Qual é a relação entre o desmatamento e as chuvas?

O avanço do desmatamento na Amazônia e em outros biomas brasileiros pode ser decisivo para que o Brasil fique condenado a experimentar crises hídricas sucessivas, a despeito de ser o país com o 2º maior patrimônio hídrico potável do planeta.

“A gente sempre culpa o clima porque está chovendo menos, mas a responsabilidade é nossa, das políticas ambientais”, explicou Paulo Artaxo (USP) para O Globo. Ele destacou evidências científicas recentes de que a derrubada da floresta amazônica reduz a evapotranspiração (evaporação da água do solo, junto com a transpiração das plantas), o que resulta em incidência menor de chuvas na região central do país. “Não adianta olhar pra cima e ver se chove menos ou mais. É preciso trabalhar para a preservação dos mananciais e tratar de reduzir drasticamente o desmatamento da Amazônia”.

O resultado da devastação florestal e consequente falta de chuvas pode ser visto no outrora imponente Araguaia. O Metrópoles mostrou o sofrimento de pescadores e ribeirinhos com o rio seco. “Eu penso nos meus netos, que não vão ver o que eu já vi”, lamentou o pescador aposentado Vanderlino Caetani Lopes. “Você vinha e tinha peixe grande que não existia linha que aguentava pegar ele. Hoje você tem linha e não tem o peixe. A degradação é uma loucura”.

Em tempo: O governo do Pará refutou a proposta da Norte Energia para transformar mais de 3,5 mil metros cúbicos de madeira nobre amazônica, derrubada durante a construção da usina de Belo Monte, em carvão. De acordo com o Estadão, as autoridades paraenses querem que essa madeira, estocada desde 2015, tenha destinação social para construção de moradias, pontes e espaços públicos no Estado. O IBAMA ainda não deu resposta ao pedido da concessionária.

 

ClimaInfo, 28 de setembro de 2021.

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Levantamento analisou dados de dez anos e foi compilado por pesquisadora italiana em colaboração com universidade holandesa

Por Alessandro Giannini Atualizado em 18 ago 2021, 14h50 - Publicado em 18 ago 2021, 14h48

Qual é a relação entre o desmatamento e as chuvas?
PRESERVAÇÃO - Ambientalistas propõem que o Brasil permaneça no Acordo de Paris para conter avanços ainda maiores na floresta Mauro Pimentel/AFP

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O desmatamento da Amazônia está reduzindo as chuvas mais do que o previsto, aponta um novo estudo internacional liderado pela pesquisadora italiana Mara Baudena, do Instituto de Ciências da Atmosfera e do Clima do Conselho Nacional de Pesquisas de Turim (CNR-Isac, na sigla em italiano). Realizado em colaboração com a Universidade de Utrecht, na Holanda, o levantamento foi publicado no site Global Change Biology na terça-feira, 17.

A floresta amazônica gera parte da chuva que cai em sua própria área, pois tira a água do solo e a transpira para o ar circundante, fazendo com que se crie um sistema retroalimentante. Segundo a pesquisa, a destruição da mata pode levar a uma queda de 55% a 70% da precipitação anual. “Pequenas mudanças na umidade do ar, devido à presença ou ausência de árvores, podem levar a grandes mudanças nas chuvas observadas”, disse Mara, em depoimento ao CNR-Isac. “Essas ampliações até agora não foram consideradas.”

Foram analisados ​​dados de precipitação e umidade do ar ao longo de mais de dez anos sobre grande parte da floresta amazônica e áreas vizinhas, em combinação com dados e modelos desenvolvidos em trabalhos anteriores pela Universidade de Utrecht, na Holanda, que calcula como a umidade é transpirada pelas plantas e carregada pelos ventos de toda a Amazônia.

Analisando vários parâmetros em amplas áreas da floresta, os pesquisadores chegaram a uma mudança nos modelos de precipitação usados até agora. “Também um desmatamento relativo tem efeitos dramáticos sobre as chuvas, sobre as florestas e sobre as áreas próximas, sedes de plantações e de áreas de gado que, constantemente, têm origens no desmatamento em si”, pontua ainda a pesquisadora.

Mudanças no uso da terra desregulam processo de evapotranspiração das plantas, afetando a disponibilidade hídrica

2 min de leitura

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  • Mariana Grilli
22 Mar 2021 - 08h21 Atualizado em 22 Mar 2021 - 08h21

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Qual é a relação entre o desmatamento e as chuvas?

