Para quem é mulher, notar uma gota de sangue na roupa íntima todo o mês é fato que não causa preocupação, a não ser que ela apareça fora do tempo esperado. Mas há outro tipo de situação que é comum, bastante desagradável e muitas vezes incomoda: perceber a presença de conteúdo vaginal na calcinha, especialmente se ele tiver algum tom e cheiro estranhos. Show
Ter corrimento é a segunda queixa mais comum nos consultórios dos ginecologistas —perdendo apenas para problemas com o ciclo menstrual. Estima-se que no período de 12 meses, uma em cada dez mulheres apresentará o sintoma. Parte delas se automedicará ou tentará uma solução caseira, o que não só atrapalha o correto diagnóstico como pode agravar o quadro. Os dados foram publicados no periódico médico Indian Journal of Sexually Transmitted Diseases and Aids. RelacionadasO fluxo vaginal é uma característica feminina normal que se manifesta a partir da adolescência e dura por toda a idade reprodutiva. Nesse período, chamado de menacme, a mulher observará em si um corrimento esbranquiçado ou amarelo claro, que também é fino e inodoro. Essa umidade decorre da interação de vários fatores, que independem de uma glândula excretora. Daí ser inadequado referir-se a ela como secreção. Entenda a flora vaginalO aparelho genital feminino possui um microbioma, também chamado de flora vaginal, que é composto, majoritariamente, por células descamativas da mucosa local, fluídos do útero, do endométrio, do transudato (passagem de líquidos) das paredes vaginais, além de bactérias e outros micro-organismos e seus metabólicos, conforme explicou Rose Luce Gomes do Amaral, professora da Divisão de Ginecologia do Departamento de Tocoginecologia da Unicamp, e responsável pelo Ambulatório de Infecções Genitais do Caism (Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher). A função desse microbioma é manter o equilíbrio desse ambiente, preservando a saúde local, protegendo-o da contaminação e proliferação de micro-organismos. Além disso, a depender dos níveis hormonais, o fluxo tem um papel na locomoção dos espermatozoides, facilitando a fecundação. Como identificar alterações no fluxo vaginalApesar dessa natural proteção local, a anatomia feminina é propicia às infecções, já que a vagina é um orifício aberto situado próximo do ânus e da uretra. A atividade sexual também colabora para que algum germe oportunista se instale, causando algum problema. Como o fluxo vaginal se altera ao longo do mês, pode ser difícil reconhecer alguma anormalidade. Porém, é bom saber que mudanças no aspecto do conteúdo vaginal geralmente são acompanhadas por ardor, coceira, dor durante as relações sexuais, dor ao urinar ou na parte inferior do abdome. Nesse caso, o corrimento poderá ter as seguintes características:
Por que isso acontece?De acordo com Luiz Felipe Dziedricki, ginecologista e obstetra, professor da Faculdade de Medicina da PUC-PR, muitos fatores podem estar envolvidos no aparecimento de corrimentos anormais. "Pode ser um corpo estranho, o uso de hormônios, o próprio período fértil e até gestação, entre outras situações", fala o especialista. "Até mesmo o passar do tempo pode se relacionar ao problema, já que alterações hormonais, como as da menopausa, igualmente levam à redução do conteúdo vaginal", completa. Veja a seguir outras possíveis causas relacionadas ao corrimento anormal:
A maioria dos especialistas afirma que o uso diário do protetor de calcinhas também pode ter o mesmo efeito, por impedir a respiração da região genital. Contudo, um estudo da Unicamp publicado no International Journal of Gynecology & Obstetrics mostrou que essa prática não leva à alteração significante da flora vaginal. O que normalmente ocorre é que as mulheres que já têm corrimento usam os protetores para camuflar o problema —por isso há essa associação entre uma maior incidência de alterações no fluxo vaginal em mulheres que usam o protetor diário. Como não existe um consenso, o melhor é conversar com seu ginecologista para saber a frequência que você pode usar o protetor diário. As causas e o que significa cada cor do corrimentoO desequilíbrio da flora vaginal e IST (Infecções Sexualmente Transmissíveis) se destacam nos consultórios como os causadores mais comuns de alterações no fluxo vaginal. Entenda melhor o que significa cada coloração, suas características e principal possível causa. CORRIMENTO BRANCO AMARELADO
CORRIMENTO BRANCO ACINZENTADO OU AMARELADO
CORRIMENTO BRANCO (COM ASPECTO DE NATA)
CORRIMENTO AMARELO ESVERDEADO
CORRIMENTO MARROM OU COM SANGUE
