Quais são as maiores barreiras no processo de comunicação do farmacêutico com o paciente?

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Quais são as maiores barreiras no processo de comunicação do farmacêutico com o paciente?
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  1. 1. ENTREVISTA / DIVALDO LYRA JÚNIOR COMUNICAÇÃO Tese de doutorado contém método que busca valorizar a conscientização e a PACIENTE/FARMACÊUTICO: autonomia do idoso como agente de sua um instrumento libertário e essencial no trabalho própria saúde do profissional e na promoção da saúde Pelo jornalista Aloísio Brandão, Editor desta revista O farmacêutico Divaldo Lyra Júnior não deixaria a sua Recife, à qual é apegadíssimo, não fosse para buscar conhecimentos na área que elegeu como a sua paixão profissional: a atenção farmacêutica. Foi parar em Ribeirão Preto (SP) em cujo campus da USP (Universidade de São Paulo) acaba de fazer o seu doutorado em comunicação entre o farmacêutico / paciente. A sua tese é um poço de argumentações teóricas e práticas profundas, complexas, modernas e instigantes. Divaldo passou um longo tempo, aplicando o método de comunicação que desenvolveu para a sua tese, ao qual adaptou o Método Paulo Freire de educação, nas intervenções que realizou junto aos pacien- tes idosos atendidos no SUS (Sistema Único de Saúde). O educador Paulo Freire elaborou um método de alfabetização libertário, humanístico e conectado à realidade do educando. Paulo Freire teria algo a colaborar com a atenção farmacêutica? Lyra Júnior prova que sim. O método que o farmacêutico desenvolveu busca valorizar a conscientização e a autonomia do idoso como agente de sua própria saúde. Nada mais alinhado ao pensamento do educador. Os resultados dos estudos de Lyra Júnior foram sur- preendentes e lhe deram a convicção de que a comunicação é um instrumento essencial no trabalho do farmacêutico e na promoção da saúde. O doutor Dival- do, entretanto, lamenta o fato de os farmacêuticos, a exemplo de outros profissi- onais da saúde, serem formados sem os conhecimentos humanísticos necessári- os ao desenvolvimento das habilidades de comunicação. Mas vê uma movimen- tação política muito grande, de oito anos para cá, sacudindo o ambiente farma- cêutico, com vistas a tirá-lo do limbo em que se encontrava e a pôr no centro da cena o que Divaldo aposta ser, não muito longe, a força da profissão, no Brasil: a atenção farmacêutica. Veja a entrevista. Farmacêutico Divaldo Lyra Júnior PHARMACIA BRASILEIRA - O atendidos no SUS (Sistema Único de agente de sua própria saúde. É, aí, que que o senhor deduziu com os seus es- Saúde). Paulo Freire entra, dando uma grande tudos sobre comunicação entre pro- PHARMACIA BRASILEIRA - O contribuição, pois o seu método bus- fissional de saúde / paciente? método de educação de Paulo Freire é ca uma maior independência do edu- Divaldo Lyra Júnior - O que deu algo libertário, humanístico e centrado cando, no caso o paciente idoso. para notar é que a comunicação é um na realidade do aprendiz. O que o se- Há uma condição essencial para instrumento essencial no trabalho do nhor conseguiu extrair desse método a boa comunicação do farmacêutico, farmacêutico e na promoção da saúde. para aplicar na comunicação farmacêu- que é a sua escuta ativa, que o permite O tipo de método que utilizei de comu- tico / paciente? entender a realidade do paciente. A nicação e educação ao paciente foi Divaldo Lyra Júnior – O que di- partir daí, o farmacêutico identifica os muito positivo em relação à maioria dos ferencia o modelo de intervenção far- pontos chave ou os problemas que trabalhos que encontrei na literatura macêutica que utilizei junto a pacien- mais preocupam o paciente. Em segui- do gênero. Nos meus estudos, eu adap- tes do SUS do tradicional foi o tipo de da, se faz uma análise da situação, com tei o Método Paulo Freire nas inter- orientação, a qual buscava a consci- a fundamentação teórica dos proble- venções junto aos pacientes idosos entização e a autonomia do idoso como mas identificados. 6 Pharmacia Brasileira - Janeiro/Fevereiro 2005
