canonor, em 1506.

Mas o feito que o colocou na história foi o comando da expedição que realizou a primeira circum-navegação do globo. Formada por cinco caravelas – San Antônio, Concepción, Victoria, Santiago e Trinidad (capitânia) – e 240 homens, a expedição saiu de Sevilha em 10 de agosto de 1519 e tinha como objetivo principal o descobrimento de uma nova rota marítima para as Índias, que não fosse realizada através do contorno do continente africano.

Em cálculos matemáticos realizados em conjunto com dois cartógrafos portugueses, os irmãos Faleiro, Fernão de Magalhães acreditava que havia uma passagem ao sul do continente americano pela qual era possível chegar ao oceano Pacífico e também que as ilhas Molucas, conhecidas como Ilha das Especiarias, eram destinadas ao controle espanhol, de acordo com o Tratado de Tordesilhas.

Entretanto, a viagem não foi nada fácil. Ainda no Atlântico, enfrentaram fortes tempestades, creditando os marinheiros sua salvação, segundo o historiógrafo da expedição, o italiano Antônio de Pigafetta (1480 ou 1491-1534), às aparições de três santos, São Telmo, Santa Clara e São Nicolau. Curiosamente essa crença na aparição dos santos está ligada a um fenômeno atmosférico, chamado de fogos de Santelmo, que faz com que as tempestades, devido à energia contida nas nuvens, produzam halos de luz elétrica no alto dos mastros dos navios.

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Em novembro de 1520, a expedição conseguiu atravessar o estreito localizado ao sul do continente americano e que atualmente leva seu nome, o estreito de Magalhães. Entretanto, nos cinco meses anteriores, Fernão de Magalhães teve de enfrentar insurreições entre seus subordinados, resultando na decapitação do capitão Gaspar de Quesada e no abandono do capitão Juan de Cartagena.

Conseguiram chegar ao arquipélago de Saint-Lazare, atual Filipinas, em março de 1521. Porém, em 27 de Abril, em decorrência de confrontos com os habitantes das ilhas, Fernão de Magalhães foi morto ao ser atingido por uma lança envenenada, cujo ferimento o matou instantaneamente.

Dessa forma, Fernão de Magalhães não conseguiu completar o trajeto da circum-navegação, sendo que essa conquista foi realizada por poucos de seus comandados, dezoito no total, a bordo do único navio que havia resistido a todos os problemas, o Victoria. Depois de passarem fome e terem que dispensar no mar boa parte das especiarias que transportavam, o Victoria atracou em Sevilha em maio de 1522, completando a primeira circum-navegação do globo terrestre e inaugurando uma nova rota de comércio marítimo pelo oceano Pacífico.

Bartolomeu Dias dobra o Cabo da Boa Esperança

Em 1488, Bartolomeu Dias foi o primeiro europeu a dobrar o Cabo das Tormentas. Na esperança de abrir novos caminhos às descobertas portuguesas o cabo foi rebatizado como sendo da Boa Esperança.

No final do século XV, a marinha portuguesa já tinha explorado a maior parte da costa africana virada ao Atlântico.

Para prosseguir para oriente era fundamental perceber onde terminava essa linha de costa e se era ou não possível ligar-se ao Índico por mar. A confirmação desta possibilidade poderia abrir as portas para uma nova rota comercial entre a Europa e a Ásia.

Bartolomeu Dias, supostamente enviado ao encontro do Prestes João, conseguiu realizar essa missão, dobrando o Cabo das Tormentas, mais tarde batizado Cabo da Boa Esperança em 1488.

É a partir desta missão de Bartolomeu Dias que se pode preparar a viagem de descoberta do caminho marítimo para a Índia e para outros lugares do oriente.

Tópicos

  • Bartolomeu Dias
  • Cabo da Boa Esperança
  • Caminho Marítimo para a Índia
  • Descobrimentos
  • História
  • Portugal

Ficha Técnica

  • Título: Os Portugueses e o cabo da Boa Esperança
  • Tipologia: Extrato de Documentário
  • Autoria: Mário Crespo
  • Produção: RTP
  • Ano: 1998

No diário de bordo da caravela São Gabriel, consta para 8 de janeiro de 1499: "Há exatamente três meses, estamos na viagem de retorno da Índia. Talvez seja essa a minha última anotação, visto que a tempestade que atravessamos já dura cinco dias. Ondas monstruosas batem contra nossas caravelas, retorcem a madeira e já engoliram três dos nossos marinheiros. Toda a tripulação reza. O fim parece estar próximo e talvez ninguém fique sabendo o que vimos. Mas eu ainda quero registrar tudo hoje nesse diário de bordo. Talvez sobrevivamos, talvez morramos, talvez as minhas linhas encontrem um leitor."