Quando é hora de procurar ajuda?Toda vez que você se sentir desconfortável com a umidade vaginal, o que compreende seu volume, cor, cheiro ou qualquer outro motivo. Além disso, é preciso saber que há um número considerável de doenças vaginais que não apresentam sintomas, como a clamídia, a ureaplasma e a micoplasma. Os especialistas sugerem que se faça uma visita ginecológica duas vezes ao ano. Nelas, você deve questionar o médico sobre a necessidade de ser feita uma pesquisa para essas doenças assintomáticas. Como é feito o diagnóstico?No consultório, após ouvir a queixa da paciente, o médico deve fazer o exame ginecológico para avaliar o conteúdo vaginal. A depender de como o consultório é equipado, alguns médicos podem até colher o material na mesma hora para analisá-lo no microscópio. Contudo, em grande parte das vezes, são solicitados exames específicos. Como é o tratamentoCada causa tem um esquema de tratamento, mas geralmente ele é medicamentoso, por via oral (comprimido) ou local (cremes vaginais). Os fármacos comumente usados são antifúngicos ou antimicrobianos específicos. Orientações sobre hábitos de vida também podem compor a estratégia terapêutica. "Evite se automedicar ou fazer consultas por telefone, apenas descrevendo seus sintomas ao médico ou farmacêutico", adverte Patrícia Pereira dos Santos Melli, médica assistente-doutora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia do HCFMRP/USP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo). "O uso de uma medicação inadequada pode destruir a flora local, o que traria mais prejuízos à paciente", diz. Dá para prevenir?A própria anatomia feminina torna as mulheres muito vulneráveis aos corrimentos anormais. Portanto, mesmo que sejam adotados cuidados preventivos, eles podem aparecer. Para reduzir as chances de uma infecção, o Guia de Higiene Feminina da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) indica principalmente as seguintes medidas:
Fontes: Rose Luce Gomes do Amaral, professora da Divisão de Ginecologia do Departamento de Tocoginecologia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), responsável pelo Ambulatório de Infecções Genitais do CAISM (Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher) da Unicamp; Patrícia Pereira dos Santos Melli, médica assistente-doutora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia do HCFMRP/USP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo); Luiz Felipe Dziedricki, ginecologista e obstetra, professor da Faculdade de Medicina da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná). Revisão técnica: Rose Luce Gomes do Amaral. Referências: Guia Prático de Condutas - Higiene Genital Feminina/Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia); Swetha Venugopal, Kannan Gopalan, Asha Devi, e A. Kavitha. Epidemiology and clinico-investigative study of organisms causing vaginal discharge. Indian J Sex Transm Dis AIDS. 2017; Giraldo, PC; Gomes do Amaral, RL; Juliato, C; Eleutério, J JR; Brolazo, E; Gonçalves, AK - The effect of "breathable" panty liners on the female lower genital tract. International Journal of Gynecology and Obstetrics, 2011. O que pode ser um corrimento verde sem cheiro?Geralmente os corrimentos esverdeados estão associados a um protozoário chamado Trichomonas vaginalis. O Trichomonas vaginalis é responsável por uma doença chamada tricomoníase. Embora os sintomas da tricomoníase variem, muitas pessoas não conseguem saber se estão infectadas pois a infecção pode ser assintomática.
O que pode ser um corrimento verde claro?O corrimento esverdeado é, na maioria das vezes, sinal de tricomoníase, uma infecção causada por Trichomonas vaginalis, que é transmitida através da relação sexual desprotegida. Nesses casos, o corrimento é acompanhado também de outros sintomas como coceira, cheiro desagradável e queimação na região íntima.
Quando o corrimento não tem cheiro?Nem sempre corrimento na região genital da mulher é sinal de problema. Desde que a secreção não venha acompanhada de coceira, cheiro ou dor na vagina, pode ser decorrente da ovulação durante o ciclo menstrual. Mas, se houver outros sintomas associados, é preciso procurar um médico.
Como é o corrimento de tricomoníase?A vaginite por Trichomonas (tricomoníase) é uma infecção vaginal causada pelo protozoário Trichomonas vaginalis. A vaginite por Trichomonas costuma ser transmitida sexualmente. Ela pode causar um corrimento verde ou amarelo, que pode ser abundante, ter odor fétido e ser acompanhado de coceira ou irritação.
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