1. Introdu��o Show
Durante muito tempo o treinamento resistido, tamb�m conhecido como muscula��o, foi desaconselhado e contra-indicado para indiv�duos portadores de diversas cardiopatias, pelo fato de, durante a execu��o dessa modalidade de exerc�cios, a freq��ncia card�aca e a press�o arterial poderia sofrer uma eleva��o exacerbada (26) o que representaria um risco potencial para o rompimento de aneurismas cerebrais preexistentes (21). No entanto, o baixo �ndice de acidentes cardiovasculares durante os exerc�cios resistidos (18), e um melhor conhecimento da fisiologia do exerc�cio por parte dos profissionais da �rea de sa�de pode trazer uma maior tranq�ilidade quanto � utiliza��o dos exerc�cios resistidos em diversas popula��es. Assim, essa atividade passou a ser considerada adequada e aconselhada a v�rios grupos de indiv�duos, como idosos (22, 7, 1), portadores de doen�a cardiovascular (45, 36) e adultos saud�veis (2, 20). Considerando os ganhos musculoesquel�ticos provocados por esses exerc�cios (14), o interesse por parte de muitos estudiosos em esclarecer melhor a import�ncia dos exerc�cios resistidos nas cardiopatias vem crescendo expressivamente. O fato de os exerc�cios resistidos poderem induzir um grande aumento na press�o arterial e freq��ncia card�aca durante a execu��o de exerc�cios com carga m�xima talvez explique o conceito equivocado que alguns profissionais de sa�de ainda t�m no sentido de que o treinamento resistido seria uma atividade de alto risco cardiovascular. Em vista do exposto, esta revis�o bibliogr�fica discute quest�es pertinentes �s adapta��es agudas e cr�nicas dos exerc�cios resistidos no sistema cardiovascular, procurando desmistificar algumas concep��es equivocadas de que os exerc�cios resistidos s�o hemodinamicamente perigosos. 2. Adapta��es fisiol�gicas e exerc�cio f�sico A adapta��o � um fen�meno biol�gico fundamental que tem grande relev�ncia pr�tica nas atividades f�sicas e no esporte. Nesse sentido, o treinamento f�sico regular provoca uma s�rie de est�mulos que produzem modifica��es e adapta��es estruturais e funcionais (44). As adapta��es (respostas) fisiol�gicas do exerc�cio f�sico s�o decorrentes do processo de treinamento f�sico e podem ser de ordem aguda ou cr�nica. As adapta��es agudas, tamb�m denominadas �respostas agudas�, s�o aquelas que ocorrem em associa��o direta com a sess�o de exerc�cio e podem ser subdivididas em imediatas ou tardias (3). As respostas agudas imediatas s�o as que ocorrem nos per�odos pr�-imediato e p�s-imediato r�pido, at� alguns minutos ap�s o t�rmino do exerc�cio (3), como aseleva��es na freq��ncia card�aca, na press�o arterial e na temperatura corporal. J� as adapta��es agudas tardias s�o aquelas observadas ao longo das primeiras 24 ou 48 horas, �s vezes at� 72 horas, ap�s uma sess�o de exerc�cios e podem ser exemplificadas pelas redu��es nos n�veis tencionais e pelo aumento da sensibilidade insul�nica (3). As adapta��es cr�nicas s�o aquelas que resultam da exposi��o sistem�tica a sess�es de exerc�cios, representando as altera��esmorfofuncionais que diferenciam um indiv�duo fisicamente treinado de um n�o treinado. Por sua vez, as adapta��es cr�nicas s�o bem representadas pela bradicardia de repouso, hipertrofia muscular e eleva��o da pot�ncia aer�bia (3, 44). As respostas adaptativas alcan�adas com os est�mulos oferecidos pelo processo de treinamento f�sico recebem as caracter�sticas do tipo de exerc�cio sistematicamente utilizado nos treinos. Nesse contexto, podem-se caracterizar os exerc�cios f�sicos em dois tipos distintos, ou seja, exerc�cios din�micos ou isot�nicos (contra��o muscular, seguida de movimento articular) e est�ticos ou isom�tricos (contra��o muscular, sem movimento articular), cada um implicando respostas cardiovasculares distintas (15). Desse modo, cada exerc�cio determina o grau