Quando não houver mais solução e nem forças para caminhar?

Bráulio Bessa se define como um "fazedor de poesia". Poeta, criador de cordel, recitador e palestrante, os versos do artista cearense saíram do nordeste para caírem nas graças do Brasil.

Conheça agora alguns dos seus mais famosos poemas seguidos de uma breve análise.

Recomece (trecho)

Quando a vida bater forte
e sua alma sangrar,
quando esse mundo pesado
lhe ferir, lhe esmagar...
É hora do recomeço.
Recomece a LUTAR.

Quando tudo for escuro
e nada iluminar,
quando tudo for incerto
e você só duvidar...
É hora do recomeço.
Recomece a ACREDITAR.

Quando a estrada for longa
e seu corpo fraquejar,
quando não houver caminho
nem um lugar pra chegar...
É hora do recomeço.
Recomece a CAMINHAR.

Recomece provavelmente é o poema mais conhecido de Bráulio Bessa. Ao contrário do que se imagina - que os versos surgiram de modo espontâneo a partir de uma experiência autobiográfica - aqui a composição teve uma história completamente diferente.

Os versos foram escritos tendo como inspiração uma menina chamada Laura Beatriz que, em 2010, aos oito anos de idade, perdeu toda a família no deslizamento de terra do morro do Bumba, em Niterói.

Sabendo o poeta que se encontraria com a menina em um programa de televisão, quis compor versos para homenageá-la e honrar a sua história. Assim nasceu Recomece, um poema que fala de esperança, de fé, de energia para voltar a tentar outra vez apesar das situações adversas.

No decorrer do longo poema somos apresentados à ideia de que todo dia é dia de recomeçar, não importa a dimensão do seu problema.

A corrida da vida (trecho)

Na corrida dessa vida
é preciso entender
que você vai rastejar,
que vai cair, vai sofrer
e a vida vai lhe ensinar
que se aprende a caminhar
e só depois a correr.

A vida é uma corrida
que não se corre sozinho.
E vencer não é chegar,
é aproveitar o caminho
sentindo o cheiro das flores
e aprendendo com as dores
causadas por cada espinho.

Aprenda com cada dor,
com cada decepção,
com cada vez que alguém
lhe partir o coração.
O futuro é obscuro
e às vezes é no escuro
que se enxerga a direção.

Com uma linguagem informal e um tom de oralidade, o eu-lírico de A corrida da vida faz criar com o leitor uma relação de proximidade e intimidade.

Aqui o sujeito poético disserta sobre o seu percurso individual e sobre a maneira como encarou os percalços ao longo do caminho.

Apesar de falar de um caminho específico, o poema toca os leitores porque fala das dificuldade encaradas por todos nós em algum momento. A corrida da vida é um poema sobretudo sobre as fases da vida.

Além de sublinhar as dores e impedimentos, o personagem lírico mostra como deu a volta nas situações e conseguiu superar os seus problemas.

Sonhar (trecho)

Sonhar é verbo, é seguir,
é pensar, é inspirar,
é fazer força, insistir,
é lutar, é transpirar.
São mil verbos que vêm antes
do verbo realizar.
Sonhar é ser sempre meio,
é ser meio indeciso,
meio chato, meio bobo,
é ser meio improviso,
meio certo, meio errado,
é ter só meio juízo.
Sonhar é ser meio doido
é ser meio trapaceiro,
trapaceando o real
pra ser meio verdadeiro.
Na vida, bom é ser meio,
não tem graça ser inteiro.
O inteiro é o completo,
não carece acrescentar,
é sem graça, é insosso,
é não ter por que lutar.
Quem é meio é quase inteiro
e o quase nos faz sonhar.

O extenso poema Sonhar fala sobre uma experiência vivida por todos nós em algum momento da vida. O eu-lírico trata tanto de um sonhar dormindo como de um sonhar acordado, aqui o verbo ganha também o sentido de desejar, aspirar.

Esse cordel de Bráulio se debruça sobre a definição do que seria sonhar e também sobre todos os outros verbos que estão associados a ele.

Os versos nos fazem igualmente refletir sobre aquilo que sonhamos: será que os nossos sonhos são aquilo que de melhor podem acontecer conosco?