  2. 2. “A comunicação é um instrumento ENTREVISTA / DIVALDO LYRA JÚNIOR essencial no Então, o farma- senhor acha, então, que não há ne- habilidades necessários à comunica- trabalho do cêutico vai elabo- nhum método de comunicação farma- ção com o paciente. farmacêutico e na rar hipóteses de cêutico/paciente formulado, organiza- PHARMACIA BRASILEIRA - O promoção da saúde. solução dos pro- do, no Brasil? senhor está deixando claro que existe Nos meus estudos blemas, mas com Divaldo Lyra Júnior - Não, não um gargalo de dificuldades, uma lacu- um plano de cui- existe. O que se faz, no País, é pura- na, no ensino farmacêutico, exatamente (para o doutorado, dados. A partir mente instintivo e comparável ao que na comunicação farmacêutico/paciente, na USP), eu adaptei deste plano, ele os boticários faziam, antigamente. a qual considera uma ferramenta impres- o método de Paulo vai aplicá-las à re- PHARMACIA BRASILEIRA - cindível para a efetividade do tratamen- alidade do pacien- Então, os farmacêuticos vão para a to. Por que isso está acontecendo? Freire nas te, por meio das “batalha” diária do balcão, sem as ar- Divaldo Lyra Júnior - Acredito intervenções junto intervenções far- mas da comunicação? que há necessidade de investimento aos pacientes idosos macêuticas. Neste Divaldo Lyra Júnior - Exatamen- maciço na formação de professores contexto, o diálo- te. O modelo tecnicista utilizado para a qualificados para esta área. O investi- atendidos no SUS”. go vai facilitar o formação dos profissionais os afasta mento deveria vir das universidades, estabelecimento da realidade. O conhecimento é funda- das entidades farmacêuticas e dos Mi- das relações entre mentado unicamente na Farmacologia nistérios da Saúde e da Educação. Os paciente e farmacêutico, num proces- ou em outros conhecimentos afins. Os Ministérios deveriam oferecer bolsas so simétrico de troca de informações. profissionais que não têm formação Ou seja, nesse processo, o conheci- clínico- humanística são jogados à pura mento científico do farmacêutico não sorte. O conjunto de todos esses co- é mais importante que o conhecimento nhecimentos é que constituirão o far- empírico adquirido pela vivência do macêutico do futuro. paciente. Eles são complementares. PHARMACIA BRASILEIRA - PHARMACIA BRASILEIRA - Mas as Diretrizes Curriculares, apro- Essa complementaridade que o senhor vadas, em 2001, prevêem isso – o com- desenvolveu e está propondo tem que ponente humanístico na formação do efeito direto sobre o tratamento? farmacêutico. O senhor tem esperan- Divaldo Lyra Júnior - A partir do ças em que essas mudanças atinjam momento em que o paciente se sente um ponto tal que privilegiem a comu- respeitado e toma consciência de sua nicação farmacêutico/paciente? importância enquanto agente da pró- Divaldo Lyra Júnior - Na verda- Farmacêutico comunicando-se com paciente pria saúde, ele passa a cuidar melhor de, a gente está vivendo um momento de si. E isso tem um efeito positivo di- político propício a mudanças. Faz uns de mestrado e de doutorado que fos- reto sobre a sua saúde. oito anos que estamos vivendo um mo- sem empregadas em trabalhos realiza- PHARMACIA BRASILEIRA - mento de recuperação do papel social dos no próprio SUS. Essa contraparti- Como o senhor avalia a comunicação do farmacêutico. Entendo que as dire- da social poderia elevar o papel do far- nos procedimentos farmacêuticos, no trizes curriculares acompanham este macêutico como profissional da saúde Brasil, neste momento em que a aten- processo de transformação. necessário à sociedade. ção farmacêutica dá sinais de começar Entretanto, nos órgãos de fomen- PHARMACIA BRASILEIRA - a se fortalecer? to e nas universidades, ainda há pre- Comunicação e interdisciplinaridade Divaldo Lyra Júnior - A bem da conceito com a área clínico-humanísti- têm algo em comum? verdade, os profissionais não vêm ca. Estou dizendo que no modelo tec- Divaldo Lyra Júnior - O farma- sendo formados com os conhecimen- nicista o foco de atuação é o medica- cêutico passou muito tempo fora do tos humanísticos necessários ao de- mento e, no clínico-humanístico, por contato com o paciente. Isso, de um senvolvimento das habilidades de outro