Em que consistia a versão tradicional da historiografia brasileira acerca da Guerra do Paraguai

Historiografia patriótica: a <strong>“versão</strong> <strong>tradicional”</strong> <strong>da</strong> <strong>Guerra</strong> <strong>do</strong> <strong>Paraguai</strong> e <strong>seus</strong> des<strong>do</strong>bramentos... Historiografia patriótica: a <strong>“versão</strong> <strong>tradicional”</strong> <strong>da</strong> <strong>Guerra</strong> <strong>do</strong> <strong>Paraguai</strong> e <strong>seus</strong> des<strong>do</strong>bramentos a serviço de um patriotismo militar brasílico Ivan Bilheiro Dias Silva* José Luiz Oliveira de Paula** RESUMO Logo no início <strong>da</strong> <strong>Guerra</strong> <strong>do</strong> <strong>Paraguai</strong> e ao longo de quase to<strong>da</strong> a sua duração, foram produzi<strong>da</strong>s certas narrativas historiográficas, sobretu<strong>do</strong> com a autoria de alguns oficiais combatentes. Essa historiografia, feita por militares, tornou-se valorosa fonte para a construção de uma imagem <strong>da</strong>s Forças Arma<strong>da</strong>s (mormente, o Exército), fortes e defensoras <strong>da</strong> Pátria brasileira, em especial quan<strong>do</strong> <strong>da</strong> “transição” <strong>da</strong> Monarquia para a República, feita sob as ações <strong>do</strong> próprio Exército (especificamente, a alta oficiali<strong>da</strong>de). Trata-se de uma historiografia carrega<strong>da</strong> de certo patriotismo, servin<strong>do</strong> a esses fins. Assim, a historiografia <strong>da</strong> <strong>Guerra</strong> <strong>do</strong> <strong>Paraguai</strong> serviu de base para a justificação <strong>do</strong> sentimento de que o “ama<strong>do</strong> Brasil” deveria ser coloca<strong>do</strong> sob os cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>da</strong>s Forças Arma<strong>da</strong>s, e isso se prolongou por um longo perío<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> visto ain<strong>da</strong> nos dias atuais. A título de arremate historiográfico, as duas principais versões acerca <strong>da</strong> <strong>Guerra</strong>, divergentes <strong>da</strong> versão “<strong>tradicional”</strong> e produzi<strong>da</strong>s nas últimas déca<strong>da</strong>s, serão concisamente apresenta<strong>da</strong>s. Palavras-chave: Historiografia. <strong>Guerra</strong> <strong>do</strong> <strong>Paraguai</strong>. Patriotismo. Versão historiográfica. Militares. * Graduan<strong>do</strong> em História pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora (CES/JF). ** Gradua<strong>do</strong> em História pela Universi<strong>da</strong>de Federal de Juiz de Fora (UFJF) e Bacharel em Direito pelas Facul<strong>da</strong>des Integra<strong>da</strong>s Vianna Júnior (FIVJ – JF). Especialista em Meto<strong>do</strong>logia <strong>do</strong> Ensino Superior pela Fun<strong>da</strong>ção Getúlio Vargas e Mestre em História Social pela Universi<strong>da</strong>de Severino Sombra. Professor <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de História <strong>do</strong> CES-JF, e <strong>da</strong>s Facul<strong>da</strong>des de Direito, Economia e Administração <strong>da</strong>s FIVJ, esta última convenia<strong>da</strong> com a FGV CES Revista | v. 25 | Juiz de Fora | 2011 115

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A Historiografia da Guerra do Paraguai sofreu mudanças profundas desde o desencadeamento do conflito. Durante e após a guerra, a historiografia dos países envolvidos, para muitos, limitou-se a explicar suas causas como devida apenas à ambição expansionista e desmedida de Solano López.

Entretanto, desde o início da guerra houve forte movimento apontando o conflito como responsabilidade do Império do Brasil e da da Argentina Mitrista. Nesta leitura, descaram-se intelectuais federalistas argentinos e uruguaios, como Juan Bautista Alberdi.[1] No Uruguai, destacou-se a crítica de Luis Alberto de Herrera.[2] Esta literatura foi comumente - e segue sendo - desconhecida no Brasil.

