Clássico do Romantismo brasileiro, Lucíola retrata o amor entre Lúcia, cortesã de luxo, e Paulo no Rio de Janeiro do século XIX. No decorrer do livro acompanhamos a transformação (“purificação”) de Lúcia. O livro faz parte dos “perfis de mulheres” de Alencar (junto com Diva, A Pata da Gazela e Senhora). Na época, o romance foi bastante criticado por mostrar o problema social da prostituição, que era conhecido porém tratado com indiferença. Houve críticas também devido ao não uso do Português clássico. Lucíola é narrado em primeira pessoa por Paulo, sendo um relato de seu relacionamento com Lúcia que ele escreve a uma suposta senhora. Com isso, ele tem por objetivo mostrar que mesmo levando uma vida leviana é possível manter a nobreza da alma. Esse é um livro que não li quando devia (lá no ensino médio); na época julguei a leitura desnecessária devido a uma super aula explicativa a respeito do mesmo (apesar de ser uma leitora ávida desde a infância, claro que eu torcia o nariz para alguns livros de leitura obrigatória, como todo adolescente, imagino eu). Mas o interessante disso é que não me arrependo de não tê-lo lido então: essa leitura, hoje, me proporcionou um prazer que na época acredito que não teria sido igual. Adianto que não é um livro difícil ou enfadonho. A narrativa é gostosa e flui com facilidade, os personagens são envolventes (ainda que, muitas vezes, incompreensíveis em seus atos) e a história de amor entre os protagonistas é particularmente bela. Edição que li: traz um bom material de apoio didáticoO mais interessante neste romance urbano é notar as particularidades comportamentais da sociedade da época, além da hipocrisia e falso moralismo retratados. A preocupação com a reputação e a boa imagem perante a sociedade faz com que Paulo aja de forma contraditória, causando complicações e sofrimento à relação com Lúcia. Interiormente, Paulo mostra-se mesmo bem frágil no que diz respeito ao amor. Apesar de ser narrado por Paulo, percebemos que Lúcia demonstra ter consciência de seus atos e um constante sentimento de culpa que a atormenta. Nela, anjo e demônio vivem e dividem o mesmo espaço. O amor, através de Paulo, resgata sua pureza, sendo o agente de sua redenção. Apesar da maioria de nós conhecermos já o enredo e o final de Lucíola devido a certa familiaridade com a obra no período escolar, recomendo fortemente a leitura. Se você ignorou essa leitura na escola (como eu fiz), leia-a agora: considero um desperdício não ler algo de tamanha qualidade. E se você já leu a obra há alguns anos atrás, no ensino médio, leia-a novamente: certamente a leitura será feita sob um novo e mais prazeroso olhar. (Destaco em especial a edição que li – esta da capa logo acima, à direita – que, mesmo sendo meio velhinha, traz uma introdução bastante didática a respeito do momento histórico e do Romantismo, além de informações biográficas do autor. Também conta com notas de rodapé muito úteis durante a leitura.) Título / Título original: Lucíola Lucíola autor: José de Alencar movimento: Romantismo - Primeira Geração Por Natacha Bastos Graduada em Letras pela UFF
ResumoO livro Lucíola, de José de Alencar, é narrado através de Paulo, personagem que se torna narrador para contar à Sr.ª G.M. o romance que viveu com uma cortesã chamada Lúcia. Em 1855, Paulo chega ao Rio de Janeiro e vê pela primeira vez Lúcia. Sem conhecer sua verdadeira vida, apaixona-se à primeira vista, pois enxerga nela uma encantadora menina. Essa impressão desfaz-se na Festa da Glória, onde Sá, representante dos valores e preconceitos da sociedade, a apresenta como uma mulher bonita e não como uma senhora. A partir de então, Paulo começa a visitar Lúcia em sua casa. Na segunda visita, Paulo deixa de lado o tratamento cortês que até então fizera a Lúcia, agarra-a e acontece o primeiro contato físico. No dia seguinte, há uma festa na casa de Sá onde, além de Paulo e Lúcia, são convidados também homens boêmios, como Sr. Cunha, Rochinha, Sr. Couto e outras três prostitutas, entre elas Nina. Nessa festa, a cortesã exibe-se nua diante de todos. Paulo num primeiro momento teve uma repulsão por toda aquela cena. Porém, mostra-se piedoso e compreensivo e os dois tem uma noite na mata. Esse é o ponto que marca o início da transformação de Lúcia. Para Lúcia, Paulo é o caminho para chegar à salvação. Na tentativa de se afastar da sociedade e deixar definitivamente a vida de cortesã para trás, muda-se para uma casa mais simples no interior junto com sua irmã mais nova, Ana. Nesse momento, não existe mais o amor carnal entre Paulo e Lúcia. Há um amor espiritual – Lúcia chega até a fingir que estava doente para não mais haver contato. É nesse momento que conta o verdadeiro motivo que a levou à vida de cortesã – seu primeiro cliente foi Couto, pois sua família estava com febre amarela e sem recursos financeiros para o tratamento. Revela também que seu verdadeiro nome é Maria da Glória. Lúcia era uma antiga amiga dela que morreu e que tomou emprestado seu nome; sua família achava que estava morta. A redenção de Lúcia culmina com a descoberta de sua gravidez e não aceitação dela. Mesmo com o melhor parteiro afirmando que a