de atividade dos v�rios �rg�os, dos diferentes tipos de m�sculos e unidades motoras utilizadas na execu��o do movimento (46). Apesar de as respostas fisiol�gicas aos exerc�cios din�micos e est�ticos serem caracterizadas de forma distinta quando se realiza uma s�rie de exerc�cios resistidos de alta intensidade, esses s�o executados de forma que os exerc�cios din�micos possam apresentar um componente isom�trico bastante elevado, de modo que as respostas cardiovasculares durante sua execu��o se assemelhem �quelas observadas nos exerc�cios est�ticos (10). Dessa forma, as adapta��es cardiovasculares ao treinamento aer�bio s�o diferentes das adapta��es ao treinamento resistido. Em geral, essas diferen�as s�o causadas pela necessidade de bombear uma grande quantidade de sangue a uma press�o relativamente baixa no caso dos exerc�cios aer�bios, ao passo que durante os exerc�cios resistidos uma quantidade relativamente pequena de sangue � bombeada a uma press�o alta (14). Assim, para suprir a nova demanda metab�lica e manter a homeostasia, v�rias adapta��es fisiol�gicas nos sistemas corporais e, em particular, no cardiovascular s�o necess�rias. 3. Adapta��es agudas do treinamento resistido no sistema cardiovascular Durante a execu��o de uma s�rie de exerc�cios resistidos, a press�o arterial aumenta substancialmente (34), podendo alcan�ar cifras de 320/250 mil�metros de merc�rio (mmHg) para press�o arterial sist�lica e diast�lica, respectivamente, durante exerc�cios realizados com a��es musculares volunt�rias m�ximas, ou seja, intensidade m�xima (26). Por outro lado, essas cifras exorbitantes n�o foram encontradas durante a execu��o de exerc�cios resistidos com intensidades subm�ximas (33, 30, 31). Os n�veis elevados de press�o arterial encontrados em estudos com fisiculturistas nos quais os exerc�cios foram realizados at� o ponto de fal�ncia, ou seja, com a��es musculares volunt�rias m�ximas (26), n�o podem ser equiparados aos resultados encontrados em outras popula��es que realizaram exerc�cios subm�ximos (33, 30, 31). A esse respeito, em estudo realizado por Meyer et al. (31) em pacientes com insufici�ncia card�aca, que realizaram exerc�cios no leg press, com carga relativa a 60% e 80% de uma repeti��o m�xima, as respostas press�ricas foram de 144 mmHg (sist�lica) e 71 mmHg (diast�lica), durante 60% de uma repeti��o m�xima, e 145 mmHg (sist�lica) e 69 mmHg (diast�lica), durante 80% de uma repeti��o m�xima. De forma semelhante, por�m com carga relativa a 70% de uma repeti��o m�xima, Mckelvie el al. (30) obtiveram os resultados de 189/98 mmHg para as press�es arteriais sist�lica e diast�lica, respectivamente. A eleva��o da press�o arterial est� provavelmente relacionada ao aumento do d�bito card�aco, aumento das press�es intra-abdominal e intrator�cica e ao aumento acentuado da press�o intramuscular que ocorre durante o esfor�o contr�til (12). Esse aumento da press�o intramuscular promove uma diminui��o acentuada ou, at� mesmo, uma obstru��o do fluxo sang��neo, em raz�o do bloqueio mec�nico imposto pela massa muscular contra�da (26). No entanto, o aumento repentino da press�o arterial durante a contra��o muscular pode tamb�m estar relacionado � realiza��o da manobra de valsava que normalmente acompanha as contra��es musculares intensas (13, 26). Conseq�entemente, as maiores press�es arteriais s�o alcan�adas com s�ries longas, levadas at� exaust�o, o que permite que ocorram todos os fatores que contribuem para um aumento da press�o arterial e da freq��ncia card�aca, (26, 13), ao passo que as s�ries realizadas em intensidades subm�ximas s�o insuficientes em dura��o e intensidade para aumentar exacerbadamente a press�o arterial e a freq��ncia card�aca. Em rela��o �s respostas press�ricas imediatas, MacDougall et al. (26) constataram que, durante uma s�rie de exerc�cios resistidos, em