Cha 30 ervas em capsulas emagrece mesmo

O médico hepatologista Raymundo Paraná, professor titular da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e membro da Sociedade Brasileira de Hepatologia, diz que quem prescreve essas substâncias não segue evidências científicas:

"A maior parte dessas toxicidades por ervas – e isso não é um problema incomum – veio junto com a internet, no início do século, mas se consolidou mesmo com as redes sociais. E existem prescritores de combos de ervas – o que é lamentável. É absolutamente desprezível essa atitude, porque é totalmente dissociada da evidência científica", afirma.

"Cada um [que prescreve] tem as suas formulações, prescreve, diz o que quer. Além dos consultórios, existe a comercialização direta pela internet. É um desastre, porque as pessoas compram e se expõem", lamenta.

O g1 conversou com especialistas para entender os riscos. Veja detalhes abaixo:

  1. Chá emagrece? Existem comprovação científica?
  2. Chá é termogênico? O que isso significa?
  3. Existe diferença entre beber o chá e consumi-lo em cápsulas?
  4. Qual a relação entre cápsulas de chá e danos ao fígado?
  5. O risco aumenta quando o chá é, na verdade, um 'combo' de várias ervas?
  6. Existem limites de consumo diário dessas substâncias?
  7. Como descobrir se uma substância presente no chá é tóxica para o fígado ou outros órgãos?

1) Chá emagrece?

Não. Os especialistas ouvidos pela reportagem foram unânimes ao dizer que, sozinho, o chá – qualquer que seja a erva – não promove o emagrecimento.

"O máximo que você vai ter é um chá que aumenta mais a diurese [elimina o xixi] – e você vai perder peso porque perde água e fica desidratado", explica a endocrinologista Maria Edna Melo, presidente do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e médica do HC da USP.

"Não tem nenhum chá que foi estudado e que você possa indicar para emagrecer. Isso é um verdadeiro boom comercial, mas [com] evidência científica zero. E não foram testados em termos de segurança também", completa a médica.

A farmacêutica Laura Marise, responsável pelo canal "Nunca vi um Cientista", no Youtube, completa:

"A única coisa que emagrece é restrição calórica, ou seja: comer menos calorias do que gasta no dia. Ou gastar mais calorias do que come. O chá pode fazer parte de alguma dieta, por alguma razão, mas ele não vai ser o fator que emagrece, nunca. Isso está mais que comprovado por diversos estudos", diz Laura Marise.

A nutricionista Fernanda Imamura, que colabora com o Programa de Atendimento, Ensino e Pesquisa em Transtornos Alimentares na Infância e Adolescência do Instituto de Psiquiatria da USP, lembra que nenhum alimento ou suplemento isolado vai promover o emagrecimento.

"A gente sabe que, para acontecer o emagrecimento, tem que ter mudanças sustentáveis de médio a longo prazo, e não algo isolado na dieta que vai ser responsável por isso", explica Imamura.

O endocrinologista Fábio Trujilho, vice-presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), e também da SBEM, reforça:

"Não tem um chá que se use no dia a dia para perder peso. Existem alguns estudos com chá verde que mostram perda de peso, mas numa dose tóxica. Não acreditamos no chá como uma forma de perder peso", afirma Trujilho.

2) Chá é termogênico? O que isso significa?

"Termogênicos são substâncias que vão aumentar a produção de calor e isso, como consequência, pode levar a um aumento da taxa metabólica basal e causar, como consequência, o emagrecimento. Só que isso é diferente do que os chás e os suplementos fazem", explica a nutricionista Fernanda Imamura.

Isso porque, por mais que os chás e suplementos possam aumentar um pouco a taxa metabólica basal – que é quanto o corpo gasta de energia – esse aumento é irrelevante para levar ao emagrecimento, diz a nutricionista.

"Essa produção de calor teria que ser muito grande, e isso traria até prejuízos pro nosso corpo. Essa ideia de que o chá e o suplemento são termogênicos e emagrecem é uma ideia errada, e não é isso o que acontece", afirma. Fernanda

O endocrinologista Fabio Trujilho, da Abeso, reforça: "quando se fala em termogênese, está [se] falando de gasto calórico. Está pensando em um remédio que vai, por si só, gastar energia. Não existe um medicamento seguro que seja termogênico", explica.

