7João Felippe Cury Marinho Mathias Show
IntroduçãoÉ amplamente reconhecido na literatura que o agronegócio é um dos setores mais dinâmicos da Economia Brasileira, com notável evolução nas décadas recentes. Há fatores de diversas naturezas para explicar esse dinamismo, mas se reconhece que o segmento primário (agropecuária), em função do elevado crescimento da produtividade, tem sido a atividade chave para o desenvolvimento do agronegócio do Brasil. O curioso é que nem sempre foi assim. Tido como tradicional e refratário às inovações, o setor agropecuário teve, a partir dos anos 1970, uma inflexão no que tange ao uso de tecnologia e os crescentes índices de produtividade, que somadas às condições macroeconômicas nas décadas de 1990 e 2000 permitiram um aumento expressivo na produção e exportação de produtos oriundos do agronegócio. Alguns produtos em destaque são os provenientes do complexo das carnes e da soja. Vários autores apontam o expressivo crescimento da produtividade agropecuária,
tanto do trabalho como a do capital e da terra. As taxas são expressivas desde os anos 1970, mas encontram sua maior magnitude nos anos 2000. Aqui, os fatores macroeconômicos como preços das commodities e câmbio, somado a um intenso crescimento da demanda externa, sugerem ser os principais fatores motivadores para o elevado dinamismo e os crescentes acréscimos de produtividade do agronegócio em geral, e da agropecuária, em particular. O foco deste trabalho será a análise da agropecuária em função da ideia de que o fomento da produção agropecuária gera efeitos de transbordamento para os setores fornecedores de insumos tecnológicos, bem como para a industrialização e a comercialização de seus bens. Nesse sentido, um moderno setor agropecuário é aquele capaz de desenvolver inovação tecnológica e estimular a produção científica e de tecnologia na cadeia produtiva como um todo (Vieira Filho et al., 2011). Com efeito, este capítulo tem por objetivo analisar a evolução do agronegócio brasileiro desde os anos 1980, com particular
foco no segmento primário (agropecuário). O trabalho se baseia no uso de dados primários e secundários oriundos dos últimos censos agropecuários de 1980 a 2006, com particular ênfase neste último. Em termos específicos terão consideração adicional alguns produtos importantes para o agronegócio brasileiro, buscando verificar os condicionantes macroeconômicos, tais como câmbio e preços, que influenciaram os mesmos no que tange à rentabilidade. Os produtos considerados são a carne bovina e de
frango, a soja, o açúcar, o algodão e o milho. 1. Agronegócio: definições e estado da arte no BrasilSegundo Davies & Goldberg (1957), o agronegócio é definido como a soma total das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas; as operações de produção nas unidades agrícolas; e o armazenamento, o processamento e a distribuição dos produtos agrícolas, e itens produzidos com eles. Como lembram Araújo Neto e Costa (2005), com a evolução da agropecuária, observou-se um crescimento das operações para fora da porteira, incluindo uma ampliação da participação de produtos não rurais em seu conjunto de insumos (adubos e fertilizantes inorgânicos, defensivos etc.), além da elevação e aperfeiçoamento das operações de processamento e transformação da produção rural para somente depois direcioná-la à demanda final. Os autores ressaltam a importância da tecnologia dos processos produtivos para as produções agropecuária (incluem-se aí, a utilização de tratores, implementos agrícolas, ferramentas etc.) e agroindustrial (incluindo centros de processamento, abatedouros industriais, packinghouses etc.), dos instrumentos de financiamento à produção (serviços financeiros), das atividades de pesquisa e desenvolvimento, além das atividades de comercialização, armazenagem e transporte dos produtos rurais e agroindustriais.A Figura 1 apresenta de maneira esquemática o conceito do agronegócio. Figura 1 |
1975-2005 | 1980-1989 | 1990-1999 | 2000-2005 | |
Taxa anual de crescimento (%) | ||||
Crescimento do produto | 3,50 | 3,38 | 3,01 | 5,99 |
Fontes de crescimento do produto | ||||
INSUMOS | 0,96 | 1,49 | 0,35 | 2,03 |
Produtividade do trabalho | 3,56 | 3,2 | 3,11 | 5,81 |
Produtividade do capital | 2,38 | 1,28 | 3,14 | 4,67 |
Produtividade da terra | 2,59 | 2,64 | 2,06 | 3,26 |
PTF | 2,51 | 1,86 | 2,65 | 3,87 |
Fonte: Gasques et al. (2008).