contra��o volunt�ria m�xima at� a exaust�o, ocorrem picos press�ricos durante a contra��o conc�ntrica que provocam uma eleva��o extrema das press�es arteriais sist�lica e diast�lica (Figura 1). Por�m, imediatamente ap�s a �ltima repeti��o, a press�o arterial sist�lica e a diast�lica declinam rapidamente, abaixo dos valores pr�-exerc�cio, retornando ao normal ap�s � 10 segundos do t�rmino do exerc�cio. A r�pida queda da press�o arterial imediatamente ap�s o exerc�cio � causada, provavelmente, pela s�bita perfus�o do fluxo sang��neo, que permanecera previamente oclu�do. Nessa mesma linha de racioc�nio, Fleck e Dean (13), procurando ilustrar a influ�ncia do grau de treinamento nas respostas cardiovasculares imediatas de um grupo de fisiculturistas, comparando-o com um grupo de iniciantes e um grupo de sedent�rios, descobriram que a experi�ncia de treinamento pode diminuir as respostas press�ricas e a freq��ncia card�aca durante o treinamento. Portanto, as respostas m�ximas da freq��ncia card�aca e press�es arteriais sist�lica e diast�lica foram menores nos fisiculturistas que nos outros grupos para a mesma carga relativa. Pode-se especular ent�o, que o treinamento pr�vio tem um car�ter preventivo, reduzindo os valores press�ricos extremos observados nos exerc�cios com cargas m�ximas (14). Notavelmente, n�veis elevados de press�o arterial s�o acompanhados por um progressivo aumento na freq��ncia card�aca, que pode alcan�ar os n�veis de 166 bpm (batimentos por minuto) (26), 160 bpm (34) em exerc�cios resistidos realizados com intensidades m�ximas. Em contrapartida, em exerc�cios resistidos realizados com intensidades subm�ximas, as respostas da freq��ncia card�aca n�o alcan�am n�veis t�o altos, ou seja, 86 bpm, como verificado por Mckelvie et al. (30), e 90 bpm, relatado nos estudos de Meyer et al. (31). Na realiza��o de exerc�cios com componentes est�ticos, a obstru��o do fluxo sang��neo leva a que os metab�licos produzidos durante a contra��o se acumulem, ativando quimiorreceptores musculares, os quais promovem aumento expressivo da atividade nervosa simp�tica, ocasionando um aumento da freq��ncia card�aca (10). Dessa forma, o d�bito card�aco sofre pequenos aumentos, que se devem � eleva��o da freq��ncia card�aca, n�o do volume sist�lico (26). A respeito, � interessante ressaltar que, nos exerc�cios com componentes est�ticos, a magnitude das respostas cardiovasculares � influenciada pela intensidade do exerc�cio, pela dura��o e massa muscular envolvida (15). Em contrapartida, nos exerc�cios com componente din�mico (isot�nico), como as contra��es s�o seguidas de movimentos articulares, n�o existe obstru��o mec�nica do fluxo sangu�neo, de modo que, nesse tipo de exerc�cio, tamb�m se observa aumento da atividade nervosa simp�tica, que � desencadeada pela ativa��o do comando central, mecanorreceptores musculares e, dependendo da intensidade do exerc�cio, metaborreceptores musculares (15) Nesse sentido, pode-se dizer que os exerc�cios resistidos realizados com intensidade m�xima apresentam uma freq��ncia card�aca e uma press�o arterial mais elevada do que os exerc�cios resistidos com intensidades subm�ximas, por possu�rem um componente est�tico maior. Diferentemente do que ocorre com a press�o arterial, durante toda a s�rie de exerc�cios resistidos realizados em contra��o volunt�ria m�xima a freq��ncia card�aca permanece elevada tanto nas contra��es conc�ntricas como nas contra��es exc�ntricas (Figura 1) (26). Figura 1. Comportamento da press�o arterial media e da freq��ncia card�aca durante a execu��o de uma s�rie no leg press a 95% da carga volunt�ria m�xima. (MacDougall et al, 1985)