No Paraguai, foi também precoce e muito forte a resposta à historiografia de cunho liberal, que retomava as teses aliancistas sobre a guerra do Paraguai. Esta literatura se inseriu em contexto revisionista mais amplo sobre a história do país, com destaque para a valorização da ação do doutor José Gaspar de Francia como fundador do Paraguai independente. Entre os principais historiadores revisionistas destacam-se Cecílio Baez (1862-1941); Manuel Domínguez (1868-1935); Blas Garay (1873-1899) e, finalmente, Juan E. Leary (1879-1969), considerado como o iniciador da historiografia "lopizta positiva", ou seja, que explicava positivamente a guerra a partir da ação verdadeiramente prometeica de Francisco Solano López.[3] Também essa literatura foi e segue sendo fortemente ignorada no Brasil. Ela jamais abraçou a tese da Inglaterra como responsável pelo conflito.[4]

Nos anos 1950, na Argentina, surgiu importante literatura de influência marxista, populista e americanista revisionista sobre a guerra do Paraguai, com destaque para autores como José María Rosa; Enrique Rivera e Milcíades Peña; Adolfo Saldías, Raúl Scalabrini Ortiz, também pouco estudada e raramente referida no Brasil.

Não poucos entre esses autores negaramu radicalmente a tese da culpa inglesa no conflito, responsabilizando o Império e a Argentina mitrista, como no caso de Milcíades Peña e Enrique Rivera, em seu trabalho clássico. Milcíades Peña seria explícito: "“Ni la monarquía coronada brasileña ni la oligarquía mitrista hicieron la guerra del Paraguay por encargo de Inglaterra, [...].” [5] Paradoxalmente, também essa historiografia mantém-se desconhecida no Brasil. Atualmente, há esforço de leitura do conflito que supera as mitologias o lopizmo positivo e negativo.[6]

Há uma intepretação que propõe, sem conhecer a historiografia assinalada, que, a partir dos anos 1960, uma segunda corrente historiográfica, mais comprometida com a luta ideológica contemporânea desta década entre o capitalismo e o comunismo, e direita e esquerda, apresentou a versão de que o conflito bélico teria sido motivado pelos interesses do Império Britânico que buscava a qualquer custo impedir a ascensão de uma nação latino-americana poderosa militarmente e econômica. A partir dos anos 1980, novos estudos propuseram razões diferentes, revelando que as causas se deveram aos processos de construção dos Estados nacionais dos países envolvidos.

Historiografia tradicional (1864-1870)[editar | editar código-fonte]

A historiografia tradicional,[7] também chamada de Oficial[8] e Ufanista,[9] surgiu imediatamente após o conflito e perdurou até o final da década de 1960. Tratava-se de uma visão simplista e exagerada[10] das causas da Guerra do Paraguai que teria ocorrido graças às ambições infinitas de um supostamente megalomaníaco e sanguinário Solano López que tinha por intenção criar o "Paraguai Maior" através da conquista de territórios dos países vizinhos. A reação dos Aliados teria ocorrido então numa tentativa desesperada de fazer prevalecer a "civilização" de países constitucionais e democráticos contra a "barbárie tirânica" do Paraguai governado por López.[9][11]

Sua grande duração foi justificada pela obstinação de Pedro II de ver López derrotado por desprezá-lo ao considerá-lo mais um caudilho latino-americano[11][12] e consequentemente, seria necessário lavar a honra do Brasil. Também se alegou que a irritação do Imperador teria ocorrido após uma proposta de López para casar-se com a princesa Isabel, mas isto nunca ocorreu e trata-se de uma invenção posterior de um autor norte-americano.[13] Mais tarde, surgiria o culto oficial dos heróis da guerra tais como o Duque de Caxias, Tamandaré, Osório e Mitre.[9][12] Enquanto que no Paraguai, do fim da guerra até meados da década de 1930, López era visto também como um megalomaníaco que destruiu o país numa guerra desnecessária e fútil.[14][15]

Era a opinião, por exemplo, de Gustavo Barroso:[16]