Segundo Gasques, Bastos e Bacchi (2009) são várias as evidências que relacionam aumentos da PTF aos investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Os autores apresentam os gastos com P&D entre 1975 e 2006 feitos pela EMBRAPA. Os desembolsos anuais passaram, a preços de 2006, de R$ 271 milhões para R$ 1,061 bilhões em 2006, desde meados dos anos 2000 os desembolsos superam ou ficam em torno de R$ 1 bilhão. Gasques, Villa Verde e Oliveira(2004) mostraram, por meio da utilização de modelos de séries temporais, que o aumento de 1% nos gastos em P&D, pela Embrapa, tem um impacto de 0,17% na PTF.
3.2 Um olhar adicional no Censo Agropecuário de 2006
Os dados do Censo Agropecuário permitem uma análise estrutural da evolução da agropecuária brasileira. A tabela 2 realiza o confronto dos resultados dos dados estruturais dos Censos Agropecuários de 1980 a 2006.
Tabela 2
Confronto dos resultados estruturais dos Censos Agropecuários 1980/2006 — Brasil 2006
Dados estruturais | ||||
1980 | 1985 | 1995-1996 | 2006 | |
Estabelecimentos | 5.159.851 | 5.801.809 | 4.859.865 | 5.175.636 |
Área total (ha) | 364.854.421 | 374.924.929 | 353.611.246 | 333.680.037 |
Utilização das terras (ha) | ||||
Lavouras permanentes (1) | 10.472.135 | 9.903.487 | 7.541.626 | 11.679.152 |
Lavouras temporárias (2) | 38.632.128 | 42.244.221 | 34.252.829 | 48.913.424 |
Pastagens naturais | 113.897.357 | 105.094.029 | 78.048.463 | 57.633.189 |
Pastagens plantadas (3) | 60 602 284 | 74 094 402 | 99.652.009 | 102.408.873 |
Matas naturais (4) | 83 151 990 | 83 016 973 | 88 897 582 | 95 306 715 |
Matas plantadas | 5 015 713 | 5 966 626 | 5 396 016 | 4 734 219 |
Pessoal ocupado | 21 163 735 | 23 394 919 | 17 930 890 | 16 568 205 |
Tratores | 545 205 | 665 280 | 803 742 | 820 718 |
Fonte: Adaptado de IBGE (2012).
(1) Nas lavouras permanentes, somente foi pesquisada a área colhida dos produtos com mais de 50 pés em 31.12.2006;
(2) Lavouras temporárias e cultivo de flores, inclusive hidroponia e plasticultura, viveiros de mudas, estufas de plantas e casas de vegetação e forrageiras para corte em 31.12.2006.
(3) Pastagens plantadas, degradadas por manejo inadequado ou por falta de
conservação, e em boas condições, incluindo aquelas em processo de recuperação em 31.12.2006.
(4) Matas e/ou florestas naturais destinadas à preservação permanente ou reserva legal, matas e/ou florestas naturais e áreas florestais também usadas para lavouras e pastoreio de animais em 31.12.2006.
Em síntese, pode-se concluir da tabela 2 que:
- O número médio de estabelecimentos se manteve constante e a área total em hectares caiu 9,3%
- A utilização das terras cresce fortemente influenciada pelas matas plantadas, com taxa de crescimento de 70% no período de 1980 e 2006;
- Há uma queda substancial das pessoas ocupadas no período, da ordem de 21%;
- Há um importante crescimento do número de tratores, na ordem de 50% no período.
Em consequência, pode-se dizer que para responder à crescente produção da lavoura e da pecuária houve forte crescimento da produtividade da terra, do trabalho e do capital.