As redu��es na press�o arterial para valores abaixo dos n�veis de controle (pr�-exerc�cio) ap�s o t�rmino do exerc�cio f�sico s�o denominadas efeito hipotensivo p�s-exerc�cio. Por sua vez, as respostas press�ricas p�s-exerc�cio resistido apresentam resultados conflitantes, bem como os seus mecanismos de regula��o permanecem ainda pouco estudados. Nesse contexto, os estudos que investigam as adapta��es agudas p�s-exerc�cios resistidos sobre a press�o arterial t�m constatado aumento (16, 8, 32, 38), manuten��o (42, 32, 16) e at� redu��o da press�o arterial (37, 40, 41 43, 11, 5) ap�s a realiza��o de uma �nica sess�o de exerc�cios resistidos. O aumento da press�o arterial sist�lica � observado imediatamente ap�s a realiza��o de uma se��o de exerc�cios resistidos com intensidades elevadas (38, 32, 16). Tentando ilustrar essa situa��o, O`Connor et al. (32) compararam tr�s sess�es, realizadas a 40, 60 e 80% de dez repeti��es m�ximas (10RM), demonstrando que a press�o arterial sist�lica elevou-se logo ap�s as sess�es realizadas a 60 e 80% de 10RM, o que perdurou por at� 1 minuto (min) ap�s o t�rmino da sess�o com carga referente a 60% de 10RM e at� 15 min ap�s o t�rmino da sess�o com carga referente a 80% de 10RM. Considerando as observa��es de O`Connor et al. (32) pode-se inferir que a eleva��o da press�o arterial sist�lica imediatamente ap�s o t�rmino do exerc�cio pode estar relacionada � intensidade do exerc�cio. Em contraposi��o, Brown et al. (8) observaram que a press�o arterial sist�lica permaneceu elevada ap�s uma sess�o de exerc�cios resistidos realizada com carga referente a 40 e 70% de uma repeti��o m�xima (1RM), o que perdurou at� 5 min ap�s o t�rmino de ambas as sess�es. Percebe-se, ent�o, que a magnitude da eleva��o da press�o arterial sist�lica pode estar relacionada com a intensidade do exerc�cio. Os maiores per�odos em que a press�o arterial sist�lica permaneceu elevada foram relatados com intensidades correspondentes a 80% de 10RM (15 minutos de eleva��o da press�o arterial sist�lica) (32) e 80% de 1RM (20 minutos de eleva��o da press�o arterial sist�lica) (16). Com rela��o ao efeito hipotensivo, evidenciam-se redu��es significativas da press�o arterial nos momentos subseq�entes ao t�rmino de uma sess�o de exerc�cio resistido. No trabalho de Fisher (11), estudando mulheres normotensas e pr�-hipertensas que haviam trabalhado numa intensidade correspondente a 50% de 1RM, verificou-se redu��o significativa da press�o arterial sist�lica ap�s 60 min do t�rmino do exerc�cio. Nesse enfoque, Polito et al. (37) tamb�m verificaram redu��es na press�o arterial sist�lica ap�s 10 minutos do t�rmino da sess�o, redu��o que perdurou por at� 60 minutos ap�s o final do trabalho, realizado numa intensidade alta, com carga correspondente a seis repeti��esm�ximas (6RM); o mesmo efeito ocorreu com umaintensidade relativamente baixa, ou seja, doze repeti��es, com a carga correspondente a 50% daquela associada a 6RM, por�m a redu��o na press�o arterial sist�lica perdurou por somente 40 minutos. Refor�ando essa hip�tese, Rezk (39) tamb�m verificou um efeito hipotensivo p�s-exerc�cios resistidos utilizando diferentes sobrecargas. A queda da press�o arterial sist�lica foi de 6mmHg na sess�o realizada numa intensidade correspondente a 40% de 1RM e volume de trabalho de vinte repeti��es, e de 8mmHg na sess�o realizada numa intensidade correspondente a 80% de 1RM e volume de trabalho de dez repeti��es. Essas redu��es perduraram durante 90 minutos ap�s o t�rmino do exerc�cio. Nessa linha de pensamento, � v�lido salientar os relatos de Macdonald (25), que verificou redu��es m�dias de 8mmHg na press�o arterial sist�lica p�s-exerc�cio aer�bio. Desse modo, tanto os exerc�cios aer�bios como os resistidos apresentam redu��es na press�o arterial sist�lica p�s-exerc�cio de formasemelhante. Quanto � press�o arterial diast�lica, alguns estudos n�o puderam demonstrar qualquer efeito hipotensivo ap�s o t�rmino de uma sess�o de exerc�cios resistidos (42, 32, 38, 11). Contudo, Polito