Durante o processo de independência em outros lugares, milhares de pessoas morreram. No Brasil, muitos acreditam que foi pacífico. É verdade? Show
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O senso comum diz que a independência do Brasil aconteceu de forma pacífica, sem o derramamento de uma gota de sangue sequer. O quadro A Proclamação da Independência, de François-René Moreau (abaixo), retrata o imaginário dos brasileiros: a separação de Portugal teria sido conquistada em um gesto minimalista de Dom Pedro I. Crédito: Wikimedia CommonsCompare com o resto do continente: nos Estados Unidos, a Guerra de Independência durou mais de oito anos (1775-1783), causou mais de 150 mil mortes, apenas entre militares. Na América Espanhola, a partir de 1808, as campanhas de Simón Bolívar e José de San Martín contaram com forte resistência da Espanha – e terminaram com a fragmentação do território em países que entrariam em guerra entre si. O fato, porém, é que Dom Pedro não foi o primeiro a tentar a independência. E, em todas as outras tentativas, o resultado foi, sim, sangrento. Primeiro vieram a Inconfidência Mineira, em 1789, e a Conjuração Baiana, em 1798. Ambas não conseguiram superar a fase conspiratória, mas foram reprimidas e tiveram seus líderes executados. Antes que mais revoltas acontecessem, contudo, ocorreu algo insólito: o Brasil ganhou muito mais que a independência. Tornou-se a capital de Portugal. Com a fuga da corte portuguesa para o Rio de Janeiro, as ordens passaram a partir da colônia para a metrópole, num caso único no mundo. Mas isso não satisfez os desejos de todos os brasileiros. Em 1817, Pernambuco entrou em insurreição. Insatisfeitos com os impostos estabelecidos no Brasil a partir da chegada da corte portuguesa e com a grande quantidade de portugueses nos cargos públicos, os cidadãos mais ricos e influentes da capitania de Pernambuco dominaram Recife e implantaram um governo republicano. Dom João VI, com receio de que a revolta se ampliasse para as outras províncias, organizou uma forte repressão contra os revoltosos. Os conflitos duraram 75 dias e terminaram com a derrota dos pernambucanos – aqueles que não morreram em combate foram presos e condenados à morte. Dom João VI em pintura oficial / Crédito: Wikimedia CommonsEm 1822, havia chegado a hora. Mas uma hora muito diferente das outras. Dom Pedro, príncipe regente desde o retorno de Dom João VI a Portugal, no ano anterior, desagradava as cortes portuguesas, que desejavam a volta do antigo pacto colonial. Enquanto isso, muitos dos brasileiros mais poderosos perceberam que as cortes ameaçavam os benefícios conquistados – particularmente os comerciais, com a abertura dos portos – e passaram a apoiar a supressão total da influência portuguesa. Pressionado, Dom Pedro rejeitou a ordem de voltar a Portugal, em janeiro, e proclamou a independência em 7 de setembro. Mas aí havia um empecilho: várias províncias continuavam a ser comandadas por governantes portugueses, que não aceitaram a separação e expressaram sua fidelidade à Metrópole. Independência e morte Ao final das contas, o Brasil não teve Guerra de Independência, mas guerras. Entre 1822 e 1825, diversos conflitos ocorreram em todo o território nacional, principalmente nas províncias do Grão-Pará, Bahia, Maranhão, Cisplatina e Piauí, onde havia maior concentração de tropas do Exército português. Esse forte movimento de resistência era organizado por comerciantes ligados a Portugal e militares portugueses que viviam no Brasil. Dom Pedro I precisou formar milícias e contratar militares ingleses e franceses, como Lord Cochrane e Pierre Labatut, para combater nas Guerras de Independência. Também lutaram como voluntários homens livres, escravos e negros libertos. Uma das maiores guerras de independência, o conflito na Bahia teve início antes mesmo do 7 de setembro. A luta armada no Recôncavo Baiano havia começado em fevereiro de 1822, quando os baianos descobriram que seriam governados por um general português, Ignácio Luiz Madeira de Melo. Em 8 de novembro de 1822 aconteceu a maior batalha da independência, a de Pirajá, que movimentou mais de 4 mil homens. Os conflitos entre a população e