Os documentos provam à saciedade que a Guerra do Paraguai não nasceu de nenhuma das causas que até aqui lhe foram atribuídas, nem do perigo de ser o Paraguai absorvido pelo Brasil, nem do interesse paraguaio na defesa do Uruguai invadido pelo Império, nem de sua obrigação em manter o equilíbrio do Prata, nem ainda da mentirosa e ridícula fábula dum casamento projetado pelo déspota com uma filha de D. Pedro II. Ela veio em linha reta do pensamento secreto de Solano López. Êle a premeditou, como está provado, o que absolve de qualquer culpa o Império Brasileiro. Ou êle queria com a guerra dar asas à sua mórbida vaidade e descomunal ambição ou pretendia, à custa de seus vizinhos, alargar o domínio territorial de sua pátria, levando-o até o oceano. Nesse caso, seu pensamento correspondia ao desejo recôndito da nação. Se assim não foi, nem essa justificativa resta à memória de El Supremo, como autor da horrível tragédia.

Historiografia revisionista (1968-1990)[editar | editar código-fonte]

A chamada historiografia revisionista surgiu no final da década de 1960 e ganhou força durante a década de 1970-80. As origens remotas da mesma perduram do final do período monárquico do Brasil, quando os republicanos e militares insatisfeitos influenciados pelo Positivismo (como Benjamim Constant) realizaram ataques e críticas quanto a participação brasileira no conflito. Havia por detrás de tais acusações uma ideologia em comum entre os republicanos brasileiros, assim como argentinos e uruguaios, que tinham por objetivo desacreditar o regime monárquico ao considerá-lo o único culpado pelo desencadeamento da Guerra do Paraguai e das atrocidades cometidas.[15] Enquanto a partir da década de 1920, uma nova visão sobre a guerra surgiu no Paraguai graças aos esforços dos ditadores que buscavam uma legitimidade para seus governos autoritários ao apresentar um modelo anterior representados por Francia, Carlos López e Solano López.[14]

O revisionismo histórico da Guerra do Paraguai recebeu impulso de fato em 1968 a publicação da obra "A Guerra do Paraguai – Grande negócio!" do escritor Leon Pomer onde alegou que a guerra ocorreu por interesse único da Grã-Bretanha[7] (posteriormente, reconheceu não ter sido a Grã-Bretanha que "desencadeou" a guerra).[9] Na obra, em tantas outras publicadas no período, o Paraguai é apresentado como um país socialista e igualitário, além de extremamente moderno, rico e poderoso. Seu governante, Solano López, seria uma espécie de líder visionário, antiimperialista e socialista que buscava tornar seu país livre das influências imperialistas estrangeiras. A Grã-Bretanha, supostamente receosa deste modelo autônomo e temendo que pudesse vir a servir de exemplo para os países vizinhos, tratou de ordenar que o Brasil, Argentina e Uruguai, simples "marionetes", destruíssem o Paraguai, exterminando praticamente toda a população paraguaia conseqüentemente.[7] [9][11][14][17][18]

Defendendo a versão revisionista, discorre Júlio José Chiavenato:[19]

No seu processo de dominação, nunca o imperialismo inglês foi tão sutil na forma e tão contundente no conteúdo, como na condução dessa guerra. Com ela a Inglaterra inaugura um novo tipo de domínio: deixa as intervenções armadas diretas com suas tropas e financia governos corruptos para atingir seus fins.

A guerra basicamente delineia-se já em 1850 quando o Paraguai começa a desenvolver uma forte economia autônoma. O então presidente Carlos Antonio López, incapaz de antever a evolução das relações internacionais, governa o país como se lhe bastasse o fortalecimento da sua economia. E cai na cilada que destrói o Paraguai: quanto mais forte e organizado internamente, mais fraco externamente se torna um país em desenvolvimento que enfrenta uma grande potência. O Paraguai acaba enfrentando em 1864, no governo de Francisco Solano López, um processo que provoca o confronto de igual para igual de forças desiguais: de um Estado emergente e livre contra uma potência mundial superdesenvolvida, utilizando seus satélites econômicos como braço armado.