et al. (37) observaram redu��o na press�o arterial diast�lica durante 10 minutos ap�s uma sess�o de exerc�cios resistidos realizados numa intensidade relativamente baixa, de doze repeti��es, com carga correspondente a 50% daquela associada a 6RM. Outros autores, como Focht e Koltyn (16) e Rezk (39), tamb�m constataram que a press�o arterial diast�lica diminuiu significativamente em rela��o ao repouso, entretanto com uma carga relativamente baixa, entre 40% e 50% de 1RM. Nesse particular, � importante salientar que o efeito hipotensivo na press�o arterial diast�lica pode estar relacionado com a intensidade do exerc�cio. Por outro lado, Brown et al. (8) verificaram um efeito hipotensivo na press�o arterial diast�lica para intensidades entre 40% e 70% de 1RM. Esses achados diferem dos estudos de Polito et al. (37) Focht e Koltyn (16) Rezk (39), que somenteencontraram hipotens�o p�s-exerc�cio na press�o arterial diast�lica com cargas relativamente baixas. De forma semelhante, todos os estudos mencionados n�o demonstraram quaisquer eleva��es na press�o arterial diast�lica ap�s uma �nica sess�o de exerc�cios resistidos. 4. Adapta��es cr�nicas do treinamento resistido no sistema cardiovascular
A exposi��o prolongada e repetida ao exerc�cio pode causar altera��es estruturais e funcionais no sistema cardiovascular. Nesse sentido, a literatura tem demonstrado que o cora��o se adapta a uma carga hemodin�mica aumentada, seja est� resultante de est�mulos providos pelo treinamento f�sico, seja por alguma patologia (35). Dessa forma, tem se verificado que o treinamento resistido pode provocar adapta��es cardiovasculares que se assemelham �s adapta��es provocadas pela hipertens�o, isto �, aumento da espessura da parede ventricular e do tamanho da c�mara ventricular (14). Caracteristicamente, o treinamento resistido induz eleva��es na press�o arterial (26, 13, 34). No entanto, o aumento da espessura da parede do ventr�culo esquerdo � uma adapta��o provocada pelas press�es sang��neas intermitentemente elevadas durante o treinamento resistido (14). Essa sobrecarga de press�o no cora��o est� associada ao espessamento da parede ventricular esquerda e � manuten��o da cavidade ventricular, o que � denominado de �hipertrofia ventricular esquerda conc�ntrica� (35). Nesse sentido, Fleck (12) assinala que o treinamento resistido pode causar aumento da espessura da parede ventricular esquerda, por�m isso n�o � uma conseq��ncia necess�ria de todos osprogramas de treinamento resistido. Os fatores relacionados � espessura ventricular esquerda aumentada incluem o n�vel de treinamento, o fato de as s�ries serem m�ximas ou subm�ximas e o tamanho da massa muscular envolvida no treinamento (14). Com rela��o ao aumento do volume ventricular esquerdo, que pode ser denominado de �hipertrofia ventricular esquerda exc�ntrica� (35), normalmente � considerado um indicativo de sobrecarga de volume que ocorre tipicamente em atletas de endurance (maratonistas, ciclistas). Nesse contexto, a maior parte dos estudos que investigaram os exerc�cios resistidos indica que o treinamento resistido tem pouco ou nenhum impacto nas dimens�es das c�maras card�acas (14, 12). Nesse particular, ao serem analisados as adapta��es cardiovasculares provocadas pela hipertens�o arterial e pelo treinamento resistido, verificam-se algumas semelhan�as. Entretanto, se essas adapta��es s�o examinadas detalhadamente, � poss�vel observar diferen�as entre elas. A fim de distinguir as caracter�sticas entre ambas, t�m sido usados os termos �hipertrofia patol�gica�, para as mudan�as que ocorrem com a hipertens�o, e �hipertrofia fisiol�gica�, para as mudan�as que ocorrem com o treinamento resistido (14). 