os soldados portugueses só terminaram em 2 de julho de 1823, quando as tropas brasileiras conseguiram conter os lusitanos – a separação de Portugal só foi reconhecida nessa data, que permanece como o dia oficial da independência para os baianos. Na província do Grão-Pará, a chegada do governante português José Maria de Moura, em abril de 1823, provocou revoltas que foram reprimidas com violência pelas tropas portuguesas. Brasileiros independentistas eram perseguidos e revidavam com mais violência. André Roberto Arruda Machado, doutor em História Social pela Universidade de São Paulo, comenta: “O processo histórico da incorporação da província do Grão-Pará ao Império do Brasil logo chamou a atenção pela intensidade dos conflitos, inclusive armados, que marcaram esse período de forma tão violenta”. Conflitos menores foram sufocados pelo governo brasileiro nas províncias do Maranhão, Piauí, Alagoas, Sergipe, Ceará e Cisplatina, e o Brasil, enfim, conquistou sua unidade territorial, reconhecida por Portugal em 1825. A independência do Brasil foi relativamente pacífica no Sudeste, o centro do poder – e também onde se registrava a história, de forma que essa foi a imagem a ficar no pensamento popular. No total, os combates nesse processo causaram mais de 3 mil mortes. Para Arruda Machado, as Guerras de Independência no Brasil mostram que devemos repensar “a tese de que a formação do Estado brasileiro se resolveu através de um simples e pouco traumático acordo”. ++Saiba mais sobre o tema por meio das obras disponíveis na Amazon Brasil: D. Pedro - A História não Contada, Paulo Rezzutti (2015) - https://amzn.to/2pVX2Da Discurso de Dom Pedro I recitado na abertura da Assembéia Geral Constituinte e Legislativa a 3 de maio de 1823, de Frei Caneca - https://amzn.to/2QackQ0 Pedro I, de Isabel Lustosa - https://amzn.to/2Qbk3NJ Imperador cidadão: e a Construção do Brasil, de Roderick J. Barman - https://amzn.to/33vl4UK 1822: Como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram dom Pedro a criar o Brasil - um país que tinha tudo para dar errado, Laurentino Gomes (2015) - https://amzn.to/3aS0DFj Vale lembrar que os preços e a quantidade disponível dos produtos condizem com os da data da publicação deste post. Além disso, a Aventuras na História pode ganhar uma parcela das vendas ou outro tipo de compensação pelos links nesta página. 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Por que os portugueses não queriam aceitar a independência do Brasil?Além disso, a relação azedava também porque os portugueses tratavam os representantes brasileiros que iam a Portugal para negociar com desdém. Quando os portugueses exigiram o retorno do princípe a Portugal, foi organizado um movimento de resistência contra a medida. Porque os portugueses não queria aceitar a independência do Brasil?Principais acontecimentos da independência do Brasil
Além disso, a relação azedava também porque os portugueses tratavam os representantes brasileiros que iam a Portugal para negociar com desdém. Quando os portugueses exigiram o retorno do princípe a Portugal, foi organizado um movimento de resistência contra a medida.
O que os portugueses fizeram Pará tentar impedir a independência?Estratégias iniciais. A influência de Portugal sobre o Brasil era mantida pelas guarnições em portos estratégicos. Parte da estratégia portuguesa para retomar o controle do Brasil e impedir a independência de sua colônia mais importante era recuar as tropas em Montevidéu e usá-las para reforçar as guarnições na Bahia.
Por que a independência não foi aceita em alguns lugares do Brasil?As províncias do Norte, formadas pelo Maranhão, Piauí e pelo Grão-Pará, estavam mais ligadas a Portugal do que às províncias do Sul. Assim, quando foi proclamada a Independência, preferiram se manter fiéis às Cortes de Lisboa.
Como Portugal reagiu a independência do Brasil?No dia 29 de agosto de 1825, o Tratado de Paz e Aliança finalmente oficializou o reconhecimento lusitano. Segundo esse acordo, o governo brasileiro deveria pagar uma indenização de dois milhões de libras esterlinas para que Portugal aceitasse a independência do Brasil.
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