Fome (trecho)

Eu procurei entender
qual a receita da fome,
quais são seus ingredientes,
a origem do seu nome.
Entender também por que
falta tanto o “de comê”,
se todo mundo é igual,
chega a dar um calafrio
saber que o prato vazio
é o prato principal.
Do que é que a fome é feita
se não tem gosto nem cor
não cheira nem fede a nada
e o nada é seu sabor.
Qual o endereço dela,
se ela tá lá na favela
ou nas brenhas do sertão?
É companheira da morte
mesmo assim não é mais forte
que um pedaço de pão.
Que rainha estranha é essa
que só reina na miséria,
que entra em milhões de lares
sem sorrir, com a cara séria,
que provoca dor e medo
e sem encostar um dedo
causa em nós tantas feridas.

No poema Fome, Bráulio trata de um mal que assola especialmente o nordeste brasileiro há gerações.

O eu-lírico tenta, através dos seus versos, compreender a questão da desigualdade social e o porque da fome - tão dolorosa - atingir alguns e não atingir outros.

Ao longo do poema lemos uma mistura de tentativa de definição do que é fome com um desejo de exterminá-la do mapa, oferecendo finalmente liberdade aqueles que sofrem com ela.

A solução encontrada pelo eu-lírico, ao final do poema, é "juntar todo o dinheiro dessa tal corrupção, mata a fome em todo canto e ainda sobra outro tanto pra saúde e educação".

Prefiro a simplicidade (trecho)

Carne-seca e macaxeira
um cozido de capote
água fria lá no pote
melhor que da geladeira.
No terreiro a poeira
se espalha na imensidão
de paz e de comunhão
que não se vê na cidade.
Prefiro a simplicidade
das coisas lá do Sertão.
Bodegas pra se comprar
é o nosso supermercado
que ainda vende fiado
pois dá pra se confiar.
Um caderno pra anotar
não carece de cartão
pois às vezes falta pão
mas não falta honestidade.
Prefiro a simplicidade
das coisas lá do Sertão.

Em Prefiro a simplicidade o narrador elenca as pequenezas da vida que provocam um enorme prazer: uma comida boa, água fresca, as pequenas alegrias do sertão - sua terra natal.

Os versos nos relembram de que a felicidade pode ser encontrada nas pequenas coisas e que não é preciso de grandes acontecimentos para sermos gratos à vida e ao nosso destino.

O eu-lírico dá exemplos ligeiros do funcionamento do cotidiano no interior do nordeste: as bodegas ao invés dos hipermercados, a venda a fiado, as anotações das compras no simples caderno. Prefiro a simplicidade faz um elogio a esse estilo de vida sertanejo ao mesmo tempo tão carente e tão rico.

Redes sociais (trecho)

Lá nas redes sociais
o mundo é bem diferente,
dá pra ter milhões de amigos
e mesmo assim ser carente.
Tem like, a tal curtida,
tem todo tipo de vida
pra todo tipo de gente.

Tem gente que é tão feliz
que a vontade é de excluir
Tem gente que você segue
mas nunca vai lhe seguir,
Tem gente que nem disfarça,
diz que a vida só tem graça
com mais gente pra assistir.

O cordel acima trata de um fenômeno bastante contemporâneo: o uso das redes sociais e o impacto delas na nossa vida.

Por tratar de temas tão corriqueiros, Bráulio não poderia deixar de lado esse que é um aspecto importante também da nossa identidade: como nos apresentamos em público, como queremos ser vistos, com quem interagimos e que tipo de reação esperamos dessas pessoas.

Na web nos tornamos voyers da vida alheia e permitimos que os outros participem, de certa forma, da nossa vida.

O eu-lírico fala em Redes sociais de uma forma muito simples de sentimentos que nos atravessam inúmeras vezes quando estamos no mundo virtual: a inveja, o ciúme, a carência - por esses motivos facilmente nos identificamos com os versos.

I love you bem lovado! (trecho)

Todo dia ela passava
desfilando em nossa rua
formosa que só a lua
que de noite alumiava.
Porém nunca reparava
que eu ficava agoniado
beirando ser infartado
e morrer pela titela
só por não dizer a ela:
I love you bem lovado!