4.2. Adapta��es hemodin�micas Existe ainda a concep��o de que as press�es sang��neas intermitentemente elevadas durante o treinamento resistido possam causar o aumento da espessura da parede do ventr�culo esquerdo (14), resultando num aumento cr�nico da press�o arterial (hipertens�o). Essa hip�tese � ainda muito utilizada pelos profissionais da �rea da sa�de quando da prescri��o ou da indica��o de alguma forma de exerc�cio para hipertensos. Nesse sentido, os estudos longitudinais que analisaram os efeitos dos exerc�cios resistidos sobre a press�o arterial s�o escassos e apresentam resultados conflitantes. Essesestudos t�m demonstrado que o treinamento resistido pode levar a um aumento (12), a um decr�scimo (24, 27) ou a uma manuten��o (6) da press�o arterial. De acordo com Fleck e Kramer (14), a concep��o err�nea comum de que o treinamento resistido resulta em hipertens�o, quando ocorre, provavelmente, est� relacionada � hipertens�o essencial, excesso de treinamento cr�nico, uso de ester�ides, grandes aumentos em massa muscular ou aumento no peso total do corpo. Entretanto, Halbert et al. (19), em metan�lise avaliando apenas ensaios cl�nicos randomizados, constaram que as evid�ncias encontradas sobre o efeito do treinamento resistido na diminui��o dos valores press�ricos n�o apresentaram resultados estatisticamente significativos. Contudo, esses resultados s�o baseados em apenas tr�s pequenos estudos, com um total de 49 participantes, o que torna as evid�ncias para o efeito do treinamento resistido sobre a press�o arterial, de certa forma, inconclusivas. Conv�m destacar que, em outros estudos envolvendo treinamento resistido, foi observada redu��o na press�o arterial sist�lica e diast�lica em adultos (23), e idosos (27). Confirmando esses resultados, Kelley e Kelley (24), utilizando-se de uma metan�lise de ensaios cl�nicos randomizados envolvendo indiv�duos normotensos e hipertensos, observaram que o treinamento resistido reduziu, em m�dia, 3% a press�o arterial sist�lica e 4% a press�o arterial diast�lica em ambos os grupos. Conclu�ram, assim, que os exerc�cios resistidos s�o eficazes para reduzir a press�o arterial sist�lica e diast�lica. Entretanto, o simples fato de o exerc�cio resistido n�o provocar eleva��es cr�nicas nos valores press�ricos j� �, por si, um dado importante, visto que as qualidades f�sicas for�a e resist�ncia muscular localizada, desenvolvidas com essa atividade s�o essenciais no desenvolvimento das atividades da vida di�ria, o que justifica a aplica��o desse tipo de exerc�cio para efeito de melhora na aptid�o f�sica (5). Embora existam evid�ncias de que o treinamento resistido provoque uma diminui��o nos valores press�ricos, essa problem�tica ainda precisa ser mais bem estudada, haja vista que o efeito hipotensivo n�o se apresenta de forma consensual na literatura atrav�s do exerc�cio resistido. Em rela��o � bradicardia de repouso, conv�m destacar que freq��ncias card�acas baixas s�o normalmente aceitas como um poss�vel efeito do treinamento e s�o geralmente fundamentadas pelo treinamento aer�bio. Assim, aumentos na massa muscular e na massa corp�rea total associada aos exerc�cios resistidos resultam numa larga demanda no d�bito card�aco na ordem de suprir um aumento no metabolismo de repouso. Esses aumentos na massa muscular e na massa corp�rea total podem ser paralelos e proporcionais ao volume sist�lico de repouso (9). Nesse sentido os aumentos no volume sist�lico possibilitam que o cora��o satisfa�a � demanda por sangue sem aumentar a freq��ncia card�aca. Conforme Fleck (12), em geral, a literatura tem apontado para o fato de que os fisiculturistas e os levantadores de peso t�m uma freq��ncia card�aca entre 60 e 74 batimentos por minuto, que n�o � significativamente diferente daquela dos sujeitos sedent�rios. Por�m, outros estudos com per�odos curtos em torno de 6 a 20 semanas t�m reportado diminui��es significativas, de 4.7% at� 12.7%, na freq��ncia card�aca de repouso. De acordo