A mão que cala é a mesma

Novos relatos sobre o famoso lance contra a Inglaterra na Copa de 86 são reunidos em livro

Trinta e um anos depois, e o lance mais memorável da história do futebol argentino em Copas não para de ganhar novos relatos. No livro "Tocado por Deus: Como Nós Vencemos a Copa do Mundo de 86 do México", lançado este mês, Maradona descreveu os bastidores e causos que giraram em torno do segundo título mundial da Argentina.

Um dos trechos mais interessantes diz respeito ao fatídico gol de mão marcado por ele na vitória por 2 a 1 sobre a Inglaterra, no dia 22 de junho daquele ano, pelas quartas de final. "La Mano de Díos", como ficou conhecido mais tarde. O gol em questão foi o primeiro da seleção argentina na partida.

- A bola foi lançada para mim no alto. Eu pensei "oh boy, que bola!... Essa é minha". Eu não sabia se iria conseguir chegar, mas eu ia tentar. Se ele (o árbitro) desse falta, seria falta. Eu saltei, o que o Shilton (goleiro da Inglaterra) não estava esperando. Ele achou que eu iria direto nele. Mas eu saltei, podem ver nas imagens, vocês vão ver a posição que meu corpo estava. Eu venci o Shilton porque, fisicamente, eu estava na melhor forma da minha vida. Ele pulou, mas eu pulei antes porque estava assistindo a bola, e ele fechou os olhos - relembra Maradona.

A mão que cala é a mesma

Em 1986, Maradona faz gol de mão e elimina Inglaterra na Copa do Mundo do México

Ele conta que precisou dar uma bronca em um de seus companheiros de equipe na comemoração.

- A bola tocou a rede e tudo, não tinha chances de alguém ter visto. Nem o árbitro, nem o assistente, nem Shilton, que estava atordoado olhando para a bola. O único que entendeu o que aconteceu foi Fenwick, o último homem entre eu e o gol. Mas, exceto ele, ninguém. Saí correndo para comemorar. Continuei correndo, sem olhar para trás. 'Checo' Batista veio até mim e perguntou "você desviou com a mão, não foi? Você usou a mão?". Eu respondi "cala a merda da boca e continua comemorando". Eu estava com medo do gol ser anulado, mas não foi - revela ele.

Livro reúne relatos daquela campanha — Foto: Divulgação

Maradona revela que, mesmo após o fim do jogo, a possibilidade da arbitragem anular seu gol o petrificava.

- Na coletiva de imprensa, eu não sabia como reagir. A princípio, eu continuei falando que tinha cabeceado. Não sei, eu temia que, como ainda estava no estádio, eles poderiam anular o gol. Como eu poderia saber? Mas depois, eu disse para alguém "foi a cabeça do Maradona e a mão de Deus" - conta ele, que completa:

- Não me arrependo de ter marcado com a mão, nem um pouco. Nem agora, nem trinta anos depois, nem no meu leito de morte.

  • Argentina

Ah, como eu gostaria de poder silenciar todos os celulares em funcionamento nos lugares públicos

Cena 1 – Ônibus

O meu ônibus para Jundiaí acaba de sair da Rodoviária Tietê.  Vou para uma reunião numa empresa.

Nem bem o ônibus fez a curva na avenida, vários celulares “falam” ao mesmo tempo, sem parar, não dão trégua, e ouve-se claramente a fala de uma mulher em voz alta, 5 fileiras atrás da minha :

 - João? Você taí? Aãã...tá! Mas espere eu chegar que eu vou dar o remédio. João? Você tá me ouvindo? É que o celular “faiô”..olha me escuta! Quando eu chegar vou ti buscá para ti  levá no centro do Pai Zé prá ele te benzê. João? Isto num é doença, não! É coisa espiritual, eu sinto a vibração de coisa ruim daqui pelo celular...tô toda arrepiada ! Mas toma teu remédio do dotô lá do posto tá bem? Me espera!

Nova ligação da mesma mulher:

- Maria? Maria, ele num tá doente dos “rim” nada. Urina escura? Então...num tô falando? É coisa do diabo! Ele precisa do Pai Zé!

Cena 2 – Aeroporto - 06h da manhã – Congonhas, São Paulo.

Sala de embarque lotada, gente em pé.  Penso com meus botões: para onde vão todas estas pessoas de maletas na mão, laptops fora das mochilas de rodinhas da moda, iphones, ipads, tablets e...evidente.... celulares, à mostra de todos. Vitrine!

Todas as mãos, febrilmente seguram um celular e o levam ao pé do ouvido e falam falam, falam, e falam mais, até sentar-se dentro do avião, e mesmo assim....falam até o último minuto...até a comissária avisar para desligar os celulares.

Com quem será que falam às 6 (seis) da manhã? Com a China? Com a Europa? Com mamãe? Com quem dormiu? ...Oi chefe. Tô chegando?.. E quando o avião pousa, então? Uma coceira de urtiga se espalha pelas mãos para ligar os benditos celulares... Por que precisam tanto falar sem parar? Solidão? Ansiedade em relação ao tempo? Aproveitar cada minuto para “fazer” algo? Será que falam não havendo ninguém do outro lado para não se sentirem sozinhos ali naquela multidão? Seria muito louco, não é? Perderam (ou nunca tiveram) momentos de sentir, de pensar por si, em si, devanear, sonhar, sentir saudades, projetar a vida, fazer planos?

Como psicodramatista observo: um agrupamento temporário cujos critérios de aproximação são dados pelas escolhas que cada um fez ao marcar o horário de vôo. Agrupamento vivido por uma curta duração, sem vinculação real e complementaridades. Vizinhanças que logo se desfazem quando cada um vai para seu avião. Não há ali uma rede sociométrica à la Moreno - não é uma cena de rede grupal mas de isolamentos: um mapa de isolados, no aqui e agora, fugaz. E cada um vai para seu locus profissional ou afetivo, aí sim, jogando um papel em relação.

Chego ao meu destino e meus grupos me trazem novas pautas.