O aumento do uso do capital tem como um dos indicadores a evolução da área média de lavoura por trator em hectares. O gráfico 6 aponta um número maior de tratores por área média de lavoura.
Gráfico 6
Evolução da área média de lavoura por trator (hectares). Brasil: 1980 a 2006
Fonte: Adaptado de IBGE (2012).
No caso da pecuária, a evolução da área média de pastagem por cabeça de bovino tem sido reduzida, o que indica, que embora ainda muito extensiva, a tendência se mostra a um aumento no número de bovinos por área de pastagem.
Gráfico 7
Evolução da área média de pastagem por cabeça de bovino. Brasil: 1980 a 2006
Fonte: Adaptado de IBGE (2012).
A tabela 3 apresenta o número de estabelecimentos e a área dos estabelecimentos agropecuários por grupos de área total. Desde 2006, em todos os estratos há redução do número de estabelecimentos. A menor redução é dos grandes estabelecimentos, de 1000 ha ou mais.
Tabela
3
Número de estabelecimentos e área dos estabelecimentos agropecuários por grupos de área total — Brasil (1980/2006)
Grupos de área total | 1980 | 1985 | 1995 | 2006 |
Menos de 10 ha | 2.598.019 | 3.064.822 | 2.402.374 | 2.477.151 |
10 a menos de 100 ha | 2.016.774 | 2.160.340 | 1.916.487 | 1.971.600 |
Menos de 100 ha | 4.614.793 | 5.225.162 | 4.318.861 | 4.448.751 |
100 a menos de 1000 ha | 488.521 | 517.431 | 469.964 | 424.288 |
1000 ha e mais | 47.841 | 50.411 | 49.358 | 47.578 |
Fonte: IBGE (2012).
De acordo com a Tabela 3, as diferenças verificadas na área dos estabelecimentos agropecuários, quando comparados os diferentes estratos fundiários, continuam a caracterizar a manutenção da desigualdade na distribuição da terra no País nos últimos Censos Agropecuários. Neste sentido, enquanto os estabelecimentos rurais de menos de 10 ha ocupam menos de 2,7% da área total ocupada pelos estabelecimentos rurais nos três últimos Censos Agropecuários – 1985, 1995-1996 e 2006 –, a área ocupada pelos estabelecimentos de mais de 1000 ha concentram mais de 43,0% da área total nestes anos (IBGE, 2012).
3.3 Evolução da produtividade de alguns produtos selecionados
Com base no Censo Agropecuário, é possível analisar o aumento da produtividade por produtos selecionados. Em consonância com o que já foi abordado em seções anteriores, vale a pena focalizar alguns produtos importantes para o agronegócio brasileiro. A Tabela 4 apresenta a evolução da produtividade para alguns produtos importantes para a agropecuária brasileira.
Tabela 4
Produção vegetal e Área colhida dos estabelecimentos agropecuários por tipo de produção vegetal – série histórica (1980/2006)
Tipo/ano | 1980 | 1985 | 1995 | 2006 |
Algodão em caroço | ||||
Produção vegetal (Toneladas) | 1.170.597 | 2.178.455 | 814.188 | 2.491.582 |
Área colhida (Hectares) | 1.044.457 | 2.048.772 | 619.627 | 859.042 |
Produtividade (t/ha) | 1,12 | 1,06 | 1,31 | 2,90 |
Cana-de-açúcar | ||||
Produção vegetal (Toneladas) | 139.584.521 | 229.882.037 | 259.806.703 | 407.466.570 |
Área colhida (Hectares) | 2.603.292 | 3.798.117 | 4.216.427 | 5.682.376 |
Produtividade | 53,62 | 60,53 | 61,62 | 71,71 |
Milho em grão | ||||
Produção vegetal (Toneladas) | 15.722.581 | 17.774.404 | 25.510.505 | 41.427.611 |
Área colhida (Hectares) | 10.338.592 | 12.040.441 | 10.602.139 | 11.604.043 |
Produtividade | 1,52 | 1,48 | 2,41 | 3,57 |
Soja em grão | ||||
Produção vegetal (Toneladas) | 12.757.962 | 16.730.087 | 21.563.768 | 46.195.842 |
Área colhida (Hectares) | 7.783.706 | 9.434.686 | 9.479.893 | 17.883.318 |
Produtividade | 1,64 | 1,77 | 2,27 | 2,58 |
Fonte: Adaptado de IBGE (2012).