lado, é o paciente. Dentro deste certo modo, criou barreiras, atrofiando comunicação. Em meu ponto de vis- contexto, o farmacêutico volta a se re- as suas habilidades de comunicação ta, tanto as farmácias do SUS, quan- conhecer como profissional de saúde, com o paciente. Integração com outros to as farmácias-escola deveriam ser o que tem um impacto social importan- profissionais de saúde que praticam melhor utilizados para a vivência da te para a população. esses cuidados, no seu dia-a-dia, pode realidade social e para a prática da Na situação atual, as reformas cur- minimizar essas barreiras e facilitar o comunicação com o paciente. O co- riculares ainda estão acontecendo, de processo de relação terapêutica. nhecimento teórico é fundamental, uma forma muito tímida, o que, sem Só para exemplificar, em 2003, a mas a prática é vital. dúvida, não está privilegiando o de- Associação Americana dos Farmacêu- PHARMACIA BRASILEIRA - O senvolvimento dos conhecimentos e ticos do Sistema de Saúde se aliou à Pharmacia Brasileira - Janeiro/Fevereiro 2005 7
  3. 3. “A bem da verdade, os ENTREVISTA / DIVALDO LYRA JÚNIOR farmacêuticos não vêm sendo Associação de Ele sempre terá uma vivência e é que regulamentações, nesta área, são formados com os Enfermeiros da- ela que pesa, nesse momento de ques- sujeitas à burla, principalmente, por que conhecimentos quele País, com tionamento. Trinta por cento dos pro- a indústria farmacêutica não entende o objetivo de blemas relacionados aos medicamen- que os medicamentos são instrumen- humanísticos aperfeiçoar as tos (PRM), no meu estudo, foram iden- tos de saúde e não bens de consumo. necessários ao habilidades do tificados pelos próprios pacientes. Es- Enquanto isto não acontece, o farma- desenvolvimento farmacêutico em ses números são superiores a um tra- cêutico tem um papel determinante na das habilidades de cuidar do paci- balho semelhante, realizado, na Sué- orientação correta aos pacientes, na mi- ente, obviamen- cia, onde os níveis cultural e de infor- nimização das dúvidas causadas pe- comunicação com te, dando a de- mação da população são muito altos. los meios de comunicação e na redu- o paciente”. vida importância Lá, eles usaram a intervenção mais tec- ção dos problemas relacionados aos à comunicação. nicista e eu, um tipo de intervenção medicamentos. PHAR- que visa à autonomia do paciente e PHARMACIA BRASILEIRA - O MACIA BRASILEIRA - Os estudiosos estimula o auto-cuidado do paciente. que mais chamou a sua atenção com afirmam que o paciente de hoje é muito PHARMACIA BRASILEIRA - resultado dos seus estudos? mais bem informado sobre a sua pró- Como o senhor avalia essas informa- Divaldo Lyra Júnior - Que o far- pria saúde, que os de algum tempo ções sobre saúde que são transmiti- macêutico tem que estar muito bem atrás, devido ao seu acesso fácil aos das ao cidadão pelos jornais, revistas, preparado para a nova realidade que meios de comunicação. Isso altera para rádio, televisão, Internet, certos livros, se lhe apresenta e que o paciente pode melhor a comunicação desse paciente outdoors etc.? ser um aliado importante na manuten- com farmacêutico? Divaldo Lyra Júnior – Sem dúvi- ção da saúde. Divaldo Lyra Júnior - Apesar da da, este é um problema muito comple- PHARMACIA BRASILEIRA - facilidade de acesso à informação e do xo, visto que as informações transmiti- Onde o farmacêutico mais erra, quan- maior auto-cuidado por parte do paci- das por estes meios de comunicação do está se comunicando com o paci- ente, ainda, há muitas lacunas em sua são de qualidade duvidosa e, na maio- ente? Onde mais acerta? troca de informações. A principal de- ria das vezes, tendenciosas. Em geral, Divaldo Lyra Júnior - Como a las está ligada à falta de preparação do tais informações criam uma ilusão so- maioria dos profissionais de saúde, o profissional com relação ao entendi- bre os medicamentos, fazendo os usu- farmacêutico costuma errar, ao não es- mento das necessidades, preocupa- ários pensarem que se estes não fize- cutar o que o paciente tem a dizer, ou ções, angústias, história de vida e as- rem bem, mal também não farão. Como seja, não valoriza