Entre 1998 e 2012, o sul da Amazônia registrou 27 dias a menos de estação chuvosa (Foto: Thinkstock)

O cuidado com o solo é um ponto fundamental para garantir a disponibildade hídrica. Uma terra sudável consegue reter mais água e realizar a evapotranspiração das plantas, o que contribui para o ciclo regular de chuvas. No entanto, as mudanças de uso da terra provocadas pelas queimadas e o desmatamento, como os vistos em biomas como a Amazônia e o Pantanal, têm alterado cada vez mais a disponibilidade hídrica no meio ambiente, afirmam especialistas.

Dados do setor de Clima e Recursos Naturais da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) apontam que, no mundo, mais de três bilhões de pessoas em áreas agrícolas de todo o mundo estão sofrendo com a baixa umidade do solo. E que, até 2050, a demanda global de água aumentará de 20% a 30%.

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Wagner Carvalho, especialista em eficiência hídrica, diz que o Brasil possui 11% de toda a água doce do planeta, e, mesmo sendo o país com maior reserva hídrica do mundo, sofre com o desabastecimento. “As queimadas destroem a flora e reduzem a capacidade do solo de absorção de água quando chove, pois a vegetação foi perdida. O solo sofre a erosão e fica menos apropriado para recomposição vegetal da superfície”, explica.

Como solução, ele sugere o telemonitoramento de água via internet nos processos de irrigação, “apontando pontos de desperdício e áreas com maior consumo, permitindo o recebimento de alarmes pelo smartphone informando vazamentos.”

Samuel Barrêto, gerente Nacional de Água da The Nature Conservancy (TNC) Brasil, reforça a importância do manejo responsável do solo e da água. “Elementos presentes nos caules, nas plantas, são essenciais para capturar o nitrogênio em estado gasoso, já que ele atua diretamente na fotossíntese”, diz. Uma vez que as plantas ficam escassas, diz ele, o nitrogênio se mistura com outros elementos e o ciclo de chuva é afetado.

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Em 2019, a Universidade Federal de Viçosa constatou que o sul da Amazônia registrou 27 dias a menos de estação chuvosa entre 1998 e 2012. “Hoje, o número deve ser ainda maior”, comenta Argemiro Teixeira, pesquisador associado ao Centro de Sensoriamento Remoto da Universidade Federal de Minas Gerais, que participou dos estudos, à época. “Esse cálculo foi feito com base em anomalias climáticas, tirando efeitos de mudanças climáticas de larga escala, como La Niña, e isolamos características de desmatamento”, detalha.

Barrêto menciona que o pico de inundação no Pantanal também tem mudado. “A gente não tem certeza se está mudando o regime de precipitação, mas temos reparado que essas médias estão alterando muito”, diz. Ele ainda exemplifica que árvores funcionam como ‘bombas de água’: “Impactando o uso do solo, você quebra essa bomba de água na atmosfera.”

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Outro fenômeno consequente do acúmulo de nitrogênio no ar é a chuva ácida. Componentes, como partículas ou gases, são liberados para atmosfera e podem se deslocar por correntes de ar, chamadas de rios voadores, para lugares que não necessariamente são poluidores. Como ocorrido em 2019, quando as partículas advindas de queimadas na Amazônia foram registradas em São Paulo.

Qual a relação entre o desmatamento e a ocorrência de chuvas?

As árvores absorvem a água da chuva e depois liberam umidade de volta para o ar através do processo de evapotranspiração. Essa umidade resulta em chuvas posteriores. Quando as florestas são derrubadas, evapotranspiração e mais água escorre para os rios, deixando menos umidade para a formação de chuva.

Qual a relação entre as chuvas e o desmatamento na Amazônia?

A floresta amazônica gera parte da chuva que cai em sua própria área, pois tira a água do solo e a transpira para o ar circundante, fazendo com que se crie um sistema retroalimentante. Segundo a pesquisa, a destruição da mata pode levar a uma queda de 55% a 70% da precipitação anual.

Como o desmatamento afeta o ciclo da chuva?

O desmatamento reduz o teor de água no solo e de águas subterrâneas, bem como a umidade atmosférica. Outra consequência é a redução da coesão do solo, de modo que a erosão, inundações e deslizamentos de terra ocorram mais frequentemente. A redução da cobertura florestal reduz a capacidade da paisagem de reter a chuva.

O que o desmatamento tem a ver com a água?

A degradação ambiental – seca, queimadas, superexploração de recursos naturais, desmatamento - reduz o nível de água dos rios e pode secar nascentes, ocasionando até o aumento da emissão de gases poluentes causadores do efeito estufa.