Todos os produtos obtiveram expressivos ganhos de produtividade entre 1980 e 2006, com destaque especial para o milho, que experimentou um incremente de 1,52 toneladas por hectare para 3,57 toneladas por hectare.
A soja, um dos produtos líderes da exportação do agronegócio, teve aumento de 1,64 para 2,58 toneladas por hectare. Como ressalta o IBGE (2012), com o objetivo de reduzir os custos de produção, os produtores brasileiros optaram pelo cultivo da soja transgênica no Brasil, tanto que dos 217.015 estabelecimentos agropecuários que cultivaram soja em 2006, 46,7% utilizaram sementes geneticamente modificadas, que foram cultivadas em cerca de 4,1 milhões de hectares. Também foi utilizada uma grande quantidade de semente certificada (44,8%) e em 96,7% da área a colheita foi realizada de forma totalmente mecanizada (IBGE, 2012).
Para o caso brasileiro, no que tange ao preço das commodities agrícolas, vale a pena segmentar a análise por alguns dos principais produtos exportados pelo país, a saber, a carne bovina, carne de frango, a soja em grão, o milho, o algodão e o açúcar.
O gráfico 8 apresenta a evolução dos preços da carne bovina e da carne de frango entre 1980 e 2006. No período como um todo, o comportamento dos preços tem tendências distintas. Há uma tendência decrescente do preço da carne bovina, em que pese seja visível uma recuperação em meados dos anos 1990. Em relação à carne de frango, a tendência é claramente positiva, o que se coaduna com o vertiginoso crescimento da demanda de carne de frango nas últimas décadas.
Gráfico 8
Evolução dos preços (em cents/kg) da carne bovina e de frango entre 1980 e 2006
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do World Bank Commodity Price Data.
Em relação aos principais grãos exportados pelo país, soja e milho, a evolução dos preços é declinante, no período de 1980 e 2006 (gráfico 9). No caso da soja, a partir dos anos 2000 há uma tendência de recuperação, fortemente explicada pela demanda da China. O preço do milho apresenta uma evolução mais suave no período.
Gráfico 9
Evolução dos preços (em $/mt) da soja em grão e do milho entre 1980 e 2006
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do World Bank Commodity Price Data.
Segundo o IBGE (2012), em 2006, o milho foi cultivado em cerca de 2,0 milhões de estabelecimentos agropecuários,que produziram 41,4 milhões de toneladas em 11,5 milhões de hectares,alcançando 11,4 bilhões de reais. Analisando os anos 2000, período em que o milho apresentou maior crescimento, observa-se que a cultura teve grandes incrementos de produtividade (46,2%), bem superior à da soja (10,6%). O aumento da produtividade, juntamente com o aumento de 11% na área colhida, proporcionou um crescimento de 62,3% na produção nacional de milho. No que diz respeito à tecnologia utilizada, verificou-se que em 27,8% dos estabelecimentos foram utilizadas sementes certificadas para o cultivo, que foram responsáveis por 77,5% da produção nacional. A colheita totalmente mecanizada foi realizada em 8,8% dos estabelecimentos, que produziram 64,2% da produção do País. Algum tipo de adubação foi realizada em 37% dos estabelecimentos, que produziram 85,3% da produção nacional.
Apesar de apresentar uma tendência de queda no período estudado, o preço do açúcar desde o início dos anos 1980 tem apresentado oscilações com comportamento pouco volátil. Excetuando a brusca queda nos anos de 1980 e 1981, desde então o preço do açúcar apresenta uma trajetória cíclica de baixa oscilação, com tendência de elevação a partir dos anos 2000 (gráfico 10).