com Brown e Brechue (9), dois cen�rios podem ocorrer com essa observa��o, visto que o treinamento resistido em indiv�duosdestreinados pode induzir a uma adapta��o precoce similar � que ocorre no treinamento aer�bio, ou seja, aumento no volume sist�lico; sem um concomitante aumento no metabolismo de repouso e na demanda por sangue, a freq��ncia card�aca � diminu�da. Com rela��o ao volume sist�lico, estudos longitudinais t�m relatado que atletas altamente treinados com peso t�m um volume sist�lico maior se comparados a um grupo controle ou a indiv�duos que treinam recreacionalmente (9). Assim, parece razo�vel sugerir que o grau de treinamento pode influenciar no volume sist�lico absoluto. Contudo, aumentos absolutos no volume sist�lico em atletas treinados em resist�ncia em compara��o ao grupo de controle podem ser explicados, em parte, pelo aumento da massa corp�rea total (12). 5. Exerc�cios resistidos e seguran�a cardiovascular No passado, os exerc�cios resistidos eram considerados hemodinamicamente perigosos para pacientes com doen�a arterial coronariana por estarem associados a grandes aumentos na freq��ncia card�aca e na press�o arterial (12, 45). As eleva��es da freq��ncia card�aca e da press�o arterial representam um aumento no duplo produto, que � refletido na demanda de oxig�nio pelo mioc�rdio, podendo, potencialmente, aumentar a probabilidade de ocorrerem arritmias, isquemia do mioc�rdio ou disfun��o do ventr�culo esquerdo em pacientes com cardiopatias (45).Inversamente, o aumento da press�o arterial diast�lica pode aumentar a press�o de perfus�o do mioc�rdio, o que facilita o aumento da perfus�o coronariana (45, 36, 28). Embora os exerc�cios resistidos terem sido tradicionalmente desaconselhados em pacientes com doen�a arterial coronariana, parecem ser menos perigosos do que se imaginava. Primeiramente, o duplo produto nos esfor�os m�ximos � menor nos exerc�cios resistidos do que nos exerc�cios aer�bios, em decorr�ncia de um menor pico de resposta da freq��ncia card�aca. Al�m disso, outros fatores merecem destaque, ou seja, o aumento da perfus�o subendocard�ca em decorr�ncia da eleva��o da press�o arterial diast�lica e o decr�scimo no retorno venoso e no volume diast�lico do ventr�culo esquerdo contribuem para uma menor tens�o da parede do mioc�rdio. Isso tudo pode estar relacionado a uma baixa incid�ncia de respostas isqu�micas durante os exerc�cios resistidos (36). Refor�ando essa hip�tese, recentemente, a Cl�nica Cooper e a Universidade da Fl�rida relataram ter avaliado mais de 26.000 testes de carga m�xima, apresentando apenas uma ocorr�ncia de evento cardiovascular (18). Em contrapartida, n�o � raro a incid�ncia de intercorrencias e morte s�bita estarem relacionadas com exerc�cios aer�bios (29). Mckelvie et al. (30) compararam as respostascardiovasculares agudas de pacientes com insufici�ncia card�aca durante a realiza��o de exerc�cios resistidos a 70% de uma repeti��o m�xima com as respostas produzidas no ciclo erg�metro a 70% do pico de pot�ncia. No estudo, as respostas da press�o arterial sist�lica foram similares quando se compararam as duas modalidades de exerc�cios, por�m, a freq��ncia card�aca e o duplo produto foram menores nos exerc�cios resistidos em rela��o aos exerc�cios realizados no ciclo erg�metro; j� a press�o arterial diast�lica foi maior nos exerc�cios resistidos do que no ciclo erg�metro (Tabela 1). Essas descobertas remetem ao fato de que um menor duplo produto reflete num menor consumo de oxig�nio pelo mioc�rdio e uma press�o diast�lica alta pode melhorar a perfus�o do mioc�rdio. De forma pioneira, Oliver et al. (33) avaliaram as respostas cardiovasculares agudas dos exerc�cios resistidos em pacientes transplantados (cora��o). Os resultados do estudo indicaram que os exerc�cios resistidos numa intensidade de 50% de uma repeti��o m�xima