E o relato continua: "A 8 de julho de 1497 partimos para a descoberta de um caminho marítimo para as Índias. Não nos rastros de Colombo e, sim, nos nossos próprios. Quatro navios e tripulações cheias de esperança, tensão e, quem sabe, de medo diante do novo. Meu irmão Paulo da Gama era o capitão da São Rafael, o bom Gonçalo Álvares tinha o comando desse navio. A aventura começou pouco depois de contornarmos o Cabo da Boa Esperança. Além desse ponto, nenhum outro navegador português havia velejado. Fizemos paradas em portos estranhos: Mombaça, Moçambique e Quilmana.

Os autóctones reagiam à nossa presença, algumas vezes como amigos, outras, como inimigos. Em toda parte estavam os incrédulos muçulmanos e esperavam por nós. Eles lutaram contra nós, não suportam negociantes concorrentes. Travamos lutas difíceis com eles. Somente o imperador de Melinde nos recebeu amistosamente, queria nossa ajuda para enfrentar os vizinhos de Mombaça.

E, finalmente, então o 20 de maio do ano passado, 1498. Lembro-me perfeitamente. Chegada no porto de Calecute (costa oeste da Índia). Que paraíso! E que recepção! Mas quão breve foi a felicidade. Espelhos, pérolas de vidro e lã – nada entusiasmou o rei hindu. Ele debochou de nossas oferendas baratas e, por pouco, não teríamos conseguido adquirir pimenta, veludo e seda. Eles nos ameaçou, exigiu impostos e quase tudo o que tínhamos a bordo, em troca das suas mercadorias. Por sorte, conseguimos escapar do porto; tivemos até de sequestrar cinco hindus para receber o salvo-conduto.

No entanto, agora temos a promessa de que, caso um dia voltemos a Calecute, se sobrevivermos a essa viagem de retorno à pátria, receberemos condimentos e diamantes em troca de pérolas, prata e ouro. Oh, Deus, permita-nos sobreviver a essa intempérie, a essa tempestade bárbara e ao escorbuto.

E agora estamos no caminho de volta. Estamos bem carregados, mas o sacrifício foi grande. Toda a tripulação da São Rafael foi dizimada pelo escorbuto. Tivemos de queimar o navio. Será que conseguiremos mais uma vez retornar a meu amado Portugal? Talvez? Se não, um outro navegador corajoso de meu povo terá de empreender nova viagem, porque Portugal precisa da ligação marítima com a Índia. Talvez eu morra nessa viagem, mas talvez logo estarei de novo em Lisboa. Pelos meus cálculos, ainda teremos muitos meses de viagem, caso não naufraguemos.

Sei que, caso retornemos a Lisboa, seremos heróis. Seremos recebidos com festa e serei condecorado pelo rei Manuel. Um sonho tornou-se realidade. Portugal descobriu o caminho para a Índia. Em breve, teremos comércio com todas as nações, transformaremos os países em nossas colônias e nos tornaremos mais ricos do que a Espanha, Inglaterra e França. E dir-se-á que tudo começou a 8 de julho de 1497: a viagem de descoberta de Vasco da Gama."

Vasco da Gama, descobridor da rota marítima para as Índias, nasceu em Sines, no Alentejo, entre 1460 e 1468, e morreu em 1524. Era filho de Estêvão da Gama e Isabel Sodré, participou em sua juventude da guerra contra Castilha, tendo sido nomeado posteriormente cavaleiro da Ordem de Santiago e comendador da Ordem, a partir de 1495.

Sabe-se pouco da sua vida, até ele ser chamado pelo rei Dom João 2º para comandar uma expedição que descobrisse uma rota marítima para as Índias. Com a tomada de Constantinopla pelos turcos, os portugueses empenharam-se na busca de um caminho para a Ásia, contornando o sul do continente africano.

A expedição, porém, só foi realizada no reinado de Dom Manuel. Vasco da Gama partiu em 8 julho de 1497 com quatro navios pequenos – São Rafael, São Gabriel, Bérrio e São Miguel, retornando a Portugal em setembro de 1499.

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