Gráfico 10
Evolução dos preços (em cents/kg) do açúcar entre 1980 e 2006
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do World Bank Commodity Price Data.
A cana-de-açúcar no Brasil é uma cultura cresceu permanentemente. A cultura experimentou um vigoroso crescimento com a criação do Programa Nacional do Álcool — Proálcool em 1975,que tinha como objetivo estimular a produção do álcool, através da cana-de-açúcar,visando à substituição em larga escala dos derivados de petróleo, que tinham alcançado altos preços. Com o início do programa, em 10 anos, a produção nacional de cana-de-açúcar passou de 80,0 milhões de toneladas para 229, 9 milhões de toneladas. A partir de 1986, começa uma fase de estagnação, pois o cenário internacional do mercado petrolífero é alterado e o preço do barril do óleo bruto caiu abruptamente (IBGE, 2012).
O algodão apresenta clara tendência de queda de preços entre 1980 e 2006, atingindo os menores patamares nos anos 2000 (gráfico 11).
Gráfico 11
Evolução dos preços (em cents/kg) do algodão entre 1980 e 2006
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do World Bank Commodity Price Data.
O gráfico 12 apresenta a evolução da exportação em quantum de soja em grão e de farelo de soja. Note que a taxa de crescimento da exportação da soja em grãos ultrapassa em muito a taxa de crescimento do farelo de soja. A demanda externa aparece como forte condicionante para a produção de soja no Brasil no período estudado, uma vez que se trata do principal mercado para o produto.
Gráfico 12
Evolução da exportação de soja em grão e farelo de soja (toneladas). Brasil: 1980-2006
Fonte: IPEADATA.
A cana-de-açúcar também apresenta importantes ganhos de produtividade entre 1980 e 2006, passando de 53,62 para 71,71 toneladas por hectare. As exportações de açúcar cresceram expressivamente do período (gráfico 13).
Gráfico 13
Evolução da exportação de açúcar (toneladas). Brasil: 1980-2006
Fonte: IPEADATA.
Em relação ao complexo das carnes, evidencia-se um peso enorme da demanda externa, que contribuiu para um aumento real das exportações, tal como apresentado na tabela 5.
Tabela 5
Produção e
exportação de carcaça bovina, suína e de frangos e participação da exportação na produção – Brasil – 1996/2006
Espécie | 1996 | 2006 | ||||
Produção (t) | Exportação (t) | Participação (%) | Produção (t) | Exportação (t) | Participação (%) | |
Bovina | 4.053.178 | 46.656 | 1,15 | 6.886.583 | 1.225.413 | 17,79 |
Suína | 1.240.182 | 55.735 | 4,49 | 2.298.242 | 484.217 | 21,07 |
Frango | 2.896.933 | 568.794 | 19,63 | 8.164.003 | 2.585.713 | 31,67 |
Fonte: IBGE (2012).
A participação das exportações de carne bovina na produção nacional de carcaça passou de 1,2%, em 1996, para 17,8% (tabela 5) com a ampliação de volume exportado e a conquista de novos mercados, o mesmo ocorrendo com a carne suína e de frango.
Os dados do gráfico 14 apontam que o que está por trás da evolução e da exportação das carnes não foi a rentabilidade das exportações. Há uma queda importante segundo os dados da Funcex para o período de 1985 a 2006.
Gráfico 14: Exportações – setor: abate de animais – rentabilidade – índice (2003.III = 100) – determinado –
Fonte: Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex)
Nesse caso, o que explica as exportações é o aumento real da demanda, que trás consigo necessidade de aumento da oferta de carne e, consequentemente, da produtividade.
Os dados do Censo Agropecuário 2006 refletiram as mudanças ocorridas no setor a partir do fim da década de 1990, com a reestruturação da cadeia produtiva de carnes, a adoção de tecnologias e uma maior profissionalização que culminaram com a liderança brasileira no mercado internacional de carnes de frango e bovina, sendo ainda o quarto maior exportador mundial de carne suína em 2006.
