A final todos os políticos são farinha do mesmo saco

O povo brasileiro elegeu em 2018 a “mudança”, a “nova” política. Está aí: é o Jair Bolsonaro. De novo em Jair não vejo nada: mais se parece com “uma máscara de moço na cara de uma velha senhora”. Em 2022, haverá novas eleições... O povo poderá mais uma vez exercitar seu direito de aprovar, ou reprovar, o presidente pelo voto. O povo americano elegeu pelo voto Joe Biden, reprovando Donald Trump, a referência do presidente brasileiro.  

Isso é democracia! Não é perfeita, mas tem seus custos.

Só um parênteses: fico abismado com a imprensa brasileira ao denunciar alucinadamente a invasão do Capitólio por apoiadores de Trump. Vejo cenas deploráveis e reprováveis, incitadas por um mau perdedor. Nenhuma surpresa! Já vi essa história antes no Brasil, depois das eleições presidenciais de 2014. O que aconteceu lá nos Estados Unidos deve ser de fato condenado, mas o que houve aqui também. Muitos ficaram chocados com o que aconteceu lá no Norte, porque idealizaram os Estados Unidos como um modelo de democracia: lá, como aqui, há crises silenciosas graves em curso. Mas isso foge ao tema de hoje.

Voltando ao Brasil, para a eleição do presidente da Câmara dos Deputados, partidos progressistas estão se associando ao candidato Baleia Rossi; o argumento: seria um esforço de “democratas” que querem impedir o arroubo autoritário do presidente da República. Para começo, definir-se como democratas já me soa arrogância. Haveria, no acordo com Rossi, um compromisso de se fazer tramitar o processo de impeachment do presidente. Infelizmente, o presidente da Câmara – sozinho – tem todo esse poder! Entretanto, o próprio Rossi informou, poucos dias depois desse acordo, que não tinha compromisso algum com o impeachment. E acho que ele não tem mesmo!

Baleia Rossi é deputado federal do MDB. Em 2016, juntamente com Temer, Eduardo Cunha e seu partido conspiraram pelo impeachment de Dilma Rousseff. Poderia haver razões políticas para esse processo naquela época, mas o golpe ficaria escancarado demais. Douraram a pílula: usaram o argumento das pedaladas fiscais, um recurso contábil-orçamentário usado por todos os presidentes que antecederam a Dilma. O Ministério Público não identificou nesses atos alguma improbidade. Contra Dilma estava “camuflado” o fato em suas versões: honra, respeito, família, bandeira, povo, homenagem à tortura, Brasil, Deus, Venezuela, e por aí vai. O final do processo no Senado foi um desastre para a democracia: o Plenário carimbou o golpe, revelando-o ao rejeitar a tese da perda dos direitos políticos de Dilma. Essa perda seria uma consequência óbvia para quem tivesse cometido improbidade; foi assim com Collor, em 1992.

Baleia Rossi é o nome da manga de Rodrigo Maia, este que, mesmo aos beicinhos com o presidente da República, capitaneou inúmeras projetos de leis que cortaram direitos da população. O grupo político desses dois ainda pretende cortar mais. Segundo Eduardo Cunha, Maia – mas não foi só ele! – ficou muito assanhado à época do impeachment de Dilma, porque viu nele muitos holofotes. Maia está sentado sobre uns 60 pedidos de impeachment do Bolsonaro, mas garante que Rossi está comprometido com eles. Engana-me que gosto! Maia e Rossi são farinha do mesmo saco. 

O impeachment é um recurso extremo e vem se banalizando no Brasil. Não sou favorável a esse procedimento, sobretudo quando camufla os verdadeiros motivos – políticos – sob a roupagem da improbidade. Neste caso, seria melhor adotar-se o parlamentarismo de uma vez. 

É lamentável ver partidos progressistas referendarem e fortalecerem Rossi e Maia, em nome de um “falso” esforço contra o autoritarismo. É falso esse argumento, porque no Senado, esses mesmos partidos progressistas desnudaram suas contradições apoiando o candidato de Bolsonaro. Será que deputados e senadores esqueceram-se de combinar uns com os outros? Essa adesão só revela o estado cataplético da oposição no Brasil. 

Nem Arthur Lira nem Baleia Rossi, nem Rodrigo Pacheco, muito menos Simone Tebet: todos esses representam o golpismo, a velha política (e defendo a nova política com políticos sérios, sem rapozices, sem hienas, sem falsidades, sem atos sorrateiros, sem velhacarias, sem mentiras). Prefiro esses candidatos todos abraçados. Neste caso Mourão está correto quando os define: não há diferença entre eles, porque todos são governo. 

Já os partidos de oposição ao governo que de fato querem apresentar um projeto progressista de Brasil precisam começar pelo beabá: acabem com esse pragmatismo na política; e lancem o seu próprio candidato. Na Câmara o PSOL está lançando um nome inquestionável para esses grupos: Luiza Erundina. Marquem posição, mesmo perdendo! A história vai cobrar desses partidos – e acho que a população já cobra – o abuso da incoerência.

A final todos os políticos são farinha do mesmo saco
Professor, Helvécio Reis

Helvécio Reis é professor, ex-reitor da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ - 2004 a 2012) e ex-prefeito (2013 a 2016). Escreverá semanalmente ou quinzenalmente para a coluna Botando os Pingos nos Is, do Mais Vertentes!