Um dia meus zói zoiaram
o jeitim dela andando
os cabelim balançando
meus frivior friviaram.
Mil cupidos me flecharam
me deixando apaixonado,
babando, besta e lesado,
segurando na mão dela.
Nesse dia eu disse a ela:
I love you bem lovado!

Um exemplar de poema de amor de Bráulio Bessa é I love you bem lovado! , feito inspirado em Camila, a esposa do autor. Os dois se conheceram ainda crianças e partilharam uma infância juntos, com todas as dificuldades que viver no sertão cearense implicava.

O poema acima fala do encontro entre os dois: do primeiro momento em que só o eu-lírico parece reparar na moça e num segundo instante em que ela retribui o afeto e os dois se apaixonam.

O amor aqui aparece como uma mistura de sentimentos: o desejo carnal, a amizade, o carinho, o companheirismo, a gratidão.

O casal permanece junto e a jovem logo aceita o pedido de casamento - apesar de todas as limitações financeiras daquele momento. Os dias vão passando, partilhados em uma casa alugada, os anos se sucedem e os dois continuam unidos por esse amor puro e sólido.

Quem é Bráulio Bessa

Nascido no interior do Ceará - mais precisamente em Alto Santo - Bráulio Bessa começou a escrever poesia aos 14 anos.

Quando não houver mais solução e nem forças para caminhar?
Retrato de Bráulio Bessa

Para se definir o autor comentou em entrevista:

Meu sonho é transformar a vida das pessoas através da poesia. Para isso, tenho que escrever sobre tudo.

Fama

Em 2011, Bráulio criou uma página no facebook (chamada Nação Nordestina) que chegou a alcançar mais de um milhão de seguidores. Também nunca deixou de escrever poesia popular nordestina, o cordel.

A produção do programa Encontro com Fátima Bernardes procurou o poeta no final de 2014 depois de um vídeo declamando o poema Nordeste independente viralizar.

Sua primeira participação no programa foi de casa, através do facetime. Durante essa rápida janela de oportunidade Bráulio falou breves minutos sobre o preconceito vivido pelos nordestinos.

Depois de dez dias foi convidado para participar pessoalmente no programa onde ganhou maior visibilidade.

Essa primeira visita rendeu novos convites que projetaram Bráulio para o Brasil afora.

Poesia com rapadura

A participação de Bráulio no Encontro com a Fátima Bernardes se tornou regular e em 8 de outubro de 2015, Dia do Nordestino, lançou o quadro Poesia com rapadura, onde declamava de pé, em cima de um pedestal.

O primeiro poema declamado foi Orgulho de ser nordestino e o quadro passou a ser semanal.

Recorde de visualizações

Em 2017 os vídeos de Bráulio foram recordistas de visualizações na plataforma do canal - foram mais de 140 milhões de visualizações no ano.

Livros publicados

Bráulio Bessa tem até o momento quatro livros publicados, são eles:

  • Poesia com rapadura (2017)
  • Poesia que transforma (2018)
  • Recomece (2018)
  • Um carinho na alma (2019)

Conheça também

  • Poemas sobre a vida escritos por autores famosos
  • Caio Fernando Abreu e os seus grandes poemas
  • Os poemas sensacionais de Ariano Suassuna
  • Manoel de Barros e os seus grandes poemas
  • Obras para conhecer a literatura de cordel

Quando não houver saída quando não houver explicação?

Quando não houver saída, quando não houver mais solução, ainda há de haver saída, nenhuma ideia vale uma vida…” – estes primeiros versos de “Enquanto Houver Sol”, dos Titãs, já diz por si só sobre o que esta música fala. Daí você pensa em esperança, seguir em frente, levantar a cabeça.

Qual é a mensagem da música enquanto houver sol?

Enquanto houver sol nos lembra, ainda, que não estamos sozinhos, mesmo quando parece. E também ressalta que precisamos seguir em frente. Parados não chegaremos a lugar algum. Em 2020 muitas pessoas se reinventaram, buscaram formas de sobreviver a mudanças inesperadas.

Quem canta essa música quando não houver saída?

TitãsEnquanto Houver Sol / Artistanull

Quem é o autor da música enquanto houver sol?

Sérgio BrittoEnquanto Houver Sol / Compositornull