O médico lembra que existem medicamentos seguros para tratar o excesso de peso – que promovem a saciedade, a absorção da gordura ou que diminuem o apetite –, mas que o uso deles precisa ser feito com acompanhamento médico.

3) Existe diferença entre beber o chá e consumi-lo em cápsulas?

Sim. Beber o chá é sempre mais seguro.

"De uma forma geral, as cápsulas são sempre formas menos seguras de consumir esses produtos, por conta de você não saber quanto [do produto] tem ali, como esse extrato foi produzido", explica a farmacêutica Laura Marise.

"A não ser que elas sejam medicamentos fitoterápicos, com bula, com estudo clínico, são sempre menos seguras de se consumir", completa.

O caso do chá verde – que estava entre as ervas ingeridas pela enfermeira que faleceu – é um bom exemplo, afirma Raymundo Paraná, da Ufba.

"O princípio ativo tóxico [do chá verde] é catequina. Se ele for tomado como chá, não causa nada. A quantidade de catequina é desprezível, a não ser que tome um balde", diz o hepatologista .

"[Mas a catequina] não pode ser concentrada no fígado, porque gera uma série de agressões. Quando você faz um cápsula, que é o que acontece nesses termogênicos – que não são termogênicos coisa nenhuma, são uma bomba-relógio – tem concentração [elevada] a 500 mil vezes. Isso se torna tóxico", explica o hepatologista.

4) Qual a relação entre cápsulas de chá e danos ao fígado?

O fígado acaba sendo o principal atingido porque é responsável por filtrar grande parte do que consumimos.

"Na maioria das vezes, como ocorre nas toxicidades por alopáticos [medicamentos tradicionais, como os antibióticos], as lesões são leves. O paciente tem um mal-estar, na hora que ele suspende a medicação, tudo desaparece. Não mais do que 10% vão ter sintomas mais agressivos. E, muito raramente, a forma grave", explica Raymundo Paraná.

"Mas, quando ocorre a forma grave, ela é chamada de fulminante, é gravíssima. E aí precisa encontrar um fígado para esse paciente. Na realidade brasileira, é difícil, em poucas horas, conseguir um fígado, num país continental como o Brasil. Boa parte das pessoas com essa forma grave morre", diz o hepatologista.

Existem, basicamente, três maneiras em que o fígado ou o corpo são lesados pelas substâncias, explica o médico da Ufba:

  • A lesão direta ao fígado: geralmente é dose-dependente, ou seja, depende da quantidade que a pessoa toma;
  • Lesão indireta: depende da forma que cada indivíduo vai metabolizar a substância e metabolizar medicamentos. Depende da genética e muda de pessoa para pessoa;
  • Lesões nos pequenos vasos do fígado, que são mais raros e mal diagnosticados (ou subdiagnosticados).

"Por que eu digo que é uma doença subdiagnosticada, subnotificada? Muitas vezes o paciente esconde. E por que esconde? O pensamento dele é de que o que é natural não faz mal. Essa é uma ideação, do ponto de vista comercial, reforçada por quem vende e quem prescreve. Sempre faz uma santificação do que é natural e demonização do que é sintético. Isso é uma jogada comercial", alerta Paraná.

Além disso, em muitos casos, segundo o médico, o paciente já chega confuso ao hospital – e não tem condições de oferecer todas as informações sobre o que ingeriu. E, ainda por cima, a ingestão da substância nociva pode ter sido um, dois meses antes de o problema piorar.

Há, ainda, outros fatores agravantes: as ervas podem, por exemplo, ter 50, 60, até 100 princípios ativos – o que dificulta, para a equipe, estabelecer causa e consequência entre a ingestão das substâncias e o problema hepático.

Por fim, existem, também, as interações entre os medicamentos, que podem complicar o quadro. Um paciente que toma um remédio tradicional e ingere as pílulas, por exemplo, pode sofrer com efeitos modificados tanto do remédio quanto da própria erva.

"Um exemplo prático: a erva cavalinha é capaz de transformar um medicamento alopático num tóxico, porque ela interfere na metabolização do medicamento", diz Raymundo Paraná.