as informações for- pectos culturais desses pacientes. conseqüência, há um estímulo à auto- necidas pelos pacientes. É importante O paciente, por mais bem informa- medicação e ao uso indiscriminado de esclarecer que ouvir é diferente de es- da que seja, terá sempre dúvidas sobre medicamentos. cutar. Ouvir é captar ou perceber os o seu tratamento e que, por muitas ve- Entretanto, observamos que, na sons, enquanto que escutar é ouvir, com zes, não são expostos, por razões cultu- realidade, os medicamentos são os prin- atenção, com interesse, buscando real- rais ou religiosas, entre outras. Cabe, por- cipais causadores de intoxicações, no mente tentar dirimir todas as suas dúvi- tanto, ao farmacêutico facilitar o diálo- País, desde 1996. Muito embora esta das e encontrar soluções que sejam apli- go com o paciente e explorar o máximo temática tenha sido bastante discuti- cáveis à realidade de possível as suas dúvidas. da, no início da década passada, com a cada paciente. PHARMACIA BRASILEIRA – O produção de uma literatura consisten- Para tanto, o senhor está dizendo que a comunica- te e esclarecedora, e a Anvisa tenha farmacêutico deve “Na verdade, a ção independe do nível de informação feito algumas incursões, no sentido procurar entender gente está do paciente? regulamentar a propaganda, promoção quais as reais neces- vivendo um Divaldo Lyra Júnior - O conheci- e informação sobre os medicamentos sidades e preocupa- momento político mento vivido do paciente, na maioria nos meios de comunicação, não há ções de cada pacien- das vezes, já o faz ter uma percepção como prever mudanças significativas te, respeitando o ser propício a dos seus problemas relacionados aos neste setor, em curto prazo. individual, seu nível mudanças. Faz medicamentos que lhe causam danos Para ser sincero, acredito que, de escolaridade, a uns oito anos à saúde e as metas a serem alcança- devido ao grande prejuízo que estas sua cultura e histó- das. Ninguém deve duvidar que o pa- propagandas causam à saúde da po- ria de vida. O pacien- que estamos ciente, mesmo aquele que não tem aces- pulação e ao sistema de saúde, com te, por sua vez, que vivenciando um so a informações originadas de livros um número absurdo de hospitaliza- percebe que o farma- momento de ou de meios de comunicação de mas- ções, elas deveriam ser proibidas, como cêutico não está pre- sa, sabe questionar sobre a sua saúde. foi feito com o cigarro. Acho isso, por ocupado com a sua recuperação do papel social do 8 Pharmacia Brasileira - Janeiro/Fevereiro 2005 farmacêutico”.
  4. 4. “O farmacêutico ENTREVISTA / DIVALDO LYRA JÚNIOR passou muito tempo fora do contato com o PHARMACIA BRASILEIRA - mas de uma re- paciente. Isso Esses erros refletem diretamente em lação terapêuti- que aspecto do tratamento? Pode dar ca, construída criou barreiras, um exemplo? pelo farmacêuti- atrofiando as Divaldo Lyra Júnior - Em minha co e o paciente, suas habilidades pesquisa, eu atendi idosos que apre- baseada nos pi- sentaram uma média de quatro doen- lares do respei- de comunicação ças e que usaram cerca de nove medi- to mútuo, no com o paciente. A Dr. Divaldo orienta paciente idosa camentos, concomitantemente. Então, vínculo de con- integração com se eu olhasse isoladamente uma única fiança, na igual- outros melhora, sente-se inibido a perguntar doença, e não o paciente como um dade de papéis e, em alguns casos, permanece com dú- todo, não conseguiria perceber o seu e na troca con- profissionais de vidas importantes que podem ter vin- contexto. tínua de experi- saúde que do do consultório médico, sobre o uso Por exemplo, quando um pacien- ências. O farma- praticam esses ou o armazenamento correto dos me- te chega à farmácia com hipertensão, a cêutico passa a dicamentos. atitude normal do profissional é tentar ter uma preocu- cuidados pode Portanto, o farmacêutico deve ser, persuadi-lo a aderir ao tratamento anti- pação sincera minimizar essas mais que um clínico, um educador em hipertensivo prescrito, sem procurar, pelo paciente, barreiras”. saúde e um amigo do paciente. Neste na maioria das vezes, saber quais as sentido-se ver- sentido, é importante