Por que ocorrem movimentos de massa em encostas de que forma a ação humana agrava esse processo e quais são as consequências dele para a sociedade?

Por que ocorrem movimentos de massa em encostas de que forma a ação humana agrava esse processo e quais são as consequências dele para a sociedade?
Constatação é de trabalho de pesquisadores do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, feito a partir de deslizamentos em Campos do Jordão (foto: MCTIC)

Ação humana nas encostas é a maior causa de deslizamentos

23 de março de 2018

Agência FAPESP – De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), as alterações no meio ambiente provocadas pela ação humana, em terrenos urbanos com declives e encostas, foram as principais causas que provocaram deslizamentos no município de Campos do Jordão em 2000.

A conclusão é de um trabalho realizado por pesquisadores do Cemaden, publicado na Natural Hazards and Earth System Sciences. Os autores são Rodolfo Mendes, Márcio Roberto Andrade, Javier Tomasella, Márcio Augusto E. de Moraes e Graziela Scofield.

Segundo o Cemaden, a pesquisa demonstrou que a ação isolada dos fatores naturais – ou seja, chuvas de alta intensidade, condições geológicas-geotécnicas e geomorfológicas dos terrenos – não foram suficientes para desencadear deslizamentos de terra na área de estudo. Os resultados da pesquisa apontam que a ação humana desempenhou um papel preponderante na deflagração dos eventos de deslizamento naquele ano em Campos do Jordão.

O objetivo do estudo foi avaliar a contribuição relativa dos fatores naturais e humanos para desencadear deslizamentos de terra. O evento em 2000 provocou a morte de 10 pessoas e impactos socioeconômicos e de infraestrutura no município.

Foi realizado um levantamento geotécnico detalhado em três perfis de solo representativos da área, obtendo os parâmetros geotécnicos necessários para a análise de fluxo e estabilidade das encostas. Em seguida, foram feitas análises com modelagem numérica, utilizando o software Geo-Slope, o qual permite analisar a quantidade de água que infiltra nos terrenos e a estabilidade das encostas devido a essa infiltração.

“Os resultados da pesquisa apontam que as interferências humanas nas encostas urbanas são típicas das áreas de risco no Brasil. Concluímos a urgente necessidade de implementação de políticas públicas para restringir a ocupação de áreas com risco de deslizamentos de terra”, disse Mendes, coordenador da pesquisa.

Em 2017, a equipe de Geodinâmica do Cemaden publicou trabalho sobre outro deslizamento, ocorrido em 2016 em São José dos Campos. Nesse estudo também foram avaliadas as interferências humanas nos terrenos como causa principal dos deslizamentos induzidos em encostas urbanas (leia mais em www.cemaden.gov.br/pesquisas-do-cemaden-apontam-fatores-deflagradores-de-deslizamentos-e-o-monitoramento-mais-eficaz/).

“As chuvas associadas aos cortes verticais excessivos nas encostas, vazamentos pontuais em tubulações ou caixas d’água e infiltração de água servida [esgotos domésticos, fossas negras etc.] – além da sobrecarga no topo da encosta cortada pela ação humana – são os fatores indutores mais comuns encontrados nas áreas de risco de deslizamentos no Brasil”, disse Mendes.

Para o monitoramento das áreas de risco de deslizamentos, o pesquisador explica que o sistema de alerta antecipado exige um modelo matemático com dados do monitoramento da chuva associados à umidade do solo, integrado às informações sobre a situação da área alterada pela ação humana.

“Todos esses fatores e informações possibilitarão fornecer os indicativos dos momentos críticos para o início dos deslizamentos, aprimorando a emissão do alerta”, disse Mendes.

O artigo Understanding shallow landslides in Campos do Jordão municipality – Brazil: disentangling the anthropic effects from natural causes in the disaster of 2000 (doi: https://doi.org/10.5194/nhess-18-15-2018), de Rodolfo M. Mendes, Márcio Roberto M. de Andrade, Javier Tomasella, Márcio Augusto E. de Moraes e Graziela B. Scofield, pode ser lido em www.nat-hazards-earth-syst-sci.net/18/15/2018/.
 

  Republicar

MOVIMENTOS DE MASSA

Assim como todos os corpos, o regolito e todo material desagregado da rocha, devido ao intemperismo da rocha matriz, sofrem uma ação continua da gravidade. Enquanto a rocha que não sofreu intemperismo se torna resistente a essa ação constante, o regolito e o material desagregado são mais suscetíveis à gravidade. Quando ocorre movimento desses materiais em direção a partes mais baixas, dar-se o nome de Movimento de Massa.   