podem ser seguros e aceit�veis fisiologicamente em pacientes transplantados. Tais conclus�es s�o baseadas no ajustamento hemodin�mico e da press�o arterial moderada observada em todos os pacientes. Nesse sentido, � importante ressaltar que, durante a realiza��o de exerc�cios resistidos em cardiopatas e em reabilita��o card�aca, a incid�ncia de arritmias, isquemias e anormalidades no segmento ST parece ser pouco observada (4, 17, 31,30). Embora haja evid�ncias de que o treinamento resistido � extremamente seguro para a maioria da popula��o, a literatura tem reportado apenas tr�s casos, n�o fatais, de acidente vascular encef�lico aparentemente desencadeado por essa forma de exerc�cio (21). Diante do exposto, torna-se poss�vel inferir que o treinamento resistido subm�ximo � uma forma segura de exerc�cios para a maioria da popula��o e est� associado com um risco m�nimo de eventos cardiovasculares at� mesmo naqueles indiv�duos com incid�ncia de infarto do mioc�rdio e insufici�ncia card�aca (29) Tabela 1. Compara��o dos valores m�dios das press�es arteriais sist�lica e diast�lica, freq��ncia card�aca e duplo produto durante o exerc�cio no Leg press e ciclo erg�metro (adaptado de McKelvie et al. 1995)
6. Considera��es finais Revisadas in�meras pesquisas a respeito dos exerc�cios resistidos e suas rela��es com as adapta��es cardiovasculares, percebe-se que h� uma tend�ncia entre os estudiosos de afirmar que, se realizados de forma apropriada, os exerc�cios resistidos podem ser muito seguros para a sa�de cardiovascular da popula��o em geral. Observa-se tamb�m que os exerc�cios resistidos provocam adapta��es agudas e cr�nicas no sistema cardiovascular, de modo que os sujeitos que os realizam de forma controlada, utilizando-se de cargas de trabalho subm�ximas, podem ser beneficiados em rela��o �s respostas hiporresponsivas da freq��ncia card�aca e press�o arterial. Diante do exposto, espera-se ter reunido informa��es que venham contribuir para ampliar os atuais n�veis de conhecimento quanto aos exerc�cios resistidos e que os resultados possam servir como referencial para futuras interven��es investigativas em diferentes popula��es, com metodologias que possam esclarecer melhor todas as quest�es ainda obscuras sobre o assunto. Refer�ncias
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Quais as adaptações que acontecem no sistema respiratório durante a realização de exercícios físicos?Durante o exercício, a ventilação aumenta quase imediatamente, devido à atividade muscular que estimula o centro respiratório. A isso, segue-se um aumento gradual por elevação da temperatura e das alterações químicas no sangue arterial produzidas pela atividade muscular.
Quais são as alterações que ocorrem no sistema respiratório durante o exercício?Portanto, há alterações do padrão respiratório durante todas as fases do exercício, pelas alterações do volume corrente, da frequência respiratória, dos tempos respiratórios e da atividade do diafragma, dos músculos da caixa torácica e dos músculos dos membros inferiores.
Quais os tipos de adaptação ao exercício físico?RESPOSTAS ADAPTATIVAS AO EXERCÍCIO FÍSICO
ser fisiológicas ou biomecânicas. Exemplos: aumento da frequência cardíaca e da pressão; aumento da temperatura corporal; aumento da frequência respiratória. ADAPTAÇÕES CRÔNICAS: são aquelas que ocorrem após a sistemática realização de atividade física.
Quais as adaptações agudas e crônicas do sistema respiratório causadas pelo exercício físico?As adaptações são classificadas como agudas e crônicas (RONDO E BRUM, 2003). Segundo Brum et al. (2004) nos exercícios estáticos, as adaptações agudas têm compatibilidade com a elevação da frequência cardíaca, pausa ou até mesmo diminuição do volume sistólico e um menor acréscimo do débito cardíaco.
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