Em sentido semelhante, o historiador Eric Hobsbawm[20] defende que:

A Guerra do Paraguai pode ser vista como parte da integração da bacia do Prata na economia mundial da Inglaterra: Argentina, Uruguai e Brasil, com suas faces e economias voltadas para o Atlântico, forçaram o Paraguai a perder a auto-suficiência, conseguida na única área na América Latina onde os índios resistiram ao estabelecimento de brancos de forma eficaz, graças talvez à original dominação jesuítica.

Tal visão, hoje considerada simplista e sem embasamento empírico, tornou-se difundida a partir da década de 1960 por diferentes escolas de historiadores, das mais diversas nacionalidades e vertentes.[21]

Entre os ligados à esquerda marxista, havia o interesse em transformar o Paraguai de Solano López numa espécie de precursor do regime comunista de Cuba. Conforme o revisionismo adotado por esses historiadores, Solano López pretendia implementar no Paraguai um regime nacionalista autônomo, oposto ao grande império de sua época, no caso a Grã-Bretanha, de maneira análoga à oposição feita por Cuba aos EUA após a ascensão de Fidel Castro. Também havia a intenção, por parte desses historiadores, de prejudicar a imagem dos heróis da guerra cultuados pelos regimes ditatoriais militares de então que os perseguiam.[9][22]

Entretanto, os marxistas não foram os únicos a encamparem tal interpretação. O reforço do suposto heroísmo de Solano López serviu também àqueles ligados à direita nacionalista.[21] Dentre esses últimos, destaca-se o próprio ditador Alfredo Stroessner, que chegou a patrocinar a filmagem do épico "Cerro Corá", com o objetivo de reforçar a imagem de Francisco Solano López como mártir paraguaio.[23]

Essa visão revisionista, que ainda é ensinada na maior parte das escolas dos países latino-americanos, carece de qualquer tipo de provas concretas, dados ou evidências empíricas.[9][11][14][17][18]

Contudo, os efeitos da visão historiográfica revisionista do conflito foram impactantes, pois diversas gerações de latino-americanos (principalmente brasileiros, argentinos e uruguaios) vieram a observar seu passado de uma forma pessimista e a desprezarem os vultos históricos de seus países.[7] Tais efeitos foram sentidos sobretudo no Paraguai, onde, conforme anteriormente ressaltado, a versão revisionista foi assumida como doutrina oficial de Estado, ainda mais depois da transformação de Solano López em herói sem defeitos.[9][14] O historiador Francisco Doratioto esclarece o tema:[24]

Culpar a Grã-Bretanha pelo início do conflito satisfaz, nas décadas de 1960 a 1980, a distintos interesses políticos. Para alguns, tratava-se de mostrar a possibilidade de construir na América Latina um modelo de desenvolvimento econômico não dependente, apontando como um precedente o Estado paraguaio dos López. Acabaram, por negar essa possibilidade, na medida em que apresentaram a potência central - a Grã-Bretanha - como onipotente, capaz de impor e dispor de países periféricos, de modo a destruir qualquer tentativa de não-dependência. Como resultado, o leitor desavisado, ou os estudantes que aprenderam por essa cartilha, podem ter concluído que a história de nosso continente não se faz ou não se pode fazer aqui, pois os países centrais tudo decidem inapelavelmente. Os latino-americanos, nessa perspectiva, deixam de ser o sujeito de sua própria história, ou, de outro modo, vêem negado seu potencial de serem tais sujeitos.

Historiografia moderna (1990-)[editar | editar código-fonte]

Em que consistia a versão tradicional da historiografia brasileira acerca da Guerra do Paraguai

Disputas territoriais na região platina (1864).

Em 1990, o historiador Ricardo Salles publicou a obra Guerra do Paraguai: Escravidão e Cidadania na Formação do Exército onde apresentou uma análise sobre a historiografia tradicional e revisionista: "Se os estudos tradicionais sobre a guerra pecam por um excesso de oficialismo e factualismo, por sua vez, as versões revisionistas da história do conflito tendem a simplificações nem sempre embasadas em investigações mais profundas".[25] Esta obra foi uma das primeiras de uma nova geração de historiadores que buscavam analisar a Guerra do Paraguai.[26][27]

Os estudos realizados por estes profissionais revelaram que as causas do conflito não foram em razão de influência externa ou por uma pura e simples ambição de um único homem. Mas sim, uma série de fatores relacionados a formação como Estados-nações dos países participantes e dos processos geopolíticos e econômicos da região, resultante de heranças históricas, políticas e geográficas de duas culturas diferentes: portuguesa e espanhola.[11][28][29][30][31] O historiador Francisco Doratioto apresenta de maneira concisa esta nova visão sobre as causas do conflito:

A Guerra do Paraguai foi fruto das contradições platinas, tendo como razão última a consolidação dos Estados nacionais na região. Essas contradições se cristalizaram em torno da Guerra Civil uruguaia, iniciada com o apoio do governo argentino aos sublevados, na qual o Brasil interveio e o Paraguai também. Contudo, isso não significa que o conflito fosse a única saída para o difícil quadro regional. A guerra era umas das opções possíveis, que acabou por se concretizar, uma vez que interessava a todos os Estados envolvidos. Seus governantes, tendo por bases informações parciais ou falsas do contexto platino e do inimigo em potencial, anteviram um conflito rápido, no qual seus objetivos seriam alcançados com o menor custo possível. Aqui não há ‘bandidos’ ou ‘mocinhos’, como quer o revisionismo infantil, mas sim interesses. A guerra era vista por diferentes ópticas: para Solano López era a oportunidade de colocar seu país como potência regional e ter acesso ao mar pelo porto de Montevidéu, graças a aliança com os blancos uruguaios e os federalistas argentinos, representados por Urquiza; para Bartolomeu Mitre era a forma de consolidar o Estado centralizado argentino, eliminando os apoios externos aos federalistas, proporcionando pelos blancos e por Solano López; para os blancos, o apoio militar paraguaio contra argentinos e brasileiros viabilizaria impedir que seus dois vizinhos continuassem a intervir no Uruguai; para o Império, a guerra contra o Paraguai não era esperada, nem desejada, mas, iniciada, pensou-se que a vitória brasileira seria rápida e poria fim ao litígio fronteiriço entre os dois países e às ameaças à livre navegação, e permitira depor Solano López.
Dos erros de análise dos homens de Estado envolvidos nesses acontecimentos, o que maior conseqüência teve foi o de Solano López, pois seu país viu-se arrasado materialmente no final da guerra. E, recorde-se, foi ele o agressor, ao iniciar a guerra contra o Brasil e, em seguida, com a Argentina."[32]

Esta última corrente historiográfica é a que está sendo levada em conta pelos livros e obras mais recentes que tratam do assunto. Tal fato é proveniente do fato de que ao contrário das duas correntes anteriores não se trata de um estudo baseado somente em ideologias ou patriotismo, mas de um trabalho científico.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Historiografia tradicional[editar | editar código-fonte]

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Historiografia revisionista[editar | editar código-fonte]

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Notas

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  2. HERRERA, Luis Alberto de. El drama del 65: la culpa mitrista. 2 ed. [s.l.]: [s.n.], 1927.
  3. O´LEARY, Juan Emiliano. [1879-1969] El Mariscal Solano López. 3 ed. Asunción: Paraguay, 1970. [1ª ed 1922; 2ed 1925, corrigida e aumentada].
  4. G1. «Após 150 anos, estopim da Guerra do Paraguai ainda gera controvérsia». Consultado em 13 de dezembro de 2014
  5. RIVERA, Enrique. José Hernández y la Guerra del Paraguay. Buenos Aires:Colihue, 2007.; PEÑA, Milciades. La era de Mitre: de Caseros a la Guerra de la Triple Infamia. 3 ed. Buenos Aires: Fichas, 1975. p. 61.
  6. MAESTRI, Mário. A guerra no papel: história e historiografia da Guerra no Paraguai. (1844-1870). Porto Alegre : LCM Editora ; Passo Fundo, PPGH UPF, 2013. PP. 288-9. Guerra no Papel
  7. a b c d PEDROSA, J. F. Maya.A Catástrofe dos Erros. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2004, pg.16
  8. SALLES, Ricardo. Guerra do Paraguai: Memórias & Imagens. Rio de Janeiro: Bibilioteca Nacional, 2003, pg.13
  9. a b c d e f g h Cf. Ricardo Bonalume Neto em: Novas lições do Paraguai. Consulted in september 15, 2008.
  10. PEDROSA, J. F. Maya.A Catástrofe dos Erros. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2004, pg.14
  11. a b c d e SCHWARCZ, Lilia Moritz. As Barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, pg.301
  12. a b VAINFAS, Ronaldo, Dicionário do Brasil Imperial, Objetiva, 2002, pg.122
  13. CARVALHO, José Murilo de. D. Pedro II. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, pg.116
  14. a b c d e DORATIOTO, Francisco, Maldita Guerra, Companhia das Letras, 2002
  15. a b PEDROSA, J. F. Maya.A Catástrofe dos Erros. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2004, pg.15
  16. BARROSO, Gustavo. A Premeditação da Guerra do Paraguai. In: _______. Nos Bastidores da História do Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1955, p. 175;
  17. a b SALLES, Ricardo. Guerra do Paraguai: Memórias & Imagens. Rio de Janeiro: Bibilioteca Nacional, 2003, pg.14
  18. a b VAINFAS, Ronaldo, Dicionário do Brasil Imperial, Objetiva, 2002, pg.123
  19. CHIAVENATO, Júlio José. A Guerra contra o Paraguai.2. ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1993, pg. 36-37;
  20. HOBSBAWM, Eric J. A Era do Capital, 1848-1875. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996, pg. 119;
  21. a b Bethell, Leslie (agosto de 1995). «O imperialismo britânico e a Guerra do Paraguai». Estudos Avançados. 9 (24): 269–285. ISSN 0103-4014. doi:10.1590/S0103-40141995000200014
  22. PEDROSA, J. F. Maya.A Catástrofe dos Erros. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2004
  23. Senado Federal. «150 anos depois, guerra ainda é ferida aberta no Paraguai». Consultado em 4 de julho de 2020
  24. DORATIOTO, Francisco, Maldita Guerra, Companhia das Letras, 2002, pg.87 e 88
  25. PEDROSA, J. F. Maya.A Catástrofe dos Erros. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2004, pg.16 e 17
  26. PEDROSA, J. F. Maya.A Catástrofe dos Erros. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2004, pg.18
  27. SCHWARCZ, Lilia Moritz. As Barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, pg.301
  28. DORATIOTO, Francisco, Maldita Guerra, Companhia das Letras, 2002
  29. VAINFAS, Ronaldo, Dicionário do Brasil Imperial, Objetiva, 2002, pg.123
  30. CARVALHO, José Murilo de. D. Pedro II. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, pg.106
  31. SODRÉ, Nelson Werneck. Panorama do Segundo Império. 2. ed. Rio de Janeiro: GRAPHIA, 2004, pg.188
  32. DORATIOTO, Francisco, Maldita Guerra, Companhia das Letras, 2002, pg.95 e 96

Qual é a visão tradicional da historiografia brasileira sobre a Guerra do Paraguai?

A historiografia tradicional apontava a guerra única e exclusivamente como resultado da megalomania de Solano López, ditador do Paraguai, e desconsiderava uma série de eventos relevantes no contexto geopolítico da bacia platina.

Como os historiadores tradicionais avaliam a participação do Brasil na Guerra do Paraguai?

O Brasil lutou para defender o Mato Grosso (atual Mato Grosso do Sul), invadido pelo Paraguai. Para entender a guerra, porém, é essencial saber que estavam envolvidos dois blocos de países. De um lado, Brasil, Argentina e parte do Uruguai.

Qual é a visão da historiografia Paraguai para o conflito?

A Historiografia da Guerra do Paraguai sofreu mudanças profundas desde o desencadeamento do conflito. Durante e após a guerra, a historiografia dos países envolvidos, para muitos, limitou-se a explicar suas causas como devida apenas à ambição expansionista e desmedida de Solano López.

Qual é a versão da historiografia Paraguai?

Consideramos as quatro versões predominantes nessa historiografia, quais sejam: a versão que se deu logo após a guerra, versão esta propagada pelo exército brasileiro (a historiografia memorialístico-militar-patriótica); a historiografia propagada pelos positivistas ortodoxos; o revisionismo das décadas de 1960/70/80, ...