Devido a essa constante ação da gravidade sobre esse sistema, as encostas estão em constante evolução. O material que é retirado do topo da montanha é removido a partes mais baixas. Esse movimento pode ser rápido ou devagar (sutil) dependendo das condicionantes da formação das encostas. Quando um material é retirado do ponto original, é transportado e fica em repouso em outro ponto, chamamos esse fenômeno de Erosão (Guerra, A. J, 2003).

A água das chuvas é o principal fator de erosão e intemperismo nas encostas. A erosão pluvial provoca desde uma erosão na escala de partículas, a uma escala de encosta ( ravinas e voçorocas). As ravinas e as voçorocas contribuem muito para o movimento de massa nas encostas, devido a um escoamento superficial em lençol que ao longo do tempo da chuva se concentram em filetes de água, formando sulcos, que são chamados de ravinas, que no decorrer do tempo e com a ajuda do escoamento subsuperficial que chegando ao lençol freático, provoca a voçoroca.   

São diversas as variáveis que determinam se uma encosta é estável ou instável: o ângulo de repouso, a natureza do material na encosta, a quantidade de água infiltrada nos materiais, a inclinação da encosta e presença de vegetação. Esses fatores são condicionantes e dirão através de observação e monitoramento se a encosta tem risco de sofrer movimento. Entretanto, nem sempre a água é o fator detonador do movimento e sim que o torna mais avassalador: 

       “Nos movimentos de massa ocorre um  movimento coletivo do solo e/ou rocha, onde a gravidade/declividade possui um papel significativo. A água pode tornar ainda mais catastrófico, mas não é necessariamente o principal agente desse processo” (Cunha e Guerra, 2008)

Há vários tipos de movimento de massa, segundo Guerra (2008), dos quais destacamos:

1. Corridas – “São movimentos rápidos onde os materiais se comportam como fluidos altamente viscosos. Elas estão associadas com a grande concentração de água superficial.”

2. Escorregamentos – “Caracterizam-se como movimentos rápidos de curta duração, com planos bem definidos. São feições longas, podendo apresentar uma relação 10:1, comprimento – largura. Podem ser divididos em dois tipos:

2.a Translacionais: Representam a forma mais frequente entre os tipos de movimento de massa, possuindo superfície de ruptura com forma planar, a qual acompanha, de modo geral, descontinuidades mecânicas e/ou hidrológicas existentes no interior do material.

3. Quedas de blocos – São movimentos rápidos de blocos e/ou lascas de rocha que caem pela ação da gravidade, sem a presença de uma superfície de deslizamento, na forma de queda livre. Existe ainda uma categoria denominada rastejamento que (Hansen, 1984) descreve como sendo definida basicamente pela sua velocidade, devido à natureza lenta do movimento.

Referências bibliográficas

GUERRA, A.T. Novo Dicionário Geológico-geomorfológico / 3ª edição, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2003.

CUNHA, Sandra Baptista da & GUERRA, A.J.T. - A questão ambiental: Diferentes abordagens. 4ª edição, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2008.

Hansen, M.J. Strategies for classification of landslides. In Slope Instability. 1984, pp. 1 - 25 

Por que ocorrem movimentos de massa em encostas explique de que forma a ação humana agrava esse processo e quais são as consequências deles para a sociedade?

Os diversos tipos de movimentos acontecem devido à estrutura geológica das encostas, os materiais envolvidos no processo e a morfologia do terreno. As causas mais frequentes que aceleram o efeito dos movimentos são antrópicas, como retirada da vegetação, o acúmulo de lixo, bem como os aterros e cortes nestas encostas.

Quais as consequências dos movimentos de massa?

Os movimentos de massa constituem, juntamente com as enchentes, um dos desastres que apresenta o maior grau de recorrência em todo o mundo e, portanto, são causadores de danos e prejuízos às sociedades, particularmente em cidades densamente povoadas em zonas de relevo acidentado.

Por que ocorrem os movimentos de massa?

Eles ocorrem, na maioria dos casos, em função da ação da água que, em grandes quantidades, torna-se responsável por encharcar os solos e desprender a superfície de sua base, fazendo que ela desça ladeira abaixo.

Porque as encostas são mais suscetiveis aos movimentos de massa?

O Brasil é considerado muito suscetível aos movimentos de massa devido às condições climáticas marcadas por verões de chuvas intensas em regiões de grandes maciços montanhosos (i).