Por fim, pode-se analisar o impacto para os dados agregados do agronegócio. No que tange ao comercio exterior referente ao agronegócio brasileiro, a evolução a partir de 1989 foi muito positiva (gráfico 15). O expressivo crescimento das exportações (de US$ 13,9 para US$ 49,5 bilhões) respondeu pelo importante crescimento do saldo comercial (quase 300% no período), uma vez que as importações cresceram, mas a taxas bem menores (de US$ 3,1 para US$ 6,7).
Gráfico 15: Evolução da balança comercial do agronegócio brasileiro: 1989 a 2006
Fonte: Adaptado de Fonte: AgroStat Brasil a partir de dados da SECEX/MDIC.
Dos condicionantes macroeconômicos analisados pode-se afirmar que a demanda externa atuou de forma positiva para o agronegócio brasileiro. Em relação ao câmbio, não é possível concluir, ainda que os dados sugiram que para certos períodos foi positivo e para outros, negativos. Já em relação aos preços das commodities agrícolas analisadas, excetuando a carne de frango, as demais apresentaram tendência de queda nos preços, atenuadas parcialmente a partir dos anos 2000.
A tabela 6 oferece uma síntese do impacto dos fatores condicionantes do aumento da produtividade agropecuária no Brasil a partir de 1980.
Tabela 6: Síntese do impacto dos fatores condicionantes do aumento da produtividade agropecuária no Brasil a partir de 1980.
Embrapa | Sem dúvida, um dos maiores responsáveis para a difusão tecnológica na agropecuária brasileira. |
Crédito | Muito importante até o final dos anos 1980. |
Câmbio | Positivo ou negativo dependendo da na análise de subperíodos. |
Preço das commodities | Em geral decrescentes, porém com recuperação a partir dos anos 2000. |
Rentabilidade | Em geral decrescente, com algumas compensações de ordem conjuntural (câmbio e preços) e estrutural (Lei Kandir) |
Demanda externa | Efeito China muito importante para aumento real (quantum) das exportações agropecuárias brasileiras. |
Fonte: Elaboração própria.
4.Conclusão
Este trabalho buscou evidenciar o processo de modernização do agronegócio no Brasil, com especial ênfase nos expressivos ganhos de produtividade no segmento agropecuário, tido como núcleo central do agronegócio.
As raízes dessa modernização têm origem nos anos 1970. Viabilizado e capitaneado pelo Estado, emergiu um bloco de interesses agroindustriais, o qual permitiu a adoção de tecnologias a práticas mais modernas no manejo agropecuário. A consequência desse processo foi o notável incremento de produtividade da maioria das culturas importantes na agropecuária brasileira. A EMBRAPA cumpriu e cumpre papel relevante na geração e difusão das tecnologias agropecuárias.
Os fatores macroeconômicos são importantes, pois, ao afetarem a rentabilidade do produtor, podem força-lo a incrementar a produtividade para compensar eventuais perdas decorrentes do preço e do câmbio. No que tange a essas duas variáveis, salvo em alguns subperíodos, não é possível concluir que elas afetaram positivamente a rentabilidade agropecuária entre 1980 e 2006. Há impactos positivos e negativos, dependendo do estrato do período estudado.
Nesse sentido, os fatores de ordem estrutural e institucional ganham peso na explicação da modernização do setor no período estudado, particularmente por esforços feitos na década anterior, 1970. Não menos importante é o comportamento da demanda externa, que sugeriu, nos últimos anos, um “um desenvolvimento voltado para fora” da agropecuária brasileira.
Referências
ARAÚJO NETO, D. J.; COSTA, E. F. “Dimensionamento do PIB do agronegócio em Pernambuco”. In: Revista de Economia e Sociologia Rural, v. 43, n. 04, p. 725-757, out-dez 2005.
BARROS, G. S. C. et al. Agronegócio brasileiro. Perspectivas, desafios e uma agenda para seu desenvolvimento. Piracicaba, CEPEA/ ESALQ, julho de 2006. Disponível aqui. Acesso em 15 de julho de 2013.
