A morre foda-se do mesmo jeito

Sabe aquele gringo que, alguns anos atrás, escreveu uma carta aberta ao Brasil e acirrou alguns ânimos dizendo que o problema do país éramos nós e o nosso jeitinho?

Esses dias topei com um artigo dele no Facebook (Fuck Your Feelings) que, apesar do tom um pouco de auto-ajuda, me fez pensar nas coisas que se passaram nos últimos anos comigo e de como nos deixamos levar pelos sentimentos em detrimento da razão ou do que é certo.

Além do mais, o livro é bem gostoso e fácil de ler

E alguns dias depois vi alguém tuitando a capa do seu mais recente livro, “A sutil arte de ligar o foda-se” e resolvi ler, mesmo sentindo aquela vergonha pelo negócio ter a sua pegada auto-ajuda que tanto me irrita (subtítulo: “Uma estratégia inusitada para uma vida melhor”).

Mas o livro é bom, “honesto” — pelo menos para alguém da minha idade que nos últimos anos fez muita coisa errada, mas aprendeu a se divertir e a buscar um caminho — mesmo que às vezes doloroso — para a felicidade.

O livro é direto, sem frescura, com palavrões e não quer ser pretensioso, como muita das merdas que a gente vê por aí e que querem nos dar alguma fórmula para isso ou aquilo (principalmente para a felicidade).

“A sutil arte” fala sobre lidar com as coisas difíceis, resolver problemas, esquecer a busca pelo pensamento positivo e entender a finitude da vida. Em suma, de encarar a vida de peito aberto — ligando o foda-se para as coisas menores e se importando com o que de fato importa. Fala também sobre assumir responsabilidade pelo que acontece na vida (não importa de quem seja a culpa), incerteza, fracasso, rejeição e contemplação da imortalidade.

“Se sair por aí se importando com tudo e todos sem critério algum, vai acabar se ferrando. Ligar o foda-se é uma arte sutil. Sei que esse conceito pode parecer ridículo e que eu talvez soe como um babaca, mas estou falando de aprender a direcionar e priorizar seus pensamentos de maneira efetiva: escolher o que é importante e o que não é, com base em seus valores pessoais. Isso é bem difícil. Você vai precisar de um bom tempo de prática e disciplina, e muitas vezes não vai conseguir. Mas talvez seja a habilidade pessoal que mais vale o esforço. Talvez a única. Isso porque, quando o foda-se não está acionado — quando se importa com tudo e todos — , você passa a viver como se tivesse o direito inalienável de se sentir confortável e feliz o tempo todo, como se tudo tivesse a obrigação de ser exatamente do jeito que você quer.”

Eu gostei também da parte em que ele fala sobre a importância da dor e de como ela é “o meio mais efetivo de que nosso corpo dispõe para gerar ação”. Isso me fez pensar em como sua vida pode se transformar a partir da sua reação a fatos negativos e desagradáveis — como uma rejeição amorosa, uma demissão ou mesmo a morte de alguém.

Você pode escolher ser sempre alguém que reclama e se coloca como vítima das adversidades ou seguir um caminho diferente e blablablá (“É sua responsabilidade interpretar o significado disso e escolher como reagir”).

Ou pior — ser alguém que foge dos problemas, por algum tipo de medo de confronto ou de se machucar de alguma forma no meio do caminho e que prefere permanecer letárgico, confortavelmente mais ou menos feliz.

Tá de bobeira? Compra o livro e leia. Não vai mudar sua vida, mas talvez te faça pensar um pouco no modo como você a encara.

Se quiser conhecer melhor o autor, recomendo seguir a fanpage ou seu canal no Medium. Ou ler essa entrevista dele no UOL.

Trechos

Enfrentar seus medos e suas ansiedades é o que vai fazer você criar coragem e perseverança.

Sério, eu poderia falar disso por horas, mas acho que já deu para entender. Tudo que vale a pena na vida só é obtido ao superar o sentimento negativo associado a ele. Toda tentativa de escapar do negativo, de evitá-lo, suprimi-lo ou silenciá-lo sai pela culatra. Evitar o sofrimento é uma forma de sofrimento. Evitar dificuldades é uma dificuldade. Negar o fracasso é fracassar. Esconder o que é vergonhoso é, em si, causa de vergonha. O sofrimento é um fio inextricável que compõe o tecido da vida, e arrancá-lo não só é impossível como também é destrutivo: tentar desmantelar todo o resto. O esforço para evitar o sofrimento é dar atenção demais a ele. Em contrapartida, se você conseguir ligar o foda-se, torna-se imbatível.

Presta atenção: você vai morrer um dia. Eu sei que é meio óbvio, mas só queria dar uma refrescada na sua memória. Você e todo mundo que você conhece estarão mortos em breve. E, no curto período entre o agora e o dia da sua morte, você só pode se importar com uma quantidade limitada de coisas. Bem poucas, na verdade. Se sair por aí se importando com tudo e todos sem critério algum, vai acabar se ferrando. Ligar o foda-se é uma arte sutil. Sei que esse conceito pode parecer ridículo e que eu talvez soe como um babaca, mas estou falando de aprender a direcionar e priorizar seus pensamentos de maneira efetiva: escolher o que é importante e o que não é, com base em seus valores pessoais. Isso é bem difícil. Você vai precisar de um bom tempo de prática e disciplina, e muitas vezes não vai conseguir. Mas talvez seja a habilidade pessoal que mais vale o esforço. Talvez a única.

Os estóicos da Grécia e da Roma antigas imploravam às pessoas que tivessem a morte sempre em mente, de forma a apreciar a vida e permanecer humildes diante das adversidades. Em várias formas de budismo, a prática da meditação é ensinada como um meio de se preparar para a morte em vida. Dissolver o ego em um grande nada — alcançar o estado iluminado do nirvana — é visto como um teste para a passagem ao outro lado. Até Mark Twain, aquele maluco cabeludo que chegou e foi embora no Cometa Halley, disse: “O medo da morte vem do medo da vida. Um homem que vive plenamente está preparado para morrer a qualquer momento.”