fustigar sempre verdadeiras razões que o fizeram não dadeiramente os pacientes, para que esgotem todas tomar seus medicamentos. responsável pela sua saúde e por sua as suas dúvidas, pois todas as pergun- Às vezes, um efeito colateral, qualidade de vida. Em suma, esta rela- tas são importantes para o uso correto como a impotência sexual causada por ção é humanizada e “rola” sentimento. dos medicamentos e para a manuten- medicamento que efetivamente contro- PHARMACIA BRASILEIRA - O ção da boa saúde. la a sua pressão arterial, pode ter con- que um farmacêutico jamais deve deixar Muitos colegas acertam, ao ten- seqüências graves em sua vida conju- de fazer, com vistas a estabelecer uma tar, em suas farmácias, mesmo sem gal e na sua auto-estima. Ao entender comunicação proveitosa com o pacien- qualquer tipo de formação, realizar es- o seu contexto, o farmacêutico pode te? E o que é imprescindível fazer? tes processos de comunicação com os tentar conscientizar o paciente sobre a Divaldo Lyra Júnior - Além de pacientes. A população está muito ca- importância de relatar os problemas de escutá-lo, como já falei anteriormente, rente de informações, e tentar estabe- saúde que o afligem, ao invés de agir deve tentar falar a sua língua, quer di- lecer a comunicação com o paciente é deliberadamente, sem orientação. zer proporcionar o máximo de informa- uma atitude importantíssima para a Pude observar que esta troca de ções possíveis, empregando palavras manutenção e promoção da saúde. informações pode ser tão importante, e expressões compatíveis à realidade Entretanto, creio que a comuni- quanto a maioria dos medicamentos de cada paciente. Pude perceber que cação adequada é um processo muito prescritos. Explicando melhor, o farma- quando os profissionais de saúde (in- mais complexo que se imagina e que cêutico e o paciente podem formar uma cluindo o farmacêutico) empregaram a não deve ser realizado apenas instinti- aliança sólida, fundamentada nos co- linguagem fundamentada em aspectos vamente, ou seja, os profissionais ne- nhecimentos científico e empírico, res- técnico-científicos, muito pouco foi cessitam, cada vez mais, de se aperfei- pectivamente, para discutir, por exem- compreendido pelos pacientes. çoar para prestar um serviço inovador plo, com o médico a substituição do Segundo os mesmos, este tipo de e que atenda às reais demandas da medicamento que causa o problema. linguagem é incompreensível para a população. Após um ano de trabalho, esta suas realidades. O que é pior e que, em Em meu ponto de vista, este aper- aliança (ou relação) resolveu cerca de determinadas situações, a compreen- feiçoamento não deve ser restrito uni- 75% dos problemas relacionados aos são inadequada pode causar proble- camente à teoria, mas necessariamen- medicamentos identificados. Inclusive, mas sérios de saúde. Por exemplo, uma te aplicado à prática. Além disso, en- os prescritores aceitaram 86% das in- paciente relatou que estava usando um tendo que os processos de comunica- tervenções, proporcionando aos ido- determinado anti-hipertensivo e não ção que fundamentarão as relações sos mais segurança e confiança no seu estava sentindo-se bem. Perguntei, farmacêutico-paciente devem ser hu- conhecimento. Além disso, 87% dos então, o por quê do uso do medica- manizados, não podendo ser proces- idosos apresentaram redução em sua mento, já que a mesma apresentava sos mecânicos e “desprovidos de sen- pressão arterial. naturalmente hipotensão. timentos”. Caso contrário, continuare- Os resultados obtidos não foram Pois bem, o problema é que o mos a cometer os mesmos erros. fruto de mais um processo mecânico, marido falou para ela que o medicamen- Pharmacia Brasileira - Janeiro/Fevereiro 2005 9