5) O risco aumenta quando o chá é, na verdade, um 'combo' de várias ervas?

A farmacêutica Laura Marise, do canal "Nunca vi um Cientista", diz que sim.

"Aumenta muito, porque você pode ter interações entre as ervas que potencializem os efeitos tóxicos. É o mesmo princípio de uma interação medicamentosa. Sempre evite combos de muitas ervas", diz a farmacêutica, que ressalta estar falando do formato em cápsulas.

"[Não é um problema quando a gente faz um] chazinho, um blend de camomila com erva cidreira. Isso, não, porque a quantidade ali vai ser muito pequena. Mas, em cápsulas, quanto mais ervas tiver, maior o risco de um efeito tóxico muito potencializado", alerta Laura Marise.

6) Existem limites de consumo diário dessas substâncias?

A farmacêutica Laura Marise faz novo alerta contra as cápsulas. "Não existe estudo clínico, então a gente não tem essa informação de quantas são seguras de serem tomadas", afirma.

"A gente tem que sempre assumir que a melhor forma é não consumir essas cápsulas nunca. Das cápsulas não existe informação sobre dose segura desses suplementos. Se for um medicamento – que tem bula, que teve estudo clínico e tudo o mais –, na bula vai estar escrito quantas cápsulas e por quanto tempo a pessoa pode consumir. Essa é a maior dica que eu posso dar", diz a farmacêutica.

Em relação aos chás, depende da planta.

"Se você tomar uma, duas xícaras por dia, independentemente do chá, dificilmente você vai ter efeito tóxico. Agora, se você toma 2, 3 litros de chá por dia, independentemente do chá, pode ser que você tenha algum problema, porque ele pode interagir com alimentos, com medicamentos que você toma. Tem várias variáveis que podem tornar um produto que seria inofensivo num produto tóxico", afirma.

7) Como descobrir se uma substância presente no chá é tóxica para o fígado ou outros órgãos?

Laura Marise aponta que, infelizmente, só vendo o produto não há como saber.

"Precisam ser feitas análises químicas, fisico-químicas, do perfil bioquímico da folha. De forma geral, o que eu posso recomendar é que a gente sempre desconfie que tem algo tóxico ali, porque esse algo tóxico pode ser simplesmente algo que a própria planta produz e que, em uma cápsula, vai estar em alta concentração", explica.

Chá em cápsulas: sem eficácia científica comprovada para quem busca emagrecimento. Produto foi apresentado pela médica Liliana Ducatti Lopes, que atendeu a enfermeira Mara Abreu — Foto: Reprodução

Já Raymundo Paraná cita como exemplo a fórmula do chá em cápsulas reproduzido na foto acima.

"Desta fórmula, há toxicidade documentada para os seguintes componentes: chá verde, melissa, sene, centelha asiática, espirulina, garcinha, valeriana. Não há documentação de eficácia baseada em estudos de fase 3 em nenhum desses componentes", alerta o médico hepatologista.

Para que serve o chá 30 ervas em cápsulas?

O 30 Ervas Fitoway auxilia no equilíbrio do organismo e proporciona bem estar como um todo. É composto por ervas, fibras, frutas, hortaliças e vegetais, que são conhecidos por apresentarem ação diurética, digestiva, moderadora de apetite e regulador intestinal.

Como tomar chá 30 ervas emagrece quantos quilos?

A promessa é que o chá 30 ervas emagrece até 10 kg ao longo de um mês. Mas, na prática, a bebida sozinha não causa a perda de peso, mas pode servir como uma espécie de acelerador de resultados, desde que esteja associada a uma dieta balanceada e à prática de atividades físicas.

Quais são os efeitos colaterais do chá 30 ervas?

Os malefícios desse tipo de chá.
baixa absorção de vitaminas e minerais, devido ao efeito diurético;.
queda da pressão sanguínea;.
pode prejudicar o funcionamento da tireoide;.
proporcionar cólicas e movimentos intestinais em excesso;.
ocasionar insônia;.
desencadear doenças crônicas pelo seu uso contínuo..

Qual chá que emagrece 1kg por dia?

Confira 6 chás para emagrecer.
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