BRANDÃO, A. S. P. Os Principais Problemas da Agricultura Brasileira: análise e sugestões. 2ª ed. Rio de Janeiro : IPEA, 1992, 420p.
CEPAL. La República Popular China y América Latina y el Caribe. Hacia una nueva fase em el vínculo económico y comercial. Santiago: CEPAL, 2011.
CHRISTENSEN, L.R. “Concepts and Measurement of Agricultural Productivity”. American Journal of Agricultural Economics.Lexington, v. 57, n. 5, p. 910-15, dec. 1975.
DAVIS, J. H.; GOLDEBERG, R. AConcept of Agribusiness. Boston: Havard University, 1957.
DALL’AGNOL, A.et al. Desenvolvimento, Mercado e Rentabilidade daSoja Brasileira. Londrina: EMBRAPA, Circular Técnica n. 74, Abril, 2010. Disponível aqui. Acesso: 20/06/2013.
FARINA, E.M.M.Q. & ZYLBERSZTAJN, D. “Deregulation, chain differentiation and the role of government”. In: Anais do First Brazilian Workshop of Agri-Chain Management, FEA/RP/ USP, 10-11 de nov. 1997.
GASQUES, J. G.; VILLA VERDE, C. M.; OLIVEIRA, J. A. F. G. Crédito rural e estruturas de financiamento. Brasília: Ipea, 2004. 44 p. (Texto para Discussão, n. 1.036).
GASQUES, J.G. et al. Gasto Público em Agricultura. Retrospectiva e Prioridades. Brasília : MAPA, Assessoria de Gestão Estratégica, 2006
GASQUES, J. G. et al. “Produtividade e fontes de crescimento da agricultura brasileira”. In: DE NEGRI, J. A.; KUBOTA, L. C. (ed.).Políticas de Incentivo à Inovação Tecnológica.Brasília: IPEA, 2008.
GASQUES, J. G.; BASTOS, E. T.; BACCHI, M. R. P. Produtividade e fontes de crescimento da agricultura brasileira. Brasília: AGE/Mapa, jul. 2009.
GASQUES, J. G. et al. “Produtividade Total dos Fatores e Transformações daAgricultura Brasileira: Análise dos Dados dos CensosAgropecuários”. In: Anais do 48º Congresso da SOBER. Campo Grande: Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural, 25 a 28 de jul de 2010.
IBGE. 2012. Censo Agropecuário 2006. Brasil, Grandes Regiões e Unidades da Federação. Segunda Apuração. Rio de Janeiro: IBGE.
HOMEM DE MELO, F. Agricultura: Razões para o Bom Desempenho Agrícola Recente. Informações FIPE, set 2010.
JORGENSON, D.W. The EmbodmentHypothesis Productivity. Productivity, V.I, The MIT Press, 1996.
MENDONÇA DE BARROS, J. R.; MANOEL, A. “Insumos Agrícolas: evolução recente e perspectivas”. In: BRANDÃO, A. S. P. (ed.). Os Principais Problemas da Agricultura Brasileira: análise e sugestões. 2ª ed. Rio de Janeiro: IPEA, 1992, 420p.
NUNES, E. P.; CONTINI, E. Complexo Agroindustrial Brasileiro. Caracterização e dimensionamento. Brasília: Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), 2001.
REDIN, E.; FIALHO, M. A. V. “Política Agrícola Brasileira: Uma Análise Histórica da Inserção da Agricultura Familiar”. 48º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural, SOBER. Campo Grande, 25 a 28 de jul 2010.
SOUSA, I. S. F. “Difusão de tecnologia para o setor agropecuário: a experiência brasileira”. In: Cadernos de Difusão Tecnológica, 4(2): p. 187-196, mai-ago, 1987.
VIEIRA FILHO, J. E. R.et al. Agricultura e Crescimento: Cenários e Projeções. Brasilia: IPEA, (Texto para Discussão 1.642), jul 2011.
WORLD BANK Database. World Bank Commodity Price Data.