  5. 5. ENTREVISTA / DIVALDO LYRA JÚNIOR INTERNACIONAL to era muito bom para a pressão. Ou seja, alta ou baixa, para um leigo, é um mero detalhe. Por essa razão, é neces- Fepafar volta a sário que o farmacêutico sempre con- firme o entendimento do paciente, pe- dindo ao mesmo que repita todas as discutir atenção farmacêutica nas orientações fornecidas. Este procedi- mento é indispensável para ratificar a compreensão, haja vista que os ido- sos também apresentam déficits audi- Américas tivos e visuais que, de algum modo, podem ser barreiras no processo de comunicação. Nos casos em que alguns paci- entes apresentaram déficits cognitivos (como o esquecimento), comuns em Vice-presidente do CFF, muitos idosos, foi necessário comple- Edson Taki, participou mentar as orientações com informa- ções escritas. Para isso, elaboramos da reunião da Fepafar materiais individu- alizados que res- “O farmacêutico peitassem as ne- deve procurar cessidades de cada O Vice-presidente do Con- entender quais indivíduo, com as selho Federal de Farmácia informações refe- (CFF), Edson Chigueru Taki, as reais rentes às dúvidas participou, em Santo Domin- necessidades e mais freqüentes do go, na República Dominica- preocupações de paciente, como, na, no dia 17 de março, da por exemplo, a fun- cada paciente, ção de cada um dos reunião da Executiva da Fe- respeitando o ser medicamentos utili- deração Pan-americana de Farmácia (Fepafar). A imple- individual, seu zados, seus riscos e até o local ade- mentação da atenção farma- nível de cêutica, nos países latinos, quado de armaze- escolaridade, a namento. voltou a fazer parte dos de- sua cultura e Por outro lado, bates da entidade. história de vida”. apesar de que sa- O Dr. Edson Taki, que par- ber que uma sala Vice-presidente do CFF, Edson Taki ticipou da reunião, represen- privativa ainda não tando o CFF e os farmacêu- seja comum, na maioria dos ambientes ticos brasileiros, informa que a Fepafar irá passar por uma de prática profissional, em nosso País, acredito que o ambiente privativo ade- reestruturação orgânica, momento que as novas ações da quado e a atmosfera do atendimento entidade serão rediscutidas, com vistas a dar maior objeti- sejam determinantes para a construção vidade às mesmas e a buscar conseqüências positivas para das relações de confiança entre o far- os profissionais, principalmente da América Latina. macêutico e o paciente. Logo, temos Durante o evento, decidiu-se que o próximo Con- que tomar novas posturas, buscar for- gresso da Fepafar será realizado, na Cidade do México mação e exigir a estrutura adequada (México), na última semana de novembro de 2006. “Que- para conquistarmos este espaço, pois remos aprofundar as discussões sobre as ações possí- a população se ressente da falta desse veis da entidade para os países americanos e elaborar “novo profissional” nas farmácias, am- programas factíveis, principalmente na área do intercâm- bulatórios e hospitais. Se não tomar- mos uma atitude, outros profissionais bio científico entre os profissionais”, concluiu o Vice- poderão ocupar o nosso lugar. presidente do CFF. 10 Pharmacia Brasileira - Janeiro/Fevereiro 2005

Quais os obstáculos enfrentados pelo farmacêutico na sua atuação?

Os resultados obtidos confirmam que a implantação da Atenção Farmacêutica enfrenta obstáculos que incluem o vínculo empregatício do profissional farmacêutico e a rejeição do programa por gerentes e proprietários das farmácias, além da insegurança e desmotivação por parte dos farmacêuticos, decorrente de elevada carga ...

Como a comunicação e expressão ajuda na conduta do profissional farmacêutico?

A comunicação com o paciente sobre o uso correto do medicamento e do tratamento é extremamente importante porque facilita a identificação de problemas relacionados aos medicamentos (PRM) e promove a adesão ao tratamento (Barris e Faus, 2003; WHO, 2003).

Quais eram as barreiras de entrada para produção de medicamentos?

As barreiras à entrada, para Azevedo (2007) e Besanko et al (2006) podem ser do tipo: estruturais (econômicas – diferenciação de produto, economia de escala e vantagens absolutas de custo - e institucionais – leis, regulação, normas, entre outros) e estratégicas (capacidade excedente e preço).

Qual o papel do farmacêutico na orientação dos pacientes?

No aconselhamento ao paciente, o farmacêutico pode orientá-lo sobre o uso correto dos medicamentos prescritos e não prescritos, com vistas a melhorar os efeitos terapêuticos e reduzir a probabilida- de de aparecimento de efeitos adversos e toxicidade.