criança em seu ventre estaria viva, Lúcia acredita que seu corpo é sujo e morto, e por isso não é capaz de gerar um filho. Morre, grávida. Paulo, atendendo a um pedido seu, cuida de Ana até que ela se case. ContextoSobre o autor Importância do livro Período histórico AnáliseA obra Lucíola se enquadra nos chamados romances urbanos de Alencar, onde o cotidiano e os costumes de uma sociedade burguesa são relatados. Na literatura desse momento, a figura principal do Romantismo deixa de ser o índio, a natureza, e passa a ser o povo, com suas mazelas e suas virtudes, procurando reafirmar o recente independente país. O narrador Paulo é também um dos personagens principais. Porém, a obra peculiar de Alencar possui um narrador que não apresenta uma visão crítica em relação aos acontecimentos. Ao decorrer da narração, Paulo parece reviver a emoção dos momentos que teve com Lúcia. A narração feita em primeira pessoa torna-se assim limitada, uma vez que parte sob a perspectiva pessoal de Paulo. Ou seja, não há o distanciamento dos fatos enquanto narrador. Além disso, como estratégia do autor, a história entre Lúcia e Paulo é contada através de uma carta entregue à senhora G.M. para que Paulo não levasse a culpa de publicar o romance e ser mal visto por se envolver com uma cortesã, diante de uma sociedade preconceituosa. Ele também se revela preconceituoso, pois se recusa a contar a sua história. De outro lado, há Lúcia. A Cortesã é cobiçada pela sua beleza e vive numa sociedade que a julga preconceituosamente, até encontrar Paulo, o único capaz de enxergar além das aparências. Já no primeiro encontro, Lúcia diz que ele a purificou com seu olhar e, a partir das visitas de Paulo, ela se distancia cada vez mais da vida de cortesã e se reaproxima de sua origem, enquanto Maria da Glória. Nessa dualidade de Lúcia, podemos enxergar a dicotomia entre os valores cristãos, de pureza, calma, bondade, e os valores do mundo da libertinagem. A personagem busca a autopiedade e o esquecimento do seu passado, porém não consegue, uma vez que a sociedade não perdoa seus atos. Sendo assim, não existiria alternativa para o desfecho e salvação de Lúcia, a não ser a morte. PersonagensLúcia: cortesã rica que é conhecida por todos como bela e excêntrica. Maria da Glória é seu nome de batismo. Ao decorrer do livro, busca seu autoperdão através do amor que tem com Paulo. Apesar disso, não consegue o perdão diante da sociedade do seu passado de cortesã. Morre no final, grávida. Paulo: confuso entre o sentimento por Lúcia e os preconceitos que há na sociedade. Ao longo do livro também sofre uma transformação; passa de um homem boêmio a um homem de negócios. Escreve uma carta à senhora G.M. contando sua história com Lúcia. Sá: amigo de infância de Paulo e ex-amante de Lúcia, ele quem apresenta os dois. Milionário e solteiro, é o típico homem burguês. Dá festas em sua casa e representa o preconceito da sociedade burguesa diante da impossibilidade de haver perdão aos atos de Lúcia. Cunha: amigo de Paulo e ex-amante de Lúcia. Ela o deixou no dia em que viu sua mulher sozinha, triste. Couto: foi o primeiro cliente de Lúcia. Responsável por oferecer dinheiro a ela, em troca de favores sexuais, quando Lúcia tinha apenas 14 anos. Rochinha: na roda de amigos boêmios, é o mais novo, com 17 anos, e o mais inexperiente. Porém, tem uma vida irrigada por bebidas alcoólicas. Laura: uma das prostitutas que participaram da festa na casa de Sá. Nina: uma prostituta que se interessou por Paulo, com quem chegou até a marcar um encontro, que não acontece. Jesuína: Quando Lúcia foi expulsa de casa por seus pais, foi morar com Jesuína. Mais tarde, ela aparece como suposta enfermeira na casa de Lúcia. Ana: Com 12 anos e irmã mais nova de Lúcia, vai morar com ela no interior. Possui traços muitos semelhantes aos de Lúcia. Quando Lúcia falece, fica sob responsabilidade de Paulo, e no final do livro casa-se. AutorJosé de Alencar 01 de Maio de 1829 12 de Dezembro de 1877 (48 anos) ver página do autor Qual a mensagem do livro Lucíola?José de Alencar constrói, nesse romance urbano, a purificação da alma de Lucíola. Os seus erros do passado não são perdoados no amor romântico, por isso ela não pode ser feliz. O livro também faz uma crítica contra o preconceito.
Qual o tema central desenvolvido por Alencar em Lucíola?Exaltação do amor – Em Lucíola, a temática central está exatamente na exaltação do amor como força purificadora, capaz de transformar uma prostituta numa amante sincera e fiel.
O que acontece no livro Lucíola?Ao se apaixonar por Lúcia, Paulo carregará o preconceito e terá que enfrentar a si mesmo para se reconhecer impressionado e apaixonado pela meretriz. A jovem poderá reconquistar sua antiga inocência e se purificar por meio de ser mãe, engravidando de Paulo, e seguido através da morte juntamente com seu filho no ventre.
Que tema foi abordado no romance Lucíola?Considerado um romance urbano, a obra retrata e critica os costumes burgueses. Além disso, marca o início da trilogia conhecida como “Perfis de Mulher”, da qual também fazem parte as obras